quinta-feira, 29 de março de 2018

Síndrome de Down não é sinônimo de deficiência intelectual

Em entrevista ao #blogVencerLimites, especialistas do Instituto Rodrigo Mendes falam sobre os desafios da educação inclusiva, o respeito aos direitos das pessoas com deficiência e a busca pelo reconhecimento da diversidade. No dia 21 de março (21/3), celebramos o Dia Internacional da Síndrome de Down.


Luiz Alexandre Souza Ventura para o Estadão

IMAGEM 01: Em entrevista ao blog Vencer Limites, especialistas do Instituto Rodrigo Mendes falam sobre os desafios da educação inclusiva, o respeito aos direitos das pessoas com deficiência e a busca pelo reconhecimento da diversidade. No dia 21 de março (21/3), celebramos o Dia Internacional da Síndrome de Down. Nome é uma referência ao médico inglês John Langdon Haydon Down, o primeiro a relatar, entre os anos 1864 e 1866, características da ocorrência genética. LEGENDA PARA CEGO VER: Foto de uma mulher de traços orientais que está com os olhos fechados e sorri levemente, enquanto segura um bebê que tem síndrome de Down. A criança olha diretamente para a câmera. Crédito da foto: Reprodução

Aline Santos é coordenadora do Diversa, projeto do Instituto Rodrigo Mendes. Luiz Henrique de Paula Conceição é pesquisador e coordenador do programa de formação em educação inclusiva do IRM.

Em entrevista ao #blogVencerLimites sobre o Dia Internacional da Síndrome de Down, celebrado no dia 21 de março (21/3), os especialistas falam da busca pelo reconhecimento da diversidade, o respeito aos direitos das pessoas com deficiência e os desafios da educação inclusiva.

#blogVencerLimites – A Síndrome de Down é uma referência quando se fala em deficiência intelectual, principalmente em reportagens sobre inclusão no trabalho ou sobre pessoas com deficiência em geral. Qual a avaliação sobre essa situação? Por que isso ocorre? Essa referência é correta?

Instituto Rodrigo Mendes – Essa referência direta é um mito. É importante esclarecer que Síndrome de Down não é sinônimo de deficiência intelectual, o que significa que algumas pessoas têm e outras não têm o comprometimento cognitivo.

Essa condição também não é uma doença, mas uma síndrome genética relativa à trissomia do cromossomo 21. Por isso, quem tem Síndrome de Down não é ou está doente nem precisa de tratamento ou cura.

Essa ideia vem do desconhecimento sobre o assunto e por existirem algumas doenças que têm alta recorrência nos indivíduos com essa síndrome. Elas aparecem em graus diversos e, por isso, não se pode reduzir essas pessoas a possíveis quadros clínicos genéricos que não expressam suas características mais significativas.

Ter uma deficiência representa, em geral, conviver com o estigma da impossibilidade, da incompetência e da inferioridade. Quando tratamos da educação, por exemplo, é comum encontrarmos professores e outros atores da comunidade escolar que desconhecem alguns princípios básicos da educação inclusiva.

A educação é um direito, não é favor. Toda criança aprende e esse processo de aprendizagem é singular. É importante lembrar da diversidade que existe dentro de um grupo de pessoas com Síndrome de Down, assim como em qualquer outro. Cada pessoa tem suas características.

#blogVencerLimites – Quais os desafios atuais das pessoas com síndrome de Down? E de suas famílias?

Instituto Rodrigo Mendes – Percebemos por meio da nossa atuação em formação e pesquisa na área de educação inclusiva que o desafio das famílias está relacionado ao ingresso e permanência dos estudantes nas unidades escolares.

Houve um importante aumento no acesso de estudantes com deficiência à educação. O Censo Escolar (Inep/2016) registrou quase 800 mil matrículas, 93% na escola regular.

É importante ressaltar que aproximadamente 15% da população mundial têm algum tipo de deficiência (dados da Organização Mundial da Saúde) e que em nossas escolas temos apenas 3% de estudantes com deficiência matriculados no ensino fundamental nos anos iniciais. Significa que ainda temos um longo caminho a percorrer.

Dentro da luta das famílias que têm pessoas com síndrome de Down se destaca a participação das APAEs. Citamos a Apae de São Paulo, que fechou a escola especial sob sua responsabilidade em 2010 e passou a se dedicar ao Atendimento Educacional Especializado (AEE).

Esse serviço cria meios e modos para que todos os estudantes com deficiência tenham acesso ao currículo socialmente construído, são trabalhadas formas de ensinar os conteúdos que são ministrados pelos professores das salas de aula comum. Essa articulação entre atendimento educacional especializado e sala de aula comum é fundamental para o sucesso escolar desses estudantes.

Além disso, os desafios mais frequentes apontados pela Diversa – com dúvidas e respostas sobre inclusão escolar enviadas por uma rede de educadores, familiares e gestores públicos – têm se concentrando em como ampliar as possibilidades de aprendizagem de estudantes com Síndrome de Down.

Ao longo das décadas, pesquisas e experiências bem-sucedidas desmitificaram a ideia de que haja uma ‘receita’ para ensinar esses estudantes. Duas com o mesmo diagnóstico podem reagir de modos diferentes a uma mesma intervenção.

A recomendação dada aos educadores é a de conhecer todos de forma individual, perceber como cada um aprende e valorizar suas singularidades. Temos alguns exemplos de encaminhamentos possíveis, especificamente relacionados com a síndrome de Down.

IMAGEM 04: A sociedade pode promover a superação coletiva de barreiras para a inclusão de indivíduos com síndrome de Down. LEGENDA PARA CEGO VER: Jovem que tem síndrome de Down olha para a tela de um tablet enquanto manuseia o equipamento. Ele tem cabelos claros e veste camisa azul. Crédito do foto: Reprodução

#blogVencerLimites – Houve mudanças substanciais, principalmente nos últimos tempos, no que diz respeito a conhecimento, preconceito, discriminação e exclusão de pessoas com Síndrome de Down?

Instituto Rodrigo Mendes – Uma mudança importante, impactada pelo aumento do acesso desse grupo à vida escolar, é uma maior representatividade das pessoas com síndrome de Down em espaços sociais como o trabalho. Essa convivência pode favorecer muito o aprendizado coletivo, que pressupõe identificar e transpor barreiras de atitude e de comunicação entre os diferentes sujeitos em interação.

Transpondo essa análise para o ambiente escolar, a inclusão de crianças com deficiência na sala de aula e a mediação de conflitos podem ser uma oportunidade para mostrar para os pais e estudantes que a criança com deficiência é como as outras.

Ela tem sua singularidade, o que é natural tendo em vista a diversidade humana, e se a escola e família atuarem juntos, com certeza essa criança terá muito mais condição de se desenvolver, de ter autonomia, de poder interagir com os demais, se construir e ser o sujeito de sua própria história.

#blogVencerLimites – Há alguma nova informação pouco conhecida, mas muito importante nesse universo?

Instituto Rodrigo Mendes – Foi lançada neste ano pela Escola de Gente a campanha ‘Talk It Easy’, uma mobilização sobre a transformação da comunicação por meio da linguagem simples, apontando a urgência em se avançar na busca pela quebra das barreiras comunicacionais.

O anúncio foi feito pela escritora e jornalista Cláudia Werneck, fundadora da instituição, na conferência Zero Project 2018, na Áustria, evento que tem a acessibilidade como tema central e busca práticas inovadoras em todo o mundo que contribuam para a inclusão.

O importante nesse movimento é a estratégia para expandir as possibilidades de comunicação de modo que qualquer assunto seja melhor compreendido, seja por pessoas que tem baixo letramento, dificuldade de aprendizagem temporária ou permanente, considerando aqui questões relacionadas a idade, origem estrangeira e também características como a deficiência intelectual.

Avanços na acessibilidade também são importantes e têm sido apontados na educação por meio de materiais pedagógicos acessíveis a todas as crianças.

No Diversa foi criado um acervo de materiais desenvolvidos por educadores a partir de recursos simples, considerando diferentes particularidades dos estudantes, impactando positivamente em todas as alunas e alunos durante o processo de aprendizagem.

IMAGEM 05: Dia Internacional da Síndrome de Down foi proposto em 21/3 pela Down Syndrome International em alusão à trissomia do 21. LEGENDA PARA CEGO VER: Logomarca do Dia Internacional da Síndrome de Down nas cores vermelho e azul. O símbolo tem o número 21 e as palavras World Down Syndrome Day. O desenho do número 2 completa um coração que tem o mapa do mundo dentro. Abaixo está o endereço www.WorldDownSyndromeDay.org. Clique na imagem para acessar a página do movimento. Crédito da foto: Reprodução

Sobre o Dia Internacional da Síndrome de Down, dizem os especialistas do IRM, é importante pensar na luta do movimento e de tantos outros grupos que buscam o reconhecimento de sua própria diversidade e o respeito aos seus direitos.

A sociedade pode promover a superação coletiva de barreiras para a inclusão de indivíduos com síndrome de Down, seja na escola, trabalho ou qualquer outro ambiente de convivência, ao ver a deficiência como algo relacional, com respeito às diferenças. Este é, segundo Aline Santos e Luiz Henrique de Paula Conceição, o caminho rumo à igualdade e inclusão.

Fonte: Estadão

quinta-feira, 22 de março de 2018

Expectativa de vida de pessoas com síndrome de Down disparou nos últimos 30 anos

Agustín Matía, gerente da Federação Down Espanha, fala sobre a situação da trissomia do cromossomo 21 no seu país e no mundo


Carolina Garcia para o EL PAÍS Brasil

Dia Internacional Sindrome de Down

A síndrome de Down, também conhecida como trissomia 21, é uma anomalia cromossômica que afeta um grupo de pessoas e está associada em menor ou maior grau a uma deficiência intelectual e, em alguns casos, a determinadas doenças. Apesar de haver traços físicos comuns, cada pessoa é geneticamente única e por isso muito diferentes umas das outras. Na falta de dados oficiais, algo que diferentes associações buscam há anos, estima-se que no Brasil a população de portadores da síndrome de Down esteja perto de 300 mil pessoas.

21 de março é o Dia Internacional da Síndrome de Down, que tem como objetivo combater mitos e de conscientizar as pessoas sobre a importância da luta por direitos igualitários. Agustín Matía, gerente da Federação Down Espanha, conversou com o EL PAÍS sobre as dúvidas mais comuns em relação a síndrome.

Pergunta. Qual é o fator de risco fundamental para dar à luz ou não uma criança com Down? Como ela é detectada?

Resposta. A idade da mãe é o fator de risco fundamental. Normalmente, as gestações com acompanhamento de risco ocorrem quando a mãe tem mais de 32 ou 33 anos, embora dependa de cada região. Por volta da 10ª à 12ª semana é feita uma análise proteica, acompanhada de exames específicos, como ecografias. Daí sai uma percentagem de risco. Além disso, há três anos é feito um exame de sangue pré-natal não invasivo, o que se chama biópsia líquida genética, que em breve será incluída no protocolo de atuação de seis ou sete comunidades autônomas [as regiões da Espanha, de um total de 17]. Daí se pode obter outro fator de risco e uma conclusão: se a mulher deve ou não se submeter a uma amniocentese, com os riscos que isso acarreta, pois exige anestesia, entre outros fatores.

E não só a idade da mãe é determinante, mas também da segunda geração, ou seja, da avó. Se esta era mais velha no momento da sua gravidez, há mais risco, já que a informação genética é transmitida aos seus óvulos. Estudou-se muito a relação entre as anomalias genéticas e o fator de envelhecimento. Falou-se em alguns estudos de fatores como a poluição, mas eles se encontram nas primeiras fases e sem conclusões taxativas.

P. Qual o número de nascimentos de bebês portadores da síndrome no mundo?

R. A taxa de nascimentos universal é de um [portador da síndrome] a cada 700 [nascidos vivos]. Mas o que a realidade mostra, devido ao grande avanço das técnicas de detecção e à decisão final da mãe e do casal, é que na Espanha atualmente apenas um em cada 2.000 bebês nasce com essa síndrome. E não é só isso: segundo os dados de que dispomos (EUROCAT, 2014), no País Basco, por exemplo, 90% das mulheres que souberam [que estavam gestando um bebê com a síndrome] interromperam a gravidez. Se a evolução continuar assim, em alguns anos poderemos falar de uma geração sem recém-nascidos com Down [na Espanha], em que quase não haverá bebês com essa condição.

P. Qual é a expectativa de vida das pessoas com down?

R. Embora não haja dados oficiais, segundo nossas estimativas ela se situa na Espanha entre os 62 e 63 anos. Mas o mais relevante é que nos últimos 30 anos sua expectativa de vida aumentou 2,7 anos por ano.

P. Poderia ser mais específico quanto aos exames de detecção que existem na atualidade?

R. Está havendo uma profunda revolução graças à aplicação dos testes pré-natais não invasivos, que em poucos anos serão usados em todas as mulheres grávidas. É uma prática clínica que melhora a capacidade diagnóstica, mas que também acarreta grandes consequências bioéticas, sobre as quais ainda não se debateu nada, e que vão provocar uma previsível diminuição no número de nascimentos com previsão de quaisquer tipos de anomalias. Esse uso transcende a síndrome de Down (na Inglaterra, por exemplo, já foram dados sinais de alerta ao comprovar que está sendo usado como pré-diagnóstico para casos de acondroplasia [um tipo de nanismo], fibrose cística, várias síndromes genéticas e autismo).

P. É possível prevenir a a síndrome?

Dia Mundial da Síndrome de Down.

R. Não, não se pode preveni-la, embora nos casos com histórico familiar se pode fazer uma análise genética que oriente a futura mãe.

P. Aqueles que recebem a noticia de que seu filho tem Down, como reagem?

R. O primeiro golpe é de impacto, e o absorvem segundo o caráter de cada um. E devem deixar de lado as expectativas que tinham sobre o filho ideal e desfrutar do seu filho com síndrome de Down. Sua vida será muito rica em termos de qualidade. Quem toma a decisão a toma com todos os elementos, já que é uma síndrome que graças à ciência é fácil de prever. Não é o mesmo ter um filho com a síndrome agora ou há 15 anos, ou há 40. Todas as famílias, e digo todas, têm uma vida plena e feliz, é um sentimento unânime de todas elas.

P. Também evoluímos e acabamos com o estigma que cerca a síndrome?

R. Acredito que na Espanha fizemos isso muito bem. A síndrome ganhou muita visibilidade, o que favoreceu uma boa adaptação do indivíduo na sociedade. Houve um trabalho árduo por parte dos especialistas, da família, dos políticos, que conseguiram mostrar o rosto mais amável dessa síndrome.

P. Educação inclusiva ou exclusiva?

R. Apostamos numa educação inclusiva, para que a criança assista à aula com outros iguais sem a síndrome, e enfrente as mesmas dificuldades que seus colegas. Que compartilhem os mesmos ambientes e espaços. É verdade que detectamos um salto muito pronunciado, que é a passagem à educação secundária [a partir dos 12 anos]. Nesse ciclo já começa a ser muito notável o uso da capacidade cognitiva da garotada, e a diferença é perceptível. De todo modo, é preciso deixar claro que a deficiência não deve se adaptar à sociedade, pelo contrário, a sociedade deve facilitar e entender a todos. Embora em termos de educação ainda reste muito por fazer, nosso sistema educacional necessita de uma renovação inclusiva de cima a baixo.

P. Há alguma mensagem que gostaria de dirigir às famílias?

R. A primeira é que não tenham medo, existem muitos entornos de apoio, e ser diferente não significa ser pior. Isto não é um desejo, é uma realidade.

quinta-feira, 15 de março de 2018

Garoto autista de 6 anos que sonha em ser jornalista tem sonho realizado

garoto autista jornalista

Por Gabriela Glette para o Razões para Acreditar

Se algumas pessoas demoram para decidir o que querem estudar e que profissão querem ter, outras desde criança já nascem com a certeza daquilo que querem fazer, como é o caso do pequeno João Pedro, de apenas 6 anos, que desde que tinha apenas 3 já sabia que queria ser jornalista.

Quem compartilhou a história de João com a gente foi sua mãe, Eloane Coutinho de Souza, que nos contou que ele foi diagnosticado muito cedo como sendo autista: “Ele tem autismo e foi diagnosticado muito cedo por conta do atraso na linguagem e também por outras características”.

João gosta de assistir telejornais desde pequeno e também sempre gostou de gravar vídeos. Eloane nos contou que esta paixão é fundamental para o seu tratamento e que eles usam este interesse como parte da terapia. Eles vivem em Macapá e João sempre gostou muito da apresentadora do Jornal do Amapá, Aline Ferreira, mas ficou surpreso quando um dia ela não apresentou seu jornal preferido.

Sua mãe diz que costuma postar vídeos que grava com João em seu Facebook, fez uma postagem neste dia, falando em como o garoto estava triste pelo fato de sua apresentadora favorita não ter apresentado o telejornal. Foi quando um funcionário da TV Amapá, afiliada da Rede Amazônica viu este vídeo: “Então um funcionário da rede amazônica viu (Jallysson Bruno) e também assistiu aos outros vídeos que estão na minha linha do tempo e me mandou uma mensagem perguntando se eu permitiria que João visitasse os estúdios da Rede Amazônica e também a Aline Ferreira, a repórter”

Ela diz que João tem uma rotina muito cansativa de terapias diariamente e que ficou eufórico no dia que pôde conhecer o lugar em que ele sonha um dia poder trabalhar. Vocês podem imaginar a felicidade desta mãe ao ver seu filho realizando um sonho antigo? Eloane diz que seu maior objetivo é mostrar a ele que ele pode fazer o que quiser da vida: “E momentos como esse são fundamentais pra que ele entenda que o fato de ter autismo não limita suas oportunidades. Meu maior objetivo é permitir a ele todos os tipos de experiências para que ele tenha autonomia e seja o que ele quiser independente do autismo”

Se muitas pessoas ainda veem o autismo como uma incapacidade, Eloane nos mostra que as coisas não são bem assim e faz questão de incentivar outras mães que vivem situações parecidas com a dela: “Muitos veem os autistas como pessoas incapazes, dependentes … Eu vejo meu filho como um menino cheio de habilidades e que apenas espera um incentivo para prosseguir ….E assim que tem sido. Até agora só temos motivos para comemorar, pois cada dia que passa João se desenvolve mais é só nos dá mais orgulho”.

Veja aqui embaixo a postagem original de Eloane:



Fotos: reprodução Facebook / Eloane Coutinho de Souza

sexta-feira, 9 de março de 2018

Formas criativas para estimular a mente de alunos com deficiência

O professor deve entender as dificuldades dos estudantes com limitações de raciocínio e desenvolver formas criativas para auxiliá-los


Por: Cinthia Rodrigues

Crédito: Getty Images
Crédito: Getty Images

De todas as experiências que surgem no caminho de quem trabalha com a inclusão, receber um aluno com deficiência intelectual parece a mais complexa. Para o surdo, os primeiros passos são dados com a Língua Brasileira de Sinais (Libras). Os cegos têm o braile como ferramenta básica e, para os estudantes com limitações físicas, adaptações no ambiente e nos materiais costumam resolver os entraves do dia-a-dia. 

Mas por onde começar quando a deficiência é intelectual? Melhor do que se prender a relatórios médicos, os educadores das salas de recurso e das regulares precisam entender que tais diagnósticos são uma pista para descobrir o que interessa: quais obstáculos o aluno enfrentará para aprender - e eles, para ensinar. 

No geral, especialistas na área sabem que existem características comuns a todo esse público (leia a definição no quadro desta página). São três as principais dificuldades enfrentadas por eles: falta de concentração, entraves na comunicação e na interação e menor capacidade para entender a lógica de funcionamento das línguas, por não compreender a representação escrita ou necessitar de um sistema de aprendizado diferente. "Há crianças que reproduzem qualquer palavra escrita no quadro, mas não conseguem escrever sozinhas por não associar que aquelas letras representem o que ela diz", comenta Anna Augusta Sampaio de Oliveira, professora do Departamento de Educação Especial da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp).


A importância do foco nas explicações em sala de aula 

Alunos com dificuldade de concentração precisam de espaço organizado, rotina, atividades lógicas e regras. Como a sala de aula tem muitos elementos - colegas, professor, quadro-negro, livros e materiais -, focar o raciocínio fica ainda mais difícil. Por isso, é ideal que as aulas tenham um início prático e instrumentalizado. "Não adianta insistir em falar a mesma coisa várias vezes. Não se trata de reforço. Ele precisa desenvolver a habilidade de prestar atenção com estratégias diferenciadas para, depois, entender o conteúdo", diz Maria Tereza Eglér Mantoan, doutora e docente em Psicologia Educacional da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). 

O ponto de partida deve ser algo que mantenha o aluno atento, como jogos de tabuleiro, quebra-cabeça, jogo da memória e imitações de sons ou movimentos do professor ou dos colegas - em Geografia, por exemplo, ele pode exercitar a mente traçando no ar com o dedo o contorno de uma planície, planalto, morro e montanha. Também é importante adequar a proposta à idade e, principalmente, aos assuntos trabalhados em classe. Nesse caso, o estudo das formas geométricas poderia vir acompanhado de uma atividade para encontrar figuras semelhantes que representem o quadrado, o retângulo e o círculo. 

A meta é que, sempre que possível e mesmo com um trabalho diferente, o aluno esteja participando do grupo. A tarefa deve começar tão fácil quanto seja necessário para que ele perceba que consegue executá-la, mas sempre com algum desafio. Depois, pode-se aumentar as regras, o número de participantes e a complexidade. "A própria sequência de exercícios parecidos e agradáveis já vai ajudá-lo a aumentar de forma considerável a capacidade de se concentrar", comenta Maria Tereza, da Unicamp.
O que é a deficiência intelectual?
É a limitação em pelo menos duas das seguintes habilidades: comunicação, autocuidado, vida no lar, adaptação social, saúde e segurança, uso de recursos da comunidade, determinação, funções acadêmicas, lazer e trabalho. O termo substituiu "deficiência mental" em 2004, por recomendação da Organização das Nações Unidas (ONU), para evitar confusões com "doença mental", que é um estado patológico de pessoas que têm o intelecto igual da média, mas que, por algum problema, acabam temporariamente sem usá-lo em sua capacidade plena. As causas variam e são complexas, englobando fatores genéticos, como a síndrome de Down, e ambientais, como os decorrentes de infecções e uso de drogas na gravidez, dificuldades no parto, prematuridade, meningite e traumas cranianos. Os Transtornos Globais de Desenvolvimento (TGDs), como o autismo, também costumam causar limitações. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 5% da população mundial tem alguma deficiência intelectual. 
Foi o que fez a professora Marina Fazio Simão, da EMEF Professor Henrique Pegado, na capital paulista, para conseguir a atenção de Moisés de Oliveira, aluno com síndrome de Down da 3ª série. "Ele não ficava parado, assistindo à aula", lembra ela. Este ano, em um projeto sobre fábulas, os avanços começaram a aparecer. "Nós lemos para a sala e os alunos recontam a história de maneiras diferentes. No caso dele, o primeiro passo foram os desenhos. Depois, escrevi com ele o nome dos personagens e palavras-chave", relata ela.

Escrita significativa e muito bem ilustrada

A falta de compreensão da função da escrita como representação da linguagem é outra característica comum em quem tem deficiência intelectual. Essa imaturidade do sistema neurológico pede estratégias que servem para a criança desenvolver a capacidade de relacionar o falado com o escrito. Para ajudar, o professor deve enaltecer o uso social da língua e usar ilustrações e fichas de leitura. O objetivo delas é acostumar o estudante a relacionar imagens com textos. A elaboração de relatórios sobre o que está sendo feito também ajuda nas etapas avançadas da alfabetização. 

A professora Andréia Cristina Motta Nascimento é titular da sala de recursos da EM Padre Anchieta, em Curitiba, onde atende estudantes com deficiência intelectual. Este ano, desenvolve com eles um projeto baseado na autoidentificação - forma encontrada para tornar o aprendizado mais significativo. A primeira medida foi pedir que trouxessem fotos, certidão de nascimento, registro de identidade e tudo que poderia dizer quem eram. "O material vai compor um livro sobre a vida de cada um e, enquanto se empolgam com esse objetivo, eu alcanço o meu, que é ensiná-los a escrever", argumenta a educadora.

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Quem não se comunica... pode precisar de interação

Outra característica da deficiência intelectual que pode comprometer o aprendizado é a dificuldade de comunicação. A inclusão de músicas, brincadeiras orais, leituras com entonação apropriada, poemas e parlendas ajuda a desenvolver a oralidade. "Parcerias com fonoaudiólogos devem ser sempre buscadas, mas a sala de aula contribui bastante porque, além de verbalizar, eles se motivam ao ver os colegas tentando o mesmo", explica Anna, da Unesp. 

Essa limitação, muitas vezes, camufla a verdadeira causa do problema: a falta de interação. Nos alunos com autismo, por exemplo, a comunicação é rara por falta de interação. É o convívio com os colegas que trará o desenvolvimento do estudante. Para integrá-lo, as dicas são dar o espaço de que ele precisa mantendo sempre um canal aberto para que busque o educador e os colegas. 

Para a professora Sumaia Ferreira, da EM José de Calazans, em Belo Horizonte, esse canal com Vinicius Sander, aluno com autismo do 2º ano do Ensino Fundamental, foi feito pela música. O garoto falava poucas palavras e não se aproximava dos demais. Sumaia percebeu que o menino insistia em brincar com as capas de DVDs da sala e com um toca-CD, colocando músicas aleatoriamente. Aos poucos, viu que poderia unir o útil ao agradável, já que essas atividades aproximavam o menino voluntariamente. Como ele passou a se mostrar satisfeito quando os colegas aceitavam bem a música que escolheu, ela flexibilizou o uso do aparelho e passou a incluir músicas relacionadas ao conteúdo. "Vi que ele tem uma memória muito boa e o vocabulário dele cresceu bastante. Por meio dos sons, enturmamos o Vinicius."

Fonte: Nova Escola

quinta-feira, 8 de março de 2018

Receber o aluno com deficiência na sala de aula não significa inclusão

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Receber o aluno com deficiência na sala de aula não significa inclusão, há necessidade do preparo do docente para conhecer o tipo de deficiência e a historia de vida do aluno, sua relação com seus familiares e vice-versa; saber como trabalhar com outros alunos e com suas famílias, é este o contexto que chamamos inclusivo. Não podemos exigir que o professor esteja preparado. Há ainda a necessidade do envolvimento de gestores, da iniciativa pública e privada, de políticas públicas, de investimento na formação dos envolvidos, trabalho que não se restringe apenas aos professores, mas a todos, sem exceção.

Quando a escola recebe, pela primeira vez, uma criança com discrepâncias significativas no processo de desenvolvimento e aprendizagem ou com algum tipo de deficiência em relação aos demais alunos da mesma faixa etária é natural que muitas dúvidas surjam. O professor, geralmente, sente-se ansioso e temeroso diante de nova situação para a qual não se encontra preparado. Inicialmente, alguns professores pensam ser necessário se especializarem para poderem melhor atender o aluno com deficiência. Sem dúvida a capacitação, a pesquisa e o aprimoramentos são imprescindíveis a prática pedagógica de um profissional da educação. Contudo, a convivência, a experiência e ajuda de profissionais especializados e da família, o professor verifica que o processo de inclusão não é tão difícil como parecia, é um desafio porque implica em mudanças nas práticas pedagógicas muitas vezes cristalizadas.

Boa parte dos alunos com deficiência adaptam-se muito bem às escolas quando sentem-se de fato aceitos, compreendidos e conseguem aprender na escola. Porque, qualquer ser humano não fica bem aonde se sente excluído, incompreendido, não aprende e é rejeitado.

Essas crianças se sentem felizes por poderem participar da vida, conviver e brincar com outras crianças, aprenderem juntas com as demais. Isso é perfeitamente possível, desde que o professor seja orientado em sua tarefa pedagógica.

Portanto, não há uma regra específica, se deve falar para os demais alunos da sala de aula se tem ou não um ou alguns alunos com deficiência. Cada situação é única. Dependendo de como o grupo classe e o professor acolher estes alunos, haverá uma estratégia diferente. Caso o professor tenha como prática no inicio das aulas fazer dinâmicas de grupo com seus alunos para se conhecerem deve manter isso, aproveitando a situação para falar sobre o que o aluno com deficiência tem e como todos podem ajudá-lo e das qualidades e competências que esse aluno tem, do que gosta, das coisas que ele sabe, sobre sua vida, qual a expectativa dele nesta classe e escola, etc. O manejo precisa ser ponderado.

Para que esses princípios inclusivos se concretizem, torna-se fundamental a elaboração, por toda comunidade escolar, de um projeto político pedagógico de inclusão contando com a participação efetiva dos pais, profissionais ou instituições especializadas que realizam o atendimento complementar, tendo em vista a avaliação das necessidades educacionais específicas desses educandos para as adaptações e complementações curriculares que se fizerem necessárias.

Não vejo sentido comunicar aos demais pais que há um aluno com deficiência na classe, para tanto será importante a participação coletiva humanística acolhedora

Não atendemos síndromes, doenças ou patologias, mas sim uma criança, um aluno, um adolescente, adulto que tenha alguma diferença. Isso é cultural e por isso leva-se tempo para que a cultura da patologia e modelo médico se dissolva para vermos pessoas no lugar de doenças.

Defendo que o trabalho precisa ser coletivo, com tutorias, com todos juntos, por isso aprendizagem é cooperativa, um ajudando o outro, quer seja professor-professor, professor-especialista, professor-aluno, aluno-especialista, aluno-aluno, enfim quem sabe ensina.

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A sala de aula deve ser um espaço coletivo, circular, não linear, o poder é de todos, todos tem algo para ensinar, fazer, compartilhar e aprender.

Enquanto a estrutura escolar manter o poder centrado no professor fica inviável qualquer inclusão.

Estudos e experiências realizados no Brasil e no mundo demonstram que a Educação Inclusiva é benéfica para todos os envolvidos.

Os alunos com deficiência aprendem:
  • melhor e mais rapidamente, pois encontram modelos positivos nos colegas; que podem contar com a ajuda e também podem ajudar os colegas;
  • a lidar com suas dificuldades e a conviver com as demais crianças.

Os alunos sem deficiência aprendem:
  • a lidar com as diferenças individuais;
  • a respeitar os limites do outro;
  • a partilhar processos de aprendizagem.

Todos os alunos, independentemente da presença ou não de deficiência, aprendem:
  • a compreender e aceitar os outros;
  • a reconhecer as necessidades e competências dos colegas;
  • a respeitar todas as pessoas;
  • a construir uma sociedade mais solidária;
  • a desenvolver atitudes de apoio mútuo;
  • a criar e desenvolver laços de amizade;
  • a preparar uma comunidade que apóia todos os seus membros;
  • a diminuir a ansiedade diante das dificuldades.

A Escola Inclusiva respeita e valoriza todos os alunos, cada um com a sua característica individual e é à base da Sociedade para Todos, que acolhe todos os cidadãos e se modifica, para garantir que os direitos de todos sejam respeitados.

Essa é base da Educação Inclusiva: considerar a deficiência de uma criança ou de um jovem com mais uma das muitas características diferentes que os alunos podem ter.

E, sendo assim, respeitar essa diferença e encontrar formas adequadas para transmitir o conhecimento e avaliar o aproveitamento de cada aluno.

Vários estudos, no Brasil e no mundo, têm demonstrado que essa pedagogia centrada na relação com o aluno é benéfica para todos os estudantes com e sem deficiência porque:
  • Reduz a taxa de desistência e repetência escolar;
  • Aumenta a auto-estima dos alunos;
  • Impede o desperdício de recursos;
  • Ajuda a construir uma sociedade que respeita as diferenças.

Somente com o apoio dos professores, o Brasil poderá, de fato, oferecer uma Educação de Qualidade para Todos. E você, professor, pode começar a fazer isso agora. Não é preciso cursar uma faculdade. Basta você usar sua criatividade, seu bom senso, sua vontade de ensinar, sua experiência. E os professores especializados em alunos com deficiência e outros profissionais, como pedagogos, psicólogos, terapeutas ocupacionais estão aí para ajudar você. Além disso, uma das características mais interessantes da Educação Inclusiva é que ela deve envolver também as famílias e a comunidade. Isso significa que a Escola Inclusiva poderá beneficiar-se com parcerias com universidades, organizações não governamentais, escolas SENAI, APAEs, centros de reabilitação, entidades de pessoas com deficiência, associações de bairro, associações comerciais locais etc. Essa rede de parceiros, que inclui a participação da família, será fundamental para a escola conseguir os recursos humanos e materiais de que precisa para oferecer a melhor educação para todos os seus alunos.

Como tudo isso funciona para a família?

Existe preconceito vindo de outros pais ou até mesmo dos colegas de classe?

Em todos os sentidos, primeiro em manter a exclusão das pessoas, manter mitos e informações errôneas, isso chamamos de acessibilidade atitutinal, é a mais difícil porque exige que resignifiquemos nossos valores, nossas relações, nossas crenças, enfim todos nós somos especiais e deficientes.

O preconceito faz parte da natureza humana, desde o início da humanidade. O homem desconfia e tem medo de tudo o que é diferente dele mesmo, do “outro”.

O “outro” inspira receio, temor, insegurança. Esses sentimentos eram importantes no tempo das cavernas, quando os homens eram poucos e lutavam bravamente para sobreviver em um ambiente hostil. Certamente, essa característica foi selecionada evolutivamente porque ajudava na sobrevivência da espécie.

E o homem moderno ainda é biologicamente o mesmo daqueles tempos. Diante do diferente, do desconhecido, é normal adotar atitudes defensivas ou de ataque, que se expressam pelo preconceito, pela discriminação, pelas palavras ofensivas ou por atos violentos, como vemos hoje os comportamentos de bullying nos jovens.

Como é para o educador atender crianças com deficiências?

Poderia definir isso como uma postura dentro de um processo na mudança das atitudes das relações professor-aluno. Urgimos que haja investimentos na valorização do papel e na construção da identidade do novo professor, visto que hoje ele é um facilitador ou mediador da aprendizagem; precisa sair do papel de “dar aulas”, “estimular criancinhas”, para ser o mediador da construção de conhecimentos, este é o novo paradigma. Isso pouco se discute no Brasil e por isso o professor ainda fica reivindicando causas absurdas como querer reprovar os alunos. O professor ainda não “percebeu” que ele não é mais “o centro” da situação, hoje ele está “na relação” da aprendizagem com o aluno. As questões da aprendizagem são relacionais e afetivas.

Resultado de imagem para Receber o aluno com deficiência na sala de aula não significa inclusão

A prática da Educação Inclusiva pressupõe que o professor, a família e toda a comunidade escolar estejam convencidos de que:
  •  O objetivo da Educação Inclusiva é garantir que todos os alunos com ou sem deficiência participem ativamente de todas as atividades na escola e na comunidade;
  • Cada aluno é diferente no que se refere ao estilo e ao ritmo da aprendizagem.

E essa diferença é respeitada numa classe inclusiva:
  • Os alunos com deficiência não são problemas. A Escola Inclusiva entende esses alunos como pessoas que apresentam desafios à capacidade dos professores e das escolas para oferecer uma educação para todos, respeitando a necessidade de cada um.

O fracasso escolar é um fracasso da escola, da comunidade e da família que não conseguem atender as necessidades dos alunos:
  • Todos os alunos se beneficiam de um ensino de qualidade e a Escola Inclusiva apresenta respostas adequadas às necessidades dos alunos que apresentam desafios específicos;
  • Os professores não precisam de receitas prontas. A Escola Inclusiva ajuda o professor a desenvolver habilidades e estratégias educativas adequadas às necessidades de cada aluno;
  • A Escola Inclusiva e os bons professores respeitam a potencialidade e dão respostas adequadas aos desafios apresentados pelos alunos;
  • É o aluno que produz o resultado educacional, ou seja, a aprendizagem. Os professores atuam como facilitadores da aprendizagem dos alunos, com a ajuda de outros profissionais, tais como professores especializados em alunos com deficiência, pedagogos, psicólogos e intérpretes da língua de sinais.

Como a educação inclusiva pode formar a postura do jovem cidadão?
  • Favorece e incentiva a criação de laços de amizade entre todos os alunos;
  • Incentiva a criatividade e a autonomia do aluno em busca do próprio conhecimento;
  • Aprende o valor da diferença e da convivência para os alunos a partir do exemplo dos professores e da comunidade escolar e pelo ensino ministrado nas salas de aula;
  • Promove o empoderamento, a autonomia, a independência e a cidadania;
  • Desenvolve a capacidade de vislumbrar um projeto de vida produtiva e independente.

Sugestões de dinâmicas de grupo ou rodas de conversa

Objetivos: 
Avaliar os sentimentos e fantasias pessoais, identificar, nomear igualdades e diferenças, pontos fortes e oportunidades de melhoria, estimular a empatia. 

Discriminar e diferenciar deficiência de doença. Trabalhar a construção conceitual / terminologia correta das deficiências (as crianças falavam várias palavras, menos “pessoa com deficiência”)

Estratégias: 
Aquecimento: Cada criança escolhe uma bexiga. Ao som de música, com as bexigas cheias, vão
brincar sob comandos, sozinhos, em duplas, em trios, todos.

Atividades:
    1. Com todas as cadeiras de rodas, cadeirões, andadores, vamos fazer vivências de como deve ser uma pessoa com deficiência física. Em dois grupos, um guia o outro/ trocam. Discussão de como se sentiram, desenho na lousa para ajudar o raciocínio. Desenho livre sobre o tema.
    2. Vivências sensoriais – Deficiência Visual – A escuridão. Com faixas pretas nos olhos (uma criança guia a outra / trocam). Discussão e desenho livre.
    3.  Deficiência Auditiva – O mundo do silêncio. Dois grupos ensaiam cenas, utilizando mímica. Um é platéia do outro. Ou o mediador finge falar sem utilizar a voz. Discussão sobre o tema e desenho livre.
    4. Deficiência Intelectual – Por que nosso colega as vezes tem dificuldades para entender? Uma história contada em duas versões, mais difícil e outra mais fácil. Discussão do tema e desenho livre.
    Sugestão de livros para roda de conversa
    • Muito prazer, eu existo (5ª ed/1992) – Primeiro livro escrito no Brasil sobre síndrome de Down para leigos. Cláudia Wernek da Editora WVA.
    • Coleção Meu Amigo Down (9ª ed/1994) – As histórias – Meu amigo Down, em casa; Meu amigo Down, na rua; Meu amigo Down, na escola são narradas por um personagem que não entende por que seu amigo com síndrome de Down enfrenta situações delicadas. Cláudia Wernek da Editora WVA.
    • Um amigo diferente? (9ª ed/1996) – Conta a história de uma criança que diz ser diferente. O texto leva à reflexão sobre as diferenças individuais discorrendo sobre hemofilia, paralisia cerebral, ostomia, doença renal etc. Cláudia Wernek da Editora WVA.
    • Ninguém mais vai ser bonzinho, na sociedade inclusiva (3ª ed/1997) – Primeiro livro sobre sociedade inclusiva escrito no Brasil, explica o que é uma escola, mídia, literatura e sociedade inclusivas. Cláudia Wernek da Editora WVA.
    • Sociedade Inclusiva. Quem cabe no seu TODOS? (2ª ed/1999) – Discute o uso leviano da palavra TODOS na cultura, na mídia, nas universidades, no discurso dos governantes, no dia-a-dia de TODOS. Cláudia Wernek da Editora WVA.
    • Uma joaninha diferente (4ª. Ed/2012) Regina Célia Melo, Ed. Paulinas.

    Bem, gostaria de terminar e definir Educação Inclusiva com uma frase: “Olhares e modos de ver”, pois só através do olhar que transformamos o outro ser humano em pessoa, com identidade própria e vida.

    E completando: 
    “A questão fundamental é a atitude. Se é algo que você deseja fazer, você começa a procurar meios de consegui-lo. Se é algo que você não deseja fazer, você começa a procurar desculpas para não fazê-lo.” (Wayne Sailor, 1991).
    *Marina da Silveira Rodrigues Almeida
    Consultora de Ed. Inclusiva, Psicóloga, Pedagoga Especialista e Psicopedagoga
    Instituto Inclusão Brasil
    Rua Jacob Emerich, 367 – Sala 13 – Centro – São Vicente – SP
    contato@institutoinclusaobrasil.com.br

    Fonte: criancaespecial.com.br

    sexta-feira, 2 de março de 2018

    Crianças com deficiência são mais frágeis que as outras?

    Por Augusto Galery para o diversa.org.br


    Em nossas conversas com pais e educadores, frequentemente surgem falas sobre o medo de que as crianças com deficiência ou transtornos globais de desenvolvimentos (TGD), que estudam em escolas regulares, sofram assédio das outras crianças por serem diferentes. Esse discurso aparece na esfera das políticas públicas, quando pais e organizações pressionam os representantes governamentais pela defesa dessas crianças por meio de sua institucionalização segregada.

    Esse medo não é completamente infundado e suas raízes são explicadas pelo caráter dos grupos. A escola, como espaço privilegiado da socialização infantil, torna-se o palco onde se ensaiam os comportamentos grupais. E, se é verdade que as pessoas se unem a partir de suas semelhanças, também é verdade que muitos grupos se unem com o intuito de afastar as diferenças. Participar de um grupo, nesse sentido, é odiar o mesmo adversário (tese defendida por pensadores como Hobbes e Freud). Por essa razão, os preconceitos são tão difíceis de serem extintos: é necessário um forte trabalho da razão para combater nossos impulsos primários, ao mesmo tempo infantis, egocêntricos e destrutivos.

    Mas, apesar dessa ameaça ser real, ela não atinge apenas as crianças com deficiência. Qualquer diferença bastará, como comprovam os estudos sobre o bullying escolar. Usar óculos, estar acima do padrão do peso, ser tímido, não gostar de futebol – esses fatos já são suficientes para que uma criança seja assediada pelos chamados “valentões”, em geral crianças que almejam conseguir benefícios sociais a partir de sua valentia.

    Tal fato nos leva a duas questões: em primeiro lugar, o bullying é um problema da comunidade escolar, e não um ônus exclusivo da sua vítima. Ao se retirar do convívio o assediado, garante-se a vitória da agressão, já que o agressor pretendia, exatamente, eliminar a diferença.

    Em segundo, mostra um “pré-conceito” bastante comum no Brasil: a crença de que a criança com deficiência é mais frágil, em termos psicossociais, do que seus pares sem deficiência. Dessa forma, essa criança precisa ser defendida das crueldades da vida – crueldades que todos os outros enfrentam diariamente – por não ser capaz de suportá-las.

    Assim, é necessário refletir a respeito de nossas posições frente a essas questões. Acredito, por um lado, que o bullying, quem quer que seja sua vítima, é um problema social que precisa ser tratado a partir da ótica da inclusão – modificar a sociedade para receber qualquer um – e não da exclusão – onde apenas os mais fortes sobrevivem. É papel da sociedade atuar sobre o agressor, dando-lhe um parâmetro adequado de atuação e de valores sociais, para garantir o lugar de todos.

    Por outro lado, é preciso acreditar que qualquer criança se desenvolve, inclusive psicossocialmente. As pessoas com deficiência se superam a cada dia, da mesma forma que todas as outras. Esse é um dos fatores dentre os que devem ser cuidados para que cada criança possa realmente atingir seu pleno potencial.

    Augusto Galery é psicólogo, mestre em administração, doutor em psicologia social e pesquisador em sociedade inclusiva. Foi coordenador do programa DIVERSA Pesquisa de 2011 a 2015.

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