sexta-feira, 27 de julho de 2018

Conheça mais sobre a deficiência intelectual

Por Valeska Magierek para o Barbacena Online


O que é a Deficiência intelectual ou o Transtorno do Desenvolvimento Intelectual?

A Deficiência Intelectual é um transtorno com início no período do desenvolvimento que inclui déficits funcionais, tanto intelectuais quanto adaptativos, que afetam o desenvolvimento global da criança. Deficiência Intelectual é o termo substitutivo para Atraso ou Retardo Mental, o que implica em dizer que, aquela criança tem padrão de inteligência abaixo do esperado para sua faixa etária e que, sua aprendizagem global será dependente das limitações que a Deficiência Intelectual impuser.

Na Deficiência Intelectual encontramos falhas no raciocínio, na solução de problemas, no planejamento, no pensamento abstrato, juízo, aprendizagem acadêmica e aprendizagem pela experiência. Os déficits resultam em prejuízos no funcionamento adaptativo, de modo que o indivíduo pode não conseguir atingir padrões de independência pessoal e responsabilidade social em um ou mais aspectos da vida diária, incluindo comunicação, participação social, funcionamento acadêmico ou profissional e independência pessoal em casa ou na comunidade.

Quais são as características diagnósticas para a Deficiência Intelectual?

Todo transtorno segue uma linha de raciocínio diagnóstico importante e necessária para sua identificação e tratamento, ou seja, cada e todo transtorno tem características próprias que ajudam os especialistas no diagnóstico e tratamento e, por isso, é importante estarmos atentos às características ‘atípicas’, ‘diferentes’ de uma determinada criança.

Para a Deficiência Intelectual temos os seguintes critérios diagnósticos, de acordo com o DSM-5, nosso Manual de Doenças Mentais:

Critério A. Déficits em funções intelectuais como raciocínio, solução de problemas, planejamento, pensamento abstrato, juízo, aprendizagem acadêmica e aprendizagem pela experiência confirmados tanto pela avaliação clínica quanto por testes de inteligência padronizados e individualizados.

Critério B. Déficits em funções adaptativas que resultam em fracasso para atingir padrões de desenvolvimento e socioculturais em relação a independência pessoal e responsabilidade social. Sem apoio continuado, os déficits de adaptação limitam o funcionamento em uma ou mais atividades diárias, como comunicação, participação social e vida independente, e em múltiplos ambientes,como em casa, na escola, no local de trabalho e na comunidade.

Critério C. Início dos déficits intelectuais e adaptativos durante o período do desenvolvimento.

Quando podemos diagnosticar o atraso global do desenvolvimento (ADNPM) na criança?

O atraso global do desenvolvimento é diagnosticado quando a criança não atinge os marcos do desenvolvimento esperados em várias áreas do funcionamento intelectual.

A sigla ADNPM, muito comumente vista nos relatórios dos especialistas, indica que aquela criança se encontra abaixo do que é esperado para sua faixa etária, requerendo atenção e cuidados que podem variar de leve a extremo.

Qual é o padrão de inteligência esperado para a população geral?

O padrão de inteligência segue uma distribuição populacional estatística cuja média gira em torno de 100. É o famoso QI (quociente de Inteligência), que deve ser avaliado de forma complexa, seguindo padrões internacionalmente validados para isso.

Nas pessoas com Deficiência Intelectual, o padrão de QI encontra-se abaixo de 100 e, quanto mais longe de 100, maiores serão as dificuldades encontradas ao longo de seu desenvolvimento.

Quais podem ser as causas das Deficiência Intelectuais?

As deficiências intelectuais podem ter causas (etiologias) variadas: uma criança que demorou a nascer e que lhe faltou provimento de oxigênio, a existência de alguma síndrome, meningites, encefalites, traumatismos cranianos, uso de substâncias pela mãe, malformações encefálicas, doenças convulsivas etc.

A Deficiência Intelectual piora ao longo da vida?

Embora a deficiência intelectual em geral não seja progressiva, em algumas doenças genéticas (por exemplo, na Síndrome de Rett) há períodos de piora seguidos de estabilização, e, em outras (p. ex., na Síndrome de San Phillippo), ocorre piora progressiva da função intelectual. Depois da primeira infância, o transtorno costuma perdurar por toda a vida, ainda que os níveis de gravidade possam mudar ao longo do tempo. O curso pode ser influenciado por condições médicas ou genéticas subjacentes e por condições comórbidas (p. ex., deficiências auditivas ou visuais, epilepsia).

Intervenções precoces e continuadas podem melhorar o funcionamento adaptativo na infância e na vida adulta. Em alguns casos, ocorre melhora significativa da função intelectual, até tornando o diagnóstico de deficiência intelectual não mais apropriado. Desse modo, é prática comum ao avaliar bebês e crianças pequenas postergar o diagnóstico de deficiência intelectual para até depois de um curso apropriado de intervenção ter sido proporcionado.

A Deficiência Intelectual pode aparecer com algum outro tipo de Transtorno?

 Sim, a Deficiência Intelectual pode ter comorbidades e a identificação de todas elas é fundamental para o tratamento e melhoria da qualidade de vida da criança.

Podemos encontrar Deficiência Intelectual com Síndrome de Down, com TEA, com Transtorno de Ansiedade, com TOD (Transtorno Opositor-Desafiador), etc.

A que fatores as famílias precisam ficar atentas e procurar ajuda o quanto antes?

Precisamos ficar atentos àquelas crianças que demoram mais tempo que o habitual a compreender, a entender e aprender novos conteúdos.

Crianças com Deficiência Intelectual necessitam da criação de estratégias eficazes e eficientes para a aquisição da aprendizagem.

Perceber o mais rapidamente possível que a criança tem algum déficit na aprendizagem favorece a reabilitação e a minimização dos efeitos da Deficiência Intelectual no seu desenvolvimento.

Valeska Magierek é Psicóloga, com especialização em Neuropsicologia e mestrado em Psicobiologia. Atua há 20 anos na área de Psicologia Infantil e Neuropsicologia. É Diretora clínica do Centro AMA de Desenvolvimento em Barbacena. www.centroamadesenvolvimento.com.br.

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Alterações de Leitura e Escrita no TEA: Dicas Práticas

O texto de hoje fala sobre as alterações de leitura e escrita no Transtorno do Espectro Autista (TEA). O tema é voltado para o desenvolvimento e aprendizagem da leitura em crianças com autismo. As dicas são destinadas à orientação sobre o que fazer do ponto de vista da leitura.


A leitura como desafio

Ensinar uma criança com autismo a ler é um desafio. Mesmo que algumas delas já cheguem à escola sabendo ler e identificando visualmente as palavras; podemos perceber que muitas delas não adquiriram a habilidade de compreensão de leitura e de usar as palavras nos mais diversos contextos.

Estímulo imagético: um grande passo

A criança com autismo aprende melhor por meio de figuras e desenhos; e por meio de estimulação visual. É muito importante trabalhar palavras, letras e vocabulário por meio de figuras expressando ações, momentos, situações do cotidiano. Isso ajuda a desenvolver um vocabulário mais amplo.

Palavras que exprimam familiaridade

Outra dica é usar palavras que remetam a objetos, pessoas e locais que a criança com autismo tenha interesse. É importante que tais expressões sejam associadas a esses meios de interesse e, com isso, vocês façam a ligação dessas palavras que estejam direta ou indiretamente relacionadas. Tudo no passo a passo, sem pressa.

Métodos que auxiliem o aprendizado

É muito importante desenvolver métodos, meios e formas que ajudem a criança a desenvolver as habilidades fonológicas dela e os processos de decodificação envolvendo sons e letras.

Além disso, pode-se buscar métodos como a metodologia fônica (com palavras de interesse delas) para que o pequeno aprenda a soletrar, a separar as sílabas e tenha a consciência fonológica. Isso é essencial para que a criança consiga decodificar letra e sons de seu interesse, mas também associar letras e sons com outras formas de escrita.


Utilize referências que trabalhem o contexto do pequeno

Que tal trabalhar o vocabulário dentro do contexto dessa criança? Contudo, a intenção é ampliar esse vocabulário. Outra dica é passear com a criança no parquinho e em ambientes diversos: padaria, supermercado, festas; lugares que estimulam a brincadeira e a interação social. Com isso ela vai memorizando essas palavras novas, enriquecendo o repertório dela.

Memorizando regras ortográficas

Incentivem, na prática, formas de memorizar as regras ortográficas, usando rotas repetitivas para que a criança com autismo tenha essa sequência criada na mente delas. Com essas rotas você pode trabalhar com cores e figuras, utilizando jogos ou tablets (as crianças com autismo se dão muito bem com esses estímulos visuais).

Importante saber

– Para crianças que não fazem o traçado das letras, o tablet pode ser uma ferramenta fundamental para alfabetizar e desenvolver a escrita. O próprio aparelho oferece formas de escrita manual.

– Para casos de autismo associado à hiperatividade é preciso medicar essa criança a fim de ajudar na atenção e fazer reduzir a hiperatividade dela. O próximo passo é trabalhar com coisas altamente motivadoras para o pequeno.

– Por meio de fotos da família, a criança pode fazer relações sociais com as fotografias. Existem métodos de photovoice (utilizar fotos familiares para trabalhar capacidade e competência social). Por meio das fotos ela começa a ter noção de história social e pode trabalhar o som de letra também.

Fonte: NeuroSaber

sexta-feira, 20 de julho de 2018

Audiência Pública destaca que cada pessoa com deficiência é única

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que 10% da população possui o diagnóstico de deficiências visual, física, auditiva, intelectual e múltiplas. Para debater o assunto, em especial a saúde mental da Infância e da Adolescência,  aconteceu na manhã desta quinta-feira, 19 no plenário da Assembleia Legislativa de Sergipe (Alese), uma audiência pública realizada pela Frente Parlamentar em Defesa de Direitos da Criança e do Adolescente, coordenada pela deputada estadual Ana Lula (PT). Na ocasião, o pediatra Byron Emanuel de Oliveira Ramos lembrou que “cada pessoa com deficiência é diferente dos outros e que, independente do rótulo que lhe seja imposto para a convivência de outras pessoas, ele ainda assim é uma pessoa única”.


O pediatra Byron Emanuel de Oliveira Ramos palestrou durante o evento (Fotos: Jadílson Simões)

De acordo com a parlamentar Ana Lúcia , o evento é de extrema importância porque a Assembleia Legislativa entra em recesso de alguns procedimentos, principalmente as sessões plenárias. “Mas isso não impede que a Casa Legislativa continue fazendo eventos que escute a sociedade, que veja angústias, desejos e necessidades da sociedade, para que possamos fazer encaminhamentos que venham a ajudar solucionar desafios e problemas que a sociedade está a enfrentar”, ressalta.

ECA

A deputada lembrou que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que completou recentemente 28 anos, mas até hoje não foi implementado.

“É uma lei que sofre profundos preconceitos; é você ter um conceito ser ver na verdade qual a concepção científica correta, cheia de estigma, de rótulos e discriminação. A interpretação do Estatuto por alguns segmentos da sociedade, os conservadores, reproduz toda a discriminação e o processo de exploração que a própria sociedade vive. Nós precisamos estar discutindo que prioridade é essa porque o Estatuto diz que a criança e o adolescente precisam ter prioridade absoluta, mas vemos crianças nos semáforos, crianças passando fome, abandonadas e as que tem algum tipo de transtorno o processo de discriminação é maior ainda porque a maioria pertence às camadas populares e em geral se tem uma sociedade subescolarizadas em que as informações não são interpretadas corretamente, mesmo pelas redes sociais e aí as crianças sofrem duplamente”, afirma destacando a importância da audiência com pediatra, psicopedagoga e psicóloga para que se comece a tematizar a questão da criança com transtorno.

Conceitos e preconceitos

Em sua fala, o médico Byron Ramos destacou a questão do preconceito, que segundo ele, é igual ao que acontece no Oriente e todos têm conhecimento. “Sei que é uma difícil trajetória, mas cada um vai fazendo o seu papel. Os conceitos e preconceitos referentes à Saúde Mental de Crianças e Adolescentes, passam pelo ato de cuidar, da individualidade, potencialidades e sexualidade. Isso porque as pessoas com deficiências, independente do grau destas, têm um potencial ilimitado para se tornar não o que nós queremos que sejam, mas o que eles desejam”, ressalta.


Dr Byron participou do evento

Ele enfatizou que, “cada pessoa com deficiência é diferente dos outros e que, independente do rótulo que lhe seja imposto para a convivência de outras pessoas, ele ainda assim é uma pessoa única. Não existem duas crianças com deficiência intelectual que sejam iguais ou dois adultos surdos que respondam e reajam da mesma forma”.

Na oportunidade, o deputado Capitão Samuel ressaltou que “debater o tema sobre crianças e adolescentes é debater o nosso futuro e em relação à saúde mental, eu tenho estudado o problema das drogas e querendo saber qual o papel do estado, pois a sociedade está se perdendo na violência, no respeito, a instituição família se perdendo na forma de conduzir. A gente fala, debate e parece que nada se resolve para entender a destruição das famílias e o que facilitou os jovens a ter problemas com as drogas”.

Mesa

A mesa foi composta pela presidente da Frente Parlamentar em Defesa de Direitos da Criança e do Adolescente, a deputada Ana Lúcia Vieira, o deputado Capitão Samuel Barreto (PSC), o vereador Lucas Aribé (PSB), médico pediatra, professor aposentado da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e ex-presidente do Departamento de Saúde Escolar da Sociedade Brasileira de Pediatria, Byron Emanuel de Oliveira Ramos; a Dra Angélica Piovesan, Doutora em Educação, Neuropsicóloga clínica, psicóloga e coordenadora do curso de psicologia da Universidade Tiradentes (UNIT) e a professora Margarida Maria Teles, Mestre em Educação pela Universidade Federal de Sergipe,  Pós – Graduada em Psicomotricidade/ Universidade Federal de Sergipe e em Atendimento Educacional Especializado-AEE pela Universidade Federal do Ceará.

No plenário e nas galerias, representantes de secretarias de ação social, de educação e de saúde de vários municípios sergipanos, pais de crianças com distúrbios mentais e representantes de órgãos que trabalham com crianças e adolescentes no Estado de Sergipe.

Fonte: Rede Alese

quarta-feira, 18 de julho de 2018

Quantidade de alunos com deficiência por turma desafia escolas particulares

Colégios limitam nº de estudantes com demanda de atenção especial por classe, sob justificativa de não ter condição de ofertar ensino de qualidade e atender todos que buscam esse atendimento. Lei proíbe negar matrícula ou restringir acesso


Isabela Palhares, O Estado de S.Paulo

SÃO PAULO - Quando o filho completou 4 anos, Elaine Kiss, como a maioria dos pais, começou a procurar escola. Para a sua surpresa, todos os colégios diziam não ter mais vaga. As escolas não estavam lotadas, mas não tinham lugar para crianças como Gustavo, que é autista. A lei proíbe negar matrícula a alunos com deficiência ou transtornos globais do desenvolvimento, como o autismo, mas instituições particulares afirmam ter número máximo de vagas para estudantes com deficiência. A justificativa dos colégios é a dificuldade de receber várias crianças ou adolescentes com esse perfil, que demanda outros tipos de atenção. 

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‘Dez escolas recusaram matrícula para o meu filho. Quando ligava, perguntando se havia vaga, todas diziam que tinham’, afirma Elaine Foto: Werther Santana/Estadão

“Dez escolas recusaram matrícula para o meu filho. Quando ligava, perguntando se havia vaga, todas diziam que tinham e agendaram horário para eu ir conhecer o espaço. Quando eu dizia ou viam que o Gustavo é autista, na mesma hora falavam que as vagas para deficientes já estavam preenchidas”, conta Elaine, de 37 anos. Após dois anos de busca, Gustavo, hoje com 6 anos, vai começar a frequentar em agosto as aulas em um colégio particular na zona leste de São Paulo.

Mãe de Giovana, de 11 anos, também autista, Elaine sabia que as justificativas dos colégios não eram amparadas por lei, mas preferiu não insistir na matrícula. “Uma diretora disse que já tinha outras crianças com deficiência e, se aceitasse meu filho, deixaria de ser escola regular. Sabia que era mentira e ilegal, mas não queria deixar meu filho nesse lugar.”

Em junho de 2016, o Supremo Tribunal Federal validou as normas do Estatuto da Pessoa com Deficiência, de 2015, proibindo escolas privadas de recusar matrícula sob qualquer justificativa ou de cobrar valores adicionais nas mensalidades do aluno com deficiência. A lei, assim como normas anteriores, não prevê número máximo de crianças com deficiência por turma ou escola. São comuns, no entanto, relatos de pais que ouviram das escolas justificativas sobre um “limite” de capacidade.

Demanda. Como muitas escolas criam empecilhos para matricular alunos com deficiência, segundo especialistas, unidades consideradas melhores no atendimento de estudantes desse tipo costumam ter maior procura pelas famílias e podem ficar sobrecarregadas.

A Red House International School, em Higienópolis, na região central de São Paulo, usa abordagens de ensino desenvolvidas pelo National Autism Center (EUA). O órgão recomenda, para um trabalho eficiente de inclusão e aprendizagem, proporção de 30% de alunos com alguma necessidade de intervenção pedagógica por turma.

“Atendemos o número máximo possível para beneficiar tanto a criança de inclusão, como as demais. Cada aluno tem um plano individual de ensino com um currículo adaptado para suas necessidades, materiais adaptados, assistência diferente. Se aceitarmos mais do que isso por turma, esse trabalho se perde”, explica a diretora Denise Liam. Dos 170 alunos da escola, 18% têm alguma deficiência.

Ela explica que a proporção não é rígida e avaliada a cada caso. No 3.º ano do ensino fundamental, 4 de 12 alunos são autistas. “Esses números nos garantem boa educação. Quando os pais me procuram e não tenho condições pedagógicas de aceitar a criança, explico e ajudo a encontrar outra escola que vá garantir bom trabalho de ensino.” O colégio vai inaugurar uma nova unidade em 2019.

No Colégio Anglo 21, zona sul, a coordenação tenta colocar uma criança com deficiência por turma, especialmente em séries iniciais. Diz que, ao longo do ano, perceberam que outros alunos acabam sendo diagnosticados com alguma síndrome ou transtorno. “Por esse cenário triste e grave de exclusão em outros lugares, muitas famílias não avisam a escola com antecedência. Ou, e é o que ocorre na maioria das vezes, o diagnóstico ainda não está fechado pelos médicos”, explica a coordenadora, Ana Clara Bin.

Ludmila Harabura, de 41 anos, matriculou Felipe, de 8, no Anglo 21, aos 3 anos. Com paralisia cerebral, ele tem dificuldade de locomoção e na fala, mas, com adaptações feitas no material didático, acompanha o mesmo conteúdo que os colegas. “Aprende a mesma coisa, mas de forma diferente. A escola entendeu que precisava adaptar o material, as aulas e a forma de ensino. Não era o Felipe que tinha de se adaptar”, diz a mãe.

Na turma, é o único com deficiência. Para Ludmila, a escola teria condições de atender mais de uma criança com deficiência por sala, mas acredita que a atenção pode ficar “diluída”. “O diferencial foi o poder de adaptação da escola. Se tivessem de fazer isso com duas ou três crianças na mesma sala, usar estratégias e materiais diferentes, não sei se a qualidade seria a mesma. É um dilema.”

Recusas

Para Fernanda Maria Correia, de 42 anos, a escola ideal só apareceu após várias rejeições. Ela tirou o filho Davi, autista e com 9 anos, de um colégio privado de Belo Horizonte por causa de agressões físicas e psicológicas. Foi em busca de outras unidades. 

“Em uma das escolas, a coordenadora dizia que não tinha condições de fazer a inclusão de mais de uma criança em uma turma com 30. Ela me mostrou o livro e me perguntou se achava que ele conseguiria acompanhar. Usam argumentos tão absurdos que eu mesma não quis deixá-lo naquele colégio.” Por fim, uma escola privada abrigou Davi, hoje no 2.º ano do fundamental, após discutir com a família e terapeutas a melhor forma de incluir a criança.

Vários colégios não querem se adaptar, afirma especialista

A maioria das escolas, segundo especialistas, entende que não é sua missão atender alunos com deficiência. E nem toda necessidade de intervenção pedagógica, defendem, deve ser tratada da mesma maneira. 

Coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Ensino e Diferença da Unicamp, Maria Teresa Mantoan diz que a lei e as escolas não podem fixar limite de alunos com deficiência, pois estariam “embutindo a noção de que esse aluno é um fardo”. Os pais, diz, devem denunciar esse tipo de prática ao Conselho Estadual de Educação ou ao Ministério Público. Entre as sanções possíveis, a escola pode ser multada. 

“É claro que os pais vão buscar aquelas que se mostram mais abertas e isso sobrecarrega algumas unidades. Temos de cobrar esse posicionamento de todas, muitas escolas se isentam dessa responsabilidade porque não querem se adaptar”, diz Maria da Paz Castro, assessora de educação inclusiva em escolas particulares.

Para ela, que foi capacitadora do Centro de Estudos da Escola da Vila, “cotas”, além de ilegais, podem criar distorções. A demanda de um aluno com síndrome de grau mais grave não é a mesma de um com dislexia leve. “Crianças com deficiência não trazem problemas, mas revelam problemas que escolas têm e tentam empurrar para debaixo do tapete.”

Em nota, o Ministério da Educação (MEC) destacou que nenhuma escola, pública ou particular, pode rejeitar matrícula de crianças com deficiência. A Secretaria de Estadual de Educação de São Paulo também informou que não restringe o número de alunos com deficiência por sala e que, anualmente, amplia e atualiza as ferramentas de inclusão. Em todo o Estado, são mais de 65 mil estudantes com deficiência matriculados. 

quinta-feira, 12 de julho de 2018

Bullying contra alunos com deficiência

A violência moral e física contra estudantes com necessidades especiais é uma realidade velada. Saiba o que fazer para reverter essa situação


Por Ana Rita Martins para o novaescola.org.br

Um ou mais alunos xingam, agridem fisicamente ou isolam um colega, além de colocar apelidos grosseiros. Esse tipo de perseguição intencional definitivamente não pode ser encarado só como uma brincadeira natural da faixa etária ou como algo banal, a ser ignorado pelo professor. É muito mais sério do que parece. Trata-se de bullying. A situação se torna ainda mais grave quando o alvo é uma criança ou um jovem com algum tipo de deficiência - que nem sempre têm habilidade física ou emocional para lidar com as agressões.

Tais atitudes costumam ser impulsionadas pela falta de conhecimento sobre as deficiências, sejam elas físicas ou intelectuais, e, em boa parte, pelo preconceito trazido de casa. Em pesquisa recente sobre o tema, realizada com 18 mil estudantes, professores, funcionários e pais, em 501 escolas em todo o Brasil, a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) constatou que 96,5% dos entrevistados admitem o preconceito contra pessoas com deficiência. Colocar em prática ações pedagógicas inclusivas para reverter essa estatística e minar comportamentos violentos e intolerantes é responsabilidade de toda a escola.

Conversar abertamente sobre a deficiência derruba barreiras


Foto: Marina Piedade
A professora Maria de Lourdes falou com toda a turma sobre a deficiência de um colega. Foto: Marina Piedade 

Quando a professora Maria de Lourdes Neves da Silva, da EMEF Professora Eliza Rachel Macedo de Souza, na capital paulista, recebeu Gabriel**, a reação dos colegas da 1ª série foi excluir o menino - na época com 9 anos de idade - do convívio com a turma. "A fisionomia dele assustava as crianças. Resolvi explicar que o Gabriel sofreu má-formação ainda na barriga da mãe. Falamos sobre isso numa roda de conversa com todos (leia no quadro abaixo outros encaminhamentos para o problema). Eles ficaram curiosos e fizeram perguntas ao colega sobre o cotidiano dele. Depois de tudo esclarecido, os pequenos deixaram de sentir medo", conta. Hoje, com 13 anos, Gabriel continua na escola e estuda na turma da professora Maria do Carmo Fernandes da Silva, que recebe capacitação do Centro de Formação e Acompanhamento à Inclusão (Cefai), da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, e está sempre discutindo a questão com os demais educadores. "A exclusão é uma forma de bullying e deve ser combatida com o trabalho de toda a equipe", afirma. De fato, um bom trabalho para reverter situações de violência passa pela abordagem clara e direta do que é a deficiência. De acordo com a psicóloga Sônia Casarin, diretora do S.O.S. Down - Serviço de Orientação sobre Síndrome de Down, em São Paulo, é normal os alunos reagirem negativamente diante de uma situação desconhecida. Cabe ao professor estabelecer limites para essas reações e buscar erradicá-las não pela imposição, mas por meio da conscientização e do esclarecimento. 

Não se trata de estabelecer vítimas e culpados quando o assunto é o bullying. Isso só reforça uma situação polarizada e não ajuda em nada a resolução dos conflitos. Melhor do que apenas culpar um aluno e vitimizar o outro é desatar os nós da tensão por meio do diálogo. Esse, aliás, deve extrapolar os limites da sala de aula, pois a violência moral nem sempre fica restrita a ela. O Anexo Eustáquio Júnio Matosinhos, ligado à EM Newton Amaral Franco, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, encontrou no diálogo coletivo a solução para uma situação provocada por pais de alunos. Este ano, a escola recebeu uma criança de 4 anos com deficiência intelectual e os pais dos coleguinhas de turma foram até a Secretaria de Educação pedir que o menino fosse transferido. A vice-diretora, Leila Dóris Pires, conta que a solução foi fazer uma reunião com todos eles. "Convidamos o diretor de inclusão da secretaria e um ativista social cadeirante para discutir a questão com esses pais. Muitos nem sabiam o que era esse conceito. A atitude deles foi motivada por total falta de informação e, depois da reunião, a postura mudou."

Seis soluções práticas


- Conversar sobre a deficiência do aluno com todos na presença dele. 
- Adaptar a rotina para facilitar a aprendizagem sempre que necessário. 
- Chamar os pais e a comunidade para falar de bullying e inclusão. 
- Exibir filmes e adotar livros em que personagens com deficiência vivenciam contextos positivos. 
- Focar as habilidades e capacidades de aprendizagem do estudante para integrá-lo à turma. 
- Elaborar com a escola um projeto de ação e prevenção contra o bullying.

Antecipar o que vai ser estudado dá mais segurança ao aluno

Foto: Leonardo Silva
"Passei a adiantar para o José, em cada aula, o conteúdo que seria ensinado na seguinte. Assim, ele descobria antes o que iria aprender." Maria Aparecida de Sousa Silva Sá, professora do CAIC EMEIEF Antônio Tabosa Rodrigues, em Cajazeiras, PB. Foto: Leonardo Silva

No CAIC EMEIEF Antônio Tabosa Rodrigues, em Cajazeiras, a 460 quilômetros de João Pessoa, a solução para vencer o bullying foi investir, sobretudo, na aprendizagem. Ao receber José, um garoto de 12 anos com necessidades educacionais especiais, a professora Maria Aparecida de Sousa Silva Sá passou a conviver com a hostilidade crescente da turma de 6ª série contra ele. "Chamavam o José de doido, o empurravam e o machucavam. Como ele era apegado à rotina, mentiam para ele, dizendo que a aula acabaria mais cedo. Isso o desestabilizava e o fazia chorar", lembra. Percebendo que era importante para o garoto saber como o dia seria encaminhado, a professora Maria Aparecida resolveu mudar: "Passei a adiantar para o José, em cada aula, o conteúdo que seria ensinado na seguinte. Assim, ele descobria antes o que iria aprender". 

Nas aulas seguintes, o aluno, que sempre foi quieto, começou a participar ativamente. Ao notar que ele era capaz de aprender, a turma passou a respeitá-lo. "Fiquei emocionada quando os garotos que o excluíam começaram a chamá-lo para fazer trabalhos em grupo", conta. Depois da intervenção, as agressões cessaram. "O caminho é focar as habilidades e a capacidade de aprender. Quando o aluno participa das aulas e das atividades, exercitando seu papel de aprendiz e contribuindo com o grupo, naturalmente ele é valorizado pela turma. E o bullying, quando não cessa, se reduz drasticamente", analisa Silvana Drago, responsável pela Diretoria de Orientação Técnica - Educação Especial, da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. 

Samara Oliboni, psicóloga e autora de tese de mestrado sobre bullying, diz que é preciso pensar a questão de forma integrada. "O professor deve analisar o meio em que a criança vive, refletir se o projeto pedagógico da escola é inclusivo e repensar até seu próprio comportamento para checar se ele não reforça o preconceito e, consequentemente, o bullying. Se ele olha a criança pelo viés da incapacidade, como pode querer que os alunos ajam de outra forma?", reflete. A violência começa em tirar do aluno com deficiência o direito de ser um participante do processo de aprendizagem. É tarefa dos educadores oferecer um ambiente propício para que todos, especialmente para os que têm deficiência, se desenvolvam. Com respeito e harmonia.

** Os nomes dos alunos foram trocados para preservar a identidade

segunda-feira, 9 de julho de 2018

Dicas de festa junina para crianças com autismo

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Junho significa fogueira, bandeirinhas, dançar quadrilha, pé de moleque, pipoca, bombinhas, fogos de artifícios e roupas de caipira.

A maioria dos pais de crianças com autismo adorariam ver seus filhos participando da quadrilha da escola e da Festa Junina. No entanto, sabemos que para essas crianças muitos obstáculos podem aparecer e impedir que este momento seja feliz e livre de problemas.

Devemos considerar que as crianças com autismo e outros transtornos podem apresentar sensibilidade a certos estímulos, como texturas, cores, cheiros, ruídos altos, os quais tornam difícil tanto vestir a roupa de caipira, quanto participar da Festa Junina.

Veja algumas dicas para tornar esta festa uma experiência gostosa e sem dificuldades para as crianças com autismo e seus pais:

▪ Colocar a roupa de caipira dias antes da festa. Certifique-se de que seu filho se sinta bem com a textura da roupa. Caso a criança fique incomodada com a fantasia, improvise usando camisa xadrez e calça ou saia jeans. Treine antes, também, colocar a maquiagem e o chapéu. Deixe seu filho usar a roupa de caipira em casa para se acostumar bem antes do dia especial. Caso o seu filho não tolere permanecer com o chapéu na cabeça ou prender o cabelo, não insista!

▪ Praticar em casa a dança ou quadrilha. Coloque a música e treine com seu filho os passos da dança. Caso a criança tenha acompanhante terapêutico (A.T.), combine com a equipe da escola como será no dia. Ajustes podem ser feitos para melhor adequar a situação para a criança. Por exemplo, a criança ficará com a A.T. desde o início da festa para evitar recusa na hora da dança, ou é melhor ficar com os pais até a hora da dança?

▪ Mostrar imagens sobre a festa junina e o que irá acontecer no dia pode ser muito útil. Peça para a equipe da escola tirar fotos da criança ensaiando a dança. Monte uma história com as imagens descrevendo o que irá acontecer no dia da Festa Junina. Lembre-se de explicar na história que a criança irá para escola no dia da festa não para estudar, mas para dançar, brincar nas barraquinhas e comer várias coisas gostosas. Por isso, ela não irá usar uniforme. Mudanças na rotina podem ser complicadas. As crianças podem não entender porque estão indo para a escola no final de semana e sem uniforme. O aglomerado de gente pode ser difícil para a criança e comportamentos inadequados podem ocorrer em decorrência da mudança da rotina.

▪ Assistir vídeos de fogos de artifícios. O barulho alto pode ser um estímulo aversivo para algumas crianças. Se este for o caso, inicie com o vídeo em volume baixo e, aumente gradualmente o volume à medida que a criança for aceitando o ruído dos fogos. Treine também, as bombinhas (estalinhos). Explique para a criança que a bombinha é apenas um barulho alto, mas que não machuca.

▪ Não há problema em ficar em casa. Se você achar que o seu filho não vai aproveitar a Festa Junina, você pode fazer a sua própria festa. Decore a sala com bandeirinhas, faça pipoca e dance ao ritmo da música caipira.

A Festa Junina deve ser um momento divertido para toda a família! Por isso, sempre que necessário, considere as alternativas para o seu conforto e do seu filho.

Fonte: Stimulus ABA

quinta-feira, 5 de julho de 2018

Enfrentando bullying com o filho, mãe levanta questão da deficiência em crianças no Instagram

Rustam é um menininho tão alegre que é difícil de acreditar que ele tenha diversos defeitos de nascença. Sua mãe adotiva está em uma saga para provar que crianças como ele não devem ser excluídas da sociedade


Nika e o filho, Rustam.

Nika Zlobina tem quase 100 mil seguidores no Instagram, mas os números não têm significado para ela. Nika não é uma fanática das redes sociais e encontrou o Instagram quase por acidente.

“Estava preparando os formulários para a adoção e havia um banco de dados com fotos das crianças, onde eu acabei vendo as imagens de Rustam”, lembra Nika em conversa com o Russia Beyond.

Voluntários haviam postado nas redes sociais um vídeo de Rustam dançando para incentivar sua adoção. O vídeo se tornou viral e Nika o viu em diferentes sites, mas o que a deixou furiosa foi a reação de determinadas pessoas.

Видео из ДД..... Документы на Ру я начала собирать не зная о нем ни чего! Только видела фото в Базе Данных. Оооо.... сколько же у меня было думок, и сомнений! Я просто с'едала себе мозг ... а вдруг то.... А мало ли это... Это Первое видео которое я увидела, оно и укрепило мое решение! Я прям выдохнула....Я его разобрала буквально по крупицам. Пересматривала тысячи раз. Я не увидела ни УО, ни то, что ребёнок очень тяжёлый (как мне писали)... Я видела ребёнка думающего, с большим потенциалом! #рустам #рустамчик #приемныйсын #приемныйребенок #видеоИзДетскогоДома #сейчасОнДругойПрям #отВидеоЖметСердце #рустам_история

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“Alguns diziam que esta ‘aberração’ nunca seria adotada. Eu fiquei horrorizada com o número de pessoas que escreviam comentários negativos, entre eles, jovens mães”, conta Nika. Assim, nasceu uma enorme vontade de adotar Rustam, e assim fez Nika.

Deficiência não é aberração


Nika decidiu criar uma conta no Instagram para mostrar sua vida com Rustam, e ela virou um diário onde ela compartilhava seus pensamentos e descrições das atividades diárias. Seu objetivo era mostrar como Rustam está se desenvolvendo e progredindo, e que ele não é um “idiota” ou uma “aberração”, como uma série de internautas sem escrúpulos escreveu em comentários.

Antes e depois: Rustam quando foi adotado e depois de um ano na família de Nika.

Em primeiro lugar, Nika quer alcançar as pessoas que estão interessadas em adoção para lhes mostrar que elas não devem temer adotar crianças deficientes.

“Todo mundo, em geral, quer lindos bebês loiros para adotar, e há uma enorme fila para tais crianças enquanto outras sofrem sem pais que as queiram”, desabafa Nika.

Apoio a pais de crianças deficientes


“Se minha conta no Instagram fosse fechada de repente, eu provavelmente me sentisse melhor, porque não teria que ver dezenas de ‘haters’ comentando sobre meu filho”, diz ela.

Rustam ensina o pai a sorrir :)

Porém, são as mensagens enviadas por outros pais de crianças que têm deficiências mentais ou físicas o que Nika mais gosta na rede.

“Uma mulher me escreveu que tinha medo de sair com sua filha que tem Síndrome de Down, acrescentando que meu post lhe incentivava. Agora ela não pensa mais duas vezes antes de ir passear com a filha”, diz Nika, acrescentando que esse tipo de feedback a faz feliz e prova que ela está no caminho certo.


Rustam participou até de um desfile de moda!

Uma moça chegou a enviar uma mensagem para Nika dizendo que tinha vergonha de segui-la no Instagram, mas depois de um tempo a mesma pessoa passou a compartilhar os posts de Nika com amigos, ajudando a chamar a atenção para a questão.

Reação nas ruas


Nika diz não dar atenção para as pessoas encarando Rustam nas ruas, a não ser que elas digam algo negativo. Certa vez, Nika estava andando com ele e as crianças os viram por uma grade de jardim de infância.


“Elas começaram a gritar “seu deficiente!”, algo que eu não tolerarei. Eu fiquei totalmente chocada”, conta.

Rustam agora tem cinco anos, e apesar de estar bem intelectualmente, ele tem um pouco de deficiência na fala. Outras crianças perguntam frequentemente o que tem de errado com sua perna ou rosto, mas ele não consegue explicar.

Nika tem planos de consultar psicólogos para ajudar Rustam no desenvolvimento comportamental quando ele crescer um pouco mais, ajudando-o a lidar com as reações negativas.

O visual novo de Rustam fez sucesso.

“Minha opinião pessoal é a de que é preciso combater as pessoas fazendo bullying. Eu não quero cometer erros. Precisamos de ajuda profissional neste caso”, diz Nika.

Fonte: Russian Beyond BR