quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Desenvolvimento atípico: qual significado de termo para PCDs e autismo?

 Marcos Candido / ECOA

"Atípico e típico" são termos cada vez mais populares entre pais, médicos, professores e educadores para definir características que diferenciam o aprendizado de crianças e adolescentes com deficiência, autismo e outras características atípicas. Afinal, qual a origem das duas palavras? O que elas significam? Ela é mais respeitosa e acessível? Por que ela foi popularizada?

O que é desenvolvimento típico e atípico?

Típicos e atípicos são termos usados para definir o desenvolvimento de uma criança ou adolescente. Por exemplo: um aluno com deficiência intelectual ou física pode ter um desenvolvimento atípico do esperado para determinada idade. Logo, ele irá crescer e aprender de uma maneira diferente do típico para aquela etapa da vida em relação às pessoas sem deficiência.

Para entender essas questões neste Dia Nacional da Pessoa com Deficiência, comemorado hoje (21), Ecoa convidou Enicéia Gonçalves Mendes, professora de psicologia da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), da pós-graduação em educação especial, e coordenadora do Observatório Nacional de Educação Especial. Ela também é pesquisadora da Fapesp.

Por que o termo atípico se tornou cada vez mais usado?

De acordo com Google Trends, as buscas pelo termo "atípico" cresceram ao longo dos últimos cinco anos.

Um dos possíveis motivos foi a série da Netflix Atypical (ou Atípico, em português), encerrada em 2021. A história narra a vida de Sam Gardner, um jovem com autismo. O termo é comum há anos entre médicos e aliados das pessoas com autismo, mas foi ampliado por pais nas redes sociais, educadores e médicos em redes de apoio a crianças com outros desenvolvimentos atípicos, como deficiências físicas e intelectuais, que vão da microcefalia a problemas motores, paralisia cerebral, entre outros. É comum serem chamados de "pais e mães atípicos".

Leia a matéria completa em uol.com.br/ecoa

sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Educação inclusiva é crucial e urgente para crianças com Síndrome de Down

No Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, pais e especialista falam sobre a importância de não segregar os alunos

Por Nathalie Silva


Trissomia 21 é uma condição genética | Foto: Ariel Skelley/Getty Images

No documentário Um Lugar Para Todo Mundo, Hilda e Olivier Bernier contam os percalços que seu filho, Emílio, encontrou para garantir uma vaga na rede de educação pública nos EUA. O garoto de três anos de idade não é aceito pelo sistema educacional do país por ser uma pessoa com Síndrome de Down.

O casal descobriu a condição no momento do nascimento do filho. Desde então, eles lutam arduamente pelo seu desenvolvimento e vida mais inclusiva.

Criada e dirigida por Bernier, a produção nasceu com o intuito de apenas registrar os primeiros anos de vida de Emílio, mas ao longo do tempo surgiu a vontade de expandir a ideia e mostrar as dificuldades de outras crianças com Síndrome de Down no documentário, que entra nesta terça-feira (21), Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, no catálogo do Globoplay.

Assista abaixo ao trailer do filme, que é uma coprodução entre a norte-americana Rota6 e a Maria Farinha Filmes:

Leia a matéria completa em claudia.abril.com.br

terça-feira, 21 de setembro de 2021

Hoje é o dia de lutar ao lado das Pessoas com Deficiência

“Você vai botar um moleque cego, surdo ou com paralisia cerebral na classe com crianças normais?” O que você responderia?

 André Forastieri para o terra.com.br
 

Batalha que começa na sala de aula, e depois vai pro mundo do trabalho, das ruas, da vida...
Foto: Gerd Altmann / Pixabay
 
As pessoas com deficiência têm um dia só delas. É hoje, dia 21 de setembro, o Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência. O nome é perfeito, porque a vida das PCDs é uma luta incessante, dos bancos das escolas ao mundo adulto do trabalho. Mas tem uma luta que já foi vencida - e todo mundo precisa entrar nesta batalha, ao lado das pessoas com deficiência e suas famílias, e contra o retrocesso.

Em 2018, o Ministério do Desenvolvimento Social fez uma pesquisa com 190 mil famílias que recebem o Benefício de Prestação Continuada, porque têm em casa criança ou jovem com deficiência intelectual ou física. Ele só é pago a famílias com renda per capita inferior a um quarto do salário mínimo.

Descobrimos que quase um terço dessa galera, 32%, não frequentava escola. Razões alegadas: 53% dos pais consideram que o filho não tem condições de aprender, 10% temem que ele seja discriminado, 9% temem violência, 13% não têm quem leve ou acompanhe o filho até a escola.

Muita gente nem sabe que é direito de todos os deficientes, por lei, a matrícula em escola regular. É a posição da maioria dos especialistas em educação, e de muitas entidades representativas. Mas tem gente que quer mudar essa lei e segregar as crianças com deficiência, e a luta contra este retrocesso precisa ser de todos nós.

Parece esquisito em princípio. “Você vai botar um moleque cego, surdo ou com paralisia cerebral na classe com crianças normais?”

E é esquisito mesmo. Como o professor vai dar a atenção necessária para quem tem necessidades especiais, sem descuidar das necessidades dos outros? E se a criança não ouve direito, precisa sempre ter um intérprete que conheça LIBRAS, a linguagem brasileira de sinais? E se não enxergar, lê o livro escolar em braille?

Pois é. Mas se a criança não convive com as outras quando pequeno, como vai conviver com os outros quando crescer, for pro mercado de trabalho, pro supermercado, curtir suas férias? E quando… envelhecer?

Meu tio Joaquim é paraplégico, acidente de trabalho, desde 1983. Era engenheiro, virou professor, vocação que sempre teve - me ensinou na adolescência a jogar truco e ler o Pasquim, entre outras coisas úteis.

Se acha um privilegiado, porque convive todo dia com gente que sofre ainda mais. Já ouvi dele histórias apavorantes sobre deficientes extremamente carentes. Cara que ficou paraplégico e nunca mais saiu de casa, porque mora na favela, e não tem como descer os degraus, e daí para pior. Se você pensa que é dureza ser pobre, ou deficiente, não faz ideia do que é ser deficiente pobre.

Joaquim é militante dos direitos dos deficientes. Criou 25 anos atrás e dirigiu por muito tempo a AINDA, organização que luta pelos direitos das pessoas com deficiência em sua cidade, Limeira.  

Milita sem perder o humor. Tem uma boa do meu tio que foi pegar sua classe na Unicamp e explicar os problemas da inclusão botando venda em um, silicone na orelha do outro, amarrando braço ou perna, colocando vários em cadeira de roda. Depois ordenou, “agora todo mundo para a lanchonete tomar um café”. Outra inesquecível foi apoiar a organização de um cursinho para vestibulandos carentes - e despachar um deficiente visual para estudar lá.

Ele sempre diz que a sociedade brasileira precisa cuidar melhor dos direitos das pessoas com deficiência. Porque no final, ninguém escapa de alguma. A gente vai apagando velinha, e vai indo embora a mobilidade, a visão, a audição, e vai que vai. Para escapar disso, só morrendo jovem. E bem antes do final, a gente já começa a conviver com as deficiências, conforme nossos avós e pais vão envelhecendo.

Segue necessária a luta para compartilharmos todos a sociedade, lado a lado com quem tem deficiência, de qualquer idade. Batalha que começa na sala de aula, e depois vai pro mundo do trabalho, das ruas, da vida. Joaquim resume bem: “A grande coisa das salas de aula compartilhadas nem é só o que os deficientes aprendem... mas o que o resto dos alunos aprende, convivendo com o deficiente.”

André Forastieri é fundador do Homework, jornalista e consultor de comunicação.

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

‘A nova política de educação especial é segregadora e excludente’

Em conversa com o Porvir, a empreendedora e jornalista Claudia Werneck fala sobre os desafios do ensino inclusivo; ela participa do evento “Educação e Protagonismo”, da Fundação Educar, que começa nesta terça-feira e tem inscrições gratuitas

por Ana Luísa D'Maschio para o porvir.orgente


Crédito: Reprodução do Facebook da Escola de Gente

O decreto que altera a política pública de ensino para crianças com deficiência, ao propor a separação dos alunos em salas e escolas especializadas, tem sido alvo de críticas de especialistas e estudiosos em educação inclusiva. Entre eles, está Claudia Werneck. Fundadora da Escola de Gente – Comunicação em Inclusão, a empreendedora e ativista em direitos humanos ressalta o caráter “segregador e excludente” dessa política.

Claudia é uma das convidadas do evento “Educação e Protagonismo”, promovido pela Fundação Educar. Nesta 16ª edição, que é realizada entre os dias 14 e 15 de setembro, com transmissão online e inscrições gratuitas, além das reflexões sobre inclusão e diversidade nas escolas, o encontro inclui temas como saúde mental e educação híbrida. Fazem parte do rol de palestrantes o educador colombiano Bernardo Toro e a atleta Rebeca Andrade, primeira medalhista olímpica de ouro da ginástica artística brasileira. Toda a programação é acessível, com intérprete de libras, audiodescrição e legenda simultânea.

Porvir conversou com Claudia Werneck sobre os desafios da educação inclusiva nos períodos pré e pós-pandemia. Confira:

Porvir – O direito à educação inclusiva é garantido tanto pela Constituição Brasileira quanto pela Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência da ONU (Organização das Nações Unidas). Esse direito foi mantido durante a pandemia?

Claudia Werneck – Não. Na verdade, ele foi ainda mais precarizado. O trabalho na Escola de Gente e em outras organizações aumentou muito neste período, porque nós sabemos que esse é um direito de qualquer criança, mas um direito indisponível.

Porvir – Quais foram as maiores dificuldades enfrentadas pelos estudantes com deficiência e suas famílias durante a pandemia? Como a senhora avalia o papel da família na mediação desse processo de educação remota que ainda vivemos?

Claudia Werneck – É muito difícil analisar o tamanho da complexidade que as famílias, incluindo as crianças, viveram para garantir o direito à educação na pandemia. A educação deve ser inclusiva, mas nós sabemos que isso não aconteceu. A ONU [Organização das Nações Unidas] diz que mais de 80% das crianças com deficiência vivem na pobreza e, durante a pandemia, mal contaram com equipamento tecnológico, ou tinham celulares pouco potentes, sem wi-fi. A mistura da baixa conectividade com a falta de acessibilidade nos projetos educacionais que conseguiram ser mantidos tornou a vida de estudantes com deficiência a mais difícil possível, e suas famílias tiveram muita dificuldade para colaborar. É algo complexo e que nós não conseguimos, por mais que queiramos, atingir a magnitude do isolamento educacional, social, enfrentado por essas famílias com suas crianças.

Crédito: Joe Winter Claudia Werneck, idealizadora da Escola de Gente

Porvir – Qual é o primeiro passo para tornar a comunicação mais inclusiva dentro da escola e na sociedade? É algo que depende mais de uma postura individual ou está associado a políticas?

Claudia Werneck – A comunicação inclusiva é aquela que por natureza é acessível. Ela deve ser acessível cotidianamente, na sala de aula, no recreio, nas excursões, no online e no digital, na forma como essa escola se comunica com a família… Se a família é analfabeta e a escola só se comunica por textos escritos, por exemplo, isso faz com que a escola não se torne inclusiva. Não há educação inclusiva sem comunicação inclusiva – e não há comunicação inclusiva sem comunicação acessível. Tudo depende de política pública, de investimento para acessibilidade e investimento para a inclusão. Mas, ainda assim, é preciso que as pessoas acreditem que a comunicação acessível é algo que garante a participação de todas as pessoas, independentemente das suas funções na escola, e em qualquer processo.

Porvir – Qual é o papel da escola e dos professores nesse processo?

Claudia Werneck – A profissão do professor e da professora é a mais decisiva na vida de uma pessoa. É quem nos alfabetiza, quem dá a medida da autoestima social de uma criança muito mais do que simplesmente acompanhar o processo de alfabetização. O professor e a professora são decisivos, mas eles não podem arcar com todos os compromissos isoladamente. Eles estão dentro de um sistema e todo esse sistema tem de vibrar na lógica, no orçamento, na postura e na prática da inclusão cotidianamente.

Porvir – Até onde a tecnologia foi suficiente para manutenção do vínculo com a escola e de uma rotina de aprendizagem e desenvolvimento?

Claudia Werneck – As tecnologias têm uma ética própria e raramente essa ética é inclusiva, porque as tecnologias não são acessíveis no sentido de garantir a liberdade de expressão e o direito de se comunicar, e de ser comunicado, para todas as pessoas, principalmente àquelas que têm deficiência. Acho que a tecnologia contribuiu, foi até a salvação para muitas pessoas, mas ela foi a salvação para um mesmo grupo homogêneo de pessoas. Quem estava excluído ficou ainda mais excluído com uma tecnologia que sempre se preocupou em manter as mesmas pessoas.

Porvir – Especialistas temem que a nova política de educação especial possa gerar segregação. Qual é a sua opinião a respeito?

Claudia Werneck – O que se pretende que seja uma nova política de educação especial é eminentemente segregadora e excludente, incompatível com qualquer projeto de inclusão. A Constituição garante que não se pode escolher crianças quando falamos sobre direito à educação. A Constituição não permite isso e eu sou uma pessoa que segue a Constituição.

sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Inclusão total de crianças com deficiência em escolas é a melhor saída? O que dizem os especialistas

 Por Gabriel Sestrem

O Supremo Tribunal Federal (STF) promoveu audiências públicas sobre o ensino especial com o objetivo de ouvir expositores favoráveis e contrários à Política Nacional de Educação Especial (PNEE), lançada pelo Ministério da Educação (MEC) em setembro do ano passado por meio do Decreto 10.502/2020. Convocada pelo ministro Dias Toffoli, a audiência norteará a decisão da Corte quanto a uma ação no Supremo que pede que a proposta do MEC seja declarada inconstitucional.

A Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 6590, ajuizada pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) em outubro de 2020, cita que a normativa da pasta de Educação seria discriminatória ao permitir a separação dos educandos com e sem deficiência por meio das escolas e classes especializadas para crianças e adolescentes atendidos pela educação especial.

Ainda no ano passado, Toffoli suspendeu cautelarmente os efeitos do decreto, e a decisão foi referendada pelo Plenário. Agora, a partir das exposições na audiência pública, a Corte fará o julgamento definitivo sobre o tema.

O que diz a Política Nacional de Educação Especial

Como diretriz central do documento, a PNEE 2020 permite às famílias matricular crianças e adolescentes com necessidades educacionais especiais – educandos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimentos e altas habilidades ou superdotação – em escolas especializadas no atendimento a essas pessoas.

Críticos da proposta sustentam que a medida é contrária aos princípios de inclusão e que todos os educandos especiais devem permanecer em escolas comuns convivendo com alunos sem deficiência. A alegação, entretanto, é motivo de controvérsias – especialistas consultados pela reportagem apontam que há uma minoria de estudantes com deficiência que precisam de cuidados mais aprofundados para conseguirem aprender e se desenvolver; atenção essa que nem sempre é possível em escolas comuns.

“Se pegar o total das pessoas com deficiências, para 90% o melhor é, de fato, estar na escola comum. Mas há um pequeno percentual que tem prejuízos, porque nesses locais é mais difícil entregar a atenção que eles precisam”, afirma o psicopedagogo Lucelmo Lucerda, que é doutor em Educação, pós-doutor em Psicologia e pesquisador em autismo e inclusão escolar.

“Para esse percentual, em torno de 10%, o ideal é estar numa escola especial ao menos em princípio, para desenvolver as habilidades necessárias para que ele aumente seu potencial de aprendizagem e possa aproveitar a escola comum”, ressalta.

Para Vitor Geraldi Haase, neuropsicólogo e professor do departamento de Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a política da inclusão total, que torna praticamente obrigatória a matrícula de estudante com necessidades educacionais especiais em escolas regulares, não leva em consideração as necessidades individuais, uma vez que há alunos que se beneficiarão da inclusão na classe regular e outros que não terão esses benefícios.

“Às vezes atendemos crianças que estão numa escola regular e não estão se desenvolvendo, aí passam para uma escola especial e a criança melhora. Um tempo depois, a escola especial não está mais ajudando e é hora de voltar para a escola regular. Essa política prevê uma flexibilidade e uma diversidade de opções, e não um modelo único para todo mundo”, observa.

Por outro lado, para Luiza Correa, coordenadora de Advocacy do Instituto Rodrigo Mendes, a PNEE 2020 sinaliza retrocesso e perda de direitos para os estudantes com deficiência. “Nesse modelo de escolas especializadas, que já superamos, há consequências tanto para as crianças com deficiência quanto para as demais. A inclusão é positiva para todo mundo. Ela movimenta a escola no sentido de melhorar as técnicas pedagógicas, a metodologia e a convivência e ensina também habilidades como empatia e comunicação”.

A PNEE 2020 também dá maior flexibilidade aos sistemas de ensino. A partir da norma, as escolas poderiam ofertar alternativas como classes e escolas comuns inclusivas; classes e escolas especiais; e classes e escolas bilíngues de surdos.

Na nota de introdução da proposta, o ministro da educação, Milton Ribeiro, ressalta que a norma não obriga as famílias a matricularem seus filhos em escolas especiais, mas permite que cada família opte pela inserção da criança ou adolescente no modelo de escola que preferir, de acordo com as necessidades específicas do estudante.

“Os direitos foram ampliados para que famílias e estudantes, além da garantia do acesso à escola comum, tenham também o direito a escolas especializadas, sempre que estas forem consideradas, por eles mesmos, como a melhor opção”, diz o ministro.

Leia matéria completa em gazetadopovo.com.br

quarta-feira, 8 de setembro de 2021

Educação inclusiva para que te quero?

Após suspensão do Plano Nacional de Educação Especial (PNEE), importância da inclusão de alunos com deficiência volta ao centro do debate educacional

Por Tamyres Matos para o Maré de Notícias

Instituto Helena Antipoff, na Tijuca, é referência municipal no processo de inclusão de alunos com deficiência
Foto: Divulgação

Pensar a diversidade é pensar a vida e o tema é cada vez mais frequente nas discussões sobre como podemos avançar enquanto sociedade. A inclusão da pessoa com deficiência no ambiente escolar é uma das pautas relevantes neste contexto. O assunto voltou ao centro do debate educacional desde a instituição da Política Nacional de Educação Especial (PNEE) em setembro de 2020. Em dezembro do mesmo ano, o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu o decreto e as discussões sobre a legislação têm se arrastado desde então. Recentemente, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, saiu em defesa do conjunto de medidas e criticou o que chamou de “inclusivismo” presente nas críticas.

Milton Ribeiro afirmou em entrevista ao programa Sem Censura, da TV Brasil, que a convivência com crianças em graus específicos de deficiência poderia “atrapalhar” o desenvolvimento nas escolas regulares. “A palavra ‘atrapalhar’ não é a melhor, a gente se equivoca, mas um prejudica o progresso do outro. A criança com deficiência tem que ter um olhar e um cuidado especial e é isso que o nosso governo quer ter, nosso governo quer ter um cuidado especial para com a criança com deficiência”, declarou durante evento realizado em agosto pela Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes).

Segundo a organização internacional Human Rights Watch (em tradução literal, Observatório dos Direitos Humanos), mais de 1,3 milhão de brasileiros com deficiência estão matriculados no sistema regular de ensino. “O Plano do presidente Jair Bolsonaro pretende criar um sistema educacional segregado para pessoas com deficiência, enfraquecendo a educação inclusiva e buscando uma política retrógrada e incompatível com as obrigações internacionais de direitos humanos do Brasil”, critica texto publicado em agosto no site da organização. 

O Governo Federal nega que a PNEE represente qualquer movimento de segregação. O decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro aponta que o Estado precisa oferecer “instituições de ensino planejadas para o atendimento educacional aos educandos da educação especial que não se beneficiam, em seu desenvolvimento, quando incluídos em escolas regulares inclusivas e que apresentam demanda por apoios múltiplos e contínuos”.


Ministro da Educação, Milton Ribeiro, durante participação no programa A Voz do Brasil
Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil

Diversos especialistas em educação argumentam que a alteração representa um retrocesso nas décadas de luta pela inclusão social da pessoa com deficiência, além de apontar que o novo decreto pode afastar este público da possibilidade de frequentar as escolas regulares. O ministro da Educação contra-argumentou que a escolha do local da matrícula segue sendo dos pais. Após a divulgação de nota com pedido de desculpas a respeito da utilização do termo “atrapalhar”, ele voltou a abordar o tópico ao afirmar que, dependendo do grau de deficiência, algumas crianças “criam dificuldades para elas e outros alunos”.

Para a pedagoga pós-graduada em educação infantil e transtorno do espectro autista Ligia Maria Santos do Nascimento, moradora da Vila do Pinheiro, a reflexão contida nas palavras do ministro – antes e depois da nota com pedido de desculpas – não condiz com a realidade. “Jamais uma criança com deficiência atrapalha. O que atrapalha é o preconceito das pessoas em relação  a esse assunto. Toda criança tem o direito de estudar em classes regulares, por isso que estamos na luta, principalmente para que haja respeito”, considera.

Ligia é autora do livro “EU SOU ASSIM: ‘Vejo o mundo de uma forma diferente”, fruto do contato em sala de aula com crianças e adolescentes autistas em diferentes graus, mas, em especial, com um aluno cuja trajetória compartilhou durante 5 anos. “Com o meu livro, eu quis dar voz ao meu aluno. Meu objetivo era ajudar as pessoas a compreender os processos de uma criança autista. Ajudar a entender porque elas agem de tal forma, pois eu quero contribuir para que tenhamos uma sociedade com um olhar sensível, que as pessoas possam ser mais tolerantes, tenham mais empatia antes de julgar e excluir. O que eu almejo é que tenhamos menos dedos apontados e mais mãos estendidas”, conclui a escritora.

Luta pela inclusão na Maré

Lotado no Centro Integrado de Educação Pública (Ciep) Ministro Gustavo Capanema, na Vila do Pinheiro, o professor Luiz Costa, de 62 anos, morador do Morro do Timbau, é um dos especialistas que discordam da visão do ministro. Para o docente, Milton Ribeiro foi “infeliz e cruel” em suas falas. “O trabalho de inclusão não só é benéfico para quem é incluído, mas também para quem acolhe. Às vezes entender as diferenças demanda sutileza, se você olhar nos olhos da pessoa com dificuldade de comunicação, se você se ver dentro dos olhos dela, você vai entender que ele está te vendo, que está reagindo. A criança, quando se depara com esses desafios, se desenvolve, a humanidade fica muito mais potente”, acredita.

Com experiência de 40 anos no magistério, Luiz Costa é um velho conhecido da educação “especial”. O professor e psicólogo, inclusive, tem boa parte da sua atuação voltada para o atendimento de crianças que não têm como se locomover até a escola. Em sua rotina normal – interrompida pela pandemia -, uma vez por semana, o professor vai até cada um dos sete alunos da Maré que atende e dá 2 horas de aula. Mas essa atividade voltada às excepcionalidades não o conduz à defesa da construção de classes ou mesmo escolas que separem alunos com deficiência de alunos sem elas. 


Especiais da Maré: antes da pandemia, grupo de familiares de pessoas com deficiência encontravam-se em Vila Olímpica para trocar experiências | Foto: Douglas Lopes

“A gente (profissionais da educação) precisa se reinventar e, num primeiro momento, tem uma dor de aprendizado. A faculdade não nos forma para isso. Mesmo no caso da psicologia, minha formação não era aprofundada para a prática. Quando a gente mergulha no tema, começa a entender que a pessoa com paralisia cerebral, por exemplo, tem uma pulsão de vida incrível. Ao deixar que ela nos acolha, a gente é acolhido. Quando a criança ou adolescente nos acolhe, é algo que mexe muito com a gente, nos faz crescer como seres humanos. Existe uma diferença na forma de aprender, na forma de acessar o mundo. E isso não atrapalha, isso ensina a todos”, afirma.

Para o professor, as restrições da pandemia têm representado perdas significativas na evolução de todas as crianças. “A escola ficou com atendimento remoto para alguns, aqueles que têm mais recursos. No caso das crianças com deficiências severas, nossa atenção se voltou para as campanhas de doação. Especialmente nos casos dos alunos cujos pais estão sem emprego. Além disso, temos casos de equipamentos públicos que foram abandonados durante a pandemia, como é o caso do Ciep Elis Regina e da Vila Olímpica. Muito tempo sem a presença de alunos e pouca ou nenhuma obra de manutenção realizada”, critica.

Luiz conta, ainda, que trabalha com a arrecadação de recursos para as famílias em maior vulnerabilidade, como fralda, leite, cadeiras de rodas, entre outros tipos de suporte. Para ajudar, qualquer pessoa pode entrar em contato com o grupo Especiais da Maré.“Quando você ajuda a cuidar de alguém que não pode ou tem dificuldades de se cuidar sozinho você melhora a vida do seu entorno”, diz.

Segundo o Censo Populacional da Maré de 2019, há 1.670 domicílios em que há pelo menos um morador que seja uma pessoa com deficiência, o que corresponde a 3,5% da população das 16 favelas. No caso do Brasil, essa porcentagem chega a 6,2%, mas as bases de cálculo são diferentes. O documento, iniciativa da Redes da Maré em parceria com o Observatório de Favelas, aponta que “o problema maior é que as condições precárias de acessibilidade e de limpeza urbana, de acesso a equipamentos e profissionais de saúde, de renda e outros fatores geram dificuldades severas para a garantia do direito de ir e vir das pessoas em situação mais grave de deficiência e/ou transtorno”. A Maré conta com 48 escolas públicas, que oferecem da creche ao ensino médio.

sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Instituto luta por inclusão de pessoas com deficiência em todos os espaços

Juliana Domingos de Lima
De Ecoa, em São Paulo

Em 2020, durante a pandemia de covid-19, uma nova organização veio fortalecer a defesa dos direitos de pessoas com deficiência e de suas famílias no Brasil. Encabeçado por Andréa Werner, o Instituto Lagarta Vira Pupa nasceu em 2012 como blog e hoje atua na mobilização social por políticas públicas e direitos de PCDs, além de promover acolhimento materno e apoio familiar para quem cuida.

Atualmente, pessoas com deficiência, educadores e mães atípicas têm se mobilizado para defender a educação inclusiva. A nova Política Nacional de Educação Especial, sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em 2020, desobriga escolas comuns de matricularem alunos com deficiência, restringindo-os às escolas especiais. Ela foi suspensa em dezembro pelo Supremo Tribunal Federal, que decidirá sobre sua aplicação.

Para a fundadora do Lagarta Vira Pupa, o tema é fundamental para que as deficiências sejam encaradas como parte da diversidade humana. "Investir em inclusão escolar é o que vai educar nossa sociedade para quebrar essa roda da exclusão e incluir as pessoas com deficiência em todos os lugares", disse Andréa Werner a Ecoa.

Terceiro a comandar a pasta da Educação no governo Bolsonaro, o ministro Milton Ribeiro também tem sido criticado por declarações recentes a respeito de crianças com deficiência. Em entrevistas concedidas em agosto, Ribeiro disse que a presença delas em salas de aula regulares atrapalham o aprendizado de outros alunos e que parte tem um grau de deficiência "impossível" de conviver.

Werner classificou as falas do ministro como "segregatórias, quase eugenistas", e afirmou que a nova política do governo contraria leis e tratados sobre a educação inclusiva de que o Brasil é signatário, configurando um projeto de exclusão.

O instituto faz parte da Coalizão Brasileira pela Educação Inclusiva e tem atuado na conscientização das mães sobre o direito dos filhos com deficiência de frequentarem a escola regular, recebendo um suporte específico de aprendizado, e também junto às escolas, com palestras e conversas com professores.

Leia a matéria completa aqui.

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Escola usa até alarme musical para inclusão de alunos com deficiência

Folha acompanhou aulas em unidade da rede municipal de SP; estrutura e professores fazem a diferença

 Angela Pinho para a Folha de S.Paulo
 
São Paulo - São 7h quando toca o alarme de início das aulas, e a diretora Lisandra Pingo se apressa em explicar: "Deu problema ontem com a música, já chamamos alguém para arrumar".

Música? Sim, já há algum tempo a escola municipal Irineu Marinho, na região do Ipiranga (zona sul de São Paulo), trocou o incômodo sinal sonoro por uma canção para demarcar o tempo sem incomodar alunos com autismo que, muitas vezes, têm hipersensibilidade auditiva.

Do alarme ao banheiro, do material aos livros, tudo ali foi pensado para possibilitar que alunos com qualquer deficiência aprendam junto com alunos sem nenhuma deficiência.

A experiência da escola mostra que a inclusão é possível em uma unidade comum da rede municipal desde que haja estrutura e profissionais capacitados.


Pedro, 14, ao lado da professora Vanessa Albano, que o auxilia na aula de ciência / Danilo Verpa/Folhapress

Mesmo que algo não funcione, como o alarme naquela manhã, a ideia é que todos estejam juntos, mesmo que seja necessária uma adaptação, e não juntos só depois que tudo estiver funcionando perfeitamente.

O debate sobre a inclusão de alunos com deficiência em classes regulares ganhou força após a declaração do ministro da Educação, Milton Ribeiro, de que algumas crianças com deficiência “atrapalhavam entre aspas” o aprendizado de outros alunos na mesma sala de aula.

Defensor de classes especiais para crianças com deficiência mais grave, ele afirmou que elas não aprendem nas salas comuns.

“Esses 12% [de alunos], elas são, realmente, elas se atrapalham mutuamente. Nem uma ouve, nem o outro entende. Porque uma criança, por exemplo, com um grau muito elevado de um tipo de problema, essa criança não consegue aprender”, declarou.

Na Emef Irineu Marinho, as declarações causaram indignação.

“Ao pensar na criança com deficiência, o problema é pensar que existe um problema, porque não existe problema nenhum”, diz a diretora. “A limitação, se existe, está fora da criança, de não oferecer o que ela está necessitando. Porque todos nós temos limitações.”

Desde meados dos anos 2000, a política nacional para a educação especial prevê que alunos com deficiência estudem preferencialmente em classes regulares, se necessário com atendimento especializado no contraturno.

Antes, a maioria deles ou estudava em instituições e turmas separadas ou mesmo estava fora da escola.

De 2010 a 2020, as matrículas de educação especial quase dobraram, chegando a 1,3 milhão. Quase 90% desses alunos estudam em salas regulares.

Pesquisas mostram que a integração é vantajosa para os dois grupos. Alunos sem deficiência desenvolvem maior respeito e abertura ao novo. Alunos com deficiência têm acesso a um repertório maior do que teriam em uma instituição especializada e, integrados, têm até mais chance de acesso ao ensino superior.

Leia a matéria completa em Folha de S.Paulo