sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Educação Inclusiva: acolhendo crianças com deficiência na escola

Famílias, estudantes, professores retratam a percepção da inclusão escolar e mostram que, com avanços e tropeços, suas experiências humanizam as estatísticas




Jonathan Braga, de 23 anos, traçou a trajetória comum vivida por milhões de pessoas atendidas pelo sistema de educação pública brasileiro, que inicia em escolas municipais e segue para a rede estadual até a conclusão do Ensino Médio. Durante esse período, ele se lembra de ter passado grande parte dos intervalos entre as aulas na companhia dos livros em bibliotecas ou nas salas de coordenação pedagógica das escolas, o que rendeu a ele o apelido de “Harry Potter”, por ter lido, ainda muito jovem, os sete volumes da coleção.

Aos 21 anos, descobriu que tem Síndrome de Asperger, perfil que integra o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Antes disso, outros diagnósticos apontavam para o Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), informação que dificultava a qualidade do atendimento escolar e suas peculiaridades, como hipersensibilidade ao som.

“Se eu pudesse deixar um recado à comunidade escolar, pediria mais atenção às crianças com autismo”, diz Jonathan. E sugere pequenas atitudes que podem impactar diretamente o bem estar delas, como colocar bolinhas de tênis nos pés de cadeiras com armação de metal, evitando ruídos, uma iniciativa tomada pela escola argentina Gaspar Benavento, que se espalhou pelas redes sociais.

Ainda que tenha vivido alguns conflitos em sala de aula, Jonathan reconhece a importância de pessoas com qualquer tipo de deficiência frequentarem a escola regular. Hoje, fala com muita naturalidade sobre cálculos matemáticos, fibra ótica, sistema de satélites e trabalha como inspetor na Escola Municipal Padre Egydio José Porto, mesma instituição em que estudou dos sete aos dez anos, em Franco da Rocha, região metropolitana da cidade de São Paulo. Prestes a prestar vestibular para Engenharia de Telecomunicações, sonha com um mestrado na área de arquitetura da informática e com a carreira de pesquisador, expectativa que só pode ser desenhada a partir de um histórico de inclusão.
“Se eu pudesse deixar um recado ao poder público e à comunidade escolar, pediria mais atenção às crianças com autismo”, diz Jonathan.
Jonathan Braga tem 23 anos, tem Síndrome de Asperger e trabalha como inspetor na Escola Municipal Padre Egydio José Porto, mesma instituição em que estudou dos sete aos dez anos.


Educação inclusiva

Para 86% dos brasileiros, “as escolas ficam melhores quando incluem alunos com deficiência”. Esse resultado aparece na pesquisa O que a população brasileira pensa sobre educação inclusiva, encomendada pelo Instituto Alana ao Datafolha, com o objetivo de traçar um panorama do entendimento da população sobre educação inclusiva. O levantamento, que ouviu 2.074 pessoas, em 130 municípios do país, também aponta que 76% concordam que “crianças com deficiência aprendem mais estudando com crianças sem deficiência.”

Se, por um lado, os resultados do estudo ressaltam um imaginário social favorável ao processo de inclusão dessa população na escola regular, também demonstram que falta informação sobre o assunto – a pesquisa revela que 67% dos brasileiros concordam que os professores não têm a formação necessária para ensinar crianças com deficiência -, restringindo a pauta a um nicho específico da sociedade. Isso cria impasses para tornar a inclusão uma luta coletiva. Não é por acaso que, mesmo com indicativos positivos, 26% das crianças de zero a 14 anos com deficiência ainda estejam fora da escola.

De acordo com o defensor público e ex-coordenador do Núcleo da Infância e Juventude (NUDIJ) da Defensoria Pública do Paraná, Marcelo Lucena Diniz, este é um tema complexo, que exige um diálogo amplo entre várias instituições públicas e grupos da sociedade civil organizada, para que haja tanto uma compreensão comum sobre o problema, quanto uma resposta efetiva à inclusão.

Entre as demandas mais frequentes recebidas pela Defensoria Pública, de acordo com Marcelo, está o acesso aos instrumentos de Atendimento Educacional Especializado (AEE) para crianças com deficiência.
O AEE é um conjunto de serviços, recursos e profissionais de apoio cuja função é identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a plena participação dos alunos, considerando suas necessidades específicas. Ele trata das especificidades do atendimento da pessoa com deficiência, mas não se caracteriza nem como reforço, nem como substitutivo à matrícula em classe comum de escola regular.
“Cada estado possui um regulamento próprio para o AEE. No Paraná, entendemos que é preciso, além da sala de recursos – que é uma diretriz do MEC e do Conselho Nacional de Educação -, a presença de um professor com pós-graduação que acompanhe cada criança em sua especialidade e possa fazer a mediação do conteúdo do professor regente ao aluno com deficiência.”

Esse tipo de atendimento é realizado no contraturno escolar e não substitui a educação regular, conforme regulamenta a Lei Brasileira de Inclusão, de 2015. No Paraná, como relata Marcelo, há em torno de 1200 professores especializados em AEE, com a tarefa de apoio, número aquém do necessário para atender todas as crianças com deficiência do estado.

Outra barreira para a inclusão efetiva identificada pelo defensor é a falta de acompanhamento da trajetória escolar do aluno, fator que que contribui para a evasão escolar. Muitas vezes, segundo ele, o aluno é “empurrado” a passar de série nos anos iniciais. Quando chega ao ensino estadual, ele acaba abandonando a escola por apresentar um histórico de repetências. “Se houvesse um acompanhamento especializado no modelo da rede estadual, talvez a realidade fosse diferente”.

Para a coordenadora de educação do Instituto Alana, Raquel Franzim, é importante destacar que nem todos os estudantes público alvo da política de educação especial necessitam do atendimento. “Vai depender de caso a caso e das necessidades específicas”, diz.

Raquel explica que é comum se confundir o AEE com um serviço de reforço ou de “solução” de todos os desafios impostos no processo de inclusão. Pode se ainda confundi-lo com um atendimento na perspectiva da saúde. “O papel do AEE está no campo da educação e é saudável que faça relação com outros campos do conhecimento sem, contudo, perder sua potência: investigar como a escola pode ser um espaço em que pessoas diferentes possam aprender”, afirma.

Percepção da deficiência

Apesar dos avanços na legislação brasileira ao longo das últimas décadas, a construção dos direitos da pessoa com deficiência passou por fases distintas, que se relacionam diretamente com o estágio de percepção da sociedade sobre o próprio significado de “deficiência”.

O Manual de Inclusão da Pessoa com Deficiência, elaborado pela Comissão Permanente de Acessibilidade e Inclusão, do Tribunal de Justiça do Paraná, destaca quatro períodos desse debate: fase da intolerância, fase da invisibilidade, fase do assistencialismo, até  chegar à fase dos direitos humanos e inclusão social, com ênfase na eliminação de barreiras para o pleno desenvolvimento da pessoa com deficiência em seu meio

Marcos na legislação brasileira – Linha do Tempo

  • 1999: DECRETO  nº 3298
    Dispõe sobre política nacional para a integração da pessoa com deficiência. A educação especial é definida como uma modalidade transversal a todos os níveis e modalidades de ensino
  • 2002: LEI nº 10.436
    Reconhece a língua Brasileira de Sinais – Libras
  • 2008: POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL NA PERSPECTIVA INCLUSIVA
  • 2008: DECRETO nº 6.571
    Dispõe sobre o Atendimento Educacional Especializado e o financiamento no âmbito do FUNDEB
  • 2009: CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
    Outorgada pela ONU em 2006 é ratificada pelo Brasil como emenda constitucional, por meio do Decreto Legislativo nº 186/2008 e pelo Decreto Executivo n º 6.949/2009.
  • 2015: LEI BRASILEIRA DE INCLUSÃO (LBI)
    Destina-se a assegurar e promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais da pessoa com deficiência, visando a sua inclusão social e a cidadania.
1 em cada 10 brasileiros tem alguma deficiência, o que totaliza 7% da população.
Fonte: Pesquisa “O que a população brasileira pensa sobre educação inclusiva”
Atualmente, o Brasil compreende o conceito de deficiência de acordo com a  visão enfatizada pela Convenção Internacional sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência, adotada pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, em dezembro de 2006. O documento ofereceu uma resposta ao histórico de discriminação, se tornando um marco na elaboração de medidas aos Estados para garantir o exercício de direitos em igualdade de condições com os demais.
“Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas”.
Fonte: Artigo 1º da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, ratificada pelo Brasil, com equivalência de emenda constitucional, por meio do Decreto Legislativo nº 186/2008 e promulgada pelo Decreto nº 6.949/2009
 A Lei Brasileira de Inclusão é de 2015, mas a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva possui mais de 10 anos. Nesse período, a matrícula de estudantes com deficiência em escolas regulares superou a matrícula em escolas ou salas especiais. Houve também um aumento de 70% de matrículas de alunos com deficiência na educação básica.

Atualmente, 92,1% dos estudantes de 4 a 14 anos estão incluídos em classes regulares. É essa convivência na escola comum e cada vez mais nos espaços públicos, no mercado de trabalho ou na imprensa, os responsáveis por criar a percepção dos benefícios da diversidade para todas as pessoas, com e sem deficiência.

Hoje, a inclusão no Brasil balança entre o imaginário social positivo e a ameaça política à retirada de direitos conquistados pela pessoa com deficiência.

A Política Nacional de Educação Especial revisada deve ser aprovada este ano. O governo de Jair Bolsonaro vai publicar um decreto com alternativas para que a escola regular não seja a única opção dos alunos com deficiência intelectual ou física, Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) ou superdotação.

Caberá a cada família – em parceria com a escola e com a equipe multidisciplinar que já acompanha o estudante – escolher se o estudante vai permanecer na instituição de ensino regular em que está atualmente, se irá ser transferido para uma escola especial ou ainda se ficará na mesma unidade escolar, mas em uma classe especial que poderá ser criada.

Insegurança

Para a professora da rede pública de Franco da Rocha, Roberta Pimental, a inclusão da filha Eduarda, com Síndrome de Down, na escola regular, foi essencial para o seu desenvolvimento.
“Foi na escola que ela saiu das fraldas, aprendeu a falar e ganhou autonomia”, destaca a mãe.
Aos três anos, Eduarda acompanhava seus colegas e concluiu a Educação Infantil com êxito, conciliando a rotina escolar com o acompanhamento e estimulações de profissionais multidisciplinares fora da escola.

“Mas quando chega no ensino fundamental, as coisas mudam.” O estágio de alfabetização, que passa a exigir mais dos alunos, do ponto de vista intelectual e físico – como a apresentação da letra cursiva, por exemplo – evidencia algumas dificuldades. “Foi quando sentimos que ela regrediu e começou a fazer rabiscos”, relata Roberta. Nesse período, a escola começou a fazer outras atividades com Eduarda, separadas das aulas com os demais alunos.

No Ensino Fundamental, Eduarda passou por uma fase difícil, em que ficava muito tempo sozinha e se trancava no banheiro da escola. “Montamos um esquema com a família e amigos para ligarmos para ela no recreio e ficávamos conversando por WhatsApp.”

Foram muitas idas e vindas nos 16 anos até o dia da formatura de Eduarda no ensino médio. Roberta conta que algumas escolas negaram a matrícula da filha, alegando que não tinham estrutura para recebê-la.
O que fazer se escola se recusa a matricular estudantes com deficiência? — Escolas regulares são obrigadas a matricular estudantes com deficiência, sejam elas públicas ou privadas, como estabelecido na Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência e na Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. A recusa da matrícula, inclusive, é considerada crime segundo o artigo 8º da Lei 7.853/89.
Fonte: Programa Prioridade Absoluta
“Você vai escutando coisas que vão te machucando ao longo dos anos”, lamenta a mãe.
Apesar das dificuldades, ela garante que a escola regular foi importante para que a filha estabelecesse vínculos afetivos e de convivência.

De fato, Roberta vai ao encontro dos resultados da pesquisa do Datafolha, que afirma que 87% dos pais de crianças com deficiência têm medo de que seus filhos sofram preconceito na escola. Isso porque ela sabe que incluir não significa apenas apresentar e exigir em reuniões com a direção da escola que as leis sejam cumpridas, mas é preciso enfrentar impasses sociais e culturais, que possam gerar maior acolhimento e evitar constrangimentos.
 “Nosso termômetro sempre foi a felicidade dela e o quanto se sentia bem na escola. E ela ama esse ambiente”

Eduarda tem 19 anos, tem Síndrome de Down. Estudou em escolas regulares, em Franco da Rocha, região metropolitana da cidade de São Paulo, e se formou no ensino médio aos 16 anos.

A história do cineasta Daniel Gonçalves, de 35 anos encontra-se em alguns momentos com a de Roberta. Morador do Rio de Janeiro, Daniel conta ao Lunetas que passou por três escolas privadas desde a pré-escola.

Daniel nasceu com uma deficiência que nenhum médico foi capaz de diagnosticar e foi alfabetizado usando uma máquina de escrever. “Pra mim não foi um problema. Pelo contrário, a máquina fazia um super sucesso na escola. Todos queriam digitar. Com a máquina de escrever eu não passei por nenhum tipo de adaptação de conteúdo”. 

Diretor do filme “Meu nome é Daniel”, documentário narrado em primeira pessoa que relembra sua infância, por meio de registros de família, hoje ele diz reconhecer que teve sorte em ter passado pelas escolas que passou.
Tive sorte em ter encontrado pessoas interessadas em fazer minha inclusão de fato
“Eu fui o único amigo com deficiência de muitos. Crescer com alguém que tem algum tipo de deficiência é muito potente. Foi bom para eles e para mim. Eu não me achava diferente deles, eu estava ali. Eu acredito que este seja o melhor cenário. Uma escola inclusiva pode formar pessoas que respeitam as diferenças e acho que a gente cresce aprendendo e vivendo o mundo diverso como ele é. Acho que todo mundo ganha quando estamos juntos”.

Daniel Gonçalves tem 35 anos,  é jornalista, morador da zona sul do Rio de Janeiro, nasceu com uma deficiência que nenhum médico foi capaz de diagnosticar. Só estudou em escolas regulares em toda trajetória escolar. É diretor do documentário “Meu nome é Daniel”

Respeito e diálogo

Ana Clara Maceno é professora do Centro de Educação Infantil SESC Portão, em Curitiba. Trabalhou com crianças com autismo em sala de aula e compartilha experiências positivas de aprendizado coletivo, que mesclam atividades lúdicas, brincadeiras e trabalhos em grupos.

“Sempre tomamos cuidado para que a criança com deficiência saiba exatamente tudo o que vai acontecer, por meio de imagens que temos na sala, o que também ajuda os demais a se envolverem nas atividades do dia a dia”. Se acontece mudanças na programação, a criança deve ser avisada. Ela explica que essa previsão ajuda a evitar o estresse ou irritação, e permite que os alunos com deficiência sejam incluídos na programação regular.
“Para a escola, é sempre um desafio lidar com o ‘novo’, mas o principal existe, que é abertura e vontade de criar um ambiente cada vez mais rico de experiências, afeto, oportunidades e de vivências para valorizar esse momento único que é a infância”
É comum que, no início da Educação Infantil, algumas crianças com deficiência não consigam se comunicar por meio da fala, se alimentar sozinhas ou usar o banheiro, fator de insegurança para pais, mães e cuidadores. Por isso, segundo Ana Carla, a parceria entre famílias, escola, atendimento especializado e com os próprios alunos é uma das chaves para transformar a sala de aula em um ambiente de confiança. “Isso se alcança com um diálogo aberto, sem expectativas ou pré-julgamentos e, especialmente, sem comparações entre as crianças, já que cada uma possui seu próprio tempo de desenvolvimento.”

A pedagoga Raquel Franzim, que já atuou como professora, coordenadora pedagógica e formadora de professores, também reforça que é fundamental que os educadores, com o apoio da coordenação, da direção, da comunidade escolar e de toda a rede de proteção social e dos próprios estudantes (com e sem deficiência), se comprometam com a pesquisa, criação e/ou oferta de apoios necessários para efetivar o direito de se estar na escola e se desenvolver e aprender. “Essa não é uma aprendizagem natural – ninguém nasce sabendo – mas é fundamental aprender a trabalhar em rede e de forma colaborativa com atores dentro e fora da escola”.

Com avanços e tropeços, as histórias de inclusão passam a dar nomes, rostos e sentimentos aos números divulgados, que, embora sejam positivos, evidenciam as pedras no caminho da inclusão efetiva. Sobretudo, humanizam as estatísticas, fazendo um convite para que toda a sociedade se envolva na luta pela oferta de oportunidades iguais para o desenvolvimento das potencialidades de cada um.

Colaborou: Mayara Penina

quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Consumo de bebida alcoólica durante a gravidez pode provocar deficiência intelectual na criança

Os primeiros sintomas de atraso cognitivo costumam ser observados na escola, durante a alfabetização


Folha Vitória | folhavitoria.com.br


A deficiência intelectual é uma condição que afeta a função cognitiva do indivíduo. De forma simples, atividades da vida diária que são consideradas "banais" pela maior parte das pessoas são mais difíceis para quem tem deficiência intelectual. De maneira geral, os primeiros sintomas de atraso cognitivo costumam ser observados na escola, quando a criança tem seis anos de idade e apresenta dificuldades para aprender a ler e escrever. 

Em casa, a criança não desenvolve com facilidade atividades simples, como amarrar os sapatos, tomar banho sozinho e ajudar nas tarefas do lar. O diagnóstico da deficiência intelectual é feito a partir do teste psicométrico ou avaliação neuropsicológica, por meio de testes de QI.

De acordo com o médico geneticista Caio Bruzaca, do Ambulatório de Diagnósticos do Instituto Jô Clemente, antiga APAE de São Paulo, muitos são os fatores que podem levar à deficiência intelectual ou a algum atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, a começar por aspectos genéticos, que podem ser identificados em testes feitos por casais que nunca tiveram filhos e desejam fazer um aconselhamento genético pré-concepcional. 

Segundo ele, “além da predisposição genética, há fatores externos e um deles é o consumo de bebidas alcoólicas. O álcool na gravidez pode levar à síndrome alcoólica fetal, que pode provocar problemas físicos, comportamentais e de aprendizado na criança”, explica.

“O álcool compromete o fluxo sanguíneo para a placenta e impregna o líquido amniótico com a substância. O feto, por estar em desenvolvimento, ainda tem um metabolismo e um sistema de intoxicação mais lentos, o que prejudica o desenvolvimento da criança, tanto cerebral quando físico”, alerta o médico.

 De acordo com o geneticista, desde 1973, a síndrome alcoólica fetal é considerada uma condição irreversível, porque além do atraso neuropsicomotor, pode causar anomalias craniofaciais, deficiência de crescimento, alterações neurológicas e comportamentais, malformações e doenças associadas ao coração, rins e coluna vertebral”, explica.

Atualmente, com o objetivo de prevenir e diagnosticar precocemente a deficiência intelectual ou outros quadros que possam comprometer a saúde e o desenvolvimento da criança, é realizado o Teste do Pezinho. Por meio do exame, é possível identificar condições graves que merecem atenção imediata de uma equipe multidisciplinar. 

Entretanto, ainda de acordo com o médico, muitos dos diagnósticos positivos podem ser evitados com cuidados antes e durante a gestação. “Nossa recomendação é que os pais conversem com o médico antes e durante a gravidez, façam todos os exames necessários e realizem o Teste do Pezinho na criança logo após as 48 primeiras horas de vida. Quanto mais precoce for qualquer tipo de diagnóstico, mais chances a criança terá de se desenvolver com qualidade de vida”, finaliza.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Professor promove inclusão ensinando robótica para crianças com deficiência

Ingrid Matuoka | educacaointegral.org.br

Em 2017, o professor de matemática Edson Luiz Plateiro começou a ensinar robótica para crianças com deficiência que estudam na EMEF Brigadeiro Haroldo Veloso, no bairro de Itaquera, em São Paulo (SP). Ao garantir os mesmos direitos de aprendizagem e de acesso a múltiplas linguagens para todas as crianças, Edson promoveu também a inclusão dos alunos.

O processo teve início quando a Secretaria Municipal de Educação ofereceu kits de programação e robótica para as escolas. “Comecei a estudar mais sobre o uso dessa linguagem para crianças com deficiência, e também fiz uma extensão universitária na Universidade Federal do ABC”.

E então começaram os estudos. Respeitando os tempos e as maneiras de aprender de cada um, o professor foi trabalhando essa linguagem. Quando um aluno não sabia manusear régua e compasso, por exemplo, o Edson interrompia o processo para fazer essa aprendizagem.

“Temos que ir administrando o que a criança já sabe fazer e ir ofertar apoio para ela começar a conseguir fazer sozinha. Não adianta fazer por ela, mas estimular, questionar, mostrar caminhos, e deixar que ela escolha”, diz.

O educador também explica que o ensino da robótica para crianças com deficiência é uma oportunidade de desenvolver variadas habilidades, como treinar a capacidade motora para manusear as peças, e a de abstração, para pensar em um projeto antes dele existir e compreender raciocínios conceituais.

Um passo além

No ano seguinte, em 2018, o professor decidiu expandir os limites, e sugeriu que os alunos participassem de um JAM de robótica — evento anual que reúne diversas escolas para estudar manuais, reproduzir experiências e pensar protótipos. “Eles se interessaram e montamos uma equipe mista, incluindo alunos sem deficiência”, conta o educador.

Foi aí que a inclusão ganhou força. Trabalhando juntos e se ajudando mutuamente, criou-se uma comunidade de aprendizagem, com mais interações, e um ambiente onde podiam conversar sobre um tema comum.

Professor promove inclusão ensinando robótica para crianças com deficiência
Para o JAM de robótica, André, que sonha em ser veterinário, decidiu construir um robô-escorpião. Crédito: Edson Plateiro

“Mudou a visão que os colegas tinham sobre as crianças com deficiência quando perceberam que elas também eram capazes de produzir e criar, e passaram a admirá-las. E para os alunos da sala de recursos, intensificou um sentimento de pertença a um grupo. No todo, é um ambiente de trocas, ajuda e respeito à singularidade”, diz.

Mas não são todos os estudantes que se interessam por robótica. Nem por isso, eles precisam ficar de fora. Montar um robô pode envolver habilidades de comunicação, para criar um folder explicativo, por exemplo, e de artes, para pintar seu exterior.

No primeiro ano de experiência, as crianças conseguiram atingir parcialmente o desafio proposto pelo JAM de robótica. No ano seguinte, conseguiram totalmente. E agora, em 2020, o professor planeja tornar essas aulas um projeto permanente para a escola inteira, e multiplicar esse conhecimento.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Família tem papel fundamental no apoio à pessoa com deficiência

Por Carla Bastos Dias para o semprefamilia.com.br © 2020, Gazeta do Povo

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"Todas as pessoas encaram dificuldades e precisam superar barreiras a cada dia. Quem possui algum tipo de deficiência enfrenta ainda mais desafios e ter apoio é fundamental para seguir em frente e não desistir diante dos obstáculos. De acordo com Rosângela Barqueiro, psicóloga da Associação Brasileira de Assistência ao Deficiente Visual Laramara, o processo de reabilitação de uma pessoa com deficiência é lento, gradual e extremamente trabalhoso. “É inviável imaginar que a pessoa consiga fazer isso sozinha. A dependência é muito grande desde o momento do diagnóstico, durante o tratamento, o prognóstico e as conquistas para a autonomia e independência. Por isso, a família é essencial nesse processo”, ressalta."

"A psicóloga aponta que, neste caso, a família não se resume a pai, mãe e irmãos. Mas inclui avós, padrinhos, tios, primos e até mesmo os agregados. Não é uma questão sanguínea, mas de vínculos afetivos que transmitam confiança, já que em algumas situações, como em abrigos, por exemplo, os cuidadores fazem este papel. Com a participação ativa dos familiares, a reabilitação da pessoa com deficiência é efetiva e os resultados esperados em relação à autonomia são alcançados. O primeiro passo para participar do processo é conhecer a fundo o diagnóstico, os recursos e tecnologias disponíveis para não ficar focado apenas na deficiência. As limitações existem, mas não devem impedir a continuidade da vida."

Rosângela observa que a família precisa ter uma referência para conseguir enxergar as possibilidades e evitar a superproteção. Fazer parte de grupos de apoio e conviver com outras pessoas com deficiência em eventos, associações e demais situações sociais viabiliza novas experiências. “Pessoas com deficiência podem ter uma qualidade de vida igual ou até melhor dependendo das oportunidades que são oferecidas a elas. O ideal é que a família e a própria pessoa procurem instituições especializadas na área da deficiência e até mesmo apoio psicológico, um reforço, já que não são todos que tem condições emocionais para o enfrentamento, seja do tratamento ou do processo de reabilitação”, acrescenta."

Apoio familiar foi determinante para deficiente visual superar dificuldades

Leonardo Ferreira, de 31 anos, nasceu com deficiência visual, no interior de Pernambuco. Seu pai procurou diversos especialistas na região com o objetivo de reverter o problema, mas sem sucesso. Esperançoso, decidiu se mudar para São Paulo com a família para proporcionar melhores condições de vida para o filho. Com quatro anos de idade, Leonardo fez um transplante de córnea e pôde enxergar pela primeira vez. Porém, aos 15 anos, perdeu a visão novamente. “Apesar da deficiência visual, consegui estudar, fazer faculdade, casar e construir uma vida razoavelmente estável. Nada seria possível sem o apoio da minha família, que sempre me incentivou desde as tarefas mais simples até na temida hora de andar sozinho”, conta."

"Os desafios são constantes – coisas fáceis, como se vestir ou se alimentar, podem ser muito complicadas para um deficiente visual. Ferreira afirma que o incentivo, o estímulo e até mesmo a cobrança são primordiais para o desenvolvimento, especialmente na infância. “Uma família relapsa pode inviabilizar o convívio social da criança e até causar traumas psicológicos irreversíveis”, afirma. “Eu tive uma família vigilante, tanto em relação às minhas necessidades quanto em relação aos meus direitos. Certamente eles foram meu ponto de apoio, talvez meu trampolim para a vida, como qualquer família deveria ser para qualquer pessoa, independentemente de ela ter deficiência ou não”."

Saiba como incentivar a autonomia de um familiar com deficiência

Silvia Costa Andreossi, profissional de Educação Física e Orientação e Mobilidade da Laramara, explica que ter um ambiente de aprendizagem estável e familiar, que proporcione descobertas e desafios, melhora a qualidade de vida da pessoa com deficiência. É essencial ter diferentes experiências, além de tempo para refletir e entender como tudo se relaciona. “Crianças, jovens e adultos com deficiência também aprendem e percebem o mundo de várias maneiras e cabe a nós familiares, profissionais e educadores saber em quais canais sensoriais eles estão buscando informação e oferecer experiências ricas, significativas e funcionais”, esclarece."

A especialista dá orientações para que os familiares possam contribuir com a promoção da autonomia:

– Respeitar o desenvolvimento de acordo com a idade cronológica, as especificidades da deficiência e o tempo de cada indivíduo é fundamental;

– Seja criança, jovem ou adulto é importante ter ajuda para reconhecer e se familiarizar com os ambientes, materiais e equipamentos utilizados no dia a dia;

– No início, o ambiente deve ser controlado, sem excesso de estímulos;

– É importante alertar a pessoa sobre situações que possam apresentar riscos, causar constrangimentos ou contratempos;

– Buscar estimulações específicas, atendimento especializado e programas de atendimento com enfoque em diferentes formas de comunicação e envolvimento da família;

– Procurar atividades estruturadas, claras e sistemáticas e estilo de aprendizagem individual para proporcionar experiências significativas e funcionais.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Educação inclusiva promove autonomia de crianças e jovens com deficiência intelectual, revela pesquisa

Estudo compara o desenvolvimento de alunos com deficiência em salas de aula comuns com estudantes matriculados em escolas especiais


SEGS | segs.com.br


Uma pesquisa realizada pelo CEPI -- Centro de Ensino, Pesquisa e Inovação do Instituto Jô Clemente (antiga APAE DE SÃO PAULO), revela que crianças e adolescentes que frequentam as salas de aula comuns apresentam ganhos consideráveis em aspectos como identidade, autonomia, comunicação, linguagem, expressão, relacionamento interpessoal e aprendizagem. “Esses alunos demonstram e expressam seus desejos e maior interesse pelas atividades propostas, mostrando-se questionadores em alguns momentos das aulas. Em relação à independência, eles são capazes de se locomover pelas dependências das escolas, dirigindo-se ao banheiro, bebedouro, refeitório, servindo-se e alimentando-se adequadamente nos horários de recreio. No que diz respeito à comunicação e expressão, a maioria consegue transmitir suas ideias e se fazer entender por meio de gestos ou imagens, mesmo quando ainda não há comunicação oral”, conta Roseli Olher, supervisora do Atendimento Educacional Especializado (AEE) do Instituto Jô Clemente.

A pesquisa contemplou ainda a análise do desenvolvimento de crianças e adolescentes matriculados em escolas especiais. “Nesses casos, o desenvolvimento não é o mesmo, infelizmente. Foram identificados poucos avanços quanto à autonomia, aprendizagem e comportamento social. Os alunos permaneceram com atitudes infantilizadas, comportamentos inadequados, dificuldades para enfrentar e resolver conflitos, vocabulário restrito e fora de contexto quando solicitados para exporem suas ideias e se fazerem entender perante os colegas e adultos, demonstrando pouco interesse e iniciativa frente às propostas apresentadas. Em relação à autonomia e independência, ainda necessitavam de um profissional para acompanhá-los pelas dependências da escola”, comenta Roseli.

Com o cenário apresentado no estudo, o Instituto Jô Clemente está reforçando seu posicionamento a favor da inclusão de alunos com deficiência na escola comum, junto aos demais estudantes sem deficiência. Em novembro de 2019, representantes da Organização participaram de audiência pública no Congresso Nacional para defender a educação inclusiva e se manifestar contra a proposta do Governo Federal de alterar a Política Nacional de Educação Especial e criar centros de referência para a educação de crianças e adolescentes com algum tipo de deficiência.

Para Roseli, a proposta representa um retrocesso, uma vez que a Lei Brasileira de Inclusão (LBI) garante o acesso de todas as pessoas com deficiência à educação regular comum. “Essa alteração pode ampliar a exclusão, a segregação. É importante que crianças e adolescentes com deficiência sejam incluídos na sociedade e tudo começa na infância, na idade escolar. Para quem tem algum atraso no desenvolvimento neuropsicomotor ou uma deficiência intelectual, essa importância é ainda maior, porque sabemos que a socialização é fundamental no desenvolvimento, na aprendizagem e na conquista de autonomia”, diz. “O que esse estudo que apresentamos nos mostra é que a educação inclusiva traz ganhos para os alunos com e sem deficiência. Quando falamos em deficiência intelectual, que é o foco de atuação do Instituto Jô Clemente, esses ganhos são relevantes porque são nesses casos que ainda encontramos as maiores barreiras sociais”, completa.

Desde 2010, com o encerramento das atividades da escola especial do Instituto Jô Clemente, a Organização oferece o Atendimento Educacional Especializado (AEE), com o objetivo de identificar, elaborar e organizar recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras e garantam a plena participação dos alunos no ensino comum. É importante lembrar que as práticas desenvolvidas no AEE são diferentes das realizadas em sala de aula comum, por isso o serviço não é substitutivo à escolarização e dever ocorrer no contraturno escolar. “Esse serviço é muito importante para que a criança e o jovem com deficiência intelectual avancem nos aspectos sociais e cognitivos”, explica. Atualmente, o AEE atende cerca de 300 pessoas de quatro a 17 anos, por meio de parceria com a Prefeitura do Município de São Paulo.

Além do apoio aos alunos, a Organização promove capacitação aos educadores das escolas municipais. “Ao longo dos anos, nós entendemos que a educação especial segregava ao invés de incluir e não trazia os resultados esperados em aprendizagem e autonomia. Os alunos conheciam apenas o mundo da deficiência e era necessário dar a eles a oportunidade de conhecer o mundo como um todo”, finaliza Roseli.

O Instituto Jô Clemente conta também com o Serviço de Socioeducação, que tem como objetivo preparar e apoiar jovens e adultos com deficiência intelectual para a vida social. As ações socioeducativas desenvolvidas no espaço de convivência favorecem o desenvolvimento das competências e habilidades para promoção da autogestão e autonomia da pessoa com deficiência intelectual. Os jovens passam por um processo de elaboração do Plano Individualizado de Atendimento (PIA), que leva em conta suas potencialidades, limitações e subjetividades. Esse plano é construído pela pessoa com deficiência e sua família, em conjunto com a equipe técnica, que irá nortear o trabalho a ser desenvolvido. O PIA parte da avaliação da equipe do Instituto Jô Clemente para a definição dos objetivos singulares de cada jovem ou adulto com deficiência intelectual, contudo, ele é constantemente atualizado, considerando o alcance das metas estabelecidas.

Atualmente, são realizadas oficinas de esportes, artes plásticas, dança, teatro e musicalização. Essas atividades fortalecem a identidade pessoal, cultural e social de cada indivíduo, contribuindo para o convívio social, reflexão e exercício da cidadania. A equipe da Organização é formada por educadores sociais com formação em Educação Física, Teatro, Dança, Artes Plásticas e Música, com o apoio técnico de profissionais das áreas de Psicologia, Terapia Ocupacional, Pedagogia e Serviço Social.

Sobre o Instituto Jô Clemente

O Instituto Jô Clemente é uma Organização da Sociedade Civil sem fins lucrativos que há mais de 58 anos previne e promove a saúde das pessoas com deficiência intelectual, além de apoiar a sua inclusão social e a defesa de seus direitos, produzindo e disseminando conhecimento. Atua desde o nascimento ao processo de envelhecimento, propiciando o desenvolvimento de habilidades e potencialidades que favoreçam a escolaridade e o emprego apoiado, além de oferecer assessoria jurídica às famílias acerca dos direitos das pessoas com deficiência intelectual.

Pioneiro no Teste do Pezinho no Brasil e credenciado pelo Ministério da Saúde como Serviço de Referência em Triagem Neonatal, o Laboratório do Instituto Jô Clemente é o maior do Brasil em número de exames realizados. Por meio do CEPI - Centro de Ensino, Pesquisa e Inovação do Instituto Jô Clemente, a Organização gera e dissemina conhecimento científico sobre deficiência intelectual com pesquisas e cursos de formação.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Alunos com deficiências rompem barreiras e se destacam na universidade

UNICAMPunicamp.br

Formados em Fonoaudiologia e Medicina, Pedro Carvalho e César Gatto ressaltam importância do apoio para a superação
Formados em Fonoaudiologia e Medicina, Pedro Carvalho e César Gatto ressaltam importância do apoio para a superação

Concluir a faculdade é um momento de alegria para centenas de estudantes que se formam todos os anos nos cursos de Graduação da Unicamp. Depois de muito estudo e dedicação, receber o diploma traz aos novos profissionais a satisfação do dever cumprido. Mas além da vitória no próprio curso, alguns formandos deram o exemplo de que a superação pode ir além dos próprios limites físicos. São alunos que convivem com diferentes tipos de deficiências e, destacando-se nos estudos e agora beneficiando outras pessoas com sua atuação profissional, suas trajetórias ensinaram professores e alunos que é possível tornar a universidade um espaço mais plural e inclusivo. O Portal Unicamp apresenta duas dessas histórias, que podem ser uma boa inspiração para este início de ano.

"Nada é pronto para a pessoa com deficiência"

Há quatro anos, o desempenho de Pedro Henrique Carvalho no Vestibular da Unicamp foi notícia. Aprovado na seleção logo após concluir o Ensino Médio, o jovem foi o primeiro estudante cego a ingressar no curso de fonoaudiologia da Faculdade de Ciências Médicas (FCM). Mesmo com a alegria da aprovação, Pedro já tinha consciência de que o destaque mostrava o quanto a presença de pessoas com deficiência ainda não é algo natural em espaços como as universidades. "A pessoa com deficiência visual, quando entra em uma faculdade, ainda surpreende, é algo como: 'nossa, o deficiente visual conseguiu!', porque não é uma coisa comum e não é culpa de alguém específico, é culpa da sociedade mesmo. Porque nada é pronto para a pessoa com deficiência, então quando alguém entra, é uma novidade. O diferente causa uma certa estranheza, um certo choque", lembra o estudante.

Pedro Henrique Carvalho é o primeiro aluno cego a se formar em Fonoaudiologia na Unicamp. Audiodescrição: Imagem em ambiente externo de um jovem de óculos. Ele usa barba e bigode e veste uma camisa estampada em preto e cinza e uma jeans. O braço esquerdo está estendido ao lado do corpo e o direito flexionado, com a mão segurando uma bengala. Ao fundo, num gramado, há uma placa indicativa da Faculdade de Ciências Médicas, um gramado e dois prédios, um ainda em construção.
Pedro Henrique Carvalho é o primeiro aluno cego a se formar em Fonoaudiologia na Unicamp

Agora em 2020, Pedro começa o ano celebrando mais uma aprovação: antes mesmo de se formar fonoaudiólogo, ele foi aceito como aluno de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Saúde, Interdisciplinalidade e Reabilitação, também da FCM. Ele será orientado pela professora Rita de Cássia Montilha, dando continuidade a pesquisas que já desenvolvia desde a graduação, na iniciação científica. O novo mestrando pretende ampliar as contribuições que a fonoaudiologia pode trazer a pessoas cegas e com baixa visão, como o estímulo de outros sentidos, tais como o tato e a audição; a percepção dos ambientes em que as pessoas estão; os movimentos de boca e da mandíbula; e até mesmo a execução de expressões faciais, algo comum nas terapias fonoaudiológicas.

"Muitas vezes, a pessoa com deficiência não tem muita noção do que é uma expressão facial, principalmente quem é cego congênito, ou quem tem baixa visão congênita. A pessoa não tem muita noção do que é uma cara de bravo, ou uma cara de quem sentiu um cheiro ruim. Então a gente pode trabalhar com isso", explica Pedro. Ele ainda comenta que, para os fonoaudiólogos trabalharem habilidades de comunicação junto a pacientes cegos, como leitura e escrita, é preciso ter conhecimento dos recursos disponíveis, como o Braille. Por isso, acredita que pode aperfeiçoar os métodos e protocolos de atendimento fonoaudiológico. "Você tem que lançar mão de recursos óticos e de recursos não óticos, também precisa conhecer braile se for trabalhar leitura e escrita com uma pessoa cega", analisa.

Agora em 2020, Pedro começa o ano celebrando mais uma aprovação: antes mesmo de se formar fonoaudiólogo, ele foi aceito como aluno de mestrado no Programa de Pós-Graduação em Saúde, Interdisciplinalidade e Reabilitação, também da FCM. Ele será orientado pela professora Rita de Cássia Montilha, dando continuidade a pesquisas que já desenvolvia desde a graduação, na iniciação científica. O novo mestrando pretende ampliar as contribuições que a fonoaudiologia pode trazer a pessoas cegas e com baixa visão, como o estímulo de outros sentidos, tais como o tato e a audição; a percepção dos ambientes em que as pessoas estão; os movimentos de boca e da mandíbula; e até mesmo a execução de expressões faciais, algo comum nas terapias fonoaudiológicas.

"Muitas vezes, a pessoa com deficiência não tem muita noção do que é uma expressão facial, principalmente quem é cego congênito, ou quem tem baixa visão congênita. A pessoa não tem muita noção do que é uma cara de bravo, ou uma cara de quem sentiu um cheiro ruim. Então a gente pode trabalhar com isso", explica Pedro. Ele ainda comenta que, para os fonoaudiólogos trabalharem habilidades de comunicação junto a pacientes cegos, como leitura e escrita, é preciso ter conhecimento dos recursos disponíveis, como o Braille. Por isso, acredita que pode aperfeiçoar os métodos e protocolos de atendimento fonoaudiológico. "Você tem que lançar mão de recursos óticos e de recursos não óticos, também precisa conhecer braile se for trabalhar leitura e escrita com uma pessoa cega", analisa.

A importância de redes de apoio

A deficiência de Pedro é congênita, permitindo que ele enxergue apenas vultos e luzes. Graças ao esforço da família e de profissionais que o acompanharam desde a infância, ele teve garantido seu direito de aprender o Braille e, assim, pode desenvolver os estudos de forma plena. "Foi um trabalho de todo mundo, de toda a família, porque envolve todo mundo. Tem que ter o apoio da família, a colaboração de todo mundo, porque você depende dos outros também, é um processo", comenta Carmem Lúcia Carvalho, mãe de Pedro, que chegou a aprender Braille junto com o filho para auxiliá-lo nas tarefas escolares.

Na universidade, Pedro também contou com o apoio dos colegas de curso e dos professores. Ele ainda destaca o auxilio recebido do Laboratório de Acessibilidade (LAB) do Sistema de Bibliotecas da Unicamp (SBU), responsável por adaptar textos e livros impressos em tinta para o Braille. Ao longo do curso, a FCM também adquiriu para o aluno um laptop adaptado para o uso da Linha Braille, uma espécie de teclado tátil com o qual a pessoa cega consegue selecionar caracteres Braille, que vão aparecendo em forma de texto na tela do computador. A ferramenta tornou seu trabalho mais ágil e deu autonomia ao estudante.

Linha Braille (em frente ao laptop) deu mais autonomia aos estudos de Pedro. Audiodescrição: Imagem de um ambiente interno de um jovem sentado à frente de um computador. Ao lado dele, de pé, uma mulher mais velha observa o jovem. Ele veste uma camiseta cinza, usa fones de ouvido e tem as mãos sobre o teclado do laptop, enquanto ela veste uma blusa branca com estampas coloridas. Sobre a mesa há diversos objetos, como óculos e pastas com papéis. Ao fundo há uma porta aberta com um enfeite pendurado e uma cômoda em madeira. Sobre a cômoda há um calendário e alguns enfeites menores.
Linha Braille (em frente ao laptop) deu mais autonomia aos estudos de Pedro; a mãe comemora as conquistas

Os objetivos de Pedro estão apenas começando a se concretizar. Além do mestrado na FCM, ele também pretende cursar uma residência multiprofissional e atuar como fonoaudiólogo clínico, auxiliando não só os pacientes, mas todos os que convivem com pessoas com deficiência visual, especialmente crianças. "Quando uma criança nasce com deficiência visual, muitas vezes é um choque para a própria mãe. Às vezes a mãe não sabe como se comunicar, porque geralmente, quando a criança é menor, as interações são muito baseadas no sistema visual, então como estimular essa criança? Como me comunicar com ela? Um fonoaudiólogo pode propor soluções de como interagir com essa criança, como brincar com ela", explica.

Questionado se pretende seguir também com um doutorado, Pedro ainda tem dúvidas, prefere se concentrar no momento às conquistas já alcançadas. "Para a pessoa com deficiência, é uma luta constante. Mas a gente vai buscar o nosso lugar", afirma com a consciência de que o caminho não será simples, mas que suas realizações abrirão portas para muitas pessoas.

"Você começa a ver as coisas de uma perspectiva bem diferente"

Apesar de ter semelhanças com a história de Pedro, a convivência de César Gatto com a deficiência tem uma diferença sensível: ela teve início em 2015, enquanto ele estava no terceiro ano do curso de medicina. Por conta da manifestação da Síndrome de Guillain-Barré, doença autoimune que ataca o sistema nervoso, o jovem teve uma paralisia súbita dos movimentos do corpo. Conforme ele se recorda, os sintomas apareceram em 19 de maio daquele ano. Logo pela manhã, ele não conseguia movimentar as pernas. À noite, foi internado na UTI com paralisia completa.

Paralisia causada pela Síndrome de Guillain-Barré fez César ver a medicina com outros olhos. Audiodescrição: Imagem num espaço aberto de um homem de óculos sentado numa cadeira de rodas. Ele veste uma camiseta vermelha com estampas, calças jeans e tênis e tem os braços flexionados à frente do corpo, com as mãos sobre os joelhos. Atrás dele fundo pode-se ver um chão de concreto formando passarelas sobre um solo de terra, diversas árvores, bancos de praça em concreto e um prédio em concreto com janelas espelhadas. Ao fundo há copas de árvores aparecendo sobre o prédio  
Paralisia causada pela Síndrome de Guillain-Barré fez César ver a medicina com outros olhos

Em um primeiro momento, César acreditou que o impacto dessa nova condição iria interromper seus planos por completo. Mas depois de um mês de internação e outros seis meses de reabilitação em São José dos Campos, sua cidade natal, e com uma rede de apoio e incentivo, ele percebeu que a vida poderia continuar de onde fez uma pequena pausa. "Eu achei que não ia conseguir. Acho que só voltei porque meus pais foram insistentes. E aí surgiam coisas que eu pensava: 'não vai dar para fazer isso, sou cadeirante', mas com a ajuda dos professores, dos colegas, você vê que consegue sim. Para mim, foi lindo. Pensei: 'não é que deu certo? Olha como você é bobo!' (risos)"

Hoje César comemora a formatura em medicina e já vem atuando na área como plantonista em hospitais e unidades de pronto atendimento nas cidades de Piracicaba e Indaiatuba. Seu tratamento de reabilitação também continua com fisioterapias, que já permitiram a recuperação dos movimentos das pernas, mas ainda é necessário estimular sua força muscular, para que César consiga se manter em pé. A tendência é que o jovem volte a caminhar, mas ele mesmo reconhece que os movimentos não serão como antes. "Eu gostaria muito de voltar a andar, mas se eu não conseguir, eu preciso ter um plano B. Os dois são muito parecidos, se eu voltar a andar vou fazer só algumas coisas a mais que eu não faria sendo cadeirante. Quero ter minha família, meus filhos, e principalmente a carreira acadêmica, ser professor. Eu gosto muito da Unicamp, gosto daqui", comenta. 

O sonho de ser médico surgiu ainda no colégio, depois que César conheceu o programa Médicos Sem Fronteiras e passou a querer realizar um trabalho semelhante ao da organização humanitária. Outro plano era o de fazer a residência médica na área de infectologia. Porém, com a dificuldade de locomoção, foi necessário parar e repensar quais caminhos ele seguiria na medicina. Agora, ele pretende cursar a residência em pediatria.

Mas as mudanças trazidas pela deficiência a César não foram apenas em relação às áreas em que ele pretende atuar. A experiência de ser paciente e contar com a colaboração de quem está em seu entorno fez com que ele olhasse o exercício da medicina com mais empatia, característica importante para quem cuida da saúde das pessoas. "Você começa a ter a perspectiva do paciente. Antes disso eu não pensava muito dessa forma, pensar no que ele está sentindo internado, depois de 20 dias em uma enfermaria, eu não levava isso muito em consideração. Depois que eu fiquei um mês internado na UTI, com um grande esforço para me recuperar, comecei a dar bastante valor para o que os pacientes estão sentindo, pensando em como está sendo a vivência deles ali, perguntando coisas que antes eu não perguntaria. Quando você vira paciente, você entende bem", reflete César. 

"Foi lindo. Pensei: 'Não é que deu certo?' (risos)", lembra César ao se formar em medicina. Audiodescrição: Imagem num ambiente externo de dois jovens segurando canudos de diploma. À direita, um homem de óculos aparece em busto e à direita, ao lado dele, uma mulher aparece em meio corpo. Ele veste uma camisa azul e uma gravata vermelha e segura o canudo com ambas as mãos à frente do corpo e ela veste um vestido marrom e segura o canudo com a mão direita à frente do corpo, enquanto tem a mão esquerda no ombro do homem. Ao lado deles há uma mulher de costas e um casal que conversa e, ao fundo, há um prédio amarelo e uma praça gramada com algumas árvores.
"Pensei: 'Não é que deu certo?' (risos)", lembra César. Na foto, com a namorada Fernanda Reis


Atenção para a acessibilidade

A perspectiva com que César passou a encarar o mundo não foi a única que mudou depois de sua doença. Segundo ele, conforme a família, os amigos e professores passaram a ter contato direto com sua rotina e necessidades de apoio, principalmente para locomoção, os empecilhos enfrentados pelas pessoas com deficiência tornaram-se mais evidentes para eles. "Depois que fiquei deficiente físico, meus amigos, parentes, todo mundo começa a notar que as coisas não são acessíveis, algo que eu também não notava antes. Quando você conhece alguém com deficiência, de qualquer tipo, começa a pensar: 'puxa, o César não conseguiria subir aqui sozinho'. É uma coisa que fica na cabeça das pessoas quando elas vivenciam ou quando têm alguém próximo que vivencia isso. É interessante então escutar essas pessoas", observa César. 

Ele ainda ressalta que, para quem convive com uma pessoa que adquiriu uma deficiência, o apoio é fundamental no processo de elaboração e é necessário o incentivo constante para que a pessoa não pare e siga em frente. Essa é uma das lições que César tira todos os dias de seu processo de superação. "Cada um vai vivenciar a deficiência física de um jeito. Durante essa caminhada eu conheci muita gente que tem deficiências diferentes da minha, e uma coisa que fica clara é que é uma limitação, mas sua cabeça funciona bem. Então, se você não voltar a fazer suas coisas, se você não tentar, você nunca vai conseguir voltar. Muita gente acha que acabou, mas não é bem assim. Acho que isso é o mais importante que eu aprendi", conclui o rapaz. 

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Aplicativos adaptados ajudam cotidiano de quem tem deficiência

No Brasil, há projetos consolidados e eventos da área atraem quem quer elaborar futuras ferramentas

Estadão | brasil.estadao.com.br

São Paulo - A partir da própria experiência ou de amigos e parentes, pessoas das mais diferentes profissões desenvolvem aplicativos para ajudar quem tem deficiência ou alguma síndrome a se comunicar, ter o aprendizado acompanhado e até a conseguir uma experiência mais agradável ao fazer passeios. No Brasil, há projetos consolidados e eventos da área atraem quem quer elaborar futuras ferramentas.

Rafael Anselmo e seu filho, Bernardo - Foto: Daniel Teixeira/Estadão

Acompanhar as dificuldades enfrentadas por um amigo deficiente durante um evento fez com que o engenheiro elétrico Erick Muniz, de 32 anos, pensasse em um aplicativo para a avaliação de acessibilidade em estabelecimentos comerciais. “A ideia é que as pessoas visualizem quais locais estão disponíveis para atender pessoas com deficiência física, visual ou auditiva. As avaliações serão feitas pelos usuários, o que vai criar confiabilidade de um modo geral."

Ele desenvolveu o protótipo no mês passado durante a Startup Weekend São Paulo Acessibilidade, realizada na Rede de Reabilitação Lucy Montoro, e já planeja lançar uma versão demo em até dois meses.

Enquanto o aplicativo não é lançado, os cadeirantes têm como baixar o Guiaderodas, plataforma lançada em 2016 que já tem avaliação de locais em 1.200 cidades de 100 países. “O app surgiu da minha experiência de cadeirante. Eu sofri um acidente de carro em 2001, quando tinha 17 anos, e percebi que existe uma falta de acessibilidade generalizada. A informação pode fazer diferença para que as pessoas possam ter uma vida melhor”, conta Bruno Mahfuz, de 35 anos, o fundador da ferramenta.

O aplicativo é colaborativo e coleciona prêmios. O último foi recebido no ano passado, quando Mahfuz foi eleito um dos inovadores mais influentes abaixo dos 35 anos pela MIT Technology Review, publicação do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (EUA).

No mesmo evento de tecnologia que Muniz participou, o gerente de desenvolvimento de software Rafael Soares Anselmo, de 36 anos, pensou, junto a um grupo que incluía profissionais de saúde, em uma ferramenta para avaliação do aprendizado de crianças típicas ou não. “O Caracol é um instrumento para dar apoio ao professor em sala de aula. Ela vai permitir a interação de outros profissionais e fazer uma conexão focada no indivíduo”, explica.

A percepção de que as individualidades dos alunos e seus progressos deveriam ser observados surgiu depois que seu filho Bernardo, de 4 anos, que tem Síndrome de Down, começou a ir para a escola. “Sempre tive o desejo de usar a minha profissão e experiência para isso. Depois do meu filho, passei a olhar as coisas de outra forma e com outros propósitos.”

Presidente do Conselho Diretor do Instituto de Medicina Física e da Reabilitação do Hospital das Clínicas/Rede Lucy Montoro, Linamara Rizzo Battistella, diz que a criação desses aplicativos não ajuda apenas os deficientes. “A tecnologia cria uma facilidade de utilização independentemente de um intermediário que faça o serviço. A ideia de poder comandar a própria vida anima a humanidade de um modo geral.”

Ela diz que é uma proposta que vem crescendo nos últimos dez anos. “Isso vem do fato de as pessoas com deficiência estarem presentes nas escolas, nos trabalho e nas artes."

Libras

Fundado em 2012, o Hand Talk já teve mais de 2 milhões de downloads e é um tradutor de bolso para Libras. Coordenador de Marketing da empresa, João Vitor Bogas diz que a área vive constante crescimento. “A gente vê pela movimentação do mercado. Temos grandes contas de clientes corporativos e isso tem crescido. Outras organizações estão oferecendo produtos para outras deficiência. É nítido o crescimento das novas tecnologias.”

Nessa linha, o executivo de vendas Alexandre Abramovay, de 31 anos, também está com um protótipo de app. O que ele desenvolveu com um grupo se chama Fala Comigo e tem como foco pessoas com dificuldade de comunicação. “Meu sogro é afásico e tem dificuldade de se expressar e se comunicar, mas utiliza muito o WhatsApp.”

A proposta é utilizar imagens como ferramentas de comunicação. “É como se fosse uma nova linguagem. Os usuários vão poder gravar as palavras separadamente, adicionar lugares em que vai frequentemente e colocar a foto de uma pessoa da família. Será possível formular frases com imagens.”

Serviço

Guiaderodas.com: oferece avaliações de usuários sobre diferentes tipos de estabelecimentos.

- Handtalk.me: traduz conteúdo em português para a língua brasileira de sinais (libras).

sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Tratamento para pessoa com deficiência requer práticas específicas

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No Brasil, 45 milhões de indivíduos sofrem algum tipo de deficiência física. Diante deste montante, o questionamento principal é como deve ser o tratamento para esse público, tanto por especialistas quanto pelas políticas públicas.

A fisioterapeuta do Hapvida Saúde e especialista em neurologia, Luana Neres, explica que entre as diversas deficiências existentes, as mais conhecidas são a paraplegia (perda de força nos membros inferiores), hemiplegia (perda de força de um lado do corpo) e as deficiências sensoriais - visão, audição, olfato, tato e paladar.

“Na Bahia, ainda temos uma doença retroviral chamada HTLV (vírus linfotrópico de células T humano), que causa deficiência neuromuscular e pode ser transmitida por via sexual, sanguínea e de mãe para filho. Nosso estado é recordista em número de casos da doença no mundo”, dispara.

A especialista detalha que o tratamento da pessoa com deficiência física deve ser baseado em um atendimento multiprofissional com foco no indivíduo e em suas particularidades, tendo como objetivo reinseri-lo na sociedade em que vive. “Neste processo, a fisioterapia tem papel principal na readaptação desta pessoa, potencializando suas capacidades existentes e diminuindo disfunções causadas pela deficiência”, conclui.

Adultos e Crianças: tratamentos específicos

A fisioterapia, quando pensada para os deficientes físicos, se estrutura também a depender da faixa etária. De acordo com Luana, a criança com deficiência é atendida por um fisioterapeuta especialista em pediatria, visando a estimulação do desenvolvimento neuropsicomotor. “São utilizadas técnicas lúdicas e funcionais para que a criança cresça apta a realizar suas atividades básicas de vida diária e com o mínimo de compensações físicas para realizar tais atividades, respeitando o que é possível para cada indivíduo”, frisa.

Na fase adulta, o trabalho é feito pelo fisioterapeuta especialista em neurologia e/ou em ortopedia com o intuito de redução dos quadros de dor e compensações causadas pela deficiência.

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