quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Psicólogo fala sobre a importância de acessibilidade e inclusão na assistência à saúde de pessoas com deficiência

 enfoquems.com.br

How to Help Families Affected by Disability | The Mighty

Na última segunda-feira (21), instituições e militantes da causa celebraram o Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência. De acordo com a pesquisa do Índice Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010, 23,9% dos brasileiros possuíam algum tipo de deficiência, física ou intelectual. Por isso, é necessário debater a acessibilidade e inclusão social para este grupo. O psicólogo Sandro Teodoro, que atende pessoas com deficiência auditiva, fala sobre a importância da assistência para esses indivíduos.

Conforme Sandro explica, a família tem um papel fundamental no desenvolvimento de uma pessoa com deficiência. “Acredito que são os indivíduos ao redor daquela criança com deficiência que vão direcioná-la para que possa ter boa qualidade de vida e estrutura emocional. São as experiências dos primeiros anos de vida que vão determinar o posicionamento dela diante do mundo”.

Sandro explica que, desde cedo, é importante incentivar a pessoa com deficiência acreditar que não é menos capaz que o outro por ter uma deficiência. “É necessário instruir a criança, sempre lembrando dos seus direitos, estimulando fisicamente e psicologicamente. Sempre que possível, estimular a estudar e buscar uma colocação no mercado de trabalho”.

O psicólogo salienta, ainda, que a família deve evitar a superproteção das crianças com deficiência. “Percebemos que muitos pais colocam limitações para os seus filhos, exclusivamente pela deficiência. Com isso, a criança cresce sem conseguir entender que é capaz de fazer muitas coisas sozinha. A família tem que estimular, ensinar, mostrar que a pessoa é capaz”.

Outro fator importante para o desenvolvimento de uma pessoa com deficiência, ainda na infância, é o convívio social, segundo Sandro explica. “É necessário que a criança com deficiência tenha o convívio com outras pessoas, de preferência da sua idade. Cada deficiência tem a sua particularidade, mas é importante que aquele indivíduo seja inserido na escola e, mais tarde, no mercado de trabalho. Com estímulos, a criança com deficiência vai crescer com confiança, sabendo que pode ir e vir”.

Para se colocar como um aliado da inclusão social, Sandro deixa as dicas. “A primeira maneira de buscar a inclusão é erradicar os preconceitos. Também, é preciso ter empatia, se pôr no lugar do outro e procurar ajudar, perguntando como a pessoa quer ser ajudada. É necessário buscar conhecimento básico sobre a acessibilidade”.

Sandro finaliza reiterando que o acesso À saúde deve ser acessível para pessoas com deficiência, por ser uma necessidade básica dos seres humanos. “Temos diversas leis que colocam a assistência à saúde como um direito fundamental. As unidades de atendimento precisam ter um olhar diferenciado para os pacientes com deficiência. Nós temos que entender as pessoas com deficiências como cidadãs, que possuem direitos como qualquer outras”.

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Passageiros com necessidades especiais: quais os direitos?

 abear.com.br

Se você possui alguma necessidade especial e quer viajar de avião, não precisa se preocupar. Para atender os passageiros com necessidades especiais, as companhias aéreas contam com a devida assistência. O que inclui auxílio no aeroporto, embarque, avião e desembarque.

Para fazer sua viagem com tranquilidade, confira os seus direitos e os serviços fornecidos. Saiba também se você está enquadrado na categoria de passageiros com necessidades especiais.

QUEM PODE PEDIR ASSISTÊNCIA ESPECIAL?

Quando se fala em pessoas com necessidades especiais, não se trata apenas de viagem de avião de pessoas com deficiência. A assistência especial é oferecida pelas companhias para:

  • Passageiro com deficiência;
  • Pessoas com idade igual ou superior a 60 anos;
  • Gestantes, lactantes e pessoas com criança de colo. Saiba mais sobre as condições para grávidas poderem viajar de avião;
  • Pessoas com mobilidade reduzida;
  • Qualquer pessoa que, por alguma condição, tenha limitada a sua autonomia como passageiro.

As companhias aéreas estão preparadas para atender a todos. Tanto os aeroportos como as empresas têm programas de treinamento de funcionários com esse objetivo. Nas companhias, há sempre um funcionário responsável. Ele fica disponível para consultas e resolução de eventuais demandas de passageiros. Esse atendimento pode ser pessoal ou remoto.

QUAIS OS SERVIÇOS DE ASSISTÊNCIA?

Ao chegar no aeroporto, os passageiros com necessidade especial devem se apresentar aos funcionários da companhia aérea para o check-in. Confira todos os procedimentos para os quais as empresas prestam atendimento prioritário e assistência especial:

  • Check-in e despacho de bagagem. Conheça aqui as regras para bagagem despachada;
  • Deslocamento do balcão de check-in até a aeronave, passando pelos controles de fronteira e de segurança. Saiba como fazer check-in no aeroporto;
  • Embarque e desembarque da aeronave;
  • Acomodação no assento e deslocamento dentro da aeronave;
  • Acomodação da bagagem de mão na aeronave;
  • Deslocamento desde a aeronave até a área de restituição de bagagem;
  • Recolhimento da bagagem despachada e acompanhamento nos controles de fronteira;
  • Saída da área de desembarque e acesso à área pública;
  • Prestação de assistência a usuário de cão-guia;
  • Transferência ou conexão entre voos;
  • Realização de demonstração individual dos procedimentos de emergência, quando solicitada.

QUANDO PEDIR O SERVIÇO?

Os passageiros com necessidades especiais devem avisar à empresa aérea com antecedência. No momento da compra da passagem, você já pode informar sobre a necessidade de acompanhante, ajudas técnicas e outras assistências.

Caso não informe nessa hora, você pode usar os canais de atendimento das empresas para fazer a solicitação posteriormente, entre 48 horas e 72 horas no mínimo antes do voo, de acordo com a companhia.

Em algumas situações, as empresas pedem que o passageiro envie por e-mail um atestado médico completo ou o MEDIF. O prazo para solicitação da assistência técnica é também entre, no mínimo, 48 horas e 72 horas antes do voo, de acordo com a companhia. O formulário de informação médica, também conhecido como MEDIF, e as regras de cada empresa estão reunidas aqui.

Após o recebimento do documento, as companhias têm 48 horas para analisá-lo e responder a solicitação, autorizando ou não a viagem.

PERDA DE PRAZO DA SOLICITAÇÃO

Se o passageiro com deficiência ou outra necessidade não avisar dentro do prazo, é possível embarcar normalmente. Desde que concorde em ser transportado com as assistências disponíveis.

As companhias trabalham para que a viagem de avião de pessoas com deficiência e necessidades especiais seja a melhor possível. Mesmo que as pessoas não tenham informado a empresa.

ACOMPANHANTE DE PASSAGEIROS COM NECESSIDADES ESPECIAIS

Para o passageiro com deficiência e outras necessidades viajar sozinho, ele deve compreender as instruções de segurança e possuir perfeito estado mental. Além disso, também precisa ter autonomia para realizar suas necessidades básicas. Por exemplo: usar o banheiro, se alimentar, aplicar sua própria medicação se necessário e utilizar a máscara de oxigênio de forma independente.

Quando ele não possui essa autonomia, as companhias aéreas exigem que o passageiro viaje com um acompanhante. Nestes casos, o acompanhante deve ser maior de 18 anos e ter condições de realizar as assistências necessárias. As companhias aéreas devem ser comunicadas da necessidade do acompanhante na hora do envio do MEDIF, e todas oferecem ao acompanhante um desconto de 80% na tarifa cheia na compra de sua passagem. Leia mais sobre a exigência de um acompanhante.

ATENDIMENTO ESPECIAL NO AEROPORTO

A assistência é prestada para você durante toda a viagem, começando pelo aeroporto. Na chegada ao local, as vagas para embarque e desembarque preferencial ficam próximas às entradas principais dos terminais de passageiros. O que garante a segurança para a circulação dos passageiros com deficiência ou mobilidade reduzida.

Dentro do aeroporto, as estruturas também são apropriadas para atender os passageiros com necessidades especiais. Os telefones são adaptados, com teclado acoplado, próprios para surdos.

Há piso tátil nos aeroportos de São Paulo (Internacional de Guarulhos e Congonhas), Rio de Janeiro (Santos Dumont e Galeão), Porto Alegre, Florianópolis, Belo Horizonte (Pampulha), Salvador, Goiânia, Maceió, Recife, João Pessoa, Fortaleza, Teresina, São Luís, Belém, Boa Vista, Manaus e Porto Velho.

RECOMENDAÇÕES NO CHECK-IN E NO EMBARQUE

Na hora de fazer o check-in, você tem atendimento preferencial. Basta procurar o balcão ou os funcionários da companhia aérea para solicitar prioridade no check-in.

Nesse momento, recomenda-se reforçar ao atendente sobre as assistências solicitadas. Se for o caso, é preciso falar sobre o transporte da cadeira de rodas e das ajudas técnicas (bengalas, muletas, andadores). Para entender como funciona o transporte desse tipo de bagagem, se pode ser levado na cabine ou tem que despachar, leia aqui.

Também no embarque, há prioridade para os passageiros com necessidades especiais em relação às demais pessoas. Para isso, é importante estar no portão de embarque com a devida antecedência. Fique atento ao horário para não chegar atrasado e perder o voo.

VIAGEM E DESEMBARQUE

Após o embarque, os funcionários das companhias aéreas auxiliam na acomodação no assento. Além disso, ajudam na acomodação da bagagem de mão e nos deslocamentos necessários dentro do avião.

No desembarque, ocorre a única exceção do atendimento prioritário às pessoas com necessidades especiais. Normalmente, a saída do avião desses passageiros é feita por último para garantir a segurança deles. O desembarque só será prioritário quando, em caso de conexão, o tempo para a troca de aeronave for muito curto.

ATRASO E CANCELAMENTO DE VOO

Agora, no caso de atrasos ou cancelamentos, as pessoas com necessidades especiais têm direitos a serem observados. No geral, quando um voo atrasa, as companhias providenciam compensações aos passageiros conforme o tempo de espera. Confira as regras em relação ao atraso de voo.

No entanto, quando essa espera é superior a quatro horas, há outras regras. Então, se você precisa de assistência especial para a sua viagem, entre em contato com a companhia aérea. Assim, você vai ter toda a ajuda para chegar ao seu destino sem problemas.

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Estado australiano cria modelo inclusivo para apoiar aprendizagem de todos

Política de Educação Inclusiva de Queensland pretende garantir suporte para que todos os estudantes aprendam e alcancem seu máximo potencial

diversa.org.br

Há alguns anos, o Departamento de Educação e Treinamento de Queensland, na Austrália, tem investido para garantir que suas escolas estaduais se tornem mais inclusivas e não deixem nenhum estudante para trás Site externo. A contratação de uma avaliação externa foi a estratégia encontrada em 2017 para possibilitar uma reflexão mais profunda das conquistas dos últimos anos e dos avanços ainda necessários. 

Três meninas posam para fotos abraçadas com uniforme escolar e chapéus. Fim da descrição.
Estudantes australianas do estado de Quensland. (Foto: divulgação. Fonte: Zero Project Conference 2020).

A “Review of education for students with disability in Queensland state schools Site externo”, ou Revisão da educação de estudantes com deficiência nas escolas estaduais de Queensland, em português, examinou de que forma o sistema educacional do estado possibilitava aos estudantes com deficiência o suporte necessário à aprendizagem. Além disso, elencou diversas recomendações para que o órgão estadual possa oferecer serviços educacionais de alta qualidade que apoiem todos os estudantes a alcançarem seu máximo potencial.

Como um dos resultados dessa revisão, em 2018, Queensland implementou sua Política de Educação Inclusiva Site externo, com o objetivo de garantir que estudantes com deficiência de suas escolas estaduais recebam o suporte que precisarem para aprenderem, pertencerem à comunidade e terem sucesso escolar.

Conheça a política de educação inclusiva de outros países
+ Experiência da África do Sul  

Além da política, a estratégia geral do departamento para os próximos anos é garantir que todo estudante tenha sucesso acadêmico, por meio do modelo estratégico “Every Student Succeeding — State Schools Strategy 2020–2024 Site externo”. O modelo tem a inclusão escolar como um dos princípios.

Deborah Dunstone posa para foto em frente a cartaz em que se lê: "Zero Project: for a Deborah Dunstone posa para foto em frente a cartaz em que se lê: "Zero Project: for a world without barriers". Fim da descrição.
Deborah Dunstone durante conferência do Zero Project 2020.

A equipe do Diversa entrevistou Deborah Dunstone, diretora adjunta da área de Deficiências e Inclusão de Escolas Estaduais do Departamento de Educação de Queensland, durante a Zero Project Conference 2020 Site externo, onde a Política de Educação Inclusiva do estado foi reconhecida como política inovadora Site externo.  

Saiba mais
Zero Project 2020: projetos desenvolvidos pelo IRM são premiados em conferência na Áustria Site externo


DIVERSA  Deborah, você nos apresentou uma mudança consistente de cultura em Queensland em relação à implementação de um sistema educacional inclusivo. Quando essa mudança começou a acontecer? 

Deborah  Muitas de nossas escolas são inclusivas há muito tempo. Mas há três anos, encomendamos uma revisão externa do departamento. Recebemos um relatório com 17 recomendações. E ficou claro que algumas coisas estávamos fazendo bem, mas que tínhamos muito mais a fazer. Uma das recomendações era definir verdadeiramente o que é educação inclusiva e o que fazer para atingir maiores expectativas para os alunos com deficiência. Por isso, passamos oito meses consultando pais, famílias, professores sobre o que seria inclusão. E percebemos que, em alguns casos, uma escola dizia: “Somos inclusivos aqui”. Mas quando você os colocava sobre a mesa, eles não eram inclusivos ou não eram tão inclusivos quanto pensavam que eram. No entanto, você não pode dizer a uma diretora: “você não é realmente inclusiva”. Nós temos que usar o poder da escola. Os educadores constantemente nos perguntam: “como acham que estamos indo? Isso reflete muito na nossa motivação para pensarmos no agora e no que acontece a seguir. 

DIVERSA  E quais foram os principais desafios dos últimos anos?  

Foi a confiança do professor. E também a confiança das famílias de que as crianças iriam ficar bem, teriam comida e segurança, não sofreriam bullying na escola… E, por último, a liderança de sistema nos níveis mais altos do departamento.

DIVERSA  E as conquistas?    

As pessoas estão nas escolas e as conversas estão acontecendo em todas as comunidades escolares. Elas estão passando por isso e estão criando uma motivação muito forte. Vimos a mudança na gestão acadêmica dos estudantes com deficiência. A maioria dos estudantes está se saindo melhor, está recebendo certificação.  Também vimos uma mudança nas suspensões e expulsões de crianças com deficiência. E a confiança das crianças nelas mesmas melhorou. 

DIVERSA  O que ainda precisa ser melhorado? Como você acha que está a situação da educação inclusiva em Queensland atualmente?  

Ainda estamos nos estágios iniciais. O Departamento de Educação está trabalhando duro para construir uma cultura inclusiva. E isso é sobre funcionários, comunidade escolar. Há um compromisso no país com pessoas com deficiência. Então, nós os estamos observando de perto. Não se trata apenas de educação, é sobre onde as pessoas vivem, sobre acesso a cuidados de saúde etc. O país inteiro está em um espaço de mudança realmente saudável. E acho que com essas recomendações adicionais há muito trabalho a ser feito. Então, estamos com os olhos arregalados, indo devagar, tentando levar as escolas conosco. E estabelecemos como propósito moral que todos os estudantes precisam ser bem-sucedidos. Então, essa foi a decisão deliberada que tomamos, para além da escola, diretores e professores.

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Instituição da Bulgária auxilia a criação de ambientes escolares inclusivos

Programa fornece apoio para escolas garantirem oportunidades para que toda criança desenvolva seu potencial

diversa.org.br

Dos esforços para acabar com atitudes negativas em relação à educação inclusiva em Sofia, capital da Bulgária, a Association for Shared Learning ELA Site externo entendeu que o apoio a gestores escolares e professores é a principal iniciativa. A compreensão destes educadores sobre os benefícios que a inclusão garante a todos, assim como a responsabilidade de cada um nesse processo, é o que viabiliza uma cultura inclusiva nas escolas.

Em sala de aula de escola, estudante escolhe canetinha colorida de copo em cima da mesa. Ao redor do copo, plaquinhas com nomes em búlgaro. Fim da descrição.
Foto: divulgação. Fonte: One School For All Site externo.

Contudo, para possibilitar a criação de ambientes escolares realmente inclusivos, a instituição notou que, além de desenvolver formação de professores e dar apoio à gestão, precisaria envolver também outros atores da comunidade escolar. Dessa forma, surgiu o programa “One School For All Site externo”, ou Uma Escola Para Todos, em português. O programa fornece apoio às escolas trabalhando de forma sistemática as quatro áreas principais da comunidade escolar: a gestão escolar; as práticas em sala de aula; o diálogo com os familiares; e a segurança infantil. O objetivo é garantir o acesso, a participação e o aprendizado de todas as crianças.

Conheça iniciativas de educação inclusiva em outros países:
Estado australiano cria modelo inclusivo para apoiar aprendizagem de todos
Um olhar sobre a educação inclusiva em Portugal

Buscando auxiliar no processo de gerir uma educação inclusiva, o programa fornece mentoria para que as próprias escolas liderem mudanças em todos os níveis (culturais, políticos e práticos) da unidade, ajudando na organização de seus processos e recursos e estruturando suas atividades para permitir a construção de um ambiente escolar inclusivo, onde cada estudante possa desenvolver o seu potencial.

Conheça mais sobre o “One School for All” em entrevista exclusiva
Mudanças de atitudes geram inclusão escolar na Bulgária

A avaliação do programa demonstra melhorias no entendimento dos educadores sobre educação inclusiva e suas responsabilidades; na confiança dos professores no contato com os familiares; e na abertura dos alunos em relação à diversidade.

O programa “One School For All” foi apresentado e premiado na Zero Project Conference 2020 Site externo como prática inovadora em educação inclusiva Site externo.

https://diversa.org.br/bulgaria-ambientes-escolares-inclusivos/

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Como é o processo de alfabetização de uma criança com Deficiência Intelectual?

 Por NeuroSaber

Deficiência Intelectual | Psicólogo em São Paulo

Pais e professores de crianças com Deficiência Intelectual costumam encarar o processo de alfabetização como um desafio. Afinal, as pessoas com DI aprender a ler e a escrever? Saiba mais, neste artigo.

É muito comum escutar essa pergunta de pais e professores de crianças com Deficiência Intelectual. Elas serão capazes de aprender a leitura e a escrita? Se sim, como se dá o processo de alfabetização?

Seguramente, são muitos os desafios encontrados na aprendizagem, mas é papel da escola encontrar os melhores métodos para que todos os alunos aprendam a ler e escrever. Inclusive aqueles com DI. Eles podem demorar mais tempo para se alfabetizar, mas com as estratégias adequadas, irão aprender.

A Deficiência Intelectual não significa impossibilidade. É muito importante que os professores saibam disso e busquem as melhores práticas pedagógicas para ensinar seus alunos com DI a escrita e leitura. Focar nas potencialidades do aluno e não em suas debilidades, é o primeiro passo para o sucesso do processo de alfabetização. Entenda melhor.

Definição de Deficiência Intelectual (DI)

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais — DSM-5 — define a Deficiência Intelectual como “um distúrbio com início no período de desenvolvimento que inclui déficits de funcionamento intelectual e adaptativo conceitual, social e domínios práticos”.

Em outras palavras, é um distúrbio que afeta o desenvolvimento intelectual e a capacidade de usar com eficácia as habilidades para a vida. O termo Deficiência Intelectual substituiu o termo retardo mental, uma nomenclatura negativa que dava margens para preconceitos e equívocos.

A Deficiência Intelectual pode ocorrer isoladamente ou em comorbidade com outras síndromes e transtornos do neurodesenvolvimento, como a Síndrome de Down e o Transtorno do Espectro Autista — TEA.

Deficiência Intelectual na escola

A Deficiência Intelectual tem suas causas em fatores biológicos, mas historicamente as pessoas com DI carregam os preconceitos que giram em torno da sua condição. A escola precisa estar atenta a isso para desfazer equívocos que impeçam a inserção social do sujeito, além de propiciar o desenvolvimento da criança, inclusive a alfabetização.

A criança com DI pode aprender a ler e escrever, mas possui uma forma de aprender diferenciada. Ou seja, o jeito que ela constrói conceitos é diferente das crianças neuro típicas, por isso ela precisa de estratégias pedagógicas que respeitem essa característica.

No processo de ensino aprendizagem da criança com DI, o professor precisa considerar as lacunas em seu desenvolvimento. É muito comum, que ela tenha dificuldades na comunicação, linguagem e outras funções, o que significa que precisa de mais tempo para aprender, assim como de repetição e estímulo.

As estratégias de aprendizagem devem ser aplicadas de acordo com as demandas e necessidades da criança, inclusive a maneira como ela será avaliada. Assim, devem ser elaboradas de forma que possibilite o aprendizado da criança com DI, contemplando também as suas habilidades.

O aluno com Deficiência Intelectual precisa de ações que o ajude em sua autonomia e interação social. Os conteúdos trabalhados na escola precisam ter impacto ou fazer sentido em sua vida cotidiana, para que sejam melhor assimilados. Se a criança com DI consegue conectar o conteúdo aprendido com as situações do cotidiano, ele se torna muito mais significativo.

Flexibilização do currículo

A flexibilização do currículo é muito importante no processo de aprendizagem das crianças com DI. O professor precisa contar com o apoio da coordenação pedagógica e da família do aluno, para que juntos possam identificar as dificuldades e potencialidades da criança. Esse conhecimento é fundamental para as adaptações curriculares.

Da mesma forma, o apoio de profissionais que atendam a criança fora da escola (fonoaudiólogos, psicólogos, psicopedagogos, entre outros) ajuda o professor a conhecer a fundo seu aluno e a elaborar as melhores estratégias pedagógicas.

O processo de alfabetização da criança com Deficiência Intelectual

A criança com DI é perfeitamente capaz de aprender a leitura e escrita. No entanto, o professor precisa saber que ela precisa de um tempo maior para a alfabetização. Dessa forma, ela nunca deverá ser comparada com os colegas em relação ao seu desenvolvimento.

O professor precisa adequar a sua prática pedagógica ao nível em que se encontra seu aluno com DI. Isso porque uma aprendizagem depende da outra, há uma hierarquia, sem a experiência da percepção, não se forma a imagem.

A alfabetização depende da imagem mental e a sua formação se refere à informações e sensações já percebidas, já aprendidas e está relacionada a memória. O professor deve construir estratégias que atendam as necessidades dos seus alunos, criando situações de aprendizagem num contexto educativo.

O processo de alfabetização de crianças com DI é um desafio, mas é fundamental que o professor aceite esse desafio. Esse é o primeiro passo, depois é despertar em seus alunos a vontade de aprender a ler e escrever.

Esse artigo foi útil para você? Compartilhe em suas redes sociais e ajude outros profissionais.

Referências:
http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/sem_pedagogica/julho_2016/dee_anexo3.pdf
http://repositorio.ufes.br/handle/10/2455

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Fotógrafa de Farroupilha cria projeto para valorizar crianças com deficiência

Fernanda Sousa registra os pequenos vestidos de super-heróis, heroínas ou personagens encantados no "Fotografando Anjos"


 Andressa Oestreich para o pioneiro.clicrbs.com.br
 
Fotógrafa de Farroupilha cria projeto para valorizar crianças com deficiência Fernanda Sousa/Divulgação
Vitória Rabello Noronha, de seis anos, foi a primeira criança a participar do projeto Foto: Fernanda Sousa / Divulgação

Fotografar crianças com histórias de superação, que lutam todos os dias sem perder a fé e a esperança. E, para além disso, contar a trajetória de vida desses pequenos, para que outras pessoas sintam-se inspiradas e gratas à vida. Foi com essa intenção que a fotógrafa Fernanda Sousa, de Farroupilha, desenvolveu o projeto Fotografando Anjos, que registra, sem qualquer custo, crianças que possuem alguma deficiência, sem distinção ou seleção, vestidos com roupas de super-heróis, heroínas ou personagens encantados. 

– A ideia inicial era trabalhar com idosos, mas quando conheci a Vitória (essa lindona da foto acima), quis trabalhar com crianças. Eu participei um pouco da história da mãe dela. E é uma história de superação, de milagre. A Vitória nasceu sem esperança de vida. Então, através disso, eu pensei nesse projeto para poder levar às pessoas essas histórias, mostrar que existem situações difíceis, sim, mas que essas famílias lutam muito e são felizes – explica.

Vitória Rabello, de 6 anos, posou para o projeto Fotografando Anjos, da fotógrafa Fernanda Sousa, de Farroupilha.<!-- NICAID(14586035) -->
Foto: Fernanda Sousa / Divulgação

A Vitória foi a primeira criança a participar do ensaio. A mãe dela, Maria Paula Rabello, estava no final de um tratamento contra um câncer de mama quando descobriu que estava grávida de 31 semanas. Foi neste mesmo dia que a menina nasceu. Foram oito meses na UTI do hospital até que a pequena pudesse ir para casa. Como sequelas, a Vitória traz um série de limitações e um diagnóstico ainda inconclusivo para os médicos. Mas, de lá para cá, já se passaram seis anos, recheados com muito amor, luz e momentos de superação.

– A Vi é algo inexplicável, é o amor da minha vida. Por onde ela passa, irradia amor e luz. Qualquer um que a vê, que conhece a Vi, me diz que ela é uma criança muito especial, não por causa das limitações, mas pela criança feliz que ela é – emociona-se Paula, ao destacar a importância do projeto: – Tem muitas mães que não querem expor as dificuldades dos filhos, não por preconceito, mas por medo de como as pessoas vão receber isso, mas a Fernanda coloca de um jeito muito bacana, que valoriza essas histórias.

Para colocar essa iniciativa linda em prática, a Fernanda conta com o apoio da Realizare Festas e Eventos. Quem tiver interesse em participar do projeto, pode entrar em contato pelo @fersousafotografia, no Instagram. Por lá, também dá para conferir um pouco do trabalho da fotógrafa e as histórias das crianças que já participaram (veja mais fotos abaixo).

Projeto Fotografando Anjos, da fotógrafa Fernanda Sousa, de Farroupilha, registra crianças com alguma deficiência vestidos com roupas de superheróis, heroínas ou personagens encantados. Na foto, Yasmin Silveira Nogueira, de 4 anos.<!-- NICAID(14586267) -->
Yasmin Silveira Nogueira, de 4 anos, mantém um canal no Youtube (@Ysi Yasmin) e um perfil no Instagram (@yasminysi_nogueira)Foto: Fernanda Sousa / Divulgação
 
Projeto Fotografando Anjos, da fotógrafa Fernanda Sousa, de Farroupilha, registra crianças com alguma deficiência vestidos com roupas de superheróis, heroínas ou personagens encantados. Na foto, Yasmin Silveira Nogueira, de 4 anos.<!-- NICAID(14586265) -->
 Foto: Fernanda Sousa / Divulgação
 
Projeto Fotografando Anjos, da fotógrafa Fernanda Sousa, de Farroupilha, registra crianças com alguma deficiência vestidos com roupas de superheróis, heroínas ou personagens encantados. Na foto, Ada Heloísa do Nascimento Rodrigues, de 5 anos.<!-- NICAID(14586248) -->
Ada Heloísa do Nascimento Rodrigues, de 5 anosFoto: Fernanda Sousa / Divulgação

Projeto Fotografando Anjos, da fotógrafa Fernanda Sousa, de Farroupilha, registra crianças com alguma deficiência vestidos com roupas de superheróis, heroínas ou personagens encantados. Na foto, Ada Heloísa do Nascimento Rodrigues, de 5 anos.<!-- NICAID(14586247) -->
Foto: Fernanda Sousa / Divulgação

Projeto Fotografando Anjos, da fotógrafa Fernanda Sousa, de Farroupilha, registra crianças com alguma deficiência vestidos com roupas de superheróis, heroínas ou personagens encantados. Na foto, Rafael Maicá Ferreira França, de 2 anos.<!-- NICAID(14586256) -->
Rafael Maicá Ferreira França, de 2 anos e quatro meses Foto: Fernanda Sousa / Divulgação

Projeto Fotografando Anjos, da fotógrafa Fernanda Sousa, de Farroupilha, registra crianças com alguma deficiência vestidos com roupas de superheróis, heroínas ou personagens encantados. Na foto, Rafael Maicá Ferreira França, de 2 anos.<!-- NICAID(14586253) -->
 Foto: Fernanda Sousa / Divulgação

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Evolução clínica de crianças com deficiência fica comprometida pela pandemia

Segundo a pediatra Ana Cláudia Brandão os impactos, no entanto, variaram de acordo com a necessidade de cada família


 

Com o retorno parcial dos atendimentos presenciais no início do mês de julho, 800 dos mais de 1800 pacientes da AACD puderam retomar os tratamentos

A cada passo uma comemoração. Por trás de cada exercício está a mãe, a coordenadora de RH, Amanda Gomes. E o que parece uma brincadeira no quintal de casa para o Diego de 5 anos, ajuda o pequeno que nasceu com paralisia cerebral, a ter uma melhor qualidade de vida. Com a rotina semanal de exercícios suspensa durante a quarentena, além das atividades online, a família teve que improvisar para não prejudicar o tratamento. “Meu pai teve a ideia de fazer a barra paralela para que a gente fizesse os exercícios em casa, eles têm que fazer os exercícios constantemente, isso não pode ser interrompido. Tudo que eles ganham acabam perdendo se não fizerem os alongamentos”, explica a mãe. As atividades do Diego fazem parte dos tratamentos monitorados pelos profissionais da AACD, entidade que ajuda na reabilitação de pessoas com deficiência física, que precisou suspender terapias e tratamentos para conter o avanço da Covid-19. Daniella Neves, diretora médica da instituição, explica que, com a quarentena, só casos de emergência eram atendidos. “A AACD não fechou, ela interrompeu de forma bastante intensa a questão dos atendimentos, principalmente os eletivos, mas manteve uma pequena estrutura para dar suporte aos pacientes mais críticos, tanto no ambulatório quanto no hospital, afirma.

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Atendimento fonoaudiológico precoce garante maior evolução para crianças autistas

 Gabrielle Yumi para o paineira.usp.br

A idade de início da terapia está relacionada à maior evolução clínica (Foto: Freepik)

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) se refere a um grupo de condições neurodesenvolvimentais caracterizado por uma quantidade de sintomas e níveis de habilidade. Apesar de afirmações de que o diagnóstico de TEA ocorre mais frequentemente hoje, ainda é válida a discussão de que talvez isso seja apenas resultado de melhores métodos de diagnóstico. Para além disso, é confirmado que os sintomas começam a aparecer nos primeiros 2 anos de vida e afeta as habilidades sociais do indivíduo. Intitulado “Atendimento fonoaudiológico a crianças com distúrbios do espectro do autismo: um estudo longitudinal”, a tese de Letícia Segeren buscou analisar os dados relacionados às crianças e adolescentes que realizaram avaliação e atendimento nos últimos 21 anos no Laboratório de Investigação Fonoaudiológica nos Distúrbios do Espectro do Autismo (LIFDEA) da USP.

Ao agrupar os dados, a pesquisadora percebeu que estavam assimétricos, tornando impossível realizar uma análise aprofundada com todos eles. Assim, dividiu-os em dois estudos. O primeiro estudo contempla todos os prontuários de pacientes que realizaram terapia fonoaudiológica entre janeiro de 1997 e dezembro de 2017. Ao analisar as informações, observou-se que a taxa de abandono do tratamento é alta e que a idade de início da terapia não está relacionada à maior manutenção do tratamento. A média de idade encontrada de início da terapia foi de seis anos.

Letícia explica: “O objetivo era ver se a idade que os pais trazem a criança está relacionada à melhor adesão, mas não observamos essa relação. Já no estudo dois, queríamos saber se o fato de o paciente começar o tratamento mais cedo está relacionado com uma maior evolução e concluímos que sim”. Assim, quanto menor a idade da criança, maior é o número de atos comunicativos por minuto que ela apresenta durante uma sessão, assim, melhor o desenvolvimento. 

No segundo estudo, foram selecionados os pacientes que realizaram atendimento no LIFDEA entre os anos de 2011 e 2017 e para os quais foram obtidos dados completos referentes ao protocolo do Perfil Funcional da Comunicação (PFC) aplicados semestralmente. O PFC analisa como está ocorrendo a comunicação e quais são as funções comunicativas que ocorre. 

Assim, a pesquisadora encontrou correlação positiva entre o número de respostas no PFC, o escore do desempenho sociocomunicativo e os atos comunicativos com funções mais interativas. A evolução clínica foi observada em protocolos com três anos de intervenção, sendo que no estudo dois a média de idade no início da terapia foi de cinco anos e meio.

Letícia afirma a atualidade da questão e sua importância: “Quanto antes começar o atendimento, melhor. Existem estudos que mostram todos os benefícios que a intervenção precoce traz, então um dos objetivos deste estudo foi evidenciar na prática que, quanto antes a criança chega, melhor a evolução dela”.

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Volta às aulas presenciais: como ficam as crianças com deficiência?


Como lidar com alunos em situação de inclusão na retomada presencial?

Ciça Melo paara o Incluir para Crescer

É certo que no início desta pandemia as necessidades específicas das pessoas com deficiência foram negligenciadas. A Unesco foi uma das primeiras organizações a se pronunciar sobre o assunto. Aqui no Brasil, o Instituto Rodrigo Mendes apresentou um trabalho bem completo, falando sobre experiências em outros países.

É clichê falarmos que em toda crise existem oportunidades. Mas não podemos deixar de avaliar os pontos positivos (e tirar proveito deles), até porque sabemos que muitas vezes nossa tendência é olhar apenas para os negativos. Algumas famílias nos relataram que seus filhos com maior dificuldade de concentração podiam pausar o vídeo por exemplo. Outras disseram que seus filhos gostavam de andar e que, em casa, estavam andando enquanto assistiam às aulas. Houve quem falasse sobre a possibilidade de rever as aulas e assim tirar melhor proveito daquelas que eram mais difíceis. Vimos na prática algo que o Paratodos já falava há tempos: a inovação tecnológica pode permitir uma sala menos homogênea e mais individualizada. A tecnologia facilita a criação de estratégias distintas, levando em consideração necessidades específicas dos alunos.

Neste período, ouvimos muitos relatos de vários professores fazendo a diferença. Educadores que não queriam deixar nenhum aluno para trás e buscaram ferramentas para que todos seus alunos pudessem participar. Houve quem utilizasse outros alunos para explicar aos demais, o que sempre chamamos de mediadores naturais ou uso dos pares como mediadores. Vimos, ainda, equipes muito mais unidas e trocando experiências entre si, o que é muito necessário para os alunos em situação de inclusão.

Neste momento, quando começamos a discutir de forma mais clara sobre a possibilidade de retomada presencial, a principal pergunta tem sido: “Quem define se o aluno em situação de inclusão volta presencialmente para escola? A família, a escola ou o médico?”. Importante ressaltar que não há relação direta entre risco e deficiência. Os países que fizeram esta correlação foram extremamente criticados. Aqui no Brasil o primeiro parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE) publicado em 7/7/20 foi duramente desaprovado, o que os levou a uma retratação e revisão. Da mesma forma que não podemos generalizar “todas as crianças com deficiência devem retornar presencialmente no primeiro momento”, não podemos fazer o inverso também.

Para decidir, sugerimos que haja uma nova avaliação desta criança ou adolescente. Precisamos saber desta família: o que estes alunos sabem sobre o que vem acontecendo, o que sofreram neste período, qual nível do medo, entre outras perguntas. Família, escola e equipe de atendimento (seja um médico, um fonoaudiólogo, um terapeuta ocupacional ou um psicólogo) precisam conversar e avaliar em conjunto os riscos e os benefícios desta volta.

Também é necessário avaliar se há novas necessidades específicas neste momento, tais como o uso de máscaras com visores pelos educadores que convivem com pessoas com deficiência auditiva. Ou avaliar os casos de alunos que não conseguiram permanecer com as máscaras devido deficiências físicas nos membros superiores ou questões sensoriais (muito comum nos casos de pessoas que estão dentro do espectro do autismo). Tudo isto deverá fazer parte desta avaliação conjunta e individual para cada estudante. Entendemos que algumas recomendações podem inclusive, ajudar a todos, tal como a máscara com visor.

É provável, ainda, que crianças com deficiência precisem de um acolhimento maior e um novo período de adaptação. Isto precisa ser previsto e acordado com as famílias. Talvez seja necessário um horário adaptado no início e que seja aumentado conforme o ajustamento de cada um. Como falamos acima, neste retorno será necessário um diagnóstico de todos os alunos, em especial dos alunos com questões de aprendizagem. Avaliar se as perdas do período será essencial para elaboração de estratégias de ensino e aprendizagem adequadas a cada um.

Importante ressaltar que muitos alunos em situação de inclusão apresentam restrições alimentares ou horários específicos para se alimentar. No novo modelo (onde muitas escolas não utilizarão o refeitório), isto também precisa ser levado em consideração. Em todos os protocolos a que tivemos acesso, temos visto a importância da comunicação dos novos procedimentos. Mais uma vez é preciso pensar nos alunos com deficiência e ter a certeza de que as informações espalhadas pelas escolas estão sendo sempre compreendidas por todos.

Uma outra orientação, que tem dado muito resultado, é que a escola promova e/ou incentive a realização de reuniões menores entre algumas famílias, principalmente no caso das crianças menores, nem que sejam encontros rápidos, para mostrar um bichinho de pelúcia, dar um tchau, contar uma estória, por exemplo. O ideal é algo menor onde a criança que venha apresentando mais dificuldade em participar, tenha mais oportunidade para fazê-lo efetivamente. Para os mais velhos, sugerimos propiciar ou estimular telefonemas com vídeos para aumentar a socialização e propor mais trabalhos em grupos que os obrigam a estarem juntos neste momento.

Ainda temos orientado, desde o início das aulas remotas, momentos individuais com estes alunos, onde eles possam ter uma educação mais personalizada. Neste momento (onde o retorno se aproxima), acreditamos que estes devam ser ampliados. No caso da dificuldade dos professores em realizarem estes encontros, os profissionais de apoio da escola ou auxiliares podem fazer este papel. No retorno presencial, será muito importante a presença dos mesmos e o uso de máscaras com visores transparentes por eles. Entendemos que acolhimento dos professores em relação às dúvidas e os medos na relação com as crianças com deficiência pode ser ainda maior neste momento. Essencial que todas as dúvidas sejam sanadas, visto que um adulto seguro traz segurança para as crianças.

Por falar em segurança, a família precisa também estar segura, e aqui entra novamente a importância do diálogo. E, nesta parceria, pensarmos todos juntos em ANTECIPAÇÃO e HABITUAÇÃO. O que pode ser feito neste momento? As famílias podem, por exemplo, iniciar com o hábito do uso de máscaras, promover saídas “teste” e retomar as terapias presenciais, sempre avaliando os riscos e pensando nas possibilidades de cada um. Para antecipação, as escolas podem enviar vídeos com as alterações físicas, mostrando as salas, com os professores enviando mensagens específicas. E até mesmo combinar com algumas famílias uma ida à escola antes da abertura para os demais. Tudo isto pode ajudar a aplacar a ansiedade que muitas vezes provoca a desorganização de algumas crianças.

Enfim, retomando, o que temos de positivo nisto tudo? Com certeza, acelerou mudanças que já precisavam acontecer, nos provocou a repensar modelos, nos aproximou, nos fez enxergar que o centro deve ser sempre o aluno. Que ele deve ter protagonismo e que equipe escolar, equipe médica/terapêutica e família devem estar sempre juntas, dialogando e descobrindo o melhor caminho para cada estudante. De tudo que temos visto na prática, os melhores resultados são os das escolas que estão fazendo um ACOLHIMENTO consistente, uma escuta ativa e promovendo muito diálogo. Resumindo: envolver as famílias no processo desde o início, lembrando que são famílias que precisam ainda mais de apoio. Terminamos com a frase do querido Rodrigo Hübner Mendes "a profunda complexidade decorrente da pandemia não muda, em nada, o fato de que crianças e adolescentes com deficiência têm o direito a uma educação de qualidade."