quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Todas as pessoas têm direito a trilhas e aventuras

Como desenvolver o turismo de aventura e educação para pessoas com deficiência PcD e necessidades especiais

Marina Magalhães com sua cadeira especial de treinamento começando sua carreira esportiva. Foto Paula Reis Magalhães.

Pessoas com PcD, (que significa pessoa com deficiência cadeirantes, cegos, surdos etc. Termo utilizado segundo a Convenção sobre dos Direitos da Pessoa com Deficiência das Nações Unidas e conforme o Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei 13.146/2015)), têm direitos ao Lazer, aprendizado e sua acessibilidade garantida a todos os locais.

No Brasil, segundo o IBGE (2010), 24% da população, cerca de 45 milhões de pessoas tem alguma deficiência ou incapacidade, sendo que 58% têm deficiências visuais, 16% possuem deficiência auditiva e pouco mais de 4% apresentam comprometimentos mentais e/ou intelectuais. A maioria conhecida como PCD, representam 21%. Com base nesses dados, a maioria das pessoas com deficiências auditivas, deficiências mentais / intelectuais e deficiências visuais que, juntas, representam 78% do total, não têm o direito de cumprir suas necessidades.
 
Para isso as trilhas e caminhos devem ser preparados para serem acessíveis ou terem instrumentos para facilitar o acesso aos locais, ou seja, devem permitir a utilização de todos os usuários, devendo ser implantadas sem comprometer a integridade do local, causando o mínimo possível de impacto em especial para a fauna e flora.

A acessibilidade é garantida por lei, mas, como sabemos, não é colocada em prática tanto quanto deveria, o que dificulta, e muito, a vivência das pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida (como é o caso de alguns idosos).

No Brasil já existem leis e normas da ABNT que regem em função da acessibilidade, porém nem sempre são respeitadas ou cumpridas.

É importante destacar que um projeto de trilha em que pessoas com PcD e necessidades especiais possam usufruir, tem destaque atualmente à um crescente público, que tendo apoio e equipamentos especiais, torna seu atrativo acessível aberto a mais um esse grupo de pessoas querendo aventuras e conhecimento, gerando renda.

Trilhas com obstáculos e a falta de equipamentos podem limitar o acesso para apenas aqueles que tem uma cadeira de rodas especial para esporte ou aventuras. A sugestão é que com a disponibilidade desses equipamentos sempre com uns acompanhantes preparados para evitar as quedas, ou que algumas melhorias nos caminhos e estas realmente em sua totalidade tenham a segurança necessária para os cadeirantes, possamos abrir novos rumos para melhoria na qualidade de vida dessas pessoas e todos os envolvidos, geração de renda e novos empregos no ecoturismo de inclusão.
 
EQUIPAMENTOS "RADICAIS" PARA PESSOAS COM PCD  

 
Marina Magalhães com sua bike especial para treinamento.
 
Para praticar esportes e fazer trilhas com acessibilidade devem ter equipamentos como Cadeiras de rodas especiais, como uma cadeira de rodas "todo-terreno" que permite a prática de caminhada ou corrida para qualquer pessoa com mobilidade reduzida ou com deficiência, criança ou adulto, mesmo em alguns casos muito dependente, com a ajuda de pelo menos dois acompanhantes, as trilhas podem ser praticadas com segurança.

Cadeira especial para trilhas.
 

TRILHA NATURAL EM BRAILLE 

A primeira trilha Braille Nature Trail foi implantada em 1967 próximo a Aspen, Colorado. Por um professor de ciências chamado Bob Lewis. O alfabeto Braille, acessível aos deficientes visuais e com sinais informativos em Braille que envolveriam os visitantes em experiências sensoriais, aproximando os as pessoas da natureza. O conceito "Braille Nature Trail" nasceu, e está se difundindo no mundo todo.

Com a simples colocação de placas com sinais informativos ao longo dos caminhos guiados por uma corda as trilhas passam a ter acesso a esse grupo de pessoas, carente por aventuras.

TRILHAS SENSORIAIS  

Trilha sensorial é aquela que faz com que o indivíduo passe por uma experiência dando ênfase aos sentidos e as sensações, como o toque, sons, e cheiros por exemplo.

As trilhas sensoriais foram pensadas para gerar uma experiência enriquecedora e para proporcionar um momento inesquecível, principalmente pelo fato de estimular o contato entre objeto e participante, estimulando sentidos. Podendo ser aplicada a todas as pessoas.

Estima-se que 30 milhões de brasileiros apresentam alguma forma de deficiência física, sensorial ou mental, é importante lembrar que estas pessoas não são incapazes, apenas necessitam valorizar suas habilidades, e aceitar suas limitações, escolhendo as atividades em que possam participar e realizar.

Trilhas ecológicas são uma excelente opção, mas estas devem ser acessíveis sempre. Abrindo assim novos caminhos para inclusão de pessoas especiais, educando, divertindo e desenvolvendo a sustentabilidade para todos.

Conhecer para conservar, com um super agradecimento a Paula Reis Magalhães, Tom Magalhães e Marina Magalhães pelas fotos, muitas trilhas e aventuras para vocês meus grandes amigos.

Marcelo Tonini 

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

Festas de fim de ano e transtornos do espectro autista

 Por Adriane Michely para o corautista.org


Resultado de imagem para criança natal

Natal e Ano Novo pode ser um momento emocionante e divertido, mas também podem ser estressante. Pessoas com autismo podem ficar confundidos ou perturbados por todas as novas atividades em casa na época de festas, e isso pode ser preocupante para o resto da família. Esta seção fornece dicas e orientações o durante o período festivo.

Preparação 
Conforme se aproxima o Natal, você pode querer destacar este período de férias em família ou do calendário da criança. Sugerimos que você verifique se a escola começou a trabalhar sobre o Natal e, talvez, você poderia introduzir a ideia em um momento similar. Isso ajudará a garantir a coerência. No entanto, se esse período não deixa tempo de preparação suficiente para o seu filho, então você deve ajustá-lo conforme o caso.

Você só pode querer enfatizar o Natal no calendário. Ou você pode querer indicar quando o ano letivo termina e começa outra vez, para mostrar que a criança vai ficar em casa durante este período. Você pode nomear este mês do calendário: Tempo de Natal. Assim, vai ajudar seu filho a preparar-se para o tempo passado longe da escola e, portanto, a mudança na rotina. Você pode começar a conversar com seu filho sobre “Tempo de Natal" e o que isso significa. Estas informações serão diferentes para cada família. Você poderia produzir uma cartilha sobre o Natal com fotos de itens relevantes, a árvore de Natal, por exemplo, os tipos de decorações que você usa e os alimentos que você pode comer. No entanto, lembre-se que, se seu filho é muito literal você precisa ter cuidado, pois podem ficar ansiosos se o Natal não parece exatamente como as fotos.

Em seu calendário você pode marcar o dia que você vai comprar e para colocar a árvore de Natal e decoração, assim como quaisquer outras alterações que irão ocorrer. Não se esqueça de incluir o dia em que parentes ou amigos chegarão. Embora muita coisa pode mudar durante esse tempo, é importante continuar a rotina de seu filho, em certa medida.

Você deve incluir o seu filho com um Transtorno do Espectro Autista (TEA) no processo de Natal. Você pode querer levá-los para comprar a árvore e as decorações, ou mostrar onde eles estão guardados na casa antes de montá-los. Pedir ajuda para decorar a árvore pode estimular a interação, e sua criança ficará muito feliz em poder ajudar. Além disso, vai ajudar seu filho a se familiarizar com esses itens, mesmo se viu no ano anterior. Esperamos que possa impedir qualquer reação negativa a esses itens novos que estão sendo colocados em um ambiente familiar.

Se seu filho não quer ser incluído, então você talvez queira dar-lhes um trabalho especial para fazer no qual ele possa se concentrar. Isto pode ajudá-lo a se sentir incluído e menos preocupado com as mudanças ao seu redor. Você pode até querer decorar a casa durante alguns dias se a criança encontra resistência na mudança. Por exemplo, você pode colocar a árvore em posição, deixá-lo por alguns dias e depois começar a decorá-lo, acrescentando todas as decorações da casa mais tarde.

A ONG Sorriso Novo deseja a todos um Feliz Ano Novo! Em 2019 esperamos concretizar mais projetos, ampliando nossas ações sociais! Permaneça conosco!

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Menino Maluquinho faz 40 anos e ganha novos amigos para falar sobre Síndrome de Down

Como parte das comemorações dos 40 anos do Menino Maluquinho, Chico e suas Marias entram na brincadeira para conscientizar

 Por Isabella Von Haydin para opovo.com.br
 
Chico, Maria Clara e Maria Antônia sãos os novos amigos do Menino Maluquinho (Foto: Acervo Pessoal)
 Chico, Maria Clara e Maria Antônia sãos os novos amigos do Menino Maluquinho (Foto: Acervo Pessoal)

Thaissa Alvarenga, 43 anos, engravidou em 2013 e com seis meses de gestação descobriu que seu filho Francisco poderia nascer com Síndrome de Down e cardiopatia congênita, uma alteração no desenvolvimento do coração. Com a confirmação, a publicitária focou na maternidade e logo teve também Maria Clara e em seguida Maria Antônia. 

Alvarenga já realizava voluntariado na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) quando criou o blog Chico e suas Marias, em que compartilha relatos e vivências de seus três filhos, focando na inclusão e na importância da diversidade. O espaço foi crescendo e deu origem à ONG Nosso Olhar, que busca fornecer informação, mobilização e realizar projetos de inclusão desde o nascimento até idades mais avançadas de pessoas com Trissomia 21.

“Quando o portal foi crescendo, nasceram alguns projetos e sentimos a necessidade de criar uma ONG. Assim, a Nosso Olhar nasce com o intuito de mobilizar a sociedade, educar acerca da causa e incluir desde o acolhimento, assuntos da primeira infância até o mercado de trabalho” relata a empresária social.

Recentemente, com os 40 anos do Menino Maluquinho em outubro, a instituição se uniu com a Ziraldo Artes Produções (ZAP) e dois novos amigos entraram para as histórias do garoto que conquistou tantas crianças com suas pirações: o Chico e as Marias.

Em forma de cartilhas e tirinhas, o material conterá um glossário de termos e conteúdos sobre educação, inclusão nas escolas, terapias, dicas, brincadeiras e esportes, além de abordar também o autismo e outras modificações genéticas.

O projeto ainda busca patrocínio, mas a ideia é ter distribuição gratuita em escolas, empresas, mercados e farmácias. Idealmente, antes da volta às aulas de 2021. O grupo também irá espalhar diversas tirinhas pelas redes sociais.

“Nosso propósito é mostrar, a partir das histórias de Thaissa sob o olhar do Ziraldo, que uma criança com Síndrome de Down também vive aventuras e tem o direito e as condições de brincar e ser feliz. Além de orientar como isso pode ocorrer de forma saudável e inclusiva”, informa Rogério Mainardes, 60, diretor geral da ZAP.

Thaissa Alvarenga, Francisco, Maria Antônia e Maria Clara
Thaissa Alvarenga, Francisco, Maria Antônia e Maria Clara (Foto: Acervo Pessoal)

“É importante que as crianças aprendam a conviver com as diferenças. Na prática, elas serão mais generosas, empáticas e tolerantes. O exemplo é fundamental. Já abrimos muitos caminhos, mas ainda faltam adultos mais humanos”, reflete a responsável.

As obras contam com o apoio de muitas mãos. Os relatos partem da experiência da mãe das crianças e do que observa enquanto eles se desenvolvem, mas serão estruturados por Ziraldo e sua equipe. Alvarenga comunica que não há certo ou errado quando se fala sobre deficiência. “É um desafio, o ser humano tem seus preconceitos e o importante é levar o que se discute normalmente com informação e clareza. Dar voz às pessoas com deficiência, seus familiares e educadores.”

À luz do decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro no dia 1° de outubro, que de acordo com Alvarenga incentiva a segregação de estudantes com deficiência por meio da estatização da Política Nacional de Educação Especial (PNEE), ações como essa ganham mais força. “É um retrocesso e inconstitucional, de acordo com a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (destinada a promover e assegurar igualdade no exercício dos direitos e liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania). Meu filho estuda em uma escola regular e vejo na prática o quanto ele é impactado e o quanto ele impacta os amigos”, detalha.

Já Rogério Mainardes ressalta a importância da convivência entre as diferenças. De acordo com ele, essa interação é fundamental para que a sociedade aceite essa questão e a trabalhe de forma conjunta e saudável. Sob esse contexto, o Menino Maluquinho demonstrará de forma lúdica como é se relacionar com crianças especiais: alegre e enriquecedor.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

“Temos que andar para frente, para um mundo inclusivo”

O #blogVencerLimites publica até o dia 31 de dezembro uma série de artigos exclusivos, escritos por convidados, sobre as expectativas para o ano de 2021. Leia o texto de Carolina Videira, fundadora da Turma do Jiló.

Luiz Alexandre Souza Ventura para o Estadão

O desafio de tornar a diversidade um diferencial para as empresas – Rastro Sustentabilidade

Artigo de Carolina Videira*

No início do ano, quando entramos em quarentena, escrevi um artigo relatando o quanto ser mãe de uma criança com deficiência me treinou para o isolamento social. Mesmo quem se sentia minimamente preparada, como eu, ficou surpresa com tudo o que aconteceu. Ninguém sabia por quanto tempo iríamos viver sem escolas funcionando, trabalhando de casa ou com medo nas ruas, longe dos nossos – e muito menos o que aconteceria com a política, a educação, a saúde, a economia, os relacionamentos… com a moral.

Chegando agora ao final desse ciclo, ainda em pandemia, nos encontramos num cenário também atípico. Ao invés de fechamento e descanso, todo mundo só pensa em reabertura e agitação; ao invés de retrospectiva e análise, escuto as pessoas querendo esquecer 2020.

Será que nossas promessas e balanços também não caíram no esquecimento? Quais eram nossos planos de crescimento e atuação no mundo antes da pandemia nos engolir? O mundo que queremos não vai chegar se estivermos presos a crises ao invés de agir. E o que é a crise, se não a oportunidade de fazer diferente? De separar, depurar, limpar. É tirar o que não funciona mais. É sempre depois de uma crise que vemos nossos melhores aprendizados. Crise serve para gerar justiça quando a gente tem ideais fortes e sabe aonde quer chegar. Temos que nos livrar dos nossos preconceitos para sair do lugar.

Ninguém passou ileso neste ano. Não temos mais como achar que o “novo normal” vai acabar e cair no esquecimento. Não temos caminho de volta. Temos é que andar para frente, para um mundo inclusivo. E incluir é verbo, é ação, é fazer algo em prol do outro.

Ao longo desde ano, com as escolas fechadas, encontrei dificuldades para seguir em frente com nosso trabalho. Mas esse 2020 turbulento também nos deu vitórias e avanços: usamos tecnologia para criar uma live linda para pais e profissionais da educação que se transformou em trilhas de educação do Canal Futura. Iniciamos o projeto Escola de Impacto para trazer mais consciência social para jovens do ensino privado e empresas. Lutamos incansavelmente para evitar retrocessos da LBI (Lei Brasileira de Inclusão).

Em nenhum momento pensei em desistir. Não temos esse privilégio, ainda mais agora, quando todas as mazelas e desigualdades profundas ficaram ainda mais expostas no Brasil e no mundo.

Eu sei que não é fácil. Nunca foi, mas esse ano potencializou nossas dificuldades. Perdemos vidas e encontramos solidão, pessimismo, corações endurecidos e até indiferença. Mas se soubermos dosar conhecimento científico, vontade e sensibilidade, podemos estender nossas mãos e ser parte da mudança que tanto almejamos.

Toda essa percepção precisa ser considerada e interiorizada para nos munir de coragem. Uma coragem que nos faça pensar e agir para a construção de um 2021 mais justo.

Termino essa retrospectiva com esperança por um mundo melhor. Não apenas pela chegada do ano novo – ou de uma vacina -, mas também porque acredito que podemos, sim, ser humanos.

Que venha 2021 (sem esquecer o que foi 2020).

*Carolina Videira é fundadora da Turma do Jiló, associação sem fins lucrativos que trabalha pela educação inclusiva no Brasil.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Alfabetização de alunos com deficiência: o que dizem as evidências científicas

Alfabetização de alunos com deficiência: o que dizem as evidências científicas

Por Isabelle Barone para o gazetadopovo.com.br

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Se alfabetizar alunos regulares já é realidade distante no país – uma vez que mais da metade deles chegam ao 3º ano sem saber ler e escrever -, mais ainda o é o ensino-aprendizagem da leitura e da escrita a crianças com deficiências, transtornos globais do desenvolvimento, altas habilidades ou superdotação.

Com adaptações e, em especial, seguindo achados científicos a respeito do melhor caminho para a alfabetização, no entanto, é possível que esses estudantes tenham sucesso acadêmico. Ferramentas como a chamada intervenção fônica precoce na educação infantil são capazes, até mesmo, de prevenir distúrbios como dislexia. Métodos fônicos adaptados têm sido empregados com sucesso para alfabetização de alunos com autismo, surdez, deficiência visual, deficiência intelectual, entre uma série de outros quadros.

É o que explica, em entrevista à Gazeta do Povo, Fernando Capovilla, Ph.D. em Psicologia Experimental pela Temple University of Philadelphia e professor no Departamento de Psicologia Experimental da USP. O especialista contribuiu com a elaboração de importantes documentos acerca do tema, como o Renabe, relatório de cientistas resultado da 1ª Conferência Nacional de Alfabetização (Conabe). Ele também é conselheiro na Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação (CNE).

Entre outras coisas, o diagnóstico reforça a necessidade de ensino explícito e sistemático por parte de profissionais de educação e do alinhamento da academia com as mais recentes evidências científicas acerca da literacia. "[Aprimorar] a formação inicial seria de enorme importância, mas é muito difícil mudar esta realidade a curto prazo devido à inércia do sistema universitário, ele próprio formatado em outros tempos, não tão bem atualizados, e cujos resultados são evidentes nas avaliações nacionais e internacionais (como o PISA) desde o início do século".

Neste ano, o Ministério da Educação (MEC), em parceria com a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), promoveu a capacitação de professores alfabetizadores de alunos com deficiência. O governo não anunciou novas ações.

Leia a entrevista completa: gazetadopovo.com.br

quarta-feira, 9 de dezembro de 2020

Separação de alunos com deficiência e a busca por equidade

Ministro Dias Tofolli suspendeu decreto do Ministério da Educação com novas regras, mas decisão passará pelo Plenário do STF. Precisamos entender que não somos iguais e que, portanto, temos diferentes necessidades

agazeta.com.br

Sala de aula de alunos da educação infantil
Sala de aula de alunos da educação infantil. Crédito: Nicole Honeywill Sincerely /Unsplash

Ministro Dias Tofolli suspendeu decreto do Ministério da Educação com novas regras, mas decisão passará pelo Plenário do STF. Precisamos entender que não somos iguais e que, portanto, temos diferentes necessidadesA nova Política Nacional para a Educação Especial gerou algumas dúvidas e, principalmente, receios. Os direitos da pessoa com deficiência já são poucos e, quando lemos que as crianças podem frequentar apenas instituições especializadas, dá um frio na barriga. Parece segregação, exclusão. Mas consideramos que essa foi uma forma de trazer às famílias maior poder de decisão no que tange à Educação Formal da criança com deficiência.

A palavra "igualdade" nos chama mais para a luta do que a palavra "equidade". Equidade significa justiça. De que adianta oportunidades iguais se as necessidades são diferentes? A inclusão não deve ser igualitária, ela deve ser justa. Devemos buscar muito mais a equidade do que a igualdade, simplesmente porque é a primeira que nos dá o direito de sermos únicos e ter nossas especificidades respeitadas. É a equidade que garante que uma criança com deficiência possa repetir de ano, caso precise de mais tempo para estar preparada para prosseguir.

Há diversos transtornos que, por mais que a escola regular queira fazer um trabalho de inclusão e aprendizagem, não consegue. É pensando nesses indivíduos que a nova PNEE dá à família o direito de colocar seu(ua) filho(a) na instituição que melhor o(a) atender de forma mais abrangente possível.

Antes a família que optava por deixar a criança somente em instituições especializadas era punida com perdas de benefícios e por abandono intelectual. Porém, há diversos casos em que obrigar algumas crianças a ir para a escola significa até mesmo arriscar sua integridade física, devido às características de crises intensas e muitas vezes com autolesões, tornando difícil monitorar, proteger e fazer o trabalho que deve ser feito: ensinar!

A nova PNEE não retirou direito algum dos que já haviam sido conquistados, a preferência sempre será pelo ensino regular, mas entendeu que obrigar uma família a colocar sua criança em um espaço inadequado às suas necessidades únicas de atenção, segurança e adaptações indispensáveis para seu bem-estar e desenvolvimento, chega a ser desumano. Precisamos deixar discursos que se dizem inclusivos e, na verdade, excluem o diferente, que oferecem igualdade e não equidade.

O ministro Dias Tofolli suspendeu o decreto do Ministério da Educação com essas novas regras, porém a decisão individual deve ser submetida ao plenário do STF no próximo dia 11. Precisamos nos despir de partidarismos e nos colocar enquanto famílias e profissionais que atuam com essas crianças diante dessa decisão, para que quem seja considerado e beneficiado, acima de tudo, seja o indivíduo com deficiência. Quando entendermos que não somos iguais e que, portanto, temos diferentes necessidades, a verdadeira inclusão acontecerá, e aí sim nossas crianças terão seus direitos respeitados e serão tratados com justiça e respeito.

A autora é psicopedagoga ABA e neuropsicopedagoga da Mente e do Comportamento, com 24 anos de experiência em Intervenção e Inclusão

sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Menina ganha “boneca que a representa” e tem reação encantadora

A menina nunca teve uma boneca com características parecidas com as dela

A menina nasceu com Síndrome de Down
Após muito tempo procurando, a mãe da menina achou uma boneca que representa a filha

Lindsay Filcik é mãe de uma menina bem especial. A pequena Ivy nasceu com Síndrome de Down. De antemão, a falta de representatividade de crianças especiais foi algo que sempre a incomodou. Ao passo que a indústria de brinquedos não oferece tantas opções para esse setor, a mamãe foi surpreendida.

Afinal, ela encontrou uma boneca bem parecida com a filha. Imediatamente, Lindsay não teve dúvidas e comprou o brinquedo. Logo, ela percebeu que não poderia ter feito melhor escolha! Ivy ficou simplesmente encantada com sua nova “filhinha”.

Além disso, a mamãe aproveitou para compartilhar um lindo registro da garotinha com sua nova boneca. Juntamente com a foto, Lindsay fez uma reflexão sobre a representatividade. O post, rapidamente, viralizou na internet.

“Hoje, vou compartilhar algo que se tornou extremamente importante para mim. Representatividade. Acima de tudo, todo ser humano merece ver alguém que se pareça com ele em filmes, comerciais e brinquedos. Contudo, infelizmente, por muito tempo isso não aconteceu.

Imagine ser uma criança com deficiência e tudo o que você vê são crianças normais e saudáveis. Que mensagem isso lhe passa? Que você é ‘anormal’. Em outras palavras, que não é digno de ser mostrado ao mundo.

Enfim, o que posso fazer? Deixe as marcas saberem que você aprecia a inclusão e o quanto acredita que elas precisam mudar. Compre itens inclusivos para crianças saudáveis também. Definitivamente, a representatividade é importante”, escreveu Lindsay.

A mamãe compartilhou o texto em sua conta no Instagram. Bem como incluiu a foto da filha e de outras crianças especiais. Eliza, por exemplo, é uma das amigas de Ivy. Ela tem espinha bífida e ganhou uma boneca com muletas e botinhas ortopédicas. Enquanto, Stella agora tem uma Barbie que, assim como ela, usa cadeira de rodas.

De acordo com Lindsay, a postagem surtiu efeito. “Muitos pais de crianças sem deficiência me disseram que vão incluir esse tipo de bonecas na lista de Natal dos filhos. E eles nunca tinham pensado nisso antes”, orgulha-se a mãe.

Para a mãe da menina, todo tipo de representatividade é fundamental
 Além da menina, outras crianças também ganharam bonecas inclusivas

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Deficiência auditiva

 atribunamt.com.br

Saiba identificar a perda auditiva nas crianças

O presente artigo tem como proposta trazer temas questionadores e atualizados com relação à Deficiência Auditiva. No passado, costumava-se achar que surdez era acompanhada por algum tipo de déficit de inteligência. Entretanto, com a inclusão dos surdos no processo educativo, compreendeu-se que eles, em sua maioria, não tinham a possibilidade de desenvolver a inteligência em virtude dos poucos estímulos que recebiam e que isto era devido à dificuldade de comunicação entre surdos e ouvintes.

Porém, o desenvolvimento das diversas línguas de sinais e o trabalho de ensino das línguas orais permitiram aos surdos os meios de desenvolvimento de sua inteligência. Através desde poderão ser sanadas dúvidas em relação a Deficiência Auditiva, com o objetivo de investigar os sentimentos, as reações e as expectativas dos pais em relação à deficiência de audição do filho, verificando por meio da análise do discurso do sujeito coletivo, que as famílias reagem de forma parecida ao receberem o diagnóstico, porém têm expectativas diferentes em relação às possibilidades da criança com deficiência de audição.

Isso nos permite que o fonoaudiólogo deve saber escutar os pais a fim de oferecer-lhes respostas para suas dúvidas, dar-lhes suporte e força para desabafar seus sentimentos e superar suas dificuldades ante a deficiência auditiva de seu filho, dando maior ênfase às questões envolvidas nos aspectos educacionais das pessoas com essa deficiência.

Serão expostas formas para esclarecer dúvidas e dificuldades encontradas pelos educadores ao lidar com estudantes com essa deficiência e também sugestões de como identificar, nesse caso, a Deficiência Auditiva, mostrando meios aos familiares de como proceder em prol de benefícios, porque falar sobre educação inclusiva é muito fácil, em contrapartida incluir que o primordial, transmitir aos educadores e a sociedade em geral não estão realmente preparados para receberem esses estudantes em seu ambiente profissional, educacional e até mesmo social.

(*) Francisco Celio Bezerra, acadêmico do curso de Pedagogia – Licenciatura, 4º Semestre; Coordenadora pedagógica, Alessandra Lima (nível superior em RH); Tutora presencial: Edima Severino da Silva (graduada normal superior em Educação Infantil; Pedagogia; Pós-graduada em Gestão e Currículo nas séries iniciais e infantil; Pós-graduada em AEE Educação Especial e Inclusão; Libras, Tradução e Docência

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Vídeo mostra como crianças pequenas aceitam deficiência com naturalidade – já as mais velhas, não

Vídeo produzido pela fundação russa Naked Heart mostra como a sociedade e os pais influenciam a atitude e a percepção das crianças sobre as diferenças

 

Viralizou nas redes sociais semana passada um vídeo que fez um experimento com crianças de idades diversas. Elas tinham de escolher entre duas salas idênticas, que apresentavam os mesmos brinquedos. Em uma delas, porém havia uma criança com síndrome de Down. A outra não tinha ninguém. Qual delas as crianças escolhem?

As imagens revelam que os pequenos com menos de 5 anos se dirigem à sala com a criança com deficiência, demonstrando não perceber suas diferenças. Já as mais velhas vão para a sala vazia. A ideia do experimento é mostrar como a opinião das crianças é influenciada pela sociedade e por seus pais, o que geralmente encoraja certas atitudes em relação às pessoas com deficiência. Quanto maiores elas são, mas difícil é para elas não perceber que todas as pessoas são diferentes. O video foi produzido em março pela Naked Hear Foundation, uma instituição russa que se dedica a ajudar as crianças abandonadas, pessoas com deficiência e seus familiares.

De acordo com uma pesquisa encomendada pela fundação, a maioria das pessoas na Rússia não se envolve com os problemas enfrentados por pessoas com necessidades especiais – apenas 7% estão preparados para ajudar famílias a criar crianças e jovens com deficiência mental e mais de 50% pensam que as crianças com síndrome de Down e atraso no desenvolvimento devem ser educadas em casa ou em instituições especiais, em vez de junto com seus colegas de desenvolvimento típico.

Segundo a fundação diz em seu site, essas atitudes são repassadas às crianças em algum momento da infância, afetando a forma como elas se comportam com os seus pares com deficiência. Quando começam a escola, as crianças já estão começando a adotar os comportamentos e opiniões dos adultos ao seu redor. No entanto, as crianças em idade pré-escolar não percebem as deficiências e aceitam naturalmente pessoas que são diferentes delas. Portanto, para garantir que a sociedade se torne mais inclusiva, os pais devem explicar aos filhos que todas as pessoas são iguais, têm direitos iguais e devem participar plenamente na sociedade, independentemente de suas capacidades mentais ou físicas, ressalta a fundacão.

Segundo o vídeo, marcado como #nascemosinclusivos, algumas crianças tomaram a decisão de participar de uma comunidade inclusiva mas o mundo que elas vivem depende dos pais. “Ensine seus filhos o que essas crianças pequenas lhe ensinaram”, orienta a fundação.

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Como as crianças e adolescentes com deficiência auditiva acompanham as videoaulas atualmente?


Este ano, devido à pandemia, o ensino foi adaptado para o sistema remoto. Mas como as crianças e adolescentes com deficiência auditiva fazem para acompanhar as videoaulas?

Têm sido um desafio enorme tanto para as crianças e adolescentes como para para os pais. A nova modalidade, seja ela temporária ou não, requer dedicação e atenção redobrada para a educação de qualidade, principalmente quando se trata do aluno com deficiência auditiva.

Não se vê a rodo por aí a inclusão social nas escolas, não é mesmo? Imagina então a inclusão no ensino a distância que pegou todo mundo de surpresa? A adaptabilidade para os deficientes auditivos é um processo mais demorado e com isso, as escolas e os pais tiveram que se reinventar rapidamente para descobrir e entender as plataformas disponíveis e quais mais se adequariam a todos.

Mas, infelizmente, a educação em sala de aula virtual ainda não é uma realidade para todos. Nem todas as escolas puderam disponibilizar vídeo aulas e com isso, muitos alunos com deficiência auditiva ou não, ficaram sem aulas e consequentemente podem ter ficado “pra trás” nos estudos.

A Unesco divulgou, durante este ano, uma lista de recomendações às escolas para o ensino à distância, dentre elas a inclusão de pessoas com deficiência. É descabido pedir que mães, pais e responsáveis aceitem retrocessos na inclusão por conta da pandemia.

A escola inclusiva é aquela que abre espaço para todos. As crianças com deficiência têm direito à Educação em escola regular, onde o convívio com todos os alunos, não segrega a criança e sua acolhida pode contribuir para a construção de uma visão inclusiva”

Os cuidados e ferramentas de um ensino inclusivo devem ser prioridade na direção de uma escola. Veja algumas medidas que devem entrar em questão:

– Instalação de equipamentos próprios dos laboratórios da escola na casa dos estudantes para que possam, de fato, participar das aulas à distância

– Diversificar estratégias e flexibilizar atividades de modo a incluir a criança com deficiência

– Nunca dispensar uma criança com deficiência de alguma atividade ou convocá-la a fazer outra mais simples

– Professores devem ter em mente que o ensino é um só, mas o aprendizado é diferente para cada aluno

A educação é para todos e nenhuma distância vai nos separar.

Fontes:

https://cangurunews.com.br/a-crianca-com-deficiencia-na-quarentena/

https://gestaoescolar.org.br/conteudo/1972/desafios-na-inclusao-dos-alunos-com-deficiencia-na-escola-publica

https://busca.estadao.com.br/?q=inclus%C3%A3o+da+crian%C3%A7a+com+defici%C3%AAncia+no+ensino+a+distancia

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Empresa será contratada para produzir material sobre direitos das crianças e adolescentes com nanismo

 revistareacao.com.br

These Photos Of A Boy And His Dog Who Both Have Dwarfism Will Melt Your  Heart

A Secretaria Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (SNDCA), do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), fará licitação no valor de R$ 300 mil para o desenvolvimento de material informativo sobre a promoção dos direitos de crianças e adolescentes com nanismo. O edital, com os detalhes para a contratação da empresa, abrange intervenções disciplinares nas áreas da saúde, educação, inclusão social, acessibilidade e tecnologia assistiva.  

A licitação, realizada em parceria com a Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI), será na modalidade tomada de preços, tipo técnica e preço, e seguirá as regras da Lei de Licitações e Contratos (nº 8.666/93). O recebimento dos envelopes e a abertura da documentação ocorrerão no dia 9 de dezembro de 2020, às 10h, em Brasília (DF).

O edital inclui a realização de estudos e pesquisas sobre os desafios do diagnóstico precoce; tratamentos adequados e dificuldade de acesso; cirurgias de correção de deformidades e de alongamento ósseo pelo Sistema Único de Saúde (SUS); abordagem específica sobre o tema nas escolas desde a primeira infância, como estratégia de inclusão.

Também trata de temáticas referentes ao bullying, inclusive digital, culturalmente aceito no Brasil; aos direitos da criança com deficiência; e ao acesso a novas medicações que estão prestes a ser lançadas por alguns laboratórios.

As empresas interessadas em participar precisam comprovar experiência na realização de projetos de pesquisa ou extensão e na área temática e/ou correlata. A equipe-chave também deve ter a formação exigida.

Para o titular da SNDCA, secretário Maurício Cunha, o projeto se justifica pela necessidade de promover a igualdade e a inclusão, além de prestar auxílio às famílias, com o intuito de potencializar as competências dessas crianças.

“Queremos fortalecer as crianças e adolescentes com nanismo e fomentar a aceitação, além de prevenir e combater o bullying, ao capacitar a rede de promoção de direitos. A proposta é conscientizar sobre a melhor maneira de abordar a diferença, permitindo, assim, a transformação social”, afirma.

O nanismo

Em 2004, o nanismo foi reconhecido nacionalmente como deficiência física pelo Decreto 5.296/2004. A condição médica ou genética se caracteriza pela baixa estatura desproporcional.

De acordo com a Fundación ALPE e a Associação Somos Todos Gigantes, a acondroplasia é o tipo mais comum. Ocorre com frequência semelhante em ambos os sexos, em todos os grupos étnicos, e acomete aproximadamente 250 mil pessoas no mundo. Estudos indicam que a prevalência global é de aproximadamente 1 em 25 mil nascidos vivos.

O nanismo, com raríssimas exceções, mantém preservada a capacidade intelectual.

Confira as regras do edital no link: https://www.oei.org.br/pdf/licitacoes/2020/TOMADA_DE_PRECO_N_005-2020-OEI-MMFDH-TECNICA_E_PRECO.pdf

Fonte: Assessoria de Comunicação Social do MMFDH

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

Isolamento pode ser grave para crianças com deficiência auditiva

 As dificuldades enfrentadas pela falta de convivência em sociedade durante a surto de Covid-19 serão debatidas durante o primeiro simpósio internacional multidisciplinar sobre surdez na infância

d.emtempo.com.br

Como saber se a criança tem deficiência auditiva? - Revista Crescer | Saúde

Com o início na pandemia do novo coronavírus, as pessoas precisaram se adaptar às recomendações de isolamento social para retardar a evolução da doença. Diante desse cenário, inúmeras áreas da saúde foram afetas, como alguns tratamentos que precisaram ser interrompidos, consultas médicas canceladas e cirurgias adiadas. Em meio a essa nova realidade, as pessoas com deficiência auditiva tiveram suas rotinas abaladas, impossibilitando seu progresso auditivo e a evolução da comunicação.

A busca por alternativas para diminuir o impacto dessa situação e o sofrimento do isolamento serão discutidos por especialistas nacionais e internacionais durante o "Surdez e Escuta: simpósio internacional multidisciplinar sobre surdez na infância", um evento 100%, que será realizado entre os dias 30/11 e 04/12 e terá sua renda totalmente revertida para a realização de atividades educativas. A programação completa está disponível no site e nas redes sociais do Instituto, Instagram e Facebook . A inscrição pode ser feita pelo link .

Segundo a Dra. Mariana Guedes, fonoaudióloga consultora na área de audiologia e reabilitação auditiva do Instituto Escuta, o isolamento social e o uso de máscaras interferem na qualidade de vida e na saúde emocional de muitas pessoas com algum grau de surdez. Porém, nas crianças com perda auditiva os danos podem ser ainda mais graves. "A crianças com surdez e que são oralizadas podem experimentar dificuldades com a leitura labial devido ao uso das máscaras ou com a qualidade do som e da escuta durante as aulas ou sessões de terapia online. Isso pode ser mais grave para àquelas que não tem acesso digital e perderão muito pela falta de contato e comunicação social promovido pela escola e pela falta das sessões de terapia. Já, as crianças usuárias da LIBRAS, também podem experimentar muitas dificuldades. Se considerarmos que nem todos os pais e familiares são fluentes na linguagem de sinais e que o maior núcleo eram as escolas e o contato com outros surdos da comunidade, essas crianças poderão ficar cada vez mais sozinhas durante a pandemia", explica.

Para confirmar essa tendência, o Instituto Escuta realizou uma pesquisa com seus assistidos durante a pandemia. A maior parte das crianças atendidas ficaram sem fonoaudióloga durante a pandemia e alegaram ter maior dificuldade nas interações com os colegas de sala, nas atividades em casa e até mesmo para manter as atividades de rotina.

Nesse sentido, os danos podem impactar tanto a capacidade de se comunicar das crianças, quanto a evolução do processo de construção da fala e até o relacionamento com o mundo. "A perda auditiva é classificada em graus, sendo eles, do leve ao moderado, pessoas que usam aparelhos auditivos que amplificam o som e assim conseguem se comunicar através da fala e, o severo a profundo, grupo que se comunica através da língua de sinais (Libras) ou utiliza implantes cocleares e realiza um processo de reabilitação auditiva para aprender a escutar e a falar. Logo, uma criança que não recebe estímulos consistentes e frequentes para se comunicar, acaba se isolando completamente ou apresenta atraso no seu desenvolvimento da linguagem, seja qual for a modalidade utilizada - oral ou sinalizada", afirma a especialista.

Além disso, com o uso obrigatório de máscaras o canal de comunicação se tornou cada vez mais difícil e algumas práticas precisaram ser adaptadas no contexto em que vivemos. "Com a pandemia em vigor, as técnicas e meios utilizados nos programas de reabilitação auditiva precisaram mudar. Sessões online passaram a ser realizadas e o vínculo presencial com o foi interrompido, ou seja, a comunicação com o deficiente auditivo se tornou mais difícil e nem todas as famílias conseguiram se adaptar bem a esta nova realidade", reforça Mariana.

O acompanhamento social e extra familiar é algo importante para esse grupo, principalmente neste período de vulnerabilidade. Entretanto, nem todas as famílias têm acesso a esses recursos. "O paciente que depende de artifícios externos cedidos pelo governo, por exemplo, muitas vezes não tem continuidade das consultas via internet, sendo assim, não desenvolve as atividades de estimulação de linguagem e fala, que consecutivamente causa um déficit de aprendizado e que futuramente irá impactar no seu progresso", finaliza a fonoaudióloga Mariana.

*Com informações da assessoria

quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Máscara pode prejudicar habilidade emocional e de comunicação em crianças

 Carol Firmino para o uol.com.br

A OMS (Organização Mundial da Saúde) e a Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) publicaram em agosto as orientações sobre o uso de máscara em crianças, que foram divididas em três faixas etárias: até cinco anos, a indicação é que elas não usem a proteção; de seis a 11 anos, orienta-se uma análise dos riscos para avaliar a necessidade; e as de 12 ou mais devem seguir as mesmas orientações que os adultos, com exceção de crianças com condições específicas —como algum tipo de deficiência intelectual — cujos familiares também precisam ponderar se é necessário.

Porém, seja por precaução ou não concordância sobre as orientações da OMS, muitos pais têm adotado o uso de máscaras nos filhos a partir dos dois anos de idade, decisão endossada pela SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) e outras instituições, que fazem alerta para o risco de sufocamento, mas não defendem a proposta da OMS.

Sabemos que usar máscara é um dos novos hábitos mais significativos adotados em 2020 e que existem evidências suficientes sobre a sua eficácia na prevenção do coronavírus. Entretanto, esse uso também é motivo de dúvidas e ansiedade entre as famílias, os professores, os pesquisadores e outros profissionais que seguem avaliando as consequências para os mais novos, seja na interação social, na fala, na linguagem ou em outras áreas do desenvolvimento.

Contexto de adaptações

A infância é uma fase de descobertas que inclui, principalmente, a socialização: brincar, interagir com a família e os amigos, pisar descalço em texturas diferentes, tocar os objetos para sentir as formas, e outras atividades que fazem parte do desenvolvimento sensorial, motor, cognitivo e social de uma criança. Mas, com a pandemia, essas dinâmicas foram excluídas da rotina infantil ou readaptadas para dentro de casa.

No entanto, também é durante a infância que o cérebro tem as melhores condições para se adaptar a um contexto ainda desconhecido. Isso acontece por causa da neuroplasticidade (capacidade que o sistema nervoso tem de se moldar a mudanças), que permite às crianças aprenderem mais rápido por meio de suas vivências. Assim, com algumas estratégias e ajuda dos adultos, elas podem desenvolver as habilidades de comunicação, emoção e interação, mesmo com a introdução do uso de máscara no dia a dia. É importante lembrar que as brincadeiras e as ocupações diárias dentro dos lares —ambiente em que normalmente não há a obrigatoriedade da proteção facial para os que moram juntos — são muito promissoras por haver mais liberdade.

máscara; criança - iStock - iStock
Imagem: iStock

Pesquisadores da Universidade de York, em Toronto, no Canadá, coordenaram um estudo online para avaliar até que ponto as máscaras mudam a maneira como os rostos são percebidos pelas pessoas. Entre os 500 adultos que concluíram os desafios de memorização facial, 13% tiveram problemas para identificar as faces cobertas por máscaras cirúrgicas. Agora, imagine a dificuldade de um bebê que, recorrentemente, precisa visualizar os pais dessa maneira? Isso porque, mesmo que a criança seja muito pequena para usar a máscara, todos ao redor dela estão usando.

Desde os primeiros meses de vida, as expressões não verbais são muito importantes, pois, ao observar o outro, a criança colhe informações que não são ditas e começa a entender os sentimentos e emoções do seu interlocutor, fator essencial para desenvolver as habilidades sociais. Por isso, os fonoaudiólogos sugerem o investimento nas máscaras com visor, que são transparentes na região da boca. Essa é uma escolha inclusiva, indicada para facilitar a leitura labial por pessoas surdas, mas que pode funcionar para todos.

Porém, no geral, os adultos vão precisar ser cada vez mais claros e explícitos sobre o que desejam comunicar à criança, especialmente para as menores. Assim, as regras e as emoções devem ganhar mais ênfase na fala e no olhar, para que elas possam entender. Outra dica é associar as conversas a acessórios divertidos como chapéus, arcos de cabelo e até máscaras coloridas ou com personagens que a criança goste. Repetir comandos, realizar movimentos durante a interação, usar a expressão corporal e pistas sonoras como cantar, bater palmas e utilizar sons também favorecem o envolvimento. Nos momentos em que a criança precisa focar apenas no que o adulto fala, estratégias sensoriais podem contribuir para o nível de alerta cerebral, como fazer com que ela fique sentada numa bola em vez da cadeira.

Atenção redobrada

Crianças e adolescentes que têm algum tipo de deficiência precisam de um olhar mais atento e cuidadoso para suas necessidades. Nos tratamentos que incluem ações relacionadas à atenção, independência e autonomia nas ocupações cotidianas, as atividades podem ser diminuídas e dificultadas em função da pandemia, além de acarretar prejuízo das recomendações gerais relacionadas à covid-19.

É comum que a convivência se torne mais complicada até mesmo para a família, que precisa lidar com situações ainda mais atípicas do que de costume. Comportamentos como dificuldade de concentração, alteração nos padrões de sono ou alimentação e irritabilidade já são sinais de que algo não está indo bem e pode interferir nos avanços conquistados. Neste caso, o acompanhamento de profissionais da saúde —como psicólogos e terapeutas ocupacionais — é fundamental para pensar em adaptações para a nova realidade e minimizar o impacto no desenvolvimento.

Indivíduos com síndrome de Down, autismo e até TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade) requerem estímulos mais lúdicos para se manterem atraídos. O uso de vídeos e fotos que os ajudem no reconhecimento facial das expressões, de plaquinhas com imagens de sorriso, tristeza ou raiva por cima da máscara, e de jogos que explorem mais o corpo são opções inteligentes para se aplicar na terapia, em casa ou na escola.

Criança com máscara protetora espera ser testada para a doença de coronavírus (COVID-19) na Bela Vista do Jaraqui - BRUNO KELLY/REUTERS - BRUNO KELLY/REUTERS
Imagem: BRUNO KELLY/REUTERS

Volta às aulas

No Brasil, as atividades estão retomando o seu curso normal, ainda que não se tenha decretado o fim da pandemia ou a chegada da vacina. Crianças e adolescentes fazem parte desse contexto, e o retorno presencial aos colégios já acontece em diferentes estados no país para alunos de todas as idades. No entanto, o desafio do novo momento não se limita ao uso correto da máscara ou ao cumprimento de protocolos.

É necessário reconhecer que será um período de ansiedade para alunos e professores, e que o laço social precisa se fortalecer longe das telas, mesmo com o respeito do distanciamento. Dessa maneira, por mais que haja expectativas por cumprir a demanda de prazos, essa retomada requer paciência e acolhimento. Nem todas as crianças e adolescentes tiveram o mesmo desempenho nas atividades em casa, seja por dificuldades emocionais, sociais ou técnicas.

É normal também que haja uma superexcitação nesses alunos, já que a escola seria o espaço para extravasar a energia contida; ou o contrário, com apatia, flacidez motora pela provação de movimentos globais —correr, saltar, rolar — bem como medo de percorrer distâncias ou certa inabilidade diante do reencontro com os colegas.

Entre as orientações para os professores está falar mais alto e devagar, cuidar do tom de voz, ser mais objetivo, diminuir objetos visuais muito chamativos, dar oportunidade para que as crianças possam dizer o que entenderam sobre a explicação e investir na expressão corporal, com mímicas, performances teatrais etc. Permitir que elas masquem chiclete ou chupem uma bala também contribui para aumentar o nível de alerta cerebral.

Diante disso, se a rotina desses profissionais já era difícil antes da pandemia, o esforço e o cansaço ao utilizar a máscara para lecionar não podem ser normalizados. Para se protegerem dos nódulos nas cordas vocais, as recomendações são fazer pausas entre as exposições, beber bastante água e procurar ajuda profissional se houver qualquer desconforto.

Fontes: Ana Gabriela Andriani, psicóloga, especialista em psicoterapia dinâmica breve pelo IPq-HCFMUSP (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), mestre e doutora em educação pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas); Amanda Tavares, terapeuta ocupacional pediátrica pela Unesp (Universidade Estadual Paulista), pós-graduada em terapia ocupacional aplicada à neurologia pela FICSAE (Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein); Cristiane Magacho, fonoaudióloga, especialista em dermatoglifia, doutora em linguística aplicada e estudos da linguagem pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo); Deyse Campos, psicopedagoga, especialista em psicopedagogia clínica, doutoranda em psicanálise na UCES-AR (Universidade de Ciências Empresariais e Sociais de Buenos Aires - Argentina) e conselheira pedagógica do colégio Interpares; Fabiana Vieira Gauy, psicóloga, terapeuta cognitivo-comportamental, mestre em psicologia pela UnB (Universidade de Brasília) e doutora em psicologia clínica pela USP; Simone Lavorato, pedagoga, psicóloga, neuropsicóloga, doutora em educação de ciências (educação inclusiva) pela UnB e professora de neuroeducação e competências socioemocionais na Rede Pedagógica.

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

App para alfabetização de crianças surdas chega ao Brasil

tecmundo.com.br

O ser humano aprende a falar e a ler corretamente não apenas observando as letras como também repetindo os sons apresentados – um empecilho na alfabetização de crianças surdas. Um aplicativo que usa inteligência artificial e realidade aumentada pode ajudar nesse processo: o StorySign, lançado no Brasil pela Huawei.

O app existe desde 2018, mas somente agora ele foi adaptado para o português, graças ao trabalho do tradutor e intérprete de libras Edílson Andrade e o revisor Erik Honorato, que traduziram para a linguagem de sinais dois livros infantis nacionais: Gildo, de Silvana Rando (Brinque-Book), e A Festa Encrencada, de Sônia Junqueira (Ática). Edílson deu vida ao avatar que narra as histórias no aplicativo.

 

O StorySign existe em 15 línguas, e está presente no Reino Unido, na França, na Alemanha, na Itália, na Espanha, em Portugal, na Austrália e no Brasil, e conta com uma biblioteca em Libras de 71 livros. Não há previsão de quando o aplicativo, que é gratuito e tem suporte para Android e iOS, contará com mais títulos por aqui.

 

Como funciona o StorySign

1. Com o livro de leitura habilitado para o StorySign à sua frente, a criança abre o aplicativo e segura o smartphone sobre a página.
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2. O avatar do app (chamado Star) conta a história em libras enquanto o aplicativo destaca cada palavra gesticulada.
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Huawei/Libby Burke Wilde/Divulgação
3. A criança aprende a grafia da palavra e sua tradução em libras.
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Huawei/Libby Burke Wilde/Divulgação
Segundo comunicado da Huawei, o StorySing foi desenvolvido em parceria com a União Europeia de Surdos, a Associação Britânica de Surdos, o grupo editorial Penguin Books e a Aardman Animations, entre outras instituições. “O aplicativo captura movimento e animação, garantindo que as expressões faciais e as mãos dos personagens transmitam a representação perfeita das Libras, criando um personagem virtual divertido”, disse a empresa. No Brasil, a gigante chinesa teve o apoio da Federação Nacional de Educação e Integração dos Surdos (Feneis).

sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Tecnologia abre portas para o mundo dos sons

Aparelho auditivo de alta tecnologia disponibilizado pelo Centrinho-USP de forma pioneira na rede pública tem propiciado melhor audição a crianças

O pequeno David Gabriel Vicente de Souza, de apenas dois anos,já derrotou "gigantes". Depois de lutar pela vida em seus primeiros meses, a mais nova batalha vencida é poder ouvir!

David Gabriel ouvindo após receber a banda elástica no HRAC / Crédito: Divisão de Saúde Auditiva, HRAC-USP

David Gabriel nasceu com perda auditiva severa decorrente de malformação nos dois ouvidos e recebeu, no último dia 16 de outubro, uma tecnologia que permite uma audição melhor para bebês e crianças que ainda não podem passar por cirurgia para prótese auditiva implantável.


Banda elástica (softband) com processador de áudio bilateral / Crédito: Tiago Rodella, HRAC-USP

"O David Gabriel praticamente não escutava, não reagia quando o chamávamos. Vê-lo ouvindo bem agora, dançando e se alegrando com música é um alívio e uma felicidade muito grande", comemora a mãe, a dona de casa Rosangela Borges, 32, de Joinville, Santa Catarina.

O Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC/Centrinho) da USP em Bauru é o primeiro serviço no Brasil a oferecer, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a chamada banda elástica (softband) com processadores de áudio para os dois ouvidos, destaca a fonoaudióloga Tyuana Sandim Silveira Sassi, chefe técnica da Divisão de Saúde Auditiva da instituição.

David Gabriel com o pai Sidnei e a mãe, Rosangela, no aniversário de 1 ano
David Gabriel com o pai Sidnei e a mãe, Rosangela, no aniversário de 1 ano  / Foto: Arquivo pessoal

"A reabilitação de indivíduos com deficiência auditiva é rotineiramente realizada por meio da adaptação de aparelhos de amplificação sonora individual (AASI). Contudo, em pacientes com deficiência auditiva decorrente de malformações de orelha, a adaptação destes dispositivos é inviável. Atualmente, temos as próteses auditivas ancoradas no osso. Porém, em crianças menores de cinco anos, enquanto não é possível realizar a cirurgia para implantação dessas próteses, é indicada a adaptação do processador de áudio posicionado por meio da banda elástica, a qual permite estimulação auditiva por via óssea sem causar desconforto", explica a fonoaudióloga.

"Como hospital de ensino da USP, buscamos sempre desenvolver e oferecer os melhores tratamentos, tecnologias e inovações em nossa rotina assistencial. Esta é uma marca do HRAC! É uma satisfação indescritível ver a ciência, a expertise de profissionais altamente qualificados e também as políticas públicas e esforços de gestão beneficiando diretamente a saúde e qualidade de vida dos nossos pacientes", assinala o professor Carlos Ferreira dos Santos, superintendente do Centrinho-USP e diretor da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB-USP).

Já o professor Luiz Fernando Lourençone, diretor clínico do Centrinho-USP e docente do Curso de Medicina da FOB-USP, ressalta a importância da reabilitação integral dos pacientes. "O HRAC sempre priorizou um tratamento completo e, felizmente, temos conseguido avançar nas diversas frentes para a reabilitação global de crianças e adultos com tantas e diferentes necessidades".

OFERTA PELO SUS

A banda elástica passou a integrar a rotina assistencial do HRAC-USP em outubro de 2020. Segundo a fonoaudióloga responsável Tyuana Sassi, há licitação em andamento para aquisição de 20 processadores de áudio para serem adaptados com banda elástica bilateralmente, portanto em dez pacientes. "A previsão, inicialmente, é de um paciente adaptado por mês", informa. Com atendimento pelo SUS, o acesso de novos pacientes no Centrinho-USP é por meio da Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde (Cross) do Estado, a partir de avaliação inicial em unidade básica de saúde.


Reprodução do planejamento virtual da cirurgia da micrognatia / Crédito: Dr. Cristiano Tonello, HRAC-USP

MUITO ALÉM DA AUDIÇÃO

Ouvir foi a vitória mais recente, mas David Gabriel já travou inúmeros outros combates. O pequeno nasceu com alterações nos membros - braços e pernas -, Síndrome de Treacher Collins e Sequência de Pierre Robin, condições que comprometem, além da estética, funções vitais como a respiração e a alimentação, e que podem trazer consequências graves aos pacientes.

A mãe de David Gabriel, Rosangela, conta como a notícia da malformação impactou a família. "Perdi o chão. Ouvi de alguns que, se meu filho sobrevivesse, ele não ia andar, falar. Muita coisa ruim passou pela minha cabeça. Cheguei até mesmo a pensar em tirar minha própria vida, para o meu filho não sofrer. Mas, felizmente, com muita fé, força da nossa família e amor, superei isso".

Depois de passar os primeiros dias de vida na UTI em sua cidade, com 26 dias o bebê foi transferido para a UTI pediátrica do Centrinho-USP em Bauru. No centro especializado, David Gabriel passou por distração mandibular com apenas 40 dias de vida, procedimento que envolveu um complexo planejamento virtual da cirurgia, com a colaboração das Faculdades de Odontologia e de Medicina da USP da capital. "Obtivemos avanço de 17 milímetros da mandíbula, com ganho de peso e melhora completa do desconforto respiratório da criança", explica o cirurgião craniofacial Cristiano Tonello, chefe técnico do Departamento Hospitalar do Centrinho-USP e professor do Curso de Medicina da FOB-USP.

A mãe relembra que só retornou para casa com o filho perto dos seus três meses de vida. "Sei que temos um longo caminho a seguir ainda, mas a vida do David Gabriel se transformou completamente. Hoje ele é outra criança, anda, brinca e procura se virar. Só tenho a agradecer ao Dr. Tonello e a toda equipe do Centrinho por salvar a vida do meu filho", finaliza Rosangela.

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Mãe cria bonecos inclusivos e leva representatividade para crianças com deficiência

Clare Tawell pensou em uma forma maravilhosa de levar representatividade para as crianças, através dos seus brinquedos.

librasol.com.br

Para Clare, se uma criança com deficiência ou doença congênita consegue identificar suas características no próprio brinquedo, ela se desenvolve muito melhor. Clare sabe disso porque tem uma filha, Matilda, de 4 anos, que é surda.

Então essa mãe maravilhosa resolveu aproveitar um pouco do seu tempo livre, para criar bonecos de bebês e elfos, adaptados à diversas deficiências.

Fiquei muito desanimada quando não consegui encontrar uma boneca, ou qualquer brinquedo com aparelho auditivo. Achei que a sociedade não dava importância pra isso”, disse Clare.

Ideia de sucesso
Como não encontrou uma boneca para Matilda, Clare então decidiu fazer uma! E a ideia logo se espalhou entre outros pais.

Os pedidos começaram a chegar e Clare ainda montava bonecos personalizados, com outras características da criança, como cabelo, cor de pele, cor dos olhos, etc.

Com o sucesso nas vendas, Clare criou a ONG a Bright Ears UK e vendeu mais de 2.000 bonecos, somente no Reino Unido.

Além de bonecos com aparelho de surdez, ela passou a produzir também com outras deficiências, como fenda palatina, tubos de alimentação, bombas de insulina, respiradores, cirurgias cardíacas, e muito mais.

Distribuição para Escolas
Clare deseja quetodas as crianças com alguma deficiência se sintam aceitas e normalizem as suas condições.

E parece que isso está realmente funcionando!

Clare conseguiu levar a ideia para dentro das escolas britânicas e algumas instituições estão comprando o brinquedo para ensinar os alunos sobre inclusão!

Eu adoraria que as crianças no futuro pudessem entrar em uma loja e ver bonecas com aparelhos auditivos e fissura labial ao lado das bonecas comuns, porque isso torna tudo normal, não diferente”, explicou Clare.

Pra pedir – ou conhecer – uma boneca customizada, Clare está vendendo através do Facebook e de uma loja no site Etsy. Não há informações se ela envia para o Brasil.

Fonte: Razões para Acreditar / Inspire More

sexta-feira, 30 de outubro de 2020

EAD na pandemia: desafios do ensino remoto para pais de crianças com deficiência

Falta de acessibilidade e orientação presencial dos professores têm tornado a experiência da educação à distância cada vez mais exaustiva


 
menina com deficiência fazendo terapia com a ajuda da mãe
Reprodução Instagram/@isanossomilagre Isabela, filha de Kelli Steinheusen, durante sessão de terapia

As aulas remotas têm sido uma realidade para muitos estudantes brasileiros desde o início da pandemia de Covid-19 . Apesar de ser uma alternativa para o momento atual, o  ensino à distância se tornou um desafio para crianças e adolescentes com deficiência. A falta de acessibilidade, de personalização do sistema utilizado e até mesmo de orientação dos pais para seguirem com os exercícios em casa têm prejudicado, de certa maneira, a continuidade das atividades escolares desses alunos.

Nayama Borges mora em Estácio, bairro localizado na Zona Central do Rio de Janeiro e é mãe de Yanna, de 4 anos, diagnosticada com surdez e hidrocefalia. Nayama está desempregada e, por mais que passe o dia em casa, conta que a rotina tem sido bastante cansativa, já que precisa conciliar as tarefas domésticas com as da filha. "Eu tento juntar as duas coisas, dando uma função para as atividades diárias, como comer, tomar banho e assistir televisão. Pego as frutas e vou explicando para ela, pergunto qual ela quer comer, coisas assim", diz.

"A escola está sempre em contato com a gente, nos passando atividades, mas não é a mesma coisa", conta a mulher. "Eu, como mãe, posso passar o que eu sei, mas tem coisas que eu também não consigo lidar, eu não sou formada nisso", relata. A carioca diz que, além de sentir um atraso no desenvolvimento escolar da filha, o fator da distração também se faz presente no dia a dia delas, o que torna a execução dos exercícios ainda mais complicada. "Colocar uma criança com deficiência focada em algo é muito difícil", desabafa.

De acordo com a psicanalista, psicopedagoga, neuropsicopedagoga e especialista em educação inclusiva (PDI), Cristina Silveira, o ensino remoto exige um esforço atencional enorme de todos os alunos, não sendo diferente com os que têm deficiência. Segundo a especialista, em casos mais complexos, esse recurso pode se tornar inviável sem um acompanhamento in loco, para a adaptação e adequação curriculares.

E essa foi a situação enfrentada por Kelli Steinheusen, assessora de eventos e mãe de Isabela, de 3 anos, diagnosticada com paralisia cerebral. De acordo com a paranaense, as aulas remotas acabaram se tornando uma crise para a filha, que não conseguia entender o que estava acontecendo e não se sentia confortável com a situação. "Tentei colocar duas vezes os conteúdos enviados pela escola para ela assistir, mas ela não conseguiu identificar que a professora estava atrás de uma tela. Ela queria ter contato com a pedagoga, e isso causou muita irritação nela", conta. Kelli diz que, depois de algumas tentativas, parou de insistir: "Não dava certo e ela ficava bem incomodada. Tranquei a matrícula dela na escola por conta disso", relata.

Interação social

A falta de contato com o professor e com os colegas é outra queixa dos pais de crianças com deficiência. Juliana Amorina é fonoaudióloga e mãe do João, de 3 anos, diagnosticado com microcefalia e paralisia cerebral. Juliana conta que, no caso de João, a escola onde ele estuda, em Osasco (SP), enviou algumas cartilhas dedicadas à inclusão, para que os pais pudessem realizar as tarefas em casa com os filhos.

Apesar do envio dessas atividades, a fonoaudióloga desabafa que, além do acompanhamento do professor na realização das atividades, o contato com as outras crianças também faz muita falta na rotina de João. "Meu filho não tem irmãos, e a gente não tem convívio com nenhuma outra criança. Isso é bem importante para ele em termos de desenvolvimento, e a escola entraria nessa parte", afirma.

 

 
 
 
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Sábado é dia sem pressa... lanche com música e a bagunça está liberada! #microcefalia #paralisiscerebral #diagnosticonaoedestino #blw

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Segundo a psicanalista, a convivência social foi e ainda é o objetivo da inclusão escolar em muitas instituições. "Ainda lutamos pela inclusão pedagógica. Por isso, a importância da convivência social é extrema", enfatiza a profissional. "Muitas das  crianças com deficiências, principalmente as autistas e aquelas com síndrome de Down aprendem por imitação. Num ambiente em que há convivência com crianças atípicas, os benefícios são enormes", acrescenta.

Cristina aponta que é indiscutível o fato das relações sociais serem essenciais para o desenvolvimento das crianças, de maneira geral, principalmente das que possuem alguma deficiência. "Habilidades sociais como empatia, assertividade, desenvoltura social, dentre outras, têm se desenvolvido aceleradamente no meio escolar inclusivo", destaca.

Retorno das aulas presenciais

Apesar da pandemia ter trazido mudanças inesperadas e não tão positivas, Kelli conta que a situação fez com que ela conseguisse passar ainda mais tempo com Isabela. "Mesmo ela estando em casa e ficando um tempo sem terapia, pudemos estimular outras coisas, nos dedicar mais a ela e ter mais contato. Hoje, conseguimos viver momentos que antes não tínhamos", afirma a assessora.

A especialista em educação inclusiva alerta para a continuidade das terapias dentro de casa. De acordo com Cristina, a pausa nos tratamentos terapêuticos pode causar a não evolução e até mesmo a regressão no desenvolvimento já alcançado ao longo dos anos. "Regressões como enurese noturna, diminuição da fala, ansiedade, falta de apetite, agressividade, perda de sono, dentre outras", aponta Silveira.

E esse é justamente o problema enfrentado por Nayama com a filha. Para ela, o ponto positivo de Yanna estar em casa é apenas pelo fato dela não ser exposta ao vírus. "Eu prefiro mil vezes que a minha filha esteja na escola, porque sei que lá ela está sendo cuidada e orientada por profissionais", relata a carioca.

Mesmo com as dificuldades enfrentadas dentro de casa, as mães Nayama, Juliana e Kelli disseram que não levariam os filhos para a escola caso as aulas voltassem a ser presenciais, devido ao risco de contaminação. A paulista Juliana, por exemplo, prioriza a saúde de João, considerando que ele pode ser mais vulnerável ao coronavírus. "Ele é uma criança que tem bronquite, então ele é mais sensível nas questões que envolvem o sistema respiratório. Além disso, por ele não andar e usar cadeira de rodas, qualquer infecção no pulmão acaba sendo mais dura para ele. Eu não voltaria até ter uma vacina ou uma situação mais controlada", conclui a fonoaudióloga.

quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Opinião: Não à segregação das pessoas com deficiência nas escolas

 Maria Laura Canineu e Carlos Rios-Espinosa* Especial para o UOL

Ana Carla Bermúdez/UOL
Imagem: Ana Carla Bermúdez/UOL

Todas as pessoas deveriam ter direito à educação desde a infância e ao longo da vida. Ninguém deveria ser discriminado e impedido de usufruir do direito à educação sob o argumento de que não conseguirá ou não se beneficiará da educação na rede regular de ensino.

Nos últimos anos, a Lei Brasileira de Inclusão vem exigindo que todas as escolas ofereçam educação inclusiva para pessoas com deficiência, acabando com a segregação de estudantes com deficiência em um sistema paralelo de escolas especiais.

Porém, em 1º de outubro de 2020, o governo publicou o decreto nº 10.502, que é um ataque direto à educação inclusiva, estabelecendo uma política nacional que incentiva estados e municípios a permitirem escolas especiais segregadas e programas exclusivos para pessoas com deficiência.

Em 2018, a Human Rights Watch publicou um relatório no Brasil sobre abusos contra pessoas com deficiência, incluindo crianças e adolescentes, que vivem em instituições de acolhimento.

Entre os vários abusos, identificamos o fracasso dessas instituições em viabilizar o acesso à educação às chamadas pessoas com deficiências "graves", devido a crenças arraigadas entre diretores e funcionários de que essas pessoas não se beneficiariam da educação. A maioria das pessoas com deficiência intelectual que vivem em instituições, bem como as cegas ou surdas, nunca foi mandada à escola.

Muitas pessoas com deficiência enfrentam obstáculos severos no acesso à educação e ao gozo de outros direitos devido às crenças e atitudes das pessoas ao seu redor. No entanto, no mundo todo, muitas pessoas com deficiência desafiam esses obstáculos, concluem seus estudos e participam do desenvolvimento de suas comunidades.

Existem inúmeros exemplos de pessoas com deficiência que necessitavam de um maior suporte, e que tiveram sucesso em estudar. No Peru, por exemplo, Bryan Russell, de 28 anos, um jovem com Síndrome de Down, estudou Ciências da Comunicação na faculdade. No Brasil também há inúmeros exemplos, como Claudio Luciano Dusik, que tem atrofia muscular espinhal e é doutor em educação.

Atualmente, todas as escolas no Brasil têm a obrigação de fornecer educação inclusiva de alta qualidade para pessoas com deficiência. O novo decreto, entretanto, enfraquece essa obrigação ao dispor sobre as escolas especializadas (artigo 2º, inciso VI) e prever a segregação de estudantes em turmas especiais para pessoas com deficiência nas escolas regulares (artigo 2º, inciso VII).

Um sistema como esse apresenta sérios riscos ao direito à educação inclusiva para crianças e adolescentes com deficiência. Pesquisas da Human Rights Watch em diversos países, entre eles, África do Sul, Nepal e Cazaquistão mostram que, quando existe um sistema paralelo e segregado de educação especial, ele pode servir como um grande obstáculo à inclusão de crianças e adolescentes com deficiência na educação regular.

O decreto também exige a implementação de critérios para identificar "estudantes que não se beneficiam de escolas regulares inclusivas" —aumentando a séria preocupação de que as autoridades tentarão excluir esses estudantes das escolas regulares e exigir que frequentem escolas ou classes especiais, violando o direito nacional e internacional.

A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (CDPD), que no Brasil tem status constitucional desde agosto de 2018, proíbe a exclusão das pessoas com deficiência do sistema educacional geral (artigo 24.2.a).

Todas as pessoas com qualquer tipo de deficiência (física, sensorial, intelectual e com condições de saúde mental), incluindo aquelas que requerem maior apoio, como as surdocegas, têm direito de acessar o sistema regular de educação com os ajustes necessários e as acomodações individuais razoáveis conforme o caso, mas sempre dentro do sistema geral.

Nenhuma criança deve ser considerada "qualificada" apenas para a educação especial ou outras formas de educação segregada. Categorizar crianças e adolescentes como elegíveis apenas para um determinado tipo de educação é discriminatório e arbitrário e também contradiz a legislação brasileira.

Se avaliações forem feitas, devem apenas ter o objetivo de determinar e fornecer o tipo de apoio necessário para que as pessoas com deficiência acessem as escolas regulares, fornecendo recursos e instruções aos funcionários, para que garantam o sucesso das crianças e adolescentes nesses ambientes.

O governo deve revogar imediatamente este decreto que promove a segregação e o isolamento de crianças e adolescentes com deficiência e continuar a aperfeiçoar o sistema de educação para garantir que seja mais aberto e inclusivo para todas as pessoas.

*Maria Laura Canineu é diretora da Human Rights Watch (HRW) no Brasil e Carlos Ríos Epinosa é pesquisador sênior da divisão dos direitos das pessoas com deficiência da HRW. COMUNICAR ERRO

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Política de educação inclusiva precisa levar em conta singularidade da criança, critica pesquisador

noticias.uol.com.br



Uma nova Política Nacional de Educação Especial foi instituída no Brasil com um decreto publicado no dia 1° de outubro. A regra permite a criação de classes especializadas, apenas para alunos com deficiência, o que tem sido criticado por pais e especialistas como volta da segregação. Para o psicanalista Leandro de Lajonquière, pequisador de Ciências da Educação na Universidade Paris 8, é preciso garantir uma educação inclusiva que leve em conta a sigularidade da criança, e não a coloque em uma categoria. "Uma criança autista não é igual a sua vizinha autista", diz o professor à RFI.

A política de inclusão de estudantes com deficiência em escolas regulares, efetivada nas últimas décadas, ampliou a inclusão de alunos especiais no ensino brasileiro. Em 2000, havia cerca de 700 mil estudantes em condição de educação especial, a maior parte deles em instituições especializadas. Em 2018, o número de matrículas de alunos com deficiência ou transtornos globais chegou a 1,2 milhão, a maioria delas em instituições públicas, de acordo com dados do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira).

O avanço, apesar de positivo, tem limitações na forma como a introdução dessas crianças foi feita na escola, alerta o pesquisador da Universidade Vincennes-Saint Denis (Paris 8). "A questão é que essa chamada inclusão se faz de maneira cega, no sentido de que as autoridades, e às vezes até alguns pesquisadores, não se perguntam sobre as especificidades das situações. Uma criança deficiente visual se beneficia da inclusão escolar, uma criança considerada autista também se beneficia com a inclusão escolar. A política pensa que essas duas crianças são equivalentes, mas elas não são", afirma.

Para ele, o Brasil precisa levar a discussão da educação especial para além dos muros da escolas e ampliar a oferta de atividades para essas crianças, de forma adequada às suas necessidades.

"Precisamos pensar o que oferecemos para as crianças. O que acontece é que isso é um ponto cego no Brasil, ou passa pela escola ou pela família. Mas a criança precisa da escola, precisa da família, mas também precisa de umas tantas coisas a mais. Na França, temos as atividades periescolares, nos centros de lazer, por exemplo", cita De Lajonquière.

Confira os principais trechos da entrevista ao RFI Convida

RFI - Nos últimos anos, com a política de inclusão de crianças com deficiência e com transtornos do desenvolvimento em classes regulares, houve um grande aumento nas matrículas de educação especial no Brasil. Essa inclusão foi efetiva?

Leandro de Lajonquière - A gente deve contextualizar um pouco esse fenômeno da explosão de matrículas. Por uma lado, é de grande importância e muito bem-vinda a iniciativa. E não foi apenas uma iniciativa do Brasil, é o que é feito em boa parte dos grandes países ocidentais, o fato de que crianças ditas com dificuldades ou em situação de deficiência possam frequentar uma escola comum. Isso é obviamente um avanço diante do que era a norma anterior. A norma anterior era considerar essas crianças anormais e, portanto, elas não podiam ir à escola de todos os dias, onde frequentava a maioria das crianças.

A questão é que essa chamada inclusão se faz de maneira cega, no sentido de que as autoridades, e às vezes até alguns pesquisadores, não se perguntam sobre as especificidades das situações. Uma criança com deficiência visual se beneficia da inclusão escolar, uma criança considerada autista também se beneficia da inclusão escolar. A política pensa que essas duas crianças são equivalentes, mas elas não são equivalentes. A situação de cada uma delas em relação à possibilidade e a forma de circular na sociedade, de participar das atividades corriqueiras da vida cotidiana e de participar das atividades que uma escola tem a oferecer não são as mesas.

Toda política inclusiva é bem-vinda, mas para que seja de fato bem-vinda e em benefício de todas as crianças, é preciso que se coloque a pergunta pela situação singular de cada uma das crianças.

RFI - Qual sua avaliação do novo decreto, que retoma a possibilidade de classes especializadas só com alunos especiais ?

O governo classifica as crianças a partir de um quadro, e uma criança autista não é igual a sua vizinha autista. Toda política pública no Brasil, na França, em Portugal ou em qualquer país precisa prever uma pluralidade de ofertas. A educação de uma criança não responde a um padrão pré-estabelecido. A educação e a escolarização são processos abertos, que se constroem na medida que os diferentes personagens, e particularmente a criança, participam da experiência.

A questão é que infelizmente, no Brasil, as diferentes propostas educativas sempre são pensadas no registro do milagre. Encontramos a fórmula milagrosa, o método milagroso de ensino. É 8 ou 80. E a historia da educação de qualquer país mostra que não é claro ou escuro, a educação está na tonalidade dos cinzas.

RFI - Para pensar a singularidade de cada criança, como fica a questão da formação?

Uma das grandes variáveis é justamente a formação dos profissionais, e não apenas do professor. Acho importante falar de outra coisa também. O tempo de infância de uma criança não é apenas a escola. Há a escola, a família, os amiguinhos, a praça, o jogo de futebol, e a lista é interminável. Precisamos é pensar o que oferecemos para essas crianças. O que acontece é que isso é um ponto cego no Brasil, tudo ou passa pela escola ou pela família. Mas a criança precisa da escola, da família, mas também precisa de umas tantas coisas a mais. Na França, temos as atividades periescolares, nos centros de lazer, por exemplo.

RFI - Com a volta das escolas especializadas, há uma preocupação dos pais de que estas crianças não sejam mais aceitas em escolas regulares.

Veja, a implantação de qualquer política pública deve ser resultado de um debate público, em que os ditos especialistas, mas também os representantes de associações e representantes dos pais, devem participar.

Em sociedades escolarizadas, como as nossas [em que a educação escolar é um direito], é importante que todas as crianças possam ir à escola, e que as escolas proponham uma experiência digna para elas de ser vivida. E que os estados e seus governos façam disso uma matéria central da sua preocupação.