sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Mães de crianças com deficiência abrem empresas e aumentam renda familiar

 Rodolfo Luis Kowalski para o bemparana.com.br

 
Claudirene França e o trabalho na sua loja de doces e bolos artesanais, O Mundo Doce da Clau (Foto: Franklin de Freitas)

Quando teve seu primeiro filho, chamado Emanoel, Claudirene França não podia imaginar o quanto sua vida mudaria.

Nos primeiros anos tudo correu normalmente. O menino, conta a mãe, apresentava alguma dificuldade quando saía de casa, mas os pais, que moravam no interior do Paraná (e hoje moram em Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba), achavam que esse ‘estranhamento’ se devia ao fato do rapaz não ter muito contato com outras crianças. Foi quando decidiram ter mais um filho, para que Emanoel pudesse ter uma companhia.

Durante as consultas com a ginecologista antes do nascimento de Márcia, a nova criança, porém, a médica começou a perceber que o menino tinha algo de diferente. E quando ele tinha de seis para sete anos, finalmente foi diagnosticado com autismo. Uma notícia que, num primeiro momento, foi um choque.

“Quando ele foi pra escola começou a ter dificuldade de aprender, começou a ser estereotipado na sala de aula. Ele ficava de costas pros alunos na sala, não queria fazer educação física, depois começou a não querer ir pra escola e a se machucar”, recorda ela. “Com o laudo, tudo mudou. Fiquei com muito medo, porque [antes] achava que era só dificuldade, que uma hora tudo passaria.. Mas eu nem sabia o que era autismo, não conhecia. Não sabia de nada, nada”.

Para poder ajudar o filho, ela tomou uma decisão que muitas mães acabam tendo de tomar para cuidar de filhos com deficiência e acompanhá-los nas consultas médicas. Dessa forma, precisou parar de trabalhar fora de casa, uma decisão que, inevitavelmente, impactou na renda familiar e, para ajudar o marido, que vinha se desdobrando para dar conta das despesas, ela teve uma ideia.

“Quando parei de trabalhar fora de casa, pensei em fazer algo e sempre gostei de fazer bolo de chocolate, cenoura, e sempre fui elogiada. Aí teve uma Páscoa, ainda estava grávida da Márcia [segunda filha de Claudirene] e vendi bastante. Gostei de trabalhar, conversar com as pessoas, ganhar meu dinheiro”, conta a mãe.

Recomeço e novos sonhos — O sonho de Claudirere sempre foi pagar um tratamento alternativo pra o filho, mas a situação financeira fazia tudo parecer muito distante. Até que, em 2020, ela teve a oportunidade de participar do Programa Empreenda, uma iniciativa social e gratuita que empodera pessoas com deficiência e suas famílias, incentivando a autonomia e promovendo o desenvolvimento por meio do empreendedorismo gastronômico.

Com a capacitação, ofertada pela ASID Brasil em parceria com a Risotolândia, novas portas se abriram. Nascia “O Mundo Doce da Clau” (@omundodocedaclau), que vende doces e bolos artesanais, além de outros quitutes. Um negócio que deu tão certo que a família já cogita abrir uma loja física daqui algum tempo. Não bastasse, a nova rotina ainda tem ajudado o jovem Emanoel, atualmente com 11 anos, a evoluir ainda mais.

“O Emanoel me ajuda bastante. Faz entregas no condomínio, recepciona os clientes. Está conversando mais com as pessoas, me ajuda a vender. Ele se animou também, vejo que ele, até pelo curso, ele fala que era para nós. Vestiu a camisa mesmo, me ajuda a organizar a casa, tirar lixo, guardar a louça. Eu nem preciso pedir. Ele está desenvolvendo muito isso, de empatia, ver as necessidades das pessoas”, comemora Claudirene.

‘Antes de falar de venda, falamos sobre elas se conhecerem’
Coordenadora de projetos da ASID Brasil, Caroline Ferronato conta que o Programa Empreenda nasceu em 2019, após um estudo mostrar que nas famílias com deficiência é muito comum algum familiar deixar de atuar no mercado de trabalho para se dedicar a essa pessoa com necessidades especiais - o que acontece principalmente com as mães, que tem de levar o filho no médico, na escola e ainda dar uma atenção especial em casa, o que muitas vezes acaba sendo incompatível com a rotina que o mercado de trabalho exige.

“Ela larga o emprego, foca no filho e fica dependendo de benefícios do governo, da ajuda de familiares”, explica Ferronato. “O programa é uma oportunidade para essa família gerar renda, ter mais autonomia, empoderamento. Inclusive, a primeira coisa que fazemos no curso é atuar com psicólogos, trabalhar a questão de autoconhecimento mesmo. Antes de falar de venda, negociação, falamos sobre elas se conhecerem”, explica.

Via de regra, quando começam a participar do programa as mães são muito tímidas, reservadas.

Quando questionadas sobre o que são ou o que querem, por exemplo, sempre colocam os filhos na frente delas próprias, não conseguem apresentar quem realmente são. “No final do projeto, já falam o que gostam, o que fazem. Outro grande ponto é o desenvolvimento do negócio delas. Todas as mães tiveram um aumento de renda, começaram a ter acesso a bens materiais e não raro envolvem os filhos no negócio, que apresentam grande desenvolvimento intelectual, evolução do potencial”, conta a coordenadora da ASID Brasil, revelando que cerca de 40 mães já foram formadas e abriram seus negócios com o apoio do Programa Empreenda.

Compartilhando experiência e garantindo o desenvolvimento
No Programa Empreenda, a ASID Brasil é responsável pela capacitação das famílias na parte de empreendedorismo. Já o grupo Risotolândia, sediado em Araucária, ajuda na parte gastronômica, oferecendo o expertise de quem já atua há mais de 65 anos no ramo gastronômico.

“Nós temos módulos aplicados pelos nossos nutricionistas, que ensinam boas práticas de manipulação, técnicas de gastronomia. É uma questão de compartilhar o conhecimento”, afirma Kamille Dantas, gerente de RH do Grupo Risotolândia, explicando ainda porque o foco do programa, por ora, é em Araucária e no CIC, em Curitiba.

“A nossa matriz está aqui em Araucária, estamos próximos também da região do CIC, e é uma forma de devolução pra sociedade. Estamos aqui, fazemos parte desse município, somos um dos maiores empregadores dessa região, queremos contribuir”, diz, convocando ainda outros empresários e empresas a seguir esse exemplo. “Existem outras organizações com expertises diferentes e que podem contribuir. Queremos que esse exemplo possa ser replicado. Existem tantas possibilidades de negócios para fazer uma sociedade girar de forma diferente com um olhar para a inclusão.”

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Projeto ensina arte para jovens com Síndrome de Down de forma inclusiva

"Arte de Incluir" é uma iniciativa da ONG Associação Fortaleza Down que abrange diversos campos artísticos de jovens com e sem síndrome de Down; projeto está em atividade desde setembro

Pedro Igor/Especial para O POVO

Projeto fará parte do espetáculo "All Together Now", que teve apresentações nos dias 12, 13 e 14 de novembro(foto: Rob Simmons/Unsplash)

Uma iniciativa social em Fortaleza promove, desde setembro, um projeto para inclusão de jovens com síndrome de Down por meio da arte. O projeto “Arte de Incluir" é uma realização da ONG Associação Fortaleza Down, que conta com uma extensa programação de oficinas em artes plásticas, teatro, dança, fotografia e canto, entre outras expressões artísticas.

Com aulas práticas e teóricas, o projeto se utiliza de uma metodologia inclusiva para participação de jovens com e sem síndrome de Down. Também como parte do projeto serão realizados dois festivais de arte inclusiva, em novembro deste ano, com um espetáculo de palco, e em março do ano que vem.

Com slogan “Queremos ser felizes com música e arte!”, o projeto “Arte de Incluir” busca desenvolver o talento e as habilidades artísticas dos alunos participantes. As atividades começaram semanalmente em setembro e devem seguir até março do ano que vem Participam do projeto alunos com e sem síndrome de Down, a partir dos 15 anos. O objetivo é promover a socialização e a inclusão de todos.

Por meio de uma parceria com a escola de artes The Biz, a Associação Fortaleza Down conseguiu que o “Arte de Incluir” integrasse o espetáculo internacional "All Together Now", uma realização da Music Theatre International (MTI). A escola The Biz é associada ao MTI e é onde acontecem os cursos e oficinas do “Arte de Incluir”. A atividade é uma montagem de palco conjunta e inclusiva

60 alunos participam do evento, sendo 28 deles com síndrome de Down. “É um momento único para eles, porque além de estarem entrando em contato com a arte, eles estão se ressocializando", comenta Alessandra Costa, vice-presidente da Associação Fortaleza Down. Costa destaca também que pessoas com síndrome de Down fazem parte do grupo de risco, o que dificulta sua socialização no atual contexto de retomada das atividades.

O projeto também iniciará sua segunda fase em dezembro deste ano, quando deve ser realizada uma exposição fotográfica com trabalhos originais dos participantes das oficinas. Também um segundo festival deve ser realizado em março. A previsão é que o evento aconteça no dia 21 de Março, Dia Internacional da Síndrome de Down, de acordo com a vice-presidente da associação.

Com este projeto, Alessandra também destaca o desafio no nascimento de uma criança especial: “A partir dali, também nascem dúvidas, desafios, medos e várias outras necessidades. É aí que também vem o desejo de se unir a outras pessoas, que compartilham dos mesmos sentimentos. A troca de experiências e a ajuda mútua são de extrema importância”.

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Criança com deficiência não atrapalha, diz Silvia Grecco

 Dérek Bittencourt para o Diário Grande ABC

Inclusão não é apenas uma palavra no vocabulário, mas uma das missões de vida da secretária da Pessoa com Deficiência da prefeitura de São Paulo, Silvia Grecco, que participou ontem à noite da live do Diário ao lado do filho Nickollas, que é deficiente visual e tem autismo. A dupla de torcedores do Palmeiras ganhou projeção internacional justamente porque a mãe fazia questão de incluir o filho no ambiente como um estádio de futebol ao narrar o jogo para ele, em situação que deve se estender do lazer a todos os outros segmentos, como saúde, trabalho, ensino etc. Assim, ouvir o ministro da Educação, Milton Ribeiro, declarar que é contra o “inclusivismo” nas escolas, chateia a mauaense, hoje moradora de Santo André – cidade na qual foi a primeira secretária de Pessoa com Deficiência, em 2020, antes de receber convite e seguir à Capital.

“Sou totalmente a favor da educação inclusiva. Lutamos tanto para conquistar direitos e hoje temos de lutar para conquistar mais direitos e para não perder o que conquistamos. Educação é primordial. Educação inclusiva não é só questão pedagógica. É questão de socialização também e faz diferença na vida de todos. Criança com deficiência na escola não atrapalha ninguém, quem atrapalha são pessoas que têm essa mentalidade e não deveriam estar à frente do ministério (referindo-se a Milton Ribeiro). Enxergo assim e fico triste quando ouço. Não é uma questão político-partidária, mas de ver como mãe esse retrocesso, que não é bom de maneira nenhuma”, bradou Silvia Grecco.

A secretária da Capital ainda recordou história vivida por ela e pelo filho que comprova sua teoria sobre inclusão no ambiente escolar. “O Nickollas, quando pequeno, estudava numa escola infantil em Santo André, de 3 para 4 anos. Na entrada uma mãe me procurou, extremamente emocionada, dizendo que o filho chegou em casa e na hora do jantar apagou todas as luzes, porque queria ficar no escuro como o Nickollas. Contou que precisou fazer o jantar, que teve dificuldade, que todos comeram no escuro. Então, olha a troca entre as crianças, o aprendizado. Daí começa o respeito. Não temos que pensar só na parte pedagógica que, claro, é importante, mas a escola pode fazer a diferença na vida das crianças com ou sem deficiência. A gente fala pessoa com deficiência porque antes de ter deficiência é uma pessoa. Educação é tudo. Modelos de educação têm que ser seguidos. Onde tem olhar da educação inclusiva, ela funciona”, recordou.

Silvia ainda falou sobre a necessidade de criação de postos de emprego para PCDs (Pessoas com Deficiência), em situação que vá além das chamadas cotas. “É necessário que se tenha oportunidade de trabalho, de educação. Temos de pensar nisso para todos. Quando tem esse olhar de incluir as pessoas com oportunidades iguais, é muito bem-vinda. No Grande ABC, na questão de empregabilidade, normalmente se cumprem cotas. Quando as pessoas forem contratadas por oportunidade, não por obrigação, isso vai mudar, porque daí não está contratando para cumprir cotas. Precisamos dar oportunidades iguais para todas as pessoas. Isso faz muita diferença. Assim como dei oportunidade ao meu filho de ir aos jogos. Tem mudado muito, temos tido conquistas boas, mas é pouco perto do que a gente poderia ter.”

Outro ponto que foi ressaltado pela secretária da Pessoa com Deficiência durante a entrevista foi com relação à acessibilidade, que, segundo ela, vai muito além da mobilidade. “Quando se fala em pessoa com deficiência ou acessibilidade, a primeira coisa que vem à cabeça das pessoas é a acessibilidade arquitetônica. Isso é desafio muito difícil. Nos prédios novos é garantido por lei que se tenha acessibilidade, mas existem muitas construções antigas que preferem, por exemplo, ter calçada com muito mais grama do que uma passagem para uma pessoa cega ou cadeirante trafegar. Então, precisa de conscientização cultural também das pessoas para que quando possam fazer, não apenas uma responsabilidade do poder público, mas de todos. Acho muito difícil solução 100%, mas têm que ser feitas, por exemplo, rotas acessíveis, planejar edificações com acessibilidade. Além disso, acessibilidade não é só arquitetônica, mas na atitude, na comunicação. Por exemplo, chega perto de pessoa cega, a primeira coisa a fazer é se identificar. As pessoas precisam conhecer as atitudes de acessibilidade. Não parar na vaga estabelecida para a pessoa com deficiência, porque aqueles cinco minutinhos atrapalham. E hoje a acessibilidade digital é tão importante quanto a arquitetônica, porque as pessoas têm várias ferramentas que facilitam extremamente para elas, como leitores de tela, handtalk para surdos e muitas outras. O Grande ABC, assim como a cidade de São Paulo, tem muitas barreiras para encarar. Não é fácil. Mas se não tiver vontade pessoal e as pessoas se conscientizarem, não vai acontecer”, ressaltou Silvia Grecco.

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Professora de SP inspira aluna cega a seguir sua mesma profissão: ‘Meus alunos têm direito a tudo’

Por Gabriel Pietro para o razoesparaacreditar.com

Há mais de dez anos, a professora Valéria Freitas da Silva Vilanova é responsável por acompanhar alunos com deficiência visual, intelectual, auditiva, entre outras, na escola onde trabalha, em Campinas (SP).

Para ela, educar é uma missão para garantir o aprendizado e a inclusão deste grupo de estudantes. Mais do que isso, ela tem inspirado os alunos, como uma menina que, aos 11 anos, deseja seguir na mesma profissão de Valéria por conta da amizade com a docente.

No Dia do Professor, comemorado no dia 15 de outubro, Valéria, 39 anos, contou ao portal G1 que ensina para 39 crianças com idades entre 6 a 14 anos na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Oziel Alves Pereira, na periferia da cidade paulista.

Para Emilly Raquel Franco, uma de suas alunas, a professora é sua referência em todos os sentidos, inclusive o profissional. Ela se diz “decidida” a seguir a profissão de Valéria, apesar da pouca idade.

Educação especial

Valéria acredita que sua boa atuação na escola funciona a partir do equilíbrio entre as esferas das famílias, da instituição de ensino e das crianças. Ela atende alunos com dificuldades de locomoção, paralisia cerebral e Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Para que o aprendizado ocorra, todas essas engrenagens precisam caminhar juntas.

“A educação especial mudou minha vida, me fez vê-la de outra forma. Aprendi com as famílias e professores que já estavam nessa área, mas principalmente com as crianças. É lindo ver como eles têm potencial e são extremamente capazes de avançar, aprender e conquistar. Me fez acreditar ainda mais nessa profissão. Meus alunos têm direito a tudo”, explicou.

A educadora leciona para Emilly há seis anos, e conta estar cada vez impressionada com a altivez da pequena. “Minha carreira ficou completa ao ouvir isso”, destacou Valéria, sobre a vontade da aluna “em ser como ela”.

Para Maria da Cruz Pinheiro Franco Assunção, mãe de Emilly, a menina se desenvolveu muito desde que ingressou na escola, tanto nos estudos quanto nas relações de amizade. “Confio muito no trabalho da Valéria, ela é um anjo que entrou na vida da minha filha. Uma segunda mãe”, apontou.

Desenvolvimento pessoal

O processo de aprendizado de Emilly é acompanhado por Valéria desde o início do ensino fundamental. Nos últimos 6 anos, ela construiu um vínculo especial com a aluna, que agora cursa o 6º ano.

“Ela chegou no primeiro ano marcando presença e reivindicando seu espaço. Acompanhei todo o processo de alfabetização da Emilly e no começo ela não queria usar o braille. Aos poucos fomos ajudando ela com a construção de sua identidade e as adaptações.”

A menina se adaptou com relativa rapidez ao cotidiano escolar, graças em parte à boa relação com os colegas. “Alguns meses depois que chegou na escola, ela contou que onde estudava os colegas não brincavam com ela, que a discriminavam com apelidos pejorativos. E disse que gostava muito de onde estava agora porque tinha amigos que a chamavam de linda. Logo que ela chegou, comecei a chamá-la de ‘Emilinda’ e o apelido pegou entre os colegas”.

Mais do que ser uma professora, Valéria se considera uma “articuladora” que media as relações entre as crianças e seus variados graus de deficiência, criando um senso de grupo na turma.

“O preconceito não vêm com as crianças, muitas vezes é um reflexo dos adultos que estão a sua volta. Quando uma criança vê as outras acolhendo um aluno com deficiência, ela entra nesse movimento”, relatou.

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Há, no mundo, quase 240 milhões de crianças com deficiência, revela análise mais abrangente já realizada pelo UNICEF

Novo relatório do UNICEF expõe a profundidade da privação vivida por uma em cada dez crianças com deficiência em todo o mundo em vários indicadores de bem-estar, incluindo saúde, educação e proteção

unicef.org

Jorge (à direita), que tem síndrome de Down, frequenta a escola pública em San Miguelito, Cidade do Panamá, onde a educação inclusiva é obrigatória, permitindo que crianças com e sem deficiência estudem juntas em um ambiente de aprendizagem compartilhado / UNICEF/UN0425663/Sokol

Nova Iorque, 10 de novembro de 2021 – O número de crianças com deficiência em todo o mundo é estimado em quase 240 milhões, de acordo com um novo relatório do UNICEF. Crianças com deficiência estão em desvantagem em comparação com crianças sem deficiência na maioria das medidas de bem-estar infantil, diz o relatório.

"Esta nova pesquisa confirma o que já sabíamos: as crianças com deficiência enfrentam desafios múltiplos e muitas vezes complexos na realização de seus direitos", disse a diretora executiva do UNICEF, Henrietta Fore. "Do acesso à educação à leitura em casa, as crianças com deficiência têm menos probabilidade de ser incluídas ou ouvidas em quase todas as medidas. Com muita frequência, as crianças com deficiência são simplesmente sendo deixadas para trás".

O relatório inclui dados comparáveis internacionalmente de 42 países e cobre mais de 60 indicadores de bem-estar infantil – de nutrição e saúde a acesso a água e saneamento, proteção contra violência e exploração, e educação. Esses indicadores são desagregados por tipo de dificuldade funcional e gravidade, sexo da criança, situação econômica e país em que vive. O relatório deixa claras as barreiras que as crianças com deficiência enfrentam para participar plenamente em suas sociedades e como isso geralmente se traduz em resultados sociais e de saúde negativos.

Em comparação com crianças sem deficiência, crianças com deficiência têm:

  • 24% menos probabilidade de receber estimulação precoce e cuidados responsivos;
  • 42% menos probabilidade de ter habilidades básicas de leitura e numeramento;
  • 25% mais probabilidade de sofrer de desnutrição aguda e 34% mais probabilidade de sofrer de desnutrição crônica;
  • 53% mais probabilidade de apresentar sintomas de infecção respiratória aguda;
  • 49% mais probabilidade de nunca ter frequentado a escola;
  • 47% mais probabilidade de estar fora do ensino fundamental I, 33% mais probabilidade de estar fora do ensino fundamental II e 27% mais probabilidade de estar fora do ensino médio;
  • 51% mais probabilidade de se sentir infelizes;
  • 41% mais probabilidade de se sentir discriminadas;
  • 32% mais probabilidade de sofrer castigos corporais severos.

No entanto, a experiência da deficiência varia muito. A análise demonstra que existe um espectro de riscos e resultados dependendo do tipo de deficiência, onde a criança mora e quais serviços ela pode acessar. Isso destaca a importância de projetar soluções direcionadas para lidar com as desigualdades.

O acesso à educação é um dos vários assuntos examinados no relatório. Apesar do amplo consenso sobre a importância da educação, as crianças com deficiência ainda estão ficando para trás. O relatório constatou que crianças com dificuldade de comunicação e de cuidar de si mesmas são as que têm maior probabilidade de estar fora da escola, independentemente do nível de escolaridade. As taxas de crianças e adolescentes fora da escola são mais altas entre crianças com deficiências múltiplas e as disparidades tornam-se ainda mais significativas quando a gravidade da deficiência é levada em consideração.

"A educação inclusiva não pode ser considerada um luxo. Por muito tempo, as crianças com deficiência foram excluídas da sociedade de uma forma que nenhuma criança deveria ser. Minha experiência de vida como mulher com deficiência apoia essa afirmação", diz Maria Alexandrova, 20 anos, uma jovem defensora da educação inclusiva do UNICEF na Bulgária. "Nenhuma criança, especialmente as mais vulneráveis, deveria ter que lutar sozinha por seus direitos humanos básicos. Precisamos de governos, partes interessadas e ONGs para garantir que as crianças com deficiência tenham acesso igual e inclusivo à educação".

O UNICEF trabalha com parceiros em nível global e local para ajudar a realizar os direitos das crianças com deficiência. Todas as crianças, incluindo aquelas com deficiência, devem ter uma palavra a dizer nas questões que afetam sua vida e ter a oportunidade de realizar seu potencial e reivindicar seus direitos. O UNICEF está pedindo aos governos para:

  • Proporcionar oportunidades iguais às crianças com deficiência. Os governos devem trabalhar junto com as pessoas com deficiência para eliminar as barreiras físicas, de comunicação e de atitude que as mantêm fora da sociedade e garantir o registro de nascimento; serviços inclusivos de saúde, nutrição e água; educação equitativa; e acesso a tecnologias assistivas. Eles também devem trabalhar para erradicar o estigma e a discriminação nas comunidades.
  • Consultar pessoas com deficiência e considerar toda a gama de deficiências, bem como as necessidades específicas das crianças e suas famílias, ao fornecer serviços inclusivos e educação de qualidade equitativa. Isso inclui políticas de cuidado responsivo e favoráveis à família, saúde mental e apoio psicossocial e proteção contra abuso e negligência.

A análise visa aumentar a inclusão de um em cada dez crianças e jovens com deficiência em todo o mundo, garantindo que sejam contados, consultados e considerados na tomada de decisões.

A nova estimativa global para o número de crianças com deficiência é maior do que as estimativas anteriores e se baseia em uma compreensão mais significativa e inclusiva das deficiências, que considera as dificuldades em vários domínios da funcionalidade, bem como os sintomas de ansiedade e depressão.

"A exclusão costuma ser consequência da invisibilidade", disse Fore. "Há muito tempo não temos dados confiáveis sobre o número de crianças com deficiência. Quando deixamos de contar, considerar e consultar essas crianças, não estamos ajudando-as a atingir seu vasto potencial".

quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Inclusão como premissa

Mineiras criam marca para valorizar trabalho de portadores de necessidades especiais

Isabela Teixeira da Costa para o Estado de Minas

As amigas Anna Paula Costa e Cynthia Jaber tinham um sonho de abrir um negócio juntas, que de certa forma unisse a expertise das duas. Ana Paula é educadora, e Cynthia, representante têxtil. Depois de anos conversando, a ideia só surgiu em outubro de 2020, em meio à pandemia. Criar uma marca que usasse como matéria-prima a arte de pessoas especiais. Assim nasceu a Pim Estilo. Em 45 dias tudo estava pronto e no lançamento toda a coleção se esgotou. Um ano depois, a dupla lança a terceira coleção e o desafio é encontrar novos artistas.

A intenção de abrir um negócio juntas já existia. Em setembro de 2020, a primeira ideia era abrir uma empresa que trabalhasse com tecido de qualidade e preço acessível (expertise de Cynthia). Anna Paula, mulher de muita personalidade, sempre foi muito decidida, com estilo bem definido e muito determinada, e como compradora sempre soube o que queria. Anna Paula é psicóloga e pedagoga, começou como professora na educação infantil, no Pitágoras, e chegou ao cargo de diretora. É autora de inúmeros livros e capacitou centenas de milhares de professores em todo do país. Desde criança, sempre teve muito contato com crianças com síndrome de Down porque sua avó trabalhou com Helena Antipoff, e foi a primeira pedagoga formada no Brasil, e montou em Belo Horizonte o Instituto de Reeducação Santa Terezinha, para trabalhar com os portadores da síndrome de Down, “e todos os sábados tinha apresentação das crianças para seus pais e nós íamos. Desde pequena convivo com essas crianças. Elas são muito amorosas, algumas mais agressivas, mas me acostumei e convívio muito bem com elas desde os meus 4 anos. Quando Cynthia veio com a ideia sabíamos que queríamos uma moda de qualidade, diferente, mas ainda não sabíamos o que era”.

Leia a matéria completa em o Estado de Minas

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Autismo severo é desafio para famílias

Lidar com pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) em grau avançado requer suporte profissional para melhor qualidade de vida dos autistas e suas famílias

abcdoabc.com.br

Desafios com habilidades sociais, comportamentos repetitivos e comunicação por vezes não verbal. Esses são alguns dos ponto

s que caracterizam o Transtorno do Espectro Autista (TEA), que, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), afeta uma em cada 160 crianças no mundo, trazendo desafios para as famílias que, em muitos casos, precisam do apoio profissional. Em Betim, cidade da Região Metropolitana de Belo Horizonte, existe uma instituição que é referência nos cuidados a indivíduos adultos com a condição, o Centro Especializado Nossa Senhora D’ Assumpção, conhecido popularmente como CENSA Betim, que atua há 57 anos recebe pessoas de todo o país.

De acordo com a psicóloga e diretora da instituição, Natália Costa, o primeiro passo para que as famílias possam lidar com o indivíduo com TEA é entender as suas especificidades. “Muitas pessoas não sabem, mas o autismo é uma condição do neurodesenvolvimento que pode ser identificado na infância para iniciar a estimulação precoce para ajudar o desenvolvimento do individuo. A situação afeta a comunicação e pode comprometer até mesmo a capacidade da criança de aprendizado, além da sua adaptação a ambientes e situações diferentes daquelas que está habituada”, explica.

Segundo Natália Costa, as causas são multifatoriais, sendo mais importante o diagnóstico funcional do que o etiológico. “Alguns estudos consideravam o transtorno como resultado de dinâmica familiar problemática e de condições de ordem psicológica alteradas, mas isso foi uma hipótese que se mostrou totalmente errônea. A tendência atual é admitir que existem múltiplas causas para o autismo, entre eles eu cito os fatores genéticos, biológicos e os ambientais. O diagnóstico pode trazer sofrimento para a família, principalmente se ele não vier acompanhado de um apoio, informações e orientações acerca do que é o TEA e quais características a criança apresenta em maior ou menor grau. Lembro ainda, que é necessário verificar se há prejuízo ou não para as características apresentadas e por fim, estabelecer as linhas de intervenção, bem como a composição da equipe multiprofissional que vai atuar no caso”, completa.

Para que seja determinado o grau de TEA, algumas características são observadas. Pessoas com autismo leve (grau 1), se mostram mais autônomas nos diversos contextos do dia a dia, alcançando independência. Geralmente compreendem e cumprem regras e rotinas de casa com autonomia, vão driblando as dificuldades, estudam, trabalham e podem constituir família. Já os indivíduos com autismo moderado (grau 2), demandam mais apoio para se socializar, pois tendem a apresentar pouca iniciativa para interagir. Já no autismo severo (grau 3), os indivíduos apresentam dificuldades mais acentuadas e maiores comprometimentos, tendo iniciativa muito limitada e grande dificuldade para conversar e expressar o que desejam. Nesses casos a comunicação é mínima e pode haver comprometimento da fala e para expressar, precisando da ajuda de um mediador. È comum que o autismo venha acompanhado de deficiência intelectual e epilepsia. Nessas situações, o quadro clínico é mais desafiador.

Mesmo assim, Natália Costa salienta que o autismo não é uma condição inalterável, sendo totalmente possível que uma pessoa avance em relação ao estágio inicial. Assim, elas podem sair do grau grave para o moderado ou até passar a apresentar traços levíssimos, que é chamado de 'caminhar no espectro'. “O avanço vai depender da intervenção e dos estímulos que a pessoa receber. O avanço só se dará se a frequência, a intensidade e qualidade desses estímulos forem adequadas, além da faixa etária em que começarem a ser introduzidos e da articulação entre os contextos. Ou seja, quanto mais cedo a estimulação precoce, principalmente nos primeiros anos da infância, quando o cérebro está aberto a mudanças, mais possibilidades a pessoa tem de se desenvolver”, completa a psicóloga.

Independente do grau de autismo da pessoa, a intervenção para a busca de melhores resultados se torna indispensável, mas, Natália Costa lembra que as pessoas que estão no grau 3, associado a deficiência mental e intelectual, precisam ainda mais. “Estes indivíduos precisam de suporte profissional, porque geralmente são dependentes, principalmente para realizar as atividades da vida diária, como ir sozinho ao banheiro, alimentar-se e higienizar-se. Elas precisam de apoio para a maior parte das tarefas, até porque, costumam se isolar”, salienta.

Para a diretora do CENSA Betim, o suporte se estende, também, para as famílias, que muitas vezes têm dúvidas de como lidar. “Além do acompanhamento profissional, como o que fazemos, é importante a participação dos pais nos cuidados e na interação cotidiana com esses indivíduos, de maneira que promovam habilidades de relação social, administrem problemas de comportamento e ensinem atividades de vida diária e comunicação. No caso da comunicação, o fonoaudiólogo é indicado para melhorar as habilidades de fala, a terapia ocupacional e a pedagogia para promover melhores práticas de ensino-aprendizagem, a psicologia para aumentar o repertório de comportamentos socialmente habilidosos e a fisioterapia para melhorar as questões motoras e de equilíbrio. Um exemplo é o nosso trabalho aqui no CENSA, que é desenvolvido por uma equipe transdisciplinar, que visa atuar em todos os aspectos necessários para o acompanhamento e desenvolvimento do educando, o que, consequentemente, reverbera em melhora da qualidade de vida para ele e sua família”, conclui Natália Costa.

Fonte: CENSA Betim

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Uso do lúdico na educação especial na busca de integração: formação do aluno com necessidades especiais no ensino regular

 Jucelene Kade  para o Jornal Tribuna

Brincar é tão importante para o desenvolvimento ideal da criança que foi reconhecido pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos como um direito de todas as crianças. Este direito de nascença é desafiado por forças que incluem o trabalho infantil e práticas de exploração, guerra e violência na vizinhança, e o recursos limitados disponíveis para crianças que vivem na pobreza.

Neste sentido, é possível perceber que, ainda, embora muito necessários, pouco se faz uso do recurso do lúdico na formação de crianças (especiais e comuns) dentro do processo de ensino-aprendizado integrativo e regular no Brasil. Dentro desta visão, este artigo busca elencar a importância da atividade lúdica, através dos jogos, dentro da Educação Especial e Inclusiva. Como metodologia, utilizou-se uma revisão narrativo-exploratório.

Já como conclusão, notou-se que a ludicidade está ligada ao desenvolvimento motor bem como desenvolvimento social da criança, especial ou não, melhorando, sobretudo, o aprendizado e a atenção, o que acaba por propiciar maiores resultados no processo de ensino-aprendizagem integrado.