quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

Como ajudar crianças autistas a lidar com fogos de artifício

Pessoas com Transtorno do Espectro Autista podem ter hipersensibilidade da visão e da audição

liberal.com.br

Não minimize o incômodo da pessoa com autismo, valide o sentimento dele e busque ajudar o melhor possível – Foto: Divulgação

Todo final de ano a cena é semelhante: uma enorme queima de fogos de artifício toma o céu, deixando tudo muito colorido, mas também fazendo muito barulho. Para muitos, é uma tradição dos festejos que anima as comemorações.

Contudo, não é da mesma forma para a maioria das pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA), pois estas podem ter hipersensibilidade da sua visão e da sua audição.

Mesmo este ano, com os impedimentos em função da pandemia, muitas famílias e estabelecimentos particulares manterão a tradição, o que pode ser até pior, já que o que antes acontecia em locais mais específicos, como parques e praias, agora deve ser realizados em áreas acostumadas ao silêncio noturno.

“As festas de final de ano são difíceis para muitas famílias de crianças com autismo. São crises de choro, irritabilidade, medo, agressividade e desregulação que se tornam complicadas. Essas dificuldades da pessoa com TEA acontecem porque um dos critérios diagnósticos do transtorno é a hipersensibilidade sensorial aos estímulos do ambiente. Para algumas pessoas uma buzina do carro pode causar pânico, assim como várias pessoas conversando em um ambiente fechado causa irritabilidade”, explica a neuropsicóloga Bárbara Calmeto, diretora do Autonomia Instituto.

Uma das formas de amenizar o problema é realizar um trabalho integrado com psicólogos por meio da dessensibilização sistematizada (aproximação devagar aos estímulos externos) e de estimulação sensorial com os Terapeutas Ocupacionais. Esses profissionais devem treinar os pais para contextualizar os estímulos externos que vão aparecer e generalizar para outros ambientes. Mas assim como qualquer terapia, ela demanda tempo para dar os resultados esperados.

“É importante ajudar a criança com TEA a passar com essa data de maneira menos sofrida e que as pessoas ao redor possam colaborar e compreender as necessidades dela. Não minimize o incômodo da pessoa com autismo, valide o sentimento dele e busque ajudar o melhor possível. Faça as técnicas adequadas para apoio e seja empático”, afirma Bárbara Calmeto.

Porém, outras ações podem fazer parte da rotina as famílias, independentemente das terapias, que são fundamentais. A seguir, Bárbara pontua outras dicas que podem ajudar a minimizar os efeitos dos barulhos e das luzes de Ano Novo:

  • Dê previsibilidade à pessoa com TEA, explicando o motivo e o momento que as pessoas soltam fogos (chegada de um novo ano);
  • Treine uma dessensibilização gradual antes da data – mostre imagens e vídeos de fogos e festas de Ano Novo. Deixe o vídeo sem áudio e aos poucos, vá aumentando para a criança entender o barulho;
  • Use dicas visuais explicando o que vai acontecer, que vai durar um tempo e que depois vai acabar. Explique também o que vocês vão fazer de ação efetiva para minimizar o barulho (dê essa previsibilidade);
  • Use fones de ouvido grandes de concha (aqueles que cobrem toda a orelha) para abafar o som externo. Pode-se também deixar a pessoa com TEA ouvindo música ou assistindo a um vídeo preferido;
  • Retire a pessoa com TEA das aglomerações para diminuir o risco de outras variáveis que possam incomodar, como abraços, gritos de alegria etc.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

Natal e crianças com autismo: como tornar a celebração mais confortável para elas?

 twinkl.com.br

Com o fim do ano se aproximando, ficam cada vez mais evidentes os sinais da chegada do Natal: os enfeites de luzinha, a decoração em tons de vermelho e branco, as árvores enfeitadas com bolinhas, as guirlandas, os sinos e as músicas temáticas. No supermercado, as prateleiras e freezers são invadidos por panetones e perus. Tudo muda, e para os pais de crianças com autismo esta época do ano pode se tornar bem estressante. Não por causa dos filhos, mas sim pela falta de compreensão de quem os cerca. 

Por isso, nós da Twinkl fomos em busca de informações que podem ajudar a tornar a celebração mais confortável para as crianças autistas. Se você é pai, mãe, tio, primo, avô, avó ou amigo de alguém com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), leia estas dicas e faça sua parte. E, se você não é, leia também - afinal, é com educação e respeito que podemos tornar o mundo um lugar mais acolhedor e inclusivo.

Preparados? Então vamos às dicas:

1 - Esqueça as fórmulas

O primeiro passo é entender que todos somos diferentes, todos temos nossas necessidades particulares, e o mesmo vale para as crianças. “Para pensarmos em um Natal mais acessível para as crianças autistas, precisamos começar não colocando todas dentro de um mesmo rótulo. Cada criança é única e a criança autista será a combinação de diferentes expressões do transtorno e a personalidade daquele indivíduo. Respeitar e entender que cada criança com autismo é também única já é em si um ato de inclusão, uma postura de respeito”, explica F. Cristina, dona do blog Mundo da Mi.

2 - Permita à criança de se autorregular

É importante aceitar que, com a mudança na rotina, é normal que as crianças aumentem seus comportamentos repetitivos. Joe Santos, do Vencer Autismo, conta: “Esses comportamentos são uma forma de as nossas crianças se autorregularem e tomarem conta de si mesmas. Permita que a criança tenha os comportamentos repetitivos. Ela está tomando conta de si, e é uma forma de a ajudar a equilibrar seu sistema nervoso. Se tiver oportunidade e disponibilidade, para além de deixar a criança ter o comportamento repetitivo, tente se juntar a ela. É uma excelente oportunidade para criar uma relação com seu filho e saber mais sobre ele. Quando nos juntamos à criança, muitas vezes conseguimos perceber por que ela tem o comportamento estereotipado. E é a melhor forma de mostrarmos que a aceitamos totalmente e que estamos ao seu lado”.

3- Respeite o tempo do seu filho

“Eventos como Natal são excelentes oportunidades para se estreitar os laços em família, fazendo com que crianças autistas criem vínculos com outros parentes com quem não estão habituadas a conviver. Autistas têm ‘prazo de validade’, ou seja, é importante observar os sinais de irritação quando o prazer da convivência der lugar a sofrimento. Muitas vezes nos desgastamos com o excesso de estímulos sensoriais ou quando expostos por muito tempo ao convívio social. Nessas horas, é importante deixar a criança se regular de outras formas e ficar mais quieta. Os pais precisam ter em mente que não é porque essas dificuldades não sejam perceptíveis que elas não causem sofrimento à pessoa autista”, esclarece Sophia Mendonça, do blog Mundo Autista.

4 - Dê previsibilidade e controle à criança

O criador do Vencer Autismo também pondera que às vezes os pais estão tão ocupados em preparar tudo que podem esquecer de avisar aos filhos sobre o que está sendo planejado, incluindo atividades e passeios: “Sabemos que as nossas crianças não adoram surpresas e que para elas o controle e previsibilidade são fundamentais. Quando você estiver planejando as férias, fale com o pequeno sobre a programação. Até para as crianças não verbais este passo é fundamental. Explique com antecedência o que vai acontecer, quando e onde vai acontecer e o que vai ser divertido para ela. Isso irá minimizar crises, comportamentos desafiantes ou resistência a participar / fazer certas coisas”.

5 - Preste atenção na alimentação

Esta é uma dica válida principalmente para aqueles que possuem uma dieta específica. “Sabemos que é época de férias e que com isso, muitas vezes vêm os doces e outros alimentos em excesso. Existe uma ligação muito forte entre alimentação e o comportamento das crianças autistas. Apesar de ser uma época especial, cair no erro de ceder a algumas tentações pode interferir no comportamento e tranquilidade dos pequenos. Há uma série de alimentos que sabemos que não vão ser devidamente processados por eles. No começo podemos não perceber o problema de deixá-los comer de tudo, mas passado algum tempo, podemos ver as crises chegando, diarreias ou constipações, comportamentos mais desafiadores, etc. Especialmente se a criança segue uma dieta sem glúten e sem caseína, é fundamental que não exista essa exceção. Vale mais não ter esses alimentos disponíveis e termos uma criança bem, saudável e tranquila”, avisa Joe.

6 - Conscientize os familiares e amigos

Cristina destaca também a importância de mostrar à família como compreender a criança. “As pessoas da família e os amigos que irão participar da festa de natal ou das reuniões em torno da data, devem ser preparados para receber sem estranheza as acomodações que talvez precisem ser feitas. Quando não avisados podem comentar sobre o stim, ou estereotipia que aquela criança talvez venha a usar para se regular frente ao excesso de estímulos, por exemplo. Ou podem não entender porque a ceia foi servida mais cedo quebrando uma tradição, mas respeitando o fato de que às vezes pode ser muito difícil para o autista entender lógicas tão subjetivas como uma hora diferente para servir o jantar em um único dia do ano, enquanto estão todos prontos e esperando justamente pelo jantar”.

Sophia destaca que o que é visto muitas vezes como ‘birra’ tem, na verdade, outra explicação: “É preciso conscientizar a família de que mau comportamento é comunicação de algum desconforto vinda de alguém que ainda não desenvolveu mecanismos para se expressar melhor”. “Em qualquer ocasião, vale falar abertamente e se possível com antecedência sobre o autismo, porque irá não apenas aumentar a conscientização tão necessária, mas irá também poupar a família dos dissabores que vêm da desinformação e que podem estragar qualquer festa”, diz Cristina.

7 - Cuidado com os presentes muito estimulantes

“Devemos avaliar se o presente que estamos pensando em dar não terá estímulos que contribuirão para um excesso de estimulação das nossas crianças”, aconselha o fundador do Vencer Autismo. “Com brinquedos mais tradicionais, como livros, carrinhos, bonecas ou trabalhos manuais, elas podem usar a sua capacidade para estimular o próprio cérebro ao invés de usar uma máquina para fazer o trabalho por elas. 

Não tenha medo de ser sincero com os familiares e ajude-os na escolha de um bom brinquedo (de preferência que não pisque nem apite). Você pode sugerir presentes que ajudem a criança, como almofadas sensoriais, areia seca, trampolim ou bolas de pilates, bolas de água, etc. Às vezes elas ficam satisfeitas com coisas bem mais simples e que, ao mesmo tempo, potencializam a interação social”.

8 - Explique as brincadeiras de amigo secreto e a figura do Papai Noel

A equipe do Jade Autism ressalta a importância de conversar sobre as brincadeiras tradicionais do Natal. “Uma das características que muitas crianças com TEA apresentam é a dificuldade com pensamentos ou fatos simbólicos e dificuldade em fazer leitura social, como interpretar sentimentos e se colocar no lugar do outro.

Normalmente o ponto de vista de uma criança com TEA é 8 ou 80, não existe meio verdade, uma coisa é certa ou é errada, o que torna a possibilidade de interpretar e simbolizar sempre difícil. Essa dificuldade pode acabar refletindo nas típicas brincadeiras de fim de ano como amigo oculto, ou amigo x como são conhecidas. Uma dica é explicar a brincadeira passo a passo, e o motivo de não se revelar quem foi o amigo tirado até o momento da brincadeira. Uma estratégia também é explorar o potencial imitativo, instruindo a criança a observar as primeiras pessoas que dão a dica do amigo que tirou e imitar quando for a sua vez.”

9 - Respeite as escolhas da criança e mantenha a rotina

"Se o  autismo do seu filho(a) for de grau leve, pergunte a ele se está confortável em participar da  atividade A ou B e respeite sua escolha. Faça o convite, mas não insista a ponto de gerar ansiedade. Nos casos moderados e graves, dê opções de escolha mais  objetivas, descrevendo uma e outra alternativa, mas mantenha  os pontos essenciais da rotina (horários de alimentação, de dormir etc) para não desencadear uma crise antes mesmo do início da confraternização; e deixe a criança com roupas confortáveis. Em todos os casos, valorize e pontue os comportamentos adequados. E lembre-se de que o autismo não tira férias.” diz Raquel Ely, idealizadora do instituto UniTEA.

10 - Prepare um cantinho calmo para o pequeno

“É muito frequente passarmos o Natal na casa de familiares, num ambiente e contexto diferentes do que a criança está habituada a estar. Nesse sentido é importante também nos prepararmos com antecedência. Pergunte à sua família se podem disponibilizar um quarto sossegado e separado para aseu filho poder ir quando precisar. A época das festas pode ser um bombardeamento sensorial para a criança, e ter esse espaço disponível poderá ajudá-la a não ficar tão sobrecarregada. Podemos designar, com antecedência, uma sala calma ou espaço onde seja possível ir para se descomprimir e acalmar. De vez em quando, pode ser útil levarmos a criança para este espaço e passar algum tempo lá com ela”, explica Joe.

  • Vale lembrar que estas dicas podem e devem ser adaptadas de acordo com a singularidade de cada criança. E o mais importante: valorize o que importa. Como relata Joe, “muitas vezes queremos que tudo saia às mil maravilhas. Queremos ter os presentes perfeitos, a decoração perfeita e que tudo corra superbem. Mas a verdade é que estes momentos são uma boa oportunidade para olhar para o seu filho e fazer o que faz sentido para ele e para vocês, sem pressão para fazer igual aos outros. É uma excelente oportunidade para celebrar a singularidade da criança e fazer um Natal único, do jeito de vocês”.


sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

Autismo: 1 em cada 44 crianças de 8 anos são diagnosticadas no espectro, segundo CDC

Novo relatório aponta que houve um aumento na taxa de prevalência, que passou de 1,9% para 2,3% das crianças nessa faixa etária

revistacrescer.globo.com

Os meninos tiveram uma probabilidade quatro vezes maior de serem diagnosticados com autismo do que as meninas (Foto: Mikhail Nilov/Pexels)

Uma em cada 44 crianças de 8 anos de idade foi identificada com o Transtorno do Espectro Autista (TEA), de acordo com uma análise de dados de 2018 divulgada pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, no início de dezembro.

O valor é superior à estimativa anterior, publicada em março de 2020, quando a prevalência encontrada era de 1 em cada 54 crianças de 8 anos. Houve, portanto, um salto na taxa, que passou de 1,9% para 2,3%. Esse aumento é atribuído ao melhor acesso a intervenções precoces que resultam em identificação mais abrangente da condição.

“O progresso substancial na identificação precoce é uma boa notícia porque quanto mais cedo as crianças são diagnosticadas com autismo, mais cedo elas podem ser conectadas a serviços e suporte”, afirmou Karen Remley, diretora do Centro Nacional de Defeitos Congênitos e Deficiências de Desenvolvimento do CDC. “Acessar esses serviços em idades mais jovens pode ajudar as crianças a ter um melhor desempenho na escola e a ter uma melhor qualidade de vida”, acrescentou.

Para chegar a essa conclusão, o CDC coletou dados de 11 comunidades da rede de Monitoramento de Deficiências de Desenvolvimento e Autismo (ADDM, na sigla em inglês), incluindo Arizona, Arkansas, Califórnia, Geórgia, Maryland, Minnesota, Missouri, Nova Jersey, Tennessee, Utah e Wisconsin. Embora esses estados não sejam uma amostra representativa de toda a população dos Estados Unidos, os pesquisadores rastrearam as mudanças na prevalência do autismo nessas áreas desde 2000 para compreender o desenvolvimento do transtorno ao longo do tempo.

Variações nas taxas por região, raça e gênero

O levantamento apontou que as taxas de autismo variaram muito nos Estados Unidos. A Califórnia teve a maior taxa de incidência, com 1 em cada 26 crianças (3,9%) de 8 anos recebendo o diagnóstico. Já Missouri teve o valor mais baixo, com 1 em cada 60 crianças (1,7%) nessa faixa etária sendo avaliada com o transtorno.

Além disso, também foram descobertas algumas diferenças quanto ao gênero e a raça. Entre os pequenos de 8 anos, os meninos tiveram uma probabilidade quatro vezes maior de serem diagnosticados com autismo do que as meninas. Já entre negros, brancos e asiáticos, a prevalência do transtorno foi semelhante, no entanto menos crianças hispânicas foram identificadas com autismo do que as negras ou brancas.

Os dados também mostraram que cerca de um terço (35,2%) das crianças com diagnóstico de autismo também tinham deficiência intelectual. Essa porcentagem foi maior entre as negras (49,8%), quando comparadas às brancas ou hispânicas. De acordo com o relatório, mais estudos são necessários para entender por que essa disparidade continua existindo. Mas, de maneira geral, as variações nas taxas de incidência podem estar relacionadas ao acesso a serviços que identificam e dão suporte a crianças com autismo e suas famílias.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Escritora utiliza histórias infantis para trabalhar inclusão de pessoas com deficiência

Em mais recente publicação, autora aborda o tema de crianças com nanismo

R7.com

Livro de estreia de Celina na literatura infantil foi “Bruna, uma amiga Down mais que especial” DIVULGAÇÃO

Em uma tradução livre, a inclusão social diz respeito a “enxergar o mundo em todas as perspectivas, permitindo a liberdade e boas condições de convivência para todos”. Na realidade, no entanto, isto está longe de acontecer porque boa parte dos espaços nem sempre é acessível a todos os públicos, como para as pessoas com deficiência, que no Brasil representa cerca de 25% da população. Mesmo com um número elevado de deficientes físicos no país, falta representatividade para essas pessoas em diversos meios sociais e culturais, entre eles, a literatura.

Essa realidade sempre incomodou a professora e escritora carioca Celina Bezerra. “Ainda na infância, quando encontrava uma criança com deficiência, muitas vezes ouvia de adultos, ‘não fica olhando’ ou ‘para de olhar, que a criança vai ficar encabulada...’ e, na realidade, eu só queria ir lá e brincar, conversar, interagir. Eu não me importava se ela era cadeirante ou se era uma criança com Síndrome de Down. Só queria estar com ela. Isto era uma grande interrogação para mim e eu trouxe essa indagação para a vida adulta”.

Após cursar a faculdade de Letras e se especializar em Educação Inclusiva e em Educação da Infância com Ludicidade, a escritora usou a indagação da infância para ilustrar histórias infantis com personagens diversos que giram em torno da inclusão. “Decidi, então, escrever para a parcela da população infantil que tinha pouca ou nenhuma representatividade na literatura infantil: as crianças com deficiência ou características especiais”, justifica a educadora que mora na Bahia há duas décadas.

Formada em Letras e pós-graduada em Educação Inclusiva e em Educação da infância com Ludicidade, Celina tem se destacado na cena literária pela escrita necessária dedicada às temáticas da diversidade e inclusão.  O mais novo livro é “O pequeno grande Tião, o menino com nanismo”, que acaba de chegar ao mercado com o selo da série Amigos Especiais da Editora InVerso e ilustrações assinadas por Kitty Yoshioka. Tião não sabia o que era Bullying até que precisou se mudar com a família para uma outra cidade, onde foi recepcionado por olhares curiosos, gargalhadas e até piadas. “Por ter sido criado em uma comunidade que o aceitava, Tião conseguiu enfrentar a situação. Se não fosse seguro de si, poderia se fechar para o mundo como acontece com muita gente”, avalia a autora.

O livro de estreia de Celina na literatura infantil foi “Bruna, uma amiga Down mais que especial”, lançado em 2017. Dois anos depois, “Sabrina, a menina albina” ganhava os holofotes. Em 2021, Charles, a estrela autista chegava ao mercado. “Tenho 12 temáticas listadas para escrever. Ainda pretendo lançar livros com personagens que representem crianças com deficiência auditiva, visual, paralisia cerebral”, lista a autora cujas obras literárias podem ser adquiridas nas livrarias, no site da editora (www.editorainverso.com.br) ou nas suas redes sociais @celina_bezerra.

Para a autora, a dedicação em escrever histórias em que deficientes físicos e intelectuais são protagonistas é mais uma de forma de diminui o foco da limitação e evidenciar suas potencialidades. “Gosto de, através das minhas histórias, quebrar paradigmas e contribuir para que as pessoas olhem, não para as deficiências, mas sim para as potencialidades do outro”, conclui Celina.

Fonte: Agência Educa Mais Brasil

sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Personagens com deficiência em livros é realidade na literatura em tempos de inclusão

Literatura infanto-juvenil pode ser utilizada como instrumento para a sensibilização da consciência de crianças ao universo PCD

terra.com.br 
 
 
Dados levantados em 2019 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que pelo menos 45 milhões de pessoas têm algum tipo de deficiência, o que representa quase 25% da população. Segundo a Coordenação Geral de Saúde da Pessoa com Deficiência "pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas". Sendo uma parcela considerável dos brasileiros considerados PCDs (pessoas com deficiência), cada vez mais é possível encontrar representatividade desse grupo na literatura.
 
Personagens, sendo muitos protagonistas, estão presentes na literatura atual de forma politicamente correta. No artigo "A Representação da Deficiência em Narrativas Ficcionais: Um Estudo Comparado Sobre as Diferenças na Literatura", de Rosangela Marcilio Bogoni, a autora cita que seu primeiro contato com um PCD na literatura clássica mostrava uma pessoa dita como sem utilidade e de forma negativa, o que era muito comum. Mas muito mudou nas últimas décadas e hoje inclusive há uma vertente que mostra a representação da deficiência na literatura infantojuvenil nos tempos de inclusão.

"A inclusão de pessoas com deficiência e a garantia de todos os direitos está prevista na Constituição do Brasil. Porém, mais do que incluir as pessoas com deficiência em todos os espaços da sociedade, é necessário reflexão e mudança de comportamento. Uma maneira de fazer isso é levar o tema para a infância ou para o início da juventude", comenta.

Literatura de inclusão

O artigo "A Representação da Deficiência na Literatura Infanto-Juvenil nos Tempos de Inclusão", de Lucélia Fagundes Fernandes Noronha, afirma que "pensando na leitura como fonte de conhecimento, e no livro como a interface entre o leitor e as ideias ali contidas, a literatura infantojuvenil pode ser um canal de formação e informação das crianças e jovens, entretanto, se essas histórias representarem a deficiência com elementos explícitos e implícitos geradoras, propiciadoras e solidificadores de estereótipos e preconceito com relação à deficiência, não estarão condizentes com o momento em que se vislumbra a inclusão escolar e social da pessoa com deficiência". Assim, destaca que um dos caminhos necessários é cuidar das informações que chegam às crianças a respeito da deficiência pelos produtos culturais, sendo a literatura infantojuvenil muito importante, já que é extremamente presente na vida de crianças tanto dentro quanto fora da escola.

A pesquisadora salienta que a "literatura Infantojuvenil, por iniciar o homem no mundo literário, pode ser utilizada como instrumento para a sensibilização da consciência, para a expansão da capacidade e interesse de analisar a sociedade e principalmente as relações socioafetivas. Sendo fundamental mostrar que a literatura deve ser encarada, sempre, de modo global e complexo em sua ambiguidade e pluralidade".

Segundo Débora Gimene, psicóloga, as histórias são importantes para o desenvolvimento infantil, pois com elas as crianças podem criar um mundo mágico e simbólico e podem elaborar instrumentos e formas de lidar com suas questões individuais, com suas dificuldades, medos, emoções e sentimentos. "As histórias auxiliam na construção de valores e de habilidades emocionais e sociais, além de contribuir para formação cultural. Poder se identificar com um protagonista é algo enriquecedor e todo mundo deveria ter essa oportunidade", comenta. Ela comenta que esse é um tema muito importante para si, já que trabalha diretamente com pacientes PCDs e possui integrantes na família que são. Sua mãe é deficiente física e sua filha possui uma rara síndrome. "Tudo isso certamente me tornou uma pessoa mais empática e atenta a detalhes de inclusão e me mostra o poder da dedicação e da valorização das diferenças. E com certeza a literatura não deve ter representatividade relacionada apenas a pessoa com deficiência, mas toda a sociedade, não apenas parte dela", destaca.

Literatura infantil

Vivian Costa, enfermeira, tem contato constante com pacientes PCD. E foi esse convívio diário que a levou a escrever "Viva! Viva Javali!", seu primeiro livro e que foi publicado pelo selo infantil da Editora Albatroz, a Albatrozinho. "Acredito que o futuro depende da leitura de mundo que cada criança constrói ou se sente estimulada a construir. Assim, o relato de tantas pessoas, grandes e pequenas, me desafiaram a propor uma leitura crítica em torno de uma realidade social que existe e precisa ser mudada", conta.

Focado na inclusão, em "Viva! Viva Javali!" o leitor conhece Leo, um garoto numa cadeira de rodas, e Javali, seu cachorro e amigo fiel. Vivian Costa fala, de maneira lúdica e criativa, nas páginas do livro sobre como muitas pessoas têm visão errada de PCD. O personagem em certo momento conta que ninguém acreditava que ele já pudesse ler só porque não podia caminhar. No enredo Leo e Javali sempre brincaram juntos, mas outras crianças não queriam estar com eles. "Léo então entendeu que não era preciso ter as mesmas capacidades para poder se divertir com crianças da sua idade. E a molecada aprendeu algo ainda mais importante: aceitar novos amigos não é só uma questão de respeito e educação, é também acrescentar às brincadeiras diárias muito mais conhecimento e emoção", diz certo trecho da obra.

Vivian Costa comenta que apesar de ter sido a sua primeira obra, não será a última, "Javali chegou para me aproximar do gênero infantil e aprender com cada leitor onde é importante melhorar, para que o propósito de construir o mundo melhor seja amplamente alcançado", explica. Além disso, escreveu um romance chamado "Sóis de Quarentena".

Para adquirir "Viva! Viva Javali", basta acessar este link para o site da Editora Albatroz.

Website: loja.editoraalbatroz.com.br

quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

Deficiência auditiva em crianças

Nathalia Schuengue para o pebmed.com.br

A identificação da deficiência auditiva em bebês é um processo desafiador. Nos primeiros meses de vida, o bebê está em processo de construção do significado de suas emoções. A partir da interação com a mãe, ou seja da percepção da fala, da expressão facial, do toque, do olhar, da forma como segura no colo, do momento da amamentação, o bebê começa a atribuir significados simbólicos às emoções que ele experimenta.

Entretanto, quando o bebê possui algum nível de perda auditiva, a percepção do mundo e das suas emoções é um pouco diferente. Os impactos da alteração auditiva pode comprometer principalmente o desenvolvimento da fala e a interação social.

Possíveis causas para a deficiência auditiva em bebês

A deficiência auditiva em bebês e crianças pode ser causada por má formação anatômica da cabeça ou pescoço; síndrome genética; Histórico familiar de perda auditiva na infância; Prematuridade; Baixo peso ao nascer; Internação em UTI neonatal; Asfixia perinatal; Infecção Perinatal ( citomegalovírus, rubéola, herpes, sífilis, Toxoplasmose, meningite), Infecção crônica de ouvido, Paralisia Cerebral; Síndrome de Down e Exposição a drogas ototóxicas.

Classifica-se como perda auditiva neurossensorial os casos em que há uma alteração nas estruturas do ouvido interno ou no nervo auditivo. As principais causas desse tipo de perda são as má formações do ouvido interno, infecções, drogas ototóxicas, exposição a sons altos. Já a perda auditiva condutiva é quando há uma alteração na transmissão do som ao ouvido médio. Casos em que são identificados alterações na transmissão do som no ouvido médio e ao longo das vias auditivas, são denominados de Perda auditiva Mista.

Atualmente, todos os bebês devem passar por uma Triagem Auditiva Neonatal, de preferência ainda na Maternidade, nas primeiras 24 a 48hs com o objetivo de identificar precocemente a presença de deficiência auditiva. Além disso, é importante que profissionais de saúde, que desenvolvem atendimento de puericultura, avaliem a função auditiva e desenvolvimento da fala, bem como estejam atentos aos sinais que eles podem apresentar de perda auditiva.

Podem sinalizar algum grau de perda auditiva, quando o bebê ou a criança:

  • não pisca na presença de sons altos;
  • não acorda na presença de sons altos;
  • não identifica a localização dos sons (a partir dos seis meses);
  • apresenta ausência da fala (a partir dos sete meses);
  • não reage a voz;
  • não atende pelo nome;
  • usa o gestual para comunicação;
  • bate a cabeça, as mãos ou pés em superfície para sentir a vibração;
  • grita;
  • pede para repetir os comandos com frequência;
  • reage melhor as expressões faciais do que aos comandos verbais;
  • evita interação social;
  • prefere brincar sozinho;
  • apresenta comportamento de irritabilidade quando não é compreendido;
  • comportamento introspectivo;

Na suspeita de deficiência auditiva, é importante que o enfermeiro investigue outros aspectos como o momento em que os pais perceberam a alteração na audição, por exemplo. Crianças menores de dois anos com o diagnóstico de deficiência auditiva possuem maior comprometimento da linguagem e interação, do que uma criança maior que ficou surda com quatro anos. Esta teve a oportunidade de conhecer os sons e estruturar uma memória auditiva.

Entender todo o contexto familiar, histórico de surdez na infância, infecções agudas e crônicas de ouvido que possam estar relacionadas, outras infecções períodos de internação em UTIneonatal, alterações genéticas, estímulos auditivos, uso de medicamentos ototóxicos, dentre outros aspectos, são fundamentais para planejar, junto a equipe multiprofissional, estratégias de estimulação e manejo da deficiência auditiva.

A gravidade da perda auditiva pode ser bem variável, podendo ser leve, moderada, severa ou até mesmo uma perda severa profunda. O manejo clínico e a modalidade terapêutica vai variar de acordo cada caso. Diversas modalidades estão disponíveis e podem ser utilizadas em associação com a terapia fonoaudiológica, como uso de aparelhos aparelhos de amplificação sono individual, implante coclear, uso de Língua Brasileira de Sinais, implante de tronco cerebral estimulação da leitura labial, etc.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

Nosso dia: somos totalmente capazes de estar em todos os lugares

 Clodoaldo Silva para o uol.com.br

Hoje é o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência. Para nós, pessoas com deficiência, esse é só mais um dia de luta, com a diferença que hoje levantamos nossas bandeiras, discutimos melhor sobre temas que têm relação com nossos direitos e reconhecimento e levamos mensagens sobre nossas capacidades para a sociedade e Estado. Hoje eu quero escrever como é ser uma pessoa com deficiência no Brasil.

Quando uma mãe fica grávida, ela jamais pensa que seu filho irá nascer com deficiência. Ela projeta que o filho nasça com saúde e sem problemas. No entanto, no Brasil, segundo o último Censo do IBGE, 24,5% da população brasileira tem algum tipo de deficiência. A primeira pancada que levamos é: Não somos crianças desejadas pela nossa família.

Nascemos e o desafio está posto. Costumo dizer que nascer foi um ato de coragem nosso. Por que o mundão aqui fora não espera pela gente não. Ser criança com deficiência no Brasil é experimentar todas as negações de direitos e mais algumas que têm relação específica conosco. Ah... é experimentar a falta de oportunidades e preconceitos nas escolas e nas ruas. É vivenciar com a palavra "coitadinho" quase todos os dias.

A gente já cresce tendo que entender nossas dificuldades, gastando mais tempo para a locomoção e sob o olhar social de que somos pessoas que não deram certo. A gente entra na adolescência cheio de traumas e, quando temos muita informação, nós vamos lutar por direitos que deveriam já estar expostos.

Somos desafiados diariamente quando temos que sair de casa e enfrentamos calçadas irregulares, não temos rampas, não temos transporte decente. Às vezes ônibus que não para, motoristas de aplicativos que recusam a chamada porque estamos na cadeira de rodas ou porque temos um cão guia. Uma luta até chegar no tratamento, na escola, no hospital, na pracinha ou em um bar. Gastamos muito tempo com tudo isso, por isso sempre precisamos nos adiantar. O nosso horário reservado sempre é maior. Temos que pensar em todos os detalhes.

Em qualquer lugar que vamos, quase todas as pessoas nos olham ou melhor olham nossa deficiência aparente. A gente pode até ser bonito, estar bem vestido, dirigir um carro legal, mas a realidade que as pessoas vão olhar para nós de um jeito diferente. E a nós cabe o desafio cotidiano de lutar por mudanças estruturais para que possamos um dia ter uma sociedade mais inclusiva e acessível.

Na vida adulta, poucas são as pessoas com deficiência que chegam nas faculdades. Muitas desistiram na caminhada que é muito cansativa, outras as famílias tiveram condições e algumas chegaram lá, com muito esforço. Não dá, em hipótese alguma, deixar de lembrar do número enorme de famílias em condição de pobreza que tem uma pessoa com deficiência em casa.

As que chegaram em um lugar privilegiado nas suas carreiras, foi fruto de toda uma batalha pessoal e não de oportunidades iguais. Muitas dessas pessoas, assim como eu, conseguem entender que elas são exemplos para outros indivíduos com deficiência e investem parte do seu tempo para demonstrar para toda uma sociedade que temos que ter garantias de direitos e que somos totalmente capazes de exercer qualquer função, só basta termos as adaptações necessárias.

Os "coitadinhos" trazidos do passado devem morrer no presente e no futuro. Não podemos mais admitir que as pessoas com deficiência se escodam nas suas casas, que elas sejam contratas para termos números no mercado de trabalho e não para exercerem suas reais funções, que mesmo sendo capacitadas, elas ocupem lugares inferiores porque possuem algum tipo de deficiência. Não queremos também ser representados nos filmes, nas novelas ou nas séries por quem não tem deficiência. Queremos ser recebidos na universidade por professores que entendam as nossas necessidades para que possamos ter o mesmo rendimento que o aluno que não tem deficiência. Não queremos que as pessoas pensem que somos assexuados. Estamos cansados de causar estranheza nos outros. Esgotados ao quadrado da falta de representatividade. Somos cidadãos, pagamos impostos, giramos a economia com nossas compras.

Parem de pensar que não podemos estar nesse ou naquele lugar. O nosso lugar é onde a gente escolhe estar. Ninguém precisa nos dizer o nosso lugar, nós queremos ocupar os espaços. Não precisamos de permissão. Somos totalmente capazes de sermos famosos, esportistas, chefes, poliglotas, médicos, enfermeiros, jornalistas, atores, políticos. Coloquem, de uma vez por todas na cabeça que somos pessoas com habilidade diversas e que podemos estar no lugar que a gente quiser. Que esse Dia Internacional da Pessoa com Deficiência seja mais um dia de luta intensa e contribua muito para que a sociedade entenda os nossos verdadeiros lugares.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

"Um lugar para todo mundo" discute barreiras no acesso à educação inclusiva

Documentário apresenta a trajetória de um casal decidido a garantir que seu filho com síndrome de Down exerça o direito de estar (e permanecer) na escola

Beatriz Gatti para o revistagalileu.globo.com

Emilio, filho de Olivier e Hilda, passa por diversas avaliações antes de ser recomendado a uma escola (Foto: Divulgação)

Enquanto para alguns pais o início da vida escolar de seus filhos é apenas uma experiência de desprendimento, para Olivier e Hilda Bernier esse processo é muito mais complexo. Por ter síndrome de Down, o filho do casal, Emilio, enfrenta um longo caminho até que consiga ter seu primeiro dia de aula, aos 3 anos. E é em torno dessa luta que gira o documentário Um Lugar para Todo Mundo, cujo lançamento acontece às 23h59 desta segunda-feira (20), no canal a cabo GNT.

Apesar de já ter trabalhado com adolescentes com deficiência como professora de educação especial no ensino médio, a porto-riquenha Hilda Bernier não tinha dimensão da importância de um ensino inclusivo até dar à luz e planejar a ida de Emilio à escola em Nova York, nos Estados Unidos, onde a família vive.

Logo após o parto, no dia 3 de maio de 2016, o médico informou o casal de que o recém-nascido apresentava algumas características físicas que poderiam estar associadas à trissomia do cromossomo 21, também conhecida como síndrome de Down. E de fato estavam.

“Eu acho que essa é a grande mágica do filme: a gente assiste e vai percebendo as coisas no mesmo momento em que ele [Olivier], enquanto cineasta e pai, também está descobrindo”, comenta Marcos Nisti, um dos produtores do filme, em entrevista a GALILEU.

“Um Lugar para Todo Mundo”: filme discute barreiras no acesso à educação inclusiva (Foto: Divulgação)

Fruto da parceria entre as produtoras Rota6 e Maria Farinha Filmes, o documentário — dirigido pelo próprio Olivier — acompanha a trajetória do casal do nascimento de Emilio até o momento de mandá-lo para a escola.

Mas não é tão simples quanto pode parecer. Embora o acesso à educação seja direito de toda e qualquer criança, cerca de metade dos mais de 100 milhões de meninos e meninas com deficiência no mundo não frequenta uma instituição de ensino, segundo estima a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Na cidade de Nova York, por exemplo, é preciso que o departamento de educação tenha criado um Programa de Educação Individualizado (PEI) para a criança. No filme, Emilio é submetido a uma série de testes e avaliações que têm como objetivo definir seu PEI e, então, recomendar em qual estilo de turma ele mais se adequa — uma classe somente com colegas com deficiência e auxiliares ou uma turma que de fato o inclua.

“É um modelo altamente excludente”, afirma a diretora de educação e cultura da infância do Instituto Alana, Raquel Franzim, sobre o que viu no filme. “Sendo a educação um direito humano, não deve haver condições para acessá-lo. A escola é um lugar de oportunidade, e não de capacidade”, argumenta a GALILEU.

Foi justamente no sentido de promover o desenvolvimento integral da criança que o Instituto Alana organizou a edição de 2018 do Videocamp Film Fund, pensado para financiar produções com impacto social no tema da educação inclusiva e selecionou a proposta de Um Lugar para Todo Mundo.

O documentário mostra que esse “lugar para todo mundo” não é utópico nem irrealizável: ele funciona muito bem em escolas públicas inclusivas em outros estados norte-americanos. Turmas regulares formadas por alunos com e sem deficiência são um sinal de benefícios para a instituição como um todo, que oferece professores mais bem preparados e melhores recursos e infraestrutura escolar.

Leia a matéria completa em revistagalileu.globo.com

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Mães de crianças com deficiência abrem empresas e aumentam renda familiar

 Rodolfo Luis Kowalski para o bemparana.com.br

 
Claudirene França e o trabalho na sua loja de doces e bolos artesanais, O Mundo Doce da Clau (Foto: Franklin de Freitas)

Quando teve seu primeiro filho, chamado Emanoel, Claudirene França não podia imaginar o quanto sua vida mudaria.

Nos primeiros anos tudo correu normalmente. O menino, conta a mãe, apresentava alguma dificuldade quando saía de casa, mas os pais, que moravam no interior do Paraná (e hoje moram em Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba), achavam que esse ‘estranhamento’ se devia ao fato do rapaz não ter muito contato com outras crianças. Foi quando decidiram ter mais um filho, para que Emanoel pudesse ter uma companhia.

Durante as consultas com a ginecologista antes do nascimento de Márcia, a nova criança, porém, a médica começou a perceber que o menino tinha algo de diferente. E quando ele tinha de seis para sete anos, finalmente foi diagnosticado com autismo. Uma notícia que, num primeiro momento, foi um choque.

“Quando ele foi pra escola começou a ter dificuldade de aprender, começou a ser estereotipado na sala de aula. Ele ficava de costas pros alunos na sala, não queria fazer educação física, depois começou a não querer ir pra escola e a se machucar”, recorda ela. “Com o laudo, tudo mudou. Fiquei com muito medo, porque [antes] achava que era só dificuldade, que uma hora tudo passaria.. Mas eu nem sabia o que era autismo, não conhecia. Não sabia de nada, nada”.

Para poder ajudar o filho, ela tomou uma decisão que muitas mães acabam tendo de tomar para cuidar de filhos com deficiência e acompanhá-los nas consultas médicas. Dessa forma, precisou parar de trabalhar fora de casa, uma decisão que, inevitavelmente, impactou na renda familiar e, para ajudar o marido, que vinha se desdobrando para dar conta das despesas, ela teve uma ideia.

“Quando parei de trabalhar fora de casa, pensei em fazer algo e sempre gostei de fazer bolo de chocolate, cenoura, e sempre fui elogiada. Aí teve uma Páscoa, ainda estava grávida da Márcia [segunda filha de Claudirene] e vendi bastante. Gostei de trabalhar, conversar com as pessoas, ganhar meu dinheiro”, conta a mãe.

Recomeço e novos sonhos — O sonho de Claudirere sempre foi pagar um tratamento alternativo pra o filho, mas a situação financeira fazia tudo parecer muito distante. Até que, em 2020, ela teve a oportunidade de participar do Programa Empreenda, uma iniciativa social e gratuita que empodera pessoas com deficiência e suas famílias, incentivando a autonomia e promovendo o desenvolvimento por meio do empreendedorismo gastronômico.

Com a capacitação, ofertada pela ASID Brasil em parceria com a Risotolândia, novas portas se abriram. Nascia “O Mundo Doce da Clau” (@omundodocedaclau), que vende doces e bolos artesanais, além de outros quitutes. Um negócio que deu tão certo que a família já cogita abrir uma loja física daqui algum tempo. Não bastasse, a nova rotina ainda tem ajudado o jovem Emanoel, atualmente com 11 anos, a evoluir ainda mais.

“O Emanoel me ajuda bastante. Faz entregas no condomínio, recepciona os clientes. Está conversando mais com as pessoas, me ajuda a vender. Ele se animou também, vejo que ele, até pelo curso, ele fala que era para nós. Vestiu a camisa mesmo, me ajuda a organizar a casa, tirar lixo, guardar a louça. Eu nem preciso pedir. Ele está desenvolvendo muito isso, de empatia, ver as necessidades das pessoas”, comemora Claudirene.

‘Antes de falar de venda, falamos sobre elas se conhecerem’
Coordenadora de projetos da ASID Brasil, Caroline Ferronato conta que o Programa Empreenda nasceu em 2019, após um estudo mostrar que nas famílias com deficiência é muito comum algum familiar deixar de atuar no mercado de trabalho para se dedicar a essa pessoa com necessidades especiais - o que acontece principalmente com as mães, que tem de levar o filho no médico, na escola e ainda dar uma atenção especial em casa, o que muitas vezes acaba sendo incompatível com a rotina que o mercado de trabalho exige.

“Ela larga o emprego, foca no filho e fica dependendo de benefícios do governo, da ajuda de familiares”, explica Ferronato. “O programa é uma oportunidade para essa família gerar renda, ter mais autonomia, empoderamento. Inclusive, a primeira coisa que fazemos no curso é atuar com psicólogos, trabalhar a questão de autoconhecimento mesmo. Antes de falar de venda, negociação, falamos sobre elas se conhecerem”, explica.

Via de regra, quando começam a participar do programa as mães são muito tímidas, reservadas.

Quando questionadas sobre o que são ou o que querem, por exemplo, sempre colocam os filhos na frente delas próprias, não conseguem apresentar quem realmente são. “No final do projeto, já falam o que gostam, o que fazem. Outro grande ponto é o desenvolvimento do negócio delas. Todas as mães tiveram um aumento de renda, começaram a ter acesso a bens materiais e não raro envolvem os filhos no negócio, que apresentam grande desenvolvimento intelectual, evolução do potencial”, conta a coordenadora da ASID Brasil, revelando que cerca de 40 mães já foram formadas e abriram seus negócios com o apoio do Programa Empreenda.

Compartilhando experiência e garantindo o desenvolvimento
No Programa Empreenda, a ASID Brasil é responsável pela capacitação das famílias na parte de empreendedorismo. Já o grupo Risotolândia, sediado em Araucária, ajuda na parte gastronômica, oferecendo o expertise de quem já atua há mais de 65 anos no ramo gastronômico.

“Nós temos módulos aplicados pelos nossos nutricionistas, que ensinam boas práticas de manipulação, técnicas de gastronomia. É uma questão de compartilhar o conhecimento”, afirma Kamille Dantas, gerente de RH do Grupo Risotolândia, explicando ainda porque o foco do programa, por ora, é em Araucária e no CIC, em Curitiba.

“A nossa matriz está aqui em Araucária, estamos próximos também da região do CIC, e é uma forma de devolução pra sociedade. Estamos aqui, fazemos parte desse município, somos um dos maiores empregadores dessa região, queremos contribuir”, diz, convocando ainda outros empresários e empresas a seguir esse exemplo. “Existem outras organizações com expertises diferentes e que podem contribuir. Queremos que esse exemplo possa ser replicado. Existem tantas possibilidades de negócios para fazer uma sociedade girar de forma diferente com um olhar para a inclusão.”

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

Projeto ensina arte para jovens com Síndrome de Down de forma inclusiva

"Arte de Incluir" é uma iniciativa da ONG Associação Fortaleza Down que abrange diversos campos artísticos de jovens com e sem síndrome de Down; projeto está em atividade desde setembro

Pedro Igor/Especial para O POVO

Projeto fará parte do espetáculo "All Together Now", que teve apresentações nos dias 12, 13 e 14 de novembro(foto: Rob Simmons/Unsplash)

Uma iniciativa social em Fortaleza promove, desde setembro, um projeto para inclusão de jovens com síndrome de Down por meio da arte. O projeto “Arte de Incluir" é uma realização da ONG Associação Fortaleza Down, que conta com uma extensa programação de oficinas em artes plásticas, teatro, dança, fotografia e canto, entre outras expressões artísticas.

Com aulas práticas e teóricas, o projeto se utiliza de uma metodologia inclusiva para participação de jovens com e sem síndrome de Down. Também como parte do projeto serão realizados dois festivais de arte inclusiva, em novembro deste ano, com um espetáculo de palco, e em março do ano que vem.

Com slogan “Queremos ser felizes com música e arte!”, o projeto “Arte de Incluir” busca desenvolver o talento e as habilidades artísticas dos alunos participantes. As atividades começaram semanalmente em setembro e devem seguir até março do ano que vem Participam do projeto alunos com e sem síndrome de Down, a partir dos 15 anos. O objetivo é promover a socialização e a inclusão de todos.

Por meio de uma parceria com a escola de artes The Biz, a Associação Fortaleza Down conseguiu que o “Arte de Incluir” integrasse o espetáculo internacional "All Together Now", uma realização da Music Theatre International (MTI). A escola The Biz é associada ao MTI e é onde acontecem os cursos e oficinas do “Arte de Incluir”. A atividade é uma montagem de palco conjunta e inclusiva

60 alunos participam do evento, sendo 28 deles com síndrome de Down. “É um momento único para eles, porque além de estarem entrando em contato com a arte, eles estão se ressocializando", comenta Alessandra Costa, vice-presidente da Associação Fortaleza Down. Costa destaca também que pessoas com síndrome de Down fazem parte do grupo de risco, o que dificulta sua socialização no atual contexto de retomada das atividades.

O projeto também iniciará sua segunda fase em dezembro deste ano, quando deve ser realizada uma exposição fotográfica com trabalhos originais dos participantes das oficinas. Também um segundo festival deve ser realizado em março. A previsão é que o evento aconteça no dia 21 de Março, Dia Internacional da Síndrome de Down, de acordo com a vice-presidente da associação.

Com este projeto, Alessandra também destaca o desafio no nascimento de uma criança especial: “A partir dali, também nascem dúvidas, desafios, medos e várias outras necessidades. É aí que também vem o desejo de se unir a outras pessoas, que compartilham dos mesmos sentimentos. A troca de experiências e a ajuda mútua são de extrema importância”.

sexta-feira, 19 de novembro de 2021

Criança com deficiência não atrapalha, diz Silvia Grecco

 Dérek Bittencourt para o Diário Grande ABC

Inclusão não é apenas uma palavra no vocabulário, mas uma das missões de vida da secretária da Pessoa com Deficiência da prefeitura de São Paulo, Silvia Grecco, que participou ontem à noite da live do Diário ao lado do filho Nickollas, que é deficiente visual e tem autismo. A dupla de torcedores do Palmeiras ganhou projeção internacional justamente porque a mãe fazia questão de incluir o filho no ambiente como um estádio de futebol ao narrar o jogo para ele, em situação que deve se estender do lazer a todos os outros segmentos, como saúde, trabalho, ensino etc. Assim, ouvir o ministro da Educação, Milton Ribeiro, declarar que é contra o “inclusivismo” nas escolas, chateia a mauaense, hoje moradora de Santo André – cidade na qual foi a primeira secretária de Pessoa com Deficiência, em 2020, antes de receber convite e seguir à Capital.

“Sou totalmente a favor da educação inclusiva. Lutamos tanto para conquistar direitos e hoje temos de lutar para conquistar mais direitos e para não perder o que conquistamos. Educação é primordial. Educação inclusiva não é só questão pedagógica. É questão de socialização também e faz diferença na vida de todos. Criança com deficiência na escola não atrapalha ninguém, quem atrapalha são pessoas que têm essa mentalidade e não deveriam estar à frente do ministério (referindo-se a Milton Ribeiro). Enxergo assim e fico triste quando ouço. Não é uma questão político-partidária, mas de ver como mãe esse retrocesso, que não é bom de maneira nenhuma”, bradou Silvia Grecco.

A secretária da Capital ainda recordou história vivida por ela e pelo filho que comprova sua teoria sobre inclusão no ambiente escolar. “O Nickollas, quando pequeno, estudava numa escola infantil em Santo André, de 3 para 4 anos. Na entrada uma mãe me procurou, extremamente emocionada, dizendo que o filho chegou em casa e na hora do jantar apagou todas as luzes, porque queria ficar no escuro como o Nickollas. Contou que precisou fazer o jantar, que teve dificuldade, que todos comeram no escuro. Então, olha a troca entre as crianças, o aprendizado. Daí começa o respeito. Não temos que pensar só na parte pedagógica que, claro, é importante, mas a escola pode fazer a diferença na vida das crianças com ou sem deficiência. A gente fala pessoa com deficiência porque antes de ter deficiência é uma pessoa. Educação é tudo. Modelos de educação têm que ser seguidos. Onde tem olhar da educação inclusiva, ela funciona”, recordou.

Silvia ainda falou sobre a necessidade de criação de postos de emprego para PCDs (Pessoas com Deficiência), em situação que vá além das chamadas cotas. “É necessário que se tenha oportunidade de trabalho, de educação. Temos de pensar nisso para todos. Quando tem esse olhar de incluir as pessoas com oportunidades iguais, é muito bem-vinda. No Grande ABC, na questão de empregabilidade, normalmente se cumprem cotas. Quando as pessoas forem contratadas por oportunidade, não por obrigação, isso vai mudar, porque daí não está contratando para cumprir cotas. Precisamos dar oportunidades iguais para todas as pessoas. Isso faz muita diferença. Assim como dei oportunidade ao meu filho de ir aos jogos. Tem mudado muito, temos tido conquistas boas, mas é pouco perto do que a gente poderia ter.”

Outro ponto que foi ressaltado pela secretária da Pessoa com Deficiência durante a entrevista foi com relação à acessibilidade, que, segundo ela, vai muito além da mobilidade. “Quando se fala em pessoa com deficiência ou acessibilidade, a primeira coisa que vem à cabeça das pessoas é a acessibilidade arquitetônica. Isso é desafio muito difícil. Nos prédios novos é garantido por lei que se tenha acessibilidade, mas existem muitas construções antigas que preferem, por exemplo, ter calçada com muito mais grama do que uma passagem para uma pessoa cega ou cadeirante trafegar. Então, precisa de conscientização cultural também das pessoas para que quando possam fazer, não apenas uma responsabilidade do poder público, mas de todos. Acho muito difícil solução 100%, mas têm que ser feitas, por exemplo, rotas acessíveis, planejar edificações com acessibilidade. Além disso, acessibilidade não é só arquitetônica, mas na atitude, na comunicação. Por exemplo, chega perto de pessoa cega, a primeira coisa a fazer é se identificar. As pessoas precisam conhecer as atitudes de acessibilidade. Não parar na vaga estabelecida para a pessoa com deficiência, porque aqueles cinco minutinhos atrapalham. E hoje a acessibilidade digital é tão importante quanto a arquitetônica, porque as pessoas têm várias ferramentas que facilitam extremamente para elas, como leitores de tela, handtalk para surdos e muitas outras. O Grande ABC, assim como a cidade de São Paulo, tem muitas barreiras para encarar. Não é fácil. Mas se não tiver vontade pessoal e as pessoas se conscientizarem, não vai acontecer”, ressaltou Silvia Grecco.

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Professora de SP inspira aluna cega a seguir sua mesma profissão: ‘Meus alunos têm direito a tudo’

Por Gabriel Pietro para o razoesparaacreditar.com

Há mais de dez anos, a professora Valéria Freitas da Silva Vilanova é responsável por acompanhar alunos com deficiência visual, intelectual, auditiva, entre outras, na escola onde trabalha, em Campinas (SP).

Para ela, educar é uma missão para garantir o aprendizado e a inclusão deste grupo de estudantes. Mais do que isso, ela tem inspirado os alunos, como uma menina que, aos 11 anos, deseja seguir na mesma profissão de Valéria por conta da amizade com a docente.

No Dia do Professor, comemorado no dia 15 de outubro, Valéria, 39 anos, contou ao portal G1 que ensina para 39 crianças com idades entre 6 a 14 anos na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Oziel Alves Pereira, na periferia da cidade paulista.

Para Emilly Raquel Franco, uma de suas alunas, a professora é sua referência em todos os sentidos, inclusive o profissional. Ela se diz “decidida” a seguir a profissão de Valéria, apesar da pouca idade.

Educação especial

Valéria acredita que sua boa atuação na escola funciona a partir do equilíbrio entre as esferas das famílias, da instituição de ensino e das crianças. Ela atende alunos com dificuldades de locomoção, paralisia cerebral e Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Para que o aprendizado ocorra, todas essas engrenagens precisam caminhar juntas.

“A educação especial mudou minha vida, me fez vê-la de outra forma. Aprendi com as famílias e professores que já estavam nessa área, mas principalmente com as crianças. É lindo ver como eles têm potencial e são extremamente capazes de avançar, aprender e conquistar. Me fez acreditar ainda mais nessa profissão. Meus alunos têm direito a tudo”, explicou.

A educadora leciona para Emilly há seis anos, e conta estar cada vez impressionada com a altivez da pequena. “Minha carreira ficou completa ao ouvir isso”, destacou Valéria, sobre a vontade da aluna “em ser como ela”.

Para Maria da Cruz Pinheiro Franco Assunção, mãe de Emilly, a menina se desenvolveu muito desde que ingressou na escola, tanto nos estudos quanto nas relações de amizade. “Confio muito no trabalho da Valéria, ela é um anjo que entrou na vida da minha filha. Uma segunda mãe”, apontou.

Desenvolvimento pessoal

O processo de aprendizado de Emilly é acompanhado por Valéria desde o início do ensino fundamental. Nos últimos 6 anos, ela construiu um vínculo especial com a aluna, que agora cursa o 6º ano.

“Ela chegou no primeiro ano marcando presença e reivindicando seu espaço. Acompanhei todo o processo de alfabetização da Emilly e no começo ela não queria usar o braille. Aos poucos fomos ajudando ela com a construção de sua identidade e as adaptações.”

A menina se adaptou com relativa rapidez ao cotidiano escolar, graças em parte à boa relação com os colegas. “Alguns meses depois que chegou na escola, ela contou que onde estudava os colegas não brincavam com ela, que a discriminavam com apelidos pejorativos. E disse que gostava muito de onde estava agora porque tinha amigos que a chamavam de linda. Logo que ela chegou, comecei a chamá-la de ‘Emilinda’ e o apelido pegou entre os colegas”.

Mais do que ser uma professora, Valéria se considera uma “articuladora” que media as relações entre as crianças e seus variados graus de deficiência, criando um senso de grupo na turma.

“O preconceito não vêm com as crianças, muitas vezes é um reflexo dos adultos que estão a sua volta. Quando uma criança vê as outras acolhendo um aluno com deficiência, ela entra nesse movimento”, relatou.

sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Há, no mundo, quase 240 milhões de crianças com deficiência, revela análise mais abrangente já realizada pelo UNICEF

Novo relatório do UNICEF expõe a profundidade da privação vivida por uma em cada dez crianças com deficiência em todo o mundo em vários indicadores de bem-estar, incluindo saúde, educação e proteção

unicef.org

Jorge (à direita), que tem síndrome de Down, frequenta a escola pública em San Miguelito, Cidade do Panamá, onde a educação inclusiva é obrigatória, permitindo que crianças com e sem deficiência estudem juntas em um ambiente de aprendizagem compartilhado / UNICEF/UN0425663/Sokol

Nova Iorque, 10 de novembro de 2021 – O número de crianças com deficiência em todo o mundo é estimado em quase 240 milhões, de acordo com um novo relatório do UNICEF. Crianças com deficiência estão em desvantagem em comparação com crianças sem deficiência na maioria das medidas de bem-estar infantil, diz o relatório.

"Esta nova pesquisa confirma o que já sabíamos: as crianças com deficiência enfrentam desafios múltiplos e muitas vezes complexos na realização de seus direitos", disse a diretora executiva do UNICEF, Henrietta Fore. "Do acesso à educação à leitura em casa, as crianças com deficiência têm menos probabilidade de ser incluídas ou ouvidas em quase todas as medidas. Com muita frequência, as crianças com deficiência são simplesmente sendo deixadas para trás".

O relatório inclui dados comparáveis internacionalmente de 42 países e cobre mais de 60 indicadores de bem-estar infantil – de nutrição e saúde a acesso a água e saneamento, proteção contra violência e exploração, e educação. Esses indicadores são desagregados por tipo de dificuldade funcional e gravidade, sexo da criança, situação econômica e país em que vive. O relatório deixa claras as barreiras que as crianças com deficiência enfrentam para participar plenamente em suas sociedades e como isso geralmente se traduz em resultados sociais e de saúde negativos.

Em comparação com crianças sem deficiência, crianças com deficiência têm:

  • 24% menos probabilidade de receber estimulação precoce e cuidados responsivos;
  • 42% menos probabilidade de ter habilidades básicas de leitura e numeramento;
  • 25% mais probabilidade de sofrer de desnutrição aguda e 34% mais probabilidade de sofrer de desnutrição crônica;
  • 53% mais probabilidade de apresentar sintomas de infecção respiratória aguda;
  • 49% mais probabilidade de nunca ter frequentado a escola;
  • 47% mais probabilidade de estar fora do ensino fundamental I, 33% mais probabilidade de estar fora do ensino fundamental II e 27% mais probabilidade de estar fora do ensino médio;
  • 51% mais probabilidade de se sentir infelizes;
  • 41% mais probabilidade de se sentir discriminadas;
  • 32% mais probabilidade de sofrer castigos corporais severos.

No entanto, a experiência da deficiência varia muito. A análise demonstra que existe um espectro de riscos e resultados dependendo do tipo de deficiência, onde a criança mora e quais serviços ela pode acessar. Isso destaca a importância de projetar soluções direcionadas para lidar com as desigualdades.

O acesso à educação é um dos vários assuntos examinados no relatório. Apesar do amplo consenso sobre a importância da educação, as crianças com deficiência ainda estão ficando para trás. O relatório constatou que crianças com dificuldade de comunicação e de cuidar de si mesmas são as que têm maior probabilidade de estar fora da escola, independentemente do nível de escolaridade. As taxas de crianças e adolescentes fora da escola são mais altas entre crianças com deficiências múltiplas e as disparidades tornam-se ainda mais significativas quando a gravidade da deficiência é levada em consideração.

"A educação inclusiva não pode ser considerada um luxo. Por muito tempo, as crianças com deficiência foram excluídas da sociedade de uma forma que nenhuma criança deveria ser. Minha experiência de vida como mulher com deficiência apoia essa afirmação", diz Maria Alexandrova, 20 anos, uma jovem defensora da educação inclusiva do UNICEF na Bulgária. "Nenhuma criança, especialmente as mais vulneráveis, deveria ter que lutar sozinha por seus direitos humanos básicos. Precisamos de governos, partes interessadas e ONGs para garantir que as crianças com deficiência tenham acesso igual e inclusivo à educação".

O UNICEF trabalha com parceiros em nível global e local para ajudar a realizar os direitos das crianças com deficiência. Todas as crianças, incluindo aquelas com deficiência, devem ter uma palavra a dizer nas questões que afetam sua vida e ter a oportunidade de realizar seu potencial e reivindicar seus direitos. O UNICEF está pedindo aos governos para:

  • Proporcionar oportunidades iguais às crianças com deficiência. Os governos devem trabalhar junto com as pessoas com deficiência para eliminar as barreiras físicas, de comunicação e de atitude que as mantêm fora da sociedade e garantir o registro de nascimento; serviços inclusivos de saúde, nutrição e água; educação equitativa; e acesso a tecnologias assistivas. Eles também devem trabalhar para erradicar o estigma e a discriminação nas comunidades.
  • Consultar pessoas com deficiência e considerar toda a gama de deficiências, bem como as necessidades específicas das crianças e suas famílias, ao fornecer serviços inclusivos e educação de qualidade equitativa. Isso inclui políticas de cuidado responsivo e favoráveis à família, saúde mental e apoio psicossocial e proteção contra abuso e negligência.

A análise visa aumentar a inclusão de um em cada dez crianças e jovens com deficiência em todo o mundo, garantindo que sejam contados, consultados e considerados na tomada de decisões.

A nova estimativa global para o número de crianças com deficiência é maior do que as estimativas anteriores e se baseia em uma compreensão mais significativa e inclusiva das deficiências, que considera as dificuldades em vários domínios da funcionalidade, bem como os sintomas de ansiedade e depressão.

"A exclusão costuma ser consequência da invisibilidade", disse Fore. "Há muito tempo não temos dados confiáveis sobre o número de crianças com deficiência. Quando deixamos de contar, considerar e consultar essas crianças, não estamos ajudando-as a atingir seu vasto potencial".

quarta-feira, 10 de novembro de 2021

Inclusão como premissa

Mineiras criam marca para valorizar trabalho de portadores de necessidades especiais

Isabela Teixeira da Costa para o Estado de Minas

As amigas Anna Paula Costa e Cynthia Jaber tinham um sonho de abrir um negócio juntas, que de certa forma unisse a expertise das duas. Ana Paula é educadora, e Cynthia, representante têxtil. Depois de anos conversando, a ideia só surgiu em outubro de 2020, em meio à pandemia. Criar uma marca que usasse como matéria-prima a arte de pessoas especiais. Assim nasceu a Pim Estilo. Em 45 dias tudo estava pronto e no lançamento toda a coleção se esgotou. Um ano depois, a dupla lança a terceira coleção e o desafio é encontrar novos artistas.

A intenção de abrir um negócio juntas já existia. Em setembro de 2020, a primeira ideia era abrir uma empresa que trabalhasse com tecido de qualidade e preço acessível (expertise de Cynthia). Anna Paula, mulher de muita personalidade, sempre foi muito decidida, com estilo bem definido e muito determinada, e como compradora sempre soube o que queria. Anna Paula é psicóloga e pedagoga, começou como professora na educação infantil, no Pitágoras, e chegou ao cargo de diretora. É autora de inúmeros livros e capacitou centenas de milhares de professores em todo do país. Desde criança, sempre teve muito contato com crianças com síndrome de Down porque sua avó trabalhou com Helena Antipoff, e foi a primeira pedagoga formada no Brasil, e montou em Belo Horizonte o Instituto de Reeducação Santa Terezinha, para trabalhar com os portadores da síndrome de Down, “e todos os sábados tinha apresentação das crianças para seus pais e nós íamos. Desde pequena convivo com essas crianças. Elas são muito amorosas, algumas mais agressivas, mas me acostumei e convívio muito bem com elas desde os meus 4 anos. Quando Cynthia veio com a ideia sabíamos que queríamos uma moda de qualidade, diferente, mas ainda não sabíamos o que era”.

Leia a matéria completa em o Estado de Minas

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

Autismo severo é desafio para famílias

Lidar com pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) em grau avançado requer suporte profissional para melhor qualidade de vida dos autistas e suas famílias

abcdoabc.com.br

Desafios com habilidades sociais, comportamentos repetitivos e comunicação por vezes não verbal. Esses são alguns dos ponto

s que caracterizam o Transtorno do Espectro Autista (TEA), que, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), afeta uma em cada 160 crianças no mundo, trazendo desafios para as famílias que, em muitos casos, precisam do apoio profissional. Em Betim, cidade da Região Metropolitana de Belo Horizonte, existe uma instituição que é referência nos cuidados a indivíduos adultos com a condição, o Centro Especializado Nossa Senhora D’ Assumpção, conhecido popularmente como CENSA Betim, que atua há 57 anos recebe pessoas de todo o país.

De acordo com a psicóloga e diretora da instituição, Natália Costa, o primeiro passo para que as famílias possam lidar com o indivíduo com TEA é entender as suas especificidades. “Muitas pessoas não sabem, mas o autismo é uma condição do neurodesenvolvimento que pode ser identificado na infância para iniciar a estimulação precoce para ajudar o desenvolvimento do individuo. A situação afeta a comunicação e pode comprometer até mesmo a capacidade da criança de aprendizado, além da sua adaptação a ambientes e situações diferentes daquelas que está habituada”, explica.

Segundo Natália Costa, as causas são multifatoriais, sendo mais importante o diagnóstico funcional do que o etiológico. “Alguns estudos consideravam o transtorno como resultado de dinâmica familiar problemática e de condições de ordem psicológica alteradas, mas isso foi uma hipótese que se mostrou totalmente errônea. A tendência atual é admitir que existem múltiplas causas para o autismo, entre eles eu cito os fatores genéticos, biológicos e os ambientais. O diagnóstico pode trazer sofrimento para a família, principalmente se ele não vier acompanhado de um apoio, informações e orientações acerca do que é o TEA e quais características a criança apresenta em maior ou menor grau. Lembro ainda, que é necessário verificar se há prejuízo ou não para as características apresentadas e por fim, estabelecer as linhas de intervenção, bem como a composição da equipe multiprofissional que vai atuar no caso”, completa.

Para que seja determinado o grau de TEA, algumas características são observadas. Pessoas com autismo leve (grau 1), se mostram mais autônomas nos diversos contextos do dia a dia, alcançando independência. Geralmente compreendem e cumprem regras e rotinas de casa com autonomia, vão driblando as dificuldades, estudam, trabalham e podem constituir família. Já os indivíduos com autismo moderado (grau 2), demandam mais apoio para se socializar, pois tendem a apresentar pouca iniciativa para interagir. Já no autismo severo (grau 3), os indivíduos apresentam dificuldades mais acentuadas e maiores comprometimentos, tendo iniciativa muito limitada e grande dificuldade para conversar e expressar o que desejam. Nesses casos a comunicação é mínima e pode haver comprometimento da fala e para expressar, precisando da ajuda de um mediador. È comum que o autismo venha acompanhado de deficiência intelectual e epilepsia. Nessas situações, o quadro clínico é mais desafiador.

Mesmo assim, Natália Costa salienta que o autismo não é uma condição inalterável, sendo totalmente possível que uma pessoa avance em relação ao estágio inicial. Assim, elas podem sair do grau grave para o moderado ou até passar a apresentar traços levíssimos, que é chamado de 'caminhar no espectro'. “O avanço vai depender da intervenção e dos estímulos que a pessoa receber. O avanço só se dará se a frequência, a intensidade e qualidade desses estímulos forem adequadas, além da faixa etária em que começarem a ser introduzidos e da articulação entre os contextos. Ou seja, quanto mais cedo a estimulação precoce, principalmente nos primeiros anos da infância, quando o cérebro está aberto a mudanças, mais possibilidades a pessoa tem de se desenvolver”, completa a psicóloga.

Independente do grau de autismo da pessoa, a intervenção para a busca de melhores resultados se torna indispensável, mas, Natália Costa lembra que as pessoas que estão no grau 3, associado a deficiência mental e intelectual, precisam ainda mais. “Estes indivíduos precisam de suporte profissional, porque geralmente são dependentes, principalmente para realizar as atividades da vida diária, como ir sozinho ao banheiro, alimentar-se e higienizar-se. Elas precisam de apoio para a maior parte das tarefas, até porque, costumam se isolar”, salienta.

Para a diretora do CENSA Betim, o suporte se estende, também, para as famílias, que muitas vezes têm dúvidas de como lidar. “Além do acompanhamento profissional, como o que fazemos, é importante a participação dos pais nos cuidados e na interação cotidiana com esses indivíduos, de maneira que promovam habilidades de relação social, administrem problemas de comportamento e ensinem atividades de vida diária e comunicação. No caso da comunicação, o fonoaudiólogo é indicado para melhorar as habilidades de fala, a terapia ocupacional e a pedagogia para promover melhores práticas de ensino-aprendizagem, a psicologia para aumentar o repertório de comportamentos socialmente habilidosos e a fisioterapia para melhorar as questões motoras e de equilíbrio. Um exemplo é o nosso trabalho aqui no CENSA, que é desenvolvido por uma equipe transdisciplinar, que visa atuar em todos os aspectos necessários para o acompanhamento e desenvolvimento do educando, o que, consequentemente, reverbera em melhora da qualidade de vida para ele e sua família”, conclui Natália Costa.

Fonte: CENSA Betim

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Uso do lúdico na educação especial na busca de integração: formação do aluno com necessidades especiais no ensino regular

 Jucelene Kade  para o Jornal Tribuna

Brincar é tão importante para o desenvolvimento ideal da criança que foi reconhecido pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos como um direito de todas as crianças. Este direito de nascença é desafiado por forças que incluem o trabalho infantil e práticas de exploração, guerra e violência na vizinhança, e o recursos limitados disponíveis para crianças que vivem na pobreza.

Neste sentido, é possível perceber que, ainda, embora muito necessários, pouco se faz uso do recurso do lúdico na formação de crianças (especiais e comuns) dentro do processo de ensino-aprendizado integrativo e regular no Brasil. Dentro desta visão, este artigo busca elencar a importância da atividade lúdica, através dos jogos, dentro da Educação Especial e Inclusiva. Como metodologia, utilizou-se uma revisão narrativo-exploratório.

Já como conclusão, notou-se que a ludicidade está ligada ao desenvolvimento motor bem como desenvolvimento social da criança, especial ou não, melhorando, sobretudo, o aprendizado e a atenção, o que acaba por propiciar maiores resultados no processo de ensino-aprendizagem integrado.

sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Inclusão na Educação Infantil: 5 dicas para realizar um bom trabalho

Os professores dessa etapa têm um papel essencial na luta por um ensino inclusivo que valorize as potencialidades de todas as crianças. Confira algumas sugestões de práticas e ações efetivas

Por Paula Sestari para o novaescola.org.br

Escolas, famílias e a sociedade no geral têm, cada vez mais, lutado contra os retrocessos no que diz respeito à Educação inclusiva. Nessa perspectiva, quando uma criança chega a uma instituição de Educação Infantil e amplia seu convívio social, geralmente o professor é o primeiro a identificar eventuais questões, como algum atraso no desenvolvimento da forma como a criança interage, se movimenta e se relaciona com o mundo.

Trata-se de indicativos iniciais de que serão necessárias algumas mobilizações, e o nosso papel, então, é primeiramente compartilhar essas observações com os familiares, sem, porém, fazer apontamentos ou juízo das possíveis causas. Essa conversa, posteriormente, pode levar à solicitação do apoio de outros profissionais, e a um acompanhamento mais específico. Aí então, se inicia um processo que quanto mais ágil, melhor: a criança receberá um tratamento de acordo com suas necessidades, e em paralelo, dará continuidade às suas atividades escolares.

Tendo esse cenário em mente, é importante relembrarmos que a nossa função, na escola da infância, é garantir os direitos de aprendizagem para todas as crianças, organizando contextos educativos significativos para que meninos e meninas aprendam por meio das interações e brincadeiras de qualidade. Por isso, na coluna de hoje, quero compartilhar alguns pontos importantes para pensarmos no planejamento de trabalho com as crianças quando, entre elas, temos alguma com deficiência, com ou sem laudo médico definido.

  1. Diálogo aberto com as famílias

É importante ter em mente que pais e responsáveis passam por três etapas de amadurecimento. Primeiro vem a negação, momento em que tendem a questionar a conduta da escola ao identificar as questões ligadas a possíveis deficiências, alegando padrões muito rígidos, ou mesmo mencionando rótulos socialmente construídos em torno dessas deficiências que os deixam apavorados.

Depois disso, vem a fase de adaptação, em que a rotina em casa precisa ser adequada para o bem-estar da criança, como a forma de lidar com crises, cardápio, organização do espaço, rotina com terapias e consultas e até a inserção de medicamentos. Por fim, na fase de aceitação, vem o encontro mais realista com a deficiência, a busca por mais informações, a troca de experiências com as pessoas que convivem com a criança, e a tendência em ampliar um comportamento superprotetor, algo que inclusive os pais esperam de nós.

Por isso, é importante que eles entendam qual o papel da escola. Certa vez, uma mãe trouxe o relato de algumas atividades da terapia particular com uma pedagoga e falou: “mas aqui no público vocês não fazem, né?”. Então respondi elencando a variedade de vivências que são propostas na escola, ampliando a socialização, a convivência, as interações, tudo com uma diversidade de elementos e recursos. Ali, a mãe entendeu que nossa abordagem é globalizada e que as terapias cumprem o papel das especificidades, ambas se complementando.

  1. Acessibilidade e adequação

A inclusão começa nas ações e na postura da equipe da instituição. A escola  deve oferecer condições de acessibilidade para todos, e o acesso a espaços e materiais deve promover a ação independente de todas as crianças, de acordo com a faixa etária. Inclusive, em relação aos materiais, é importante adequá-los ainda na fase de organização, levando em consideração como a criança participou nas vivências anteriores ou nos conhecimentos que você já possui sobre ela, de modo a eliminar as barreiras que comprometam seu protagonismo e independência.

Além disso, é válido manter-se por perto e se mostrar disponível caso solicite ajuda, mas jamais faça por ela ou diminua suas conquistas colocando em comparação com o que as demais realizaram – e utilize-se das observações desses momentos para fazer novas adequações.

  1. Altas expectativas para todas as crianças

Nas vivências que for desenvolver, mantenha altas as expectativas para todas as crianças. O fato de simplificar, facilitar ou mesmo a condução direta faz com que a criança com deficiência perca boas oportunidades de superação, colocando-a numa posição de favorecimento negativo e de inferioridade em relação às demais.

Nessa linha, promova situações diferenciadas contemplando os campos de experiência e as múltiplas linguagens. Como sabemos, os campos de experiência se inter-relacionam, sendo colocados em evidência a cada momento de acordo com a intencionalidade do professor. Isso favorece para que possamos identificar os interesses e necessidades de cada uma das crianças, consolidando práticas de qualidade que envolvam todos os pequenos.

  1. Mediação afetiva e diálogo em prol da diversidade

Dedique-se a conhecer e reconhecer a criança para além da deficiência, por exemplo, entendendo sobre sua rotina, brinquedos e brincadeiras favoritas, o que a deixa feliz e a deixa triste, preferências, enfim, é importante esse interesse pela criança de maneira global. Algumas deficiências tendem a fazer com que o pequeno tenha iniciativas mais individualizadas, e é a mediação afetiva do professor que vai olhar para tais questões, de modo a apoiar a criança na ampliação de seu repertório e a arriscar-se em novas possibilidades.

É essencial também que o educador, a partir dessas demandas, busque construir um espaço solidário e acolhedor, já que dessa forma as demais crianças tendem a incorporar esses movimentos. Esteja sempre disponível para o diálogo com os outros pequenos da turma quando as dúvidas surgirem, de modo a compreenderem a deficiência e, mais do que isso, fazendo-os valorizar a diversidade cada vez mais. Trata-se de uma oportunidade muito rica para o educador integrar, acolher, diversificar os arranjos, e propor situações para a multiplicidade de interações, visando consolidar a inclusão e a participação de todos no cotidiano da escola.

  1. Pontos de atenção no planejamento e no registro

Organize no seu planejamento, estratégias para a convivência com o monitor/ professor auxiliar, pois esse profissional pode apoiá-lo na adequação de materiais, na forma como esta criança interage com seus pares e recursos disponíveis, e ajudar na locomoção, higiene e alimentação se necessário.

Além disso, invista no registro sistemático e organizado, já que dele pode resultar a criação de indicativos de como ampliar as oportunidades de vivências e boas experiências para toda a turma. Por fim, ao dividir os registros avaliativos com as famílias, dedique-se a compartilhar os avanços da criança com deficiência, as situações desafiadoras que foram exitosas, e as potencialidades para o futuro.

Para além dessas dicas, ressalto que nós educadores devemos sempre eliminar os termos capacitistas, seletivos e limitadores. Por vezes ouvimos coisas como: "eu tenho dez crianças e um PcD”, “todos se envolveram, menos a criança autista”. São colocações que denotam uma diferenciação entre as crianças exclusivamente por conta da deficiência, algo que segrega e tem consequências na interação entre elas.

Dessa forma, caros professores e professoras, não podemos perder de vista que os desafios com relação à inclusão só são devidamente superados por meio de práticas que reforcem a nossa concepção de toda criança como um ser capaz e potente em suas individualidades.

Paula Sestari é professora de Educação Infantil da rede municipal de ensino de Joinville (SC), com 10 anos de experiência nessa etapa, e mestre em Ensino de Ciências, Matemática e Tecnologias. Em 2014, recebeu o Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, e foi eleita Educadora do Ano com um projeto na área de Educação Ambiental com a faixa etária das crianças pequenas.