quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Equoterapia ajuda no desenvolvimento de crianças com deficiência em Presidente Prudente

Movimento do animal contribui para que o praticante evolua em aspectos físicos e neurológicos. G1 acompanhou a atividade e melhorias de três pacientes.


Por Stephanie Fonseca, G1 Presidente Prudente

Programa de equoterapia auxilia no desenvolvimento de pessoas com qualquer lesão neurológica — Foto: Stephanie Fonseca/G1
Programa de equoterapia auxilia no desenvolvimento de pessoas com qualquer lesão neurológica — Foto: Stephanie Fonseca/G1
Ainda que a marcha siga lentamente, a evolução é parte da rotina dos praticantes da equoterapia. Por meio do método terapêutico e educacional com o uso de cavalos, passo a passo, pessoas diagnosticadas com doenças genéticas ou qualquer lesão neurológica podem desenvolver a coordenação psicomotora e estimular o raciocínio. O movimento proporcionado pelo animal faz com que o paciente apresente melhoras em quesitos que refletem em todos os aspectos da vida.

O G1 acompanhou três crianças que participam da atividade e as respectivas mães falaram um pouco sobre a evolução delas. Os pequenos começaram as atividades em março deste ano.

O projeto, realizado em parceria entre a Polícia Militar e uma universidade de Presidente Prudente, atende atualmente 35 praticantes e marca uma década da instalação da Cavalaria no 18º Batalhão da Polícia Militar do Interior (BPM/I), comemorada neste mês de outubro.

Independente

Victor Hugo Silva Santos, aos 6 anos, conquista a “independência”. Após começar com a equoterapia, o pequeno adquiriu mais equilíbrio e autoconfiança, que o ajuda, literalmente, em sua caminhada, conforme contou ao G1 a mãe Amanda Dayane Silva Santos.

Victor Hugo é um dos praticantes da equoterapia — Foto: Stephanie Fonseca/G1
Victor Hugo é um dos praticantes da equoterapia — Foto: Stephanie Fonseca/G1
“É um projeto que ajuda muito as crianças com necessidades especiais. No caso dele [Victor], ele já teve uma evolução aparentemente boa. Ele dá uns passos, está começando a andar sozinho segurando com apoio e é uma evolução muito boa, porque equilibra, dá autoconfiança, estimula ele e ele se sente mais forte, as pernas fortalecem, os braços”, declarou a mãe ao G1.

Amanda contou que Victor Hugo tem mielomeningocele, hidrocefalia e o pé torto congênito. “E a evolução dele, desde quando ele nasceu até agora, tem sido muito boa. Muito boa mesmo”, salientou. “Ele é muito forte. Ele quer lutar e vai”, disse Amanda.

O pequeno já realizou outras atividades como hidro e fonoaudiólogo, e também frequentava uma escola de educação especial. Mas, atualmente, participando da equoterapia e da fisioterapia, Victor pode ir à “escola normal, tem uma vida normal, sai, brinca”, segundo contou.

A mãe de Victor comentou que é um projeto que toda criança com necessidade especial e que gosta de animais deveria fazer. “É um projeto muito bom, ajuda muito a criança, a criança tem força de vontade de fazer as coisas, revigora mais a saúde, a vida, a mente dela, dá mais equilíbrio. Então, dá mais autoconfiança tanto para a criança como pra gente”, finalizou ao G1.

Caminhos

Após inciar as atividades da equoterapia, Marina Nascimento de Souza viu sua filha, Mariana Victória, de 4 anos, dar os primeiros passos. “Ela não andava. Depois que ela começou aqui, passou a se equilibrar mais e agora está andando por tudo quanto é lado. Então ajudou bastante, viu?! (risos)”, contou ao G1.

Mariana Victória pratica equoterapia — Foto: Stephanie Fonseca/G1
Mariana Victória pratica equoterapia — Foto: Stephanie Fonseca/G1
A pequenina gosta das atividades e arranca sorrisos de todos os envolvidos. “Eu acho que ela só vai melhorar, acho não, tenho certeza que ela só vai melhorar. Ela já está bem no equilíbrio dela, cada dia melhorando. Ela nunca tinha feito, mas a gente está amando o resultado. Está super bom mesmo”, disse.

“Acho importante, porque segundo eu sei e já li, melhora o equilíbrio, a postura, a criança fica mais desenvolvida… Eles que tem um pouco de atraso devido à síndrome, eu acho importante e muito válido o trabalho do pessoal. Super apoio e minha filha se dá muito bem, se desenvolveu muito bem depois que começou a fazer esse tratamento”, declarou Marina ao G1.

Postura

Quem também apresentou melhorias foi a Maria Vitória. A mãe, Grazieli Francisca de Oliveira Silva, contou ao G1 que a filha, de 8 anos, tinha dificuldades na postura e equilíbrio.

Maria Vitória é praticante da equoterapia — Foto: Stephanie Fonseca/G1
Maria Vitória é praticante da equoterapia — Foto: Stephanie Fonseca/G1

“Eu vi bastante [melhora] na posição dela. Ela ficava muito corcunda e agora ela já segura mais o tronco. Em relação a tudo, até conforme ela fica mais em pé, a perninha já está melhorando, ela está bem melhor do que estava antigamente, quando ela era mais atrofiadinha, com as pernas encolhidas. Então, ajudou em tudo mesmo”, detalhou.

Conforme Grazieli, a família optou por colocar a menina na equoterapia, principalmente pela posição do tronco e para melhorar o equilíbrio. “Sem contar que ela gosta muito de vir. Ela adquire um contato com o cavalo, que ela tinha medo, então ajudou ela praticamente em tudo”, declarou ao G1.

Aos poucos, a menina, que é cadeirante, consegue fixar mais as pernas no chão em decorrência das melhorias.

A equoterapia

O programa de equoterapia é destinado para crianças ou adultos que tenham algum tipo de sequela por alguma lesão neurológica ou que tenha algum distúrbio do desenvolvimento, como autismo, Síndrome de Down, ou qualquer outra doença genética que causa atraso ou dificuldades de aprendizado.

Em Presidente Prudente, essas pessoas interessadas são encaminhadas para a equipe da universidade, que acompanha o desenvolvimento. “A gente trabalha para melhorar as funções que eles não têm ou foram perdidas, ou então para ajudar no desenvolvimento deles e na aprendizagem”, explicou a coordenadora do programa multidisciplinar e reabilitação equestre, Maria Tereza Arteiro Prado Dantas.

A equoterapia é um atendimento no qual o cavalo é usado como um recurso na promoção de movimentos ao corpo do paciente, que na equoterapia é chamado de praticante. Durante a montaria são trabalhadas tarefas voltadas à parte educacional e à promoção de estímulos psicomotores em cima do animal.

“O praticante que está em cima do cavalo recebe movimentos, estímulos sensitivos no corpo, conforme o cavalo vai andando no passo e promove desequilíbrios do corpo. Então, ele tem que ajustar sua postura, ele tem que fazer força pra se manter”, explicou ao G1 a coordenadora do programa.

 As atividades promovidas em cima do equino possuem diversos direcionamentos. “Tem atividades para estímulos de coordenação, de força, de movimentos finos com as mãos, que estimula o raciocínio, temos atividades que trabalham a fala, com o pessoal da fonoaudiologia, que também participa, e o pessoal da psicologia, que também participa”, explicou Maria Tereza ao G1.

O praticante participa da equoterapia por um período de um a três semestres. Após recebimento de alta, o paciente é encaminhado a outra atividade que possa continuar o desenvolvimento. Cadas caso é avaliado separadamente.

Com apenas um horário, o primeiro semestre da equoterapia – programa em parceria com a Polícia Militar – atendeu 18 crianças.

Já o segundo semestre teve uma expansão do atendimento – com dois horários – e atende 35 praticantes, entre crianças e adolescentes.

Equoterapia conta com atividades educacionais junto à montaria — Foto: Stephanie Fonseca/G1
Equoterapia conta com atividades educacionais junto à montaria — Foto: Stephanie Fonseca/G1


Progresso


Victor Hugo


  • Tem diagnóstico de mielomeningocele, que exige uma cirurgia ainda bebê para a retirada de um cisto que nasce na coluna. O procedimento invasivo deixa sequelas.
  • No início da atividade equestre, Victor apresentava dificuldade no equilíbrio, fator que apresentou evolução com a prática da equoterapia.
  • Também houve progresso nas noções de tempo e espaço, e na corporal – percepção e correção de postura, que são itens do desenvolvimento geral da pessoa e que são importantes para o aprendizado e alfabetização da criança.
  • Diante do equilíbrio e postura melhores, Victor, que só caminhava com o apoio de andador, já dispensa o equipamento para curtas distâncias.
Victor Hugo é um dos praticantes da equoterapia — Foto: Stephanie Fonseca/G1
Victor Hugo é um dos praticantes da equoterapia — Foto: Stephanie Fonseca/G1


Maria Vitória

  • Tem diagnóstico de cranioestenose, quando a moleira nasce fechada e prejudica o crescimento do encéfalo, deixando sequelas diversas.
  • Do início da prática até agosto, a garota apresentou melhorias na postura – equilíbrio do tronco (segundo relatou a coordenadora do programa, ela era muito curvada e não conseguia alinhar a postura).
  • Também houve progresso no desenvolvimento geral e na socialização.
Maria Vitória pratica equoterapia — Foto: Stephanie Fonseca/G1
Maria Vitória pratica equoterapia — Foto: Stephanie Fonseca/G1

Mariana

  • Tem diagnóstico de Síndrome de Down.
  • Apresentou evolução no raciocínio, na linguagem, autocuidados e no desenvolvimento geral, fatores que antes a pequena não chegava a pontuar.
Mariana Victória pratica equoterapia — Foto: Stephanie Fonseca/G1
Mariana Victória pratica equoterapia — Foto: Stephanie Fonseca/G1

Novo

Conforme a coordenadora do programa, a equoterapia é um método novo e há um atendimento gratuito realizado pela universidade tem ocorrido no picadeiro do Grupamento Montado da Força Tática do 18º Batalhão Cavalaria, na sede do Comando de Policiamento do Interior – Oito (CPI-8).

Além das atividades com as crianças nos cavalos, há um acompanhamento com a família. Conforme Maria Tereza, é verificado se há necessidade de outro tipo de apoio, como assistência social e psicológico.

“Temos toda uma estratégia de acompanhamento da família, ela não fica simplesmente só vindo à equoterapia para o tratamento da criança. A gente também vai acompanhando as necessidades da criança, vai acompanhando as necessidades da família para apoio, orientação, encaminhamento para outros atendimentos, se preciso”, explicou ao G1.

O atendimento é gratuito e os interessados podem procurar a clínica de fisioterapia da universidade, que fica no Jardim Bongiovani, em Presidente Prudente.

“Esse é um projeto filantrópico da Polícia Militar, que tem como objetivo o atendimento social aos integrantes da sociedade prudentina e da região, objetivando a melhora da qualidade de vida dessas pessoas”, declarou o capitão Ives Minosso, comandante da Força Tática do 18º BPM/I.

Três cavalos do policiamento – Zambaio, Carazinho e Thor – integram o programa de equoterapia para o qual são treinados.

Programa de equoterapia auxilia no desenvolvimento de pessoas com qualquer lesão neurológica — Foto: Stephanie Fonseca/G1
Programa de equoterapia auxilia no desenvolvimento de pessoas com qualquer lesão neurológica — Foto: Stephanie Fonseca/G1

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