quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Com tecnologia, crianças com deficiência auditiva ouvem e falam normalmente

Jane E. Brody Do New York Times


Documentário de pediatra mostra como modernos aparelhos auditivos e treinamento ajudam pessoas nascidas com perda auditiva severa
Documentário de pediatra mostra como modernos aparelhos auditivos e treinamento ajudam pessoas nascidas com perda auditiva severa

Jane R. Madell, consultora de audiologia pediátrica e fonoaudióloga nos Estados Unidos quer que todos os pais de crianças que nascem com deficiência auditiva saibam que agora é possível que seus filhos aprendam a ouvir e a falar como se a audição fosse completamente normal.

"As crianças cuja deficiência auditiva é identificada no nascimento, e que recebem a tecnologia nas primeiras semanas de vida, convivem tão bem com todas as outras que as pessoas nem percebem que são surdas."

Com o aparelho e o treinamento auditivo adequados para durante os anos pré-escolares, mesmo as crianças nascidas surdas "terão a capacidade de aprender com seus colegas quando entrarem na escola. Oitenta e cincos por cento se integram com sucesso. Os pais precisam saber que ouvir a linguagem falada é uma possibilidade para seus filhos", afirmou Madell.

Determinada a passar essa mensagem para todos os que descobrem que o filho não tem a audição normal, Madell e Irene Taylor Brodsky produziram um documentário, "The Listening Project", para demonstrar a ajuda disponível através de aparelhos modernos e treinamento.

Entre os "astros" do filme, que cresceram surdos ou com severas deficiências auditivas, estão a Dra. Elizabeth Bonagura, ginecologista e cirurgiã; o músico Jake Spinowitz, Joanna Lippert, assistente social médica, e Amy Pollick, psicóloga. Tudo começou com aparelhos auditivos que os ajudaram a aprender a falar e a compreender a linguagem falada.

Mas agora todos têm implantes cocleares. "Eles realmente revolucionaram meu mundo", diz Lippert que, aos 11 anos, se tornou a primeira pré-adolescente a conseguir um aparelho no Centro Médico da Universidade de Nova York.

"De repente, em um jogo de futebol, conseguia ouvir o que minhas companheiras estavam dizendo", recorda-se ela, hoje com 33 anos. "Minha mãe praticamente chorou quando ouvi um grilo cantando em casa. Antes, em não conseguia falar ao telefone; agora, no meu trabalho no Hospital dos Veteranos em Manhattan, passo o dia nele. O implante foi um presente maravilhoso."

Pollick, 43 anos e surda desde o nascimento, vive em Washington com o marido e dois filhos pequenos, todos com audição normal. Seus pais, surdos, mas determinados a fazê-la falar, lhe deram um aparelho auditivo aos seis meses, além de anos de terapia auditiva. Formada na prestigiada Escola de Ensino Médio Stuyvesant e na Universidade Wesleyan de Nova York, Pollick estava na pós-graduação pesquisando vocalizações de primatas quando recebeu um implante coclear.

Ela me disse: "Quanto mais cedo você consegue o implante, melhor, porque a audição no cérebro começa em uma idade precoce, por isso vai desenvolver boas habilidades auditivas".

Bonagura, 34 anos, que mora em Alameda, Califórnia, conseguiu o seu aos 22 anos. Ela afirmou que o procedimento facilitou seus estudos e permitiu que trabalhasse com obstetrícia, um campo que envolve emergências, salas de operação barulhentas e o uso de máscaras faciais que impossibilitam a leitura labial.

"Nenhum outro campo da medicina se compara à alegria de trazer bebês ao mundo", disse ela.

Spinowitz, guitarrista de 27 anos que vive em San Francisco, nasceu com uma profunda perda auditiva e usou próteses até os 15 anos, quando elas de repente deixaram de funcionar porque não havia nada para amplificar – ele havia perdido toda a audição residual.

Quando recebeu o implante, disse: "Comecei a ouvir todo tipo de música, tentando compensar o tempo perdido". Ele tocou em bandas durante o ensino médio e a faculdade e agora trabalha no YouTube, ajudando gravadoras a se destacarem.

"O implante facilitou a comunicação em todos os tipos de situações. Possibilitou meus estudos e meu trabalho." Sua mensagem aos pais das crianças com perda auditiva profunda é: "O som faz do mundo um lugar melhor; se você pode tê-lo, vá em frente".

Um implante coclear ignora as células não funcionais do sistema auditivo e transmite o som diretamente para o nervo auditivo, para que o cérebro possa processá-lo. Pode ser inserido em bebês com menos de um ano. De acordo com o Instituto Nacional de Surdez e Outros Transtornos de Comunicação, bebês com perda auditiva profunda que recebem implantes antes de um ano e meio, "desenvolvem habilidades linguísticas a uma taxa comparável às das crianças com audiência normal".

Como Bonagura diz no documentário: "É incrível essa possibilidade de hoje de colocar implantes em bebês. Eles crescem com o som, crescem ouvindo tudo. O som é uma dádiva: risos, vozes, natureza. Como privar alguém disso?".

Ainda assim, muitos surdos resistem à tecnologia atual e insistem que as crianças com perda auditiva profunda devem aprender apenas a linguagem gestual. Rejeitam a ideia de que a surdez precisa ser corrigida.

Mas, como aponta Madell, apenas 0,1 por cento da população conhece a linguagem gestual, e 95 por cento das crianças surdas nascem de pais que ouvem, que então tem que passar um longo tempo aprendendo a linguagem dos sinais em um período em que as crianças estão normalmente aprendendo a falar.

"A surdez hoje não é o que era há 20 anos. A tecnologia é tão melhor que praticamente todas as crianças com perda auditiva serão capazes de ouvir com os dispositivos certos, sejam aparelhos auditivos e implantes cocleares", disse ela.

Supostamente, toda criança nascida nos Estados Unidos tem sua audição examinada no nascimento. Um bebê em mil acabar registranso perda auditiva moderada, grave ou profunda que, se não for pronta e adequadamente tratada, pode atrasar sua capacidade de aprender a falar e entender o discurso.

A tecnologia de hoje possibilita que esses bebês sejam equipados com um dispositivo que lhes permite ouvir e, com treinamento auditivo, poderão desenvolver habilidades linguísticas tão boas quanto as das crianças com audição normal.

Sem o exame dos recém-nascidos, os meses críticos de aprendizado da língua falada podem ser perdidos. É comum que as crianças com a perda auditiva séria não detectada no nascimento, ou logo depois disso, não tenham a audição verificada até muitos meses mais tarde, quando os pais percebem que não respondem apropriadamente aos sons e à fala, ou mesmo mais tarde, quando não começam a falar na época habitual.

A Academia Americana de Pediatria estabeleceu as diretrizes 1-3-6 que determinam que todos os bebês devem ter sua audição examinada ao completarem 1 mês de idade, receber um diagnóstico de perda auditiva aos 3 meses e iniciar os serviços de intervenção precoce aos 6. No entanto, atualmente apenas 67 por cento dos bebês que apresentam o quadro recebem a intervenção adequada até os 6 meses de idade.

Fonte: Bol Notícias

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