quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Os direitos do indivíduo com TEA

direitos-dos-indivíduos-com-tea

Em 2012, após a regulamentação da Lei 12.764, a pessoa com autismo passou a ser considerada, para todos os efeitos legais, pessoa com deficiência. A partir deste momento, os pais puderam garantir aos filhos vários direitos como atendimento prioritário em filas ou estacionamento em vaga especial.

Para alguns, em um primeiro momento, isso soou como um oportunismo, tendo em vista que o autismo não traz limitações físicas e, sendo assim, qual seria a necessidade de uma vaga especial, por exemplo? Entendo que para que não tenha um filho com ausência de noção de perigo, possa ser difícil prever as situações que pais de crianças com autismo vivem rotineiramente, como a criança simplesmente soltar a mão do adulto e sair correndo, atravessar a rua sem olhar para os lados e etc.

Meu filho ama correr atrás de pombos. Certa vez, estávamos andando por uma das avenidas mais movimentadas de nossa cidade e, no momento em que ele viu um pombo no canteiro central, tentou se livrar de mim de todas as formas para correr atrás do animal e alcançá-lo. Isso foi feito sem que o Bê olhasse para os lados ou demonstrasse alguma preocupação em verificar se estava passando algum ônibus no momento. Situações como essa não aconteceram uma vez ou duas ao longo de nossa vida, fazem parte da nossa rotina e  foram vários os momentos em que, se eu não o impedisse fisicamente, ele iria se expor a uma infinidade de riscos. Infelizmente essa impulsividade e ausência de noção de perigo são comuns em indivíduos com TEA e não dizem respeito apenas ao ato de atravessar as ruas: Bernardo é especialmente impulsivo também em tudo o que diz respeito a contato com água, por exemplo. Para nós, poder parar o carro perto do local de destino, usando as vagas reservadas para pessoas com deficiência, é mais que uma questão de conforto e sim de segurança.

Sobre atendimentos prioritários, a lógica é semelhante e eu poderia listar uma série de dificultadores que só quem vive a situação sabe, sobre o quanto pode ser difícil aguardar com uma criança com autismo um tempo de espera de duas horas para determinado atendimento.

A Lei não existe à toa, e, se existe, que seja cumprida. Pessoalmente nunca tive problemas com isso, mas já escutei relatos de pais que não tiveram a mesma sorte. Em Belo Horizonte posso destacar o Hospital MaterDei e o Laboratório Hermes Pardini como locais onde, até o momento, colecionamos experiências positivas e contamos com a sensibilidade dos profissionais.

Fico triste quando vejo pais deixando de lutar por direitos dos filhos apenas por um melindre próprio de não querer reconhecer a condição deste ou que julgam os pais que usam a palavra “ deficiência” como se estes estivessem meio que desistindo dos filhos e desconsiderando suas muitas potencialidades.

Sei que pode dar um aperto no peito, uma ferida narcísica mesmo, se referir ao filho como alguém com deficiência, mas sinceramente, não acredito que tapar o sol com a peneira ajude a resolver nenhum tipo de problema.  Em alguns casos, percebo esse discurso como uma negação da condição real desse filho, no sentido em que o que se diz é que este é aceito incondicionalmente, mas ao mesmo tempo as dificuldades dele não são reconhecidas e sim, invariavelmente enaltecidas. Claro que não devemos focar apenas nas dificuldades e desmerecer as potencialidades, mas isso é diferente de querer forçar a barra para “vender” toda dificuldade como algo positivo. Nem toda “transparência”, “ingenuidade” deve ser enaltecida o tempo todo e transformada em algo “angelical” e sim ser trabalhada quando se torna uma questão que compromete o dia a dia e as relações sociais.

Particularmente não me considero mãe de anjo e sim de um cidadão de direitos, os quais lutarei para assegurar até que meu filho tenha idade e condições de lutar por si próprio.

Érika Andrade, mãe do Bernardo, Psicóloga e administradora do instagram @maternidadeazul.
Matéria extraída do criancaesaude.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário