quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Volta às aulas: autismo e mediação escolar

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A volta às aulas se aproxima e um dos temas recorrentes nas conversas com minhas amigas que possuem filhos no espectro envolve o profissional de apoio em sala de aula para os filhos e o quanto pode ser desgastante essa negociação com as escolas, mesmo sendo um direito garantido aos alunos que dele necessitarem.

O Estatuto da Pessoa com Deficiência preconiza que as instituições privadas de ensino não podem cobrar dos pais taxas adicionais referentes à manutenção de profissionais de apoio para auxiliar a criança que precisar de tal suporte. (Aproveito para lembrar que o que é previsto em Lei está acima de cláusulas contratuais internas.)

Pois bem, aproveito para trazer outras questões que vão além da simples disponibilização de tal profissional. Para começar, todos os alunos autistas devem ter um profissional de apoio em sala de aula? A meu ver, tal necessidade não é de maneira alguma inerente ao autismo e os casos devem ser pensados individualmente. Nossa opção (família e equipe), com relação ao Bernardo, até o momento foi de ele não ter um mediador escolar, o que não impede que no futuro nossa escolha seja outra.

Fato é que a figura de um mediador em sala de aula tanto pode ser fantástica para o aluno, como ser usada como ferramenta de exclusão, e não de inclusão. As experiências às quais tenho acesso são bem diversas: Vão desde vivências fantásticas com mediadores implicados e professores idem até a experiência com o mediador despreparado e o professor que se utiliza daquela situação como pretexto para não ter que se haver com nada que diga respeito àquela criança. Muitos professores, ao ter este auxiliar em sala, fazem demandas como “vai dar uma voltinha com fulano na quadra para ele não atrapalhar as atividades”, por exemplo, em momentos em que realmente a retirada daquela criança da sala não seria algo realmente necessário.

Vou além… A simples oferta de um mediador não faz nenhuma escola se tornar inclusiva. Seria ingenuidade pensar dessa forma. Inclusão diz menos de a escola que se auto-intitula dessa forma e mais da postura de todos os profissionais em que lá atuam. Independente se ser pública ou privada, afinal de contas, quem não se lembra daquele documento patético elaborado por um sindicato de escolas particulares em 2015, que nada mais nada menos era que uma apologia à segregação do diferente? Feito por quem subestimou tanto os pais que achou que, realmente ninguém perceberia que a motivação ali era única e exclusivamente financeira?

Por outro lado (e sei que agora irei fazer o papel de advogado do diabo, mas estou aqui para confundir e não para dar respostas, mesmo porque não as tenho), se as escolas particulares, ao dificultarem com que a criança tenha acesso a um mediador, estão emperrando este movimento de inclusão; será que aquelas escolas públicas que não dão a opção para os pais e profissionais que acompanham a criança avaliarem a real necessidade desse auxílio e já pressupõe que por ter o diagnóstico o mediador é necessário, estão agindo diferente? Em alguns municípios, há tal tendência, principalmente quando o professor titular vê aí a oportunidade de “passar a batata quente” pra frente.
Quando a escola dificulta a oferta de um auxiliar para a criança que definitivamente necessita dele, porque seu interesse maior é financeiro e não no desenvolvimento daquele ser, ela está pecando. Mas o que dizer também dos pais que já chegam com o pensamento “ele tem laudo, logo tem direito a um auxiliar”, sem procurar entender se esta é a necessidade específica daquela criança naquele momento? Acho ótimo que a Lei garanta esse direito quando é necessário, mas nem toda criança com autismo irá precisar de um mediador em sala de aula e algumas irão precisar apenas em algum momento. Porém, não é raro que, quando a escola sugere isso, os pais fiquem tão armados partindo do pressuposto que tal avaliação diz obrigatoriamente de alguma mesquinharia financeira quando a realidade pode ser mais simples e dizer apenas de uma não-necessidade mesmo. Em contrapartida, não podemos negar que há uma tendência de que nas escolas particulares esse discurso seja repetido em qualquer situação de modo a evitar as despesas que envolvem a manutenção de mais um funcionário em sala de aula.

O que sugiro aos pais é discernimento e ponderação no que diz respeito às decisões sobre essas questões, tendo o cuidado de não assumir uma postura extremamente defensiva com relação à escola, mas ao mesmo tempo mantendo a capacidade crítica com o que for trazido pela Instituição. Além disso, não perder de vista que não existe apenas um único caminho, que questões individuais não devem ser generalizadas e que as experiências de outras famílias não devem ser tomadas como verdades absolutas.  Cuidado com os discursos que pregam que o fato de a criança ter um mediador em sala de aula é algo sempre positivo ou sempre negativo, pois cada caso é um caso.

Dito isso, que o início do ano letivo que se aproxima seja uma experiência positiva para todos nós.

Érika Andrade, mãe do Bernardo, Psicóloga e administradora do instagram @maternidadeazul.

Matéria extraída do criancaesaude.com.br

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