segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

O desfralde da criança com Síndrome de Down(continuação)

Para a profissional de enfermagem especializada em uroterapia Maria José Felizardo, o primeiro passo deve ser dado após os pais observarem os intervalos em que a criança faz xixi. “Se a criança urina com intervalos menores do que duas horas, não pode começar. Outra questão é garantir que a criança se sinta segura quando estiver sentada com os pés apoiados”, esclarece.Quando a criança já está na escola, o apoio de professores e outros profissionais que fazem parte de sua rotina é fundamental. Os pais também devem ter disciplina e planejamento para evitar que a criança volte a usar as fraldas após o início do desfralde. Após deixar de usar as fraldas durante o dia, a criança pode começar a ser preparada para dormir sem fraldas.Os pais devem evitar dar líquidos duas horas antes da hora de dormir e levá-la ao banheiro antes de ir para a cama, mesmo que ela não demonstre vontade. Os “acidentes” noturnos possivelmente vão acontecer muitas vezes até que a criança aprenda a controlar suas necessidades fisiológicas e ir ao banheiro quando for necessário. Para evitar prejuízos, uma boa dica é utilizar um protetor impermeável de colchão ou outro material alternativo, como um pedaço de plástico ou de tecido para cortinas blecaute com um prendedor de colchão. Outra opção é procurar um tapete higiênico para cães em pet shops – ele parece uma fralda de bebê aberta sem elástico – e prendê-lo debaixo do lençol que forra o colchão.
Depoimento
No texto abaixo, Maria Antônia Goulart, coordenadora do Movimento Down, fala sobre o desfraldamento da filha Beatriz, que começou quando ela completou dois anos e falava poucas palavras. As dificuldades de fala não impediram o processo, que durou12 meses e trouxe ótimos resultados.Começamos a tirar a fralda da nossa filha Beatriz quando ela completou dois anos. Muitos colegas de turma da escola já estavam começando o desfralde e achamos importante que ela vivenciasse esta experiência junto com os demais.Lutamos sempre contra sentimentos que costumam surgir nestes momentos nos levando a pensar que Beatriz não conseguirá fazer as coisas junto com os amigos da mesma idade. Por isto, começar o processo junto com a turma foi muito importante.
Passa a mensagem de que é possível oferecer às crianças com síndrome de Down as mesmas experiências que oferecemos às crianças comuns, aguardando que elas nos deem os limites em vez de já decidir que elas não conseguirão, deixando para depois. Além disto, tirar a fralda junto com os colegas de sala é muito legal porque ver os amigos usando o vaso sanitário é mais um incentivo.
A primeira orientação que recebemos da terapeuta ocupacional é que só se deve iniciar o desfralde quando a criança já estiver andando há alguns meses. É que andar trabalha a musculatura da região pélvica, fazendo com que ela comece a exercitar o controle do esfíncter.  Além disto, a postura correta para sentar no vaso sanitário é com a coluna reta; a coluna curvada trava o esfíncter, dificultando as saída do xixi.
Outra dica importante que seguimos à risca é a de que uma vez iniciado a processo, as fraldas devem ser banidas! Toda aprendizagem se dá pela repetição. A criança repete cada ação várias vezes esperando para ver se a reação será a mesma ou se será diferente.
Se num determinado dia ela deve usar o vaso sanitário e no outro ela usa a fralda, a criança passa a ter dificuldade de entender qual é o comportamento que se espera dela. Como pode ser tão importante usar o vaso sanitário se ela não o faz todas as vezes? Conversei com várias mães que mantiveram a fralda para ir a festas ou andar de carro, receosas dos efeitos das escapadas de xixi, e nestes casos o desfralde foi muito mais demorado.
Uma vez iniciado o processo, Beatriz só usava fralda para dormir. Durante o dia, seja qual fosse a programação, ela usava calcinha. Mas não pensem que esta decisão é fácil. Foi preciso conversar e pedir apoio a todos que convivem com Beatriz. Na escola, houve dias em que Beatriz trocou de roupa quatro vezes, o que significa que todos os xixis foram na roupa. Meu carro também foi batizado e, é claro, os colos meu, do pai, das avós, da dinda e da babá!
Sempre colocamos Beatriz no vaso sanitário antes de sair de casa, mesmo que ela não demonstre que deseja fazer xixi. Mas sempre perguntamos a ela antes e explicamos que mesmo quando a pessoa não está com vontade, deve tentar fazer xixi antes de sair. Algumas vezes ela fazia, mas em outros casos ela não fazia no vaso sanitário e cinco minutos depois escapava na roupa. É normal que o xixi escape neste início e devemos estar preparados para lidar com isto.


(continua)

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