quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

O desenvolvimento da linguagem e a inteligência no autismo(parte 3)

E novamente recorremos a outro estudo paralelo. Em 2013 se publicaram vários estudos deste tipo, que nos ajudam a ver como determinados aspectos se relacionam com o tempo de vida de uma pessoa e se convertem em preditores, os quais podem ser muito variáveis, em função do entorno ecológico das pessoas. Especificamente, o estudo da equipe canadense liderada por Teresa Ann Bennett, do Offord Centre for Child Studies, McMaster University and Children’s Hospital (Hamilton, Ontario), fez um acompanhamento de 39 pessoas com Autismo de Alto Funcionamento e Síndrome de Asperger desde os 4 aos 19 anos. O objetivo foi investigar se a Teoria da Mente media a relação entre a capacidade linguística e o funcionamento adaptativo em crianças com TEA e alto nível cognitivo. E os resultados são bastante interessantes, ainda que talvez tenhamos que contar com outros estudo similares para dar mais força a estes resultados. A equipe de investigação se baseou nas teorias do Neuroconstrutivismo do desenvolvimento(desde o neuroconstrutivismo que o desenvolvimento cognitivo se entende como um processo de reorganização sucessiva, investigando seus mecanismos de mudança e resultados diferenciais), e se pretendia por em relevo o efeito potencial de que um campo de desenvolvimento pode ter em restringir ou facilitar outro. Trata-se de como entender esta variabilidade no desenvolvimento tão díspar que observamos nas pessoas com TEA, tal qual temos visto ao longo dos estudos anteriores aqui resenhados. “As habilidades precoces da linguagem são importantes indicadores do funcionamento adaptativo posterior, definidas estas como habilidades práticas nas habilidades sociais e de comunicação e de auto-cuidado. A identificação de preditores é uma tarefa importante na investigação paralela, mas o “como” e o “pro quê” destes preditores, tais como a capacidade linguística precoce, estão associados com a variação nos resultados ou a adaptabilidade funcional, é uma questão importante”. Segundo a bibliografia referida no próprio estudo, a qualidade linguística da criança deve ser entendida como um preditor na compreensão da Teoria da mente, embora muito pouco se saiba ao certo sobre quais fatores específicos interrelacionam as habilidades linguísticas e a TdM. E novamente entra em cena a capacidade verbal com o desenvolvimento de determinadas habilidades e o desenvolvimento da pessoa. Contudo, não parece haver uma relação positiva entre a capacidade verbal e de TdM com uma melhor qualidade na sociabilidade. Quer dizer, que se requerem outros aspectos associados para desenhar uma boa qualidade na compreensão das relções sociais e não baseá-lo somente na TdM.
Outro estudo, este de 2012, de Alice S. Carter Et all nos traz também um trabalho paralelo, mas que se baseou em algo que a cada dia adquire mais e mais importância, e que é um aspecto que preocupa e muito as famílias, basseado no estudo da resposta de 170 crianças com autismo, desde os 18 até os 33 meses de idade, e que está relacionado com a ansiedade. E, segundo os autores do estudo, um problema sensorial(hiper-sensibilidade) pode ser um preditor de ansiedade nas crianças. Se este problema sensorial se corrige adequadamente, as capacidades linguísticas da criança serão maiores, e por sua vez os processos de ansiedade diminuirão. Ainda que não tenha ficado muito claro se realmente a diminuição da ansiedade pode ser associada diretamente a uma adequação sensorial ou a um desenvolvimento da linguagem, ou a uma combinação de ambos os fatores relacionados, donde a diminuição do transtorno sensorial melhora a capacidade de desenvolvimento verbal. Ainda que um estudo de 2011 põe em manifesto que as famílias onde os pais participam de forma ativa na intervenção, estes apresentam um maior desenvolvimento verbal frente a famílias menos implicadas. Isto não pretende culpabilizar as famílias. Pelo contrário, pretende incentivar a que participem mais e se formem para que adquiram um papel ativo no processo global, já que vimos como esta participação traz resultados melhores.
Um estudo muto interessante levado a cabo por Giacomo Vivanti e seus colaboradores, nos fala a respeito da discapacidade intelectual(DI) associada ao autismo. No entanto, a DI se entende como uma co-morbidade no autismo e não como um fator direto. Contudo, e ainda que exista pouca literatura científica a respeito, cada vez se tende a pensar que na realidade este déficit intelectual associado ao autismo está mais relacionado com os problemas de comunicação e a sociabilidade do que como um aspecto co-mórbido. Quer dizer, que o DI no autismo poderia surgir como consequência dos déficits de comunicação social graves nos mecanismos dependentes da experiência que subjazem ao desenvolvimento neurocognitivo.

(continua...)

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