COP-19 termina com total falta de ambição
Notícia - 23 - nov - 2013
Após grande impasse, principalmente quanto a
questões como “perdas e danos” e finanças, a 19a Conferência
das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, realizada em Varsóvia, encerrou seus
trabalhos na noite deste sábado (23). A COP-19, que deveria criar os
fundamentos básicos para a construção de um novo acordo global a ser assinado
em 2015, em Paris, e que irá substituir o Protocolo de Kyoto e vigorar a partir
de 2020, terminou por superar as baixas expectativas das quase 200 nações
presentes.
“Era para termos visto um aumento de ambição e
cortes de emissões, mas o que presenciamos foi o contrário – o Japão baixando
suas metas, a Austrália revertendo sua legislação climática e o Brasil
anunciando um aumento de 28% no desmatamento na Amazônia. Vimos o completo
fracasso dos países ricos em cumprir as promessas existentes quanto ao
financiamento de longo prazo, colocando as nações mais vulneráveis ainda mais em risco. Os resultados de
Varsóvia mostram que o Greenpeace e outras ONGs fizeram a coisa certa ao deixar
esta conferência”, disse Kumi Naidoo, diretor-executivo do Greenpeace
Internacional.
As principais discordâncias giraram em torno de
três aspectos: as metas para cortes de emissões, o financiamento climático e um
"mecanismo" para ajudar países mais pobres a lidar com as perdas e
danos causados pelo aquecimento global. Apesar de ínfimo, os últimos minutos da
conferência trouxeram um avanço em termos de financiamento. Áustria, Bélgica,
Finlândia, França, Alemanha, Noruega, Suécia e Suíça concordaram em contribuir
com US$ 100 milhões para o Fundo de Adaptação, para ajudar países em
desenvolvimento.
Outra medida concreta que saiu da reunião foi um
acordo sobre novas regras para a proteção das florestas tropicais, o chamado
REDD+, que foi precedida por um compromisso conjunto dos Estados Unidos,
Noruega e Reino Unido de doarem US$ 280 milhões para ações de combate ao
desmatamento.
Após três anos na agenda de debates, as nações
aprovaram o estabelecimento de regras, uma espécie de pacote técnico, para o
funcionamento do mecanismo de Redução das Emissões por Desmatamento e
Degradação Florestal. A decisão era um dos principais objetivos do Brasil para
essa COP. Entretanto, a questão mais controversa, conhecida como offsetting, foi adiada. Ponto que o Brasil é
consideravelmente contra, trata-se de uma espécie de troca entre o carbono
emitido pelo carbono não jogado na atmosfera pela contenção do desmatamento.
De volta ao processo
As organizações da sociedade civil deixaram a
conferência por estarem cansadas de ver os países serem guiados por interesses
das indústrias dos combustíveis fósseis. “Saímos dessa reunião desapontados,
mas continuamos absolutamente empenhados em alcançar a cooperação internacional
no âmbito das Nações Unidas, para proteger os cidadãos do mundo contra os
impactos devastadores das mudanças climáticas. Nós voltaremos em Lima, no ano
que vem, com esperança de ver mudanças urgentes de postura”, frisou Kumi
Naidoo.
Do lado brasileiro, a proposta sobre o princípio
das responsabilidades históricas colocou a equidade no centro do debate, mas
falhou ao vir isolada de outros elementos essenciais. “Responsabilidades
históricas é um ponto importante, mas não deve ser desculpa para que países
abandonem suas responsabilidades sobre as emissões atuais e futuras. Economias
emergentes como Brasil e China, e os velhos responsáveis por aumentar a temperatura
do planeta, como os Estados Unidos, têm que se comprometer com ações de redução
de emissões concretas já e não ficar só no discurso. Isso é irresponsabilidade
e vai contra a urgência das mudanças climáticas”, defendeu Renata Camargo,
coordenadora de Políticas Públicas do Greenpeace Brasil.
Fonte:
http://www.greenpeace.org/brasil/pt/Noticias/Fracasso-