sexta-feira, 30 de setembro de 2016

Jovens com síndrome de Down abrem empresa de pizzas a domicílio e fazem o maior sucesso

Cada vez mais pessoas com síndrome de Down estão quebrando os estereótipos associados a essa condição. Depois de Madeline Stuart se tornar modelo e do primeiro hotel do mundo a ser atendido exclusivamente por portadores da síndrome, agora foi a vez de um grupo de seis jovens argentinos mostrar que a síndrome não é motivo para abandonar seus planos.



Os meninos enfrentavam dificuldade de encontrar uma colocação no mercado de trabalho quando decidiram montar seu próprio negócio. Com isso, nascia um serviço de eventos que prepara pizzas e empanadas a domicílio em Buenos Aires e cidades próximas: o Los Perejiles.

Apenas dois meses após lançarem a empresa, eles já tinham 24 eventos marcados. Grande parte da realização deste sonho foi possível graças a ajuda de dois profissionais que trabalham com pessoas com síndrome de Down, os professores voluntários Telam Lopez e Kevin Degirmenci. Os dois professores ajudaram os jovens a adquirir a confiança necessária para montar o empreendimento, que hoje é sucesso por onde passa.

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Fonte: http://www.hypeness.com.br

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Síndrome de Asperger

Depoimento de dois portadores da Síndrome de Asperger que só descobriram o diagnóstico na adolescência.





Sobre a Síndrome de Asperger no Fantástico



Hans Asperger

Hans Asperger (pronuncia-se ásperguer) nasceu em 18 de Fevereiro de 1906 em uma fazenda nos arredores de Viena. Ele era o mais velho de dois irmãos. Ainda muito novo, mostrou talentos especiais com a linguagem e, nos primeiros anos de escola, era conhecido por recitar o poeta austríaco Franz Grillparzer.

Tinha dificuldade em fazer amigos e era considerado "distante" mas, na juventude, nos anos 1920, formou amizades que duraram por toda a sua vida. Formou-se em Medicina em 1931 e assumiu a direção da estação ludo-pedagógica na clínica infantil da universidade em Viena, em 1932. Casou-se em 1935 e teve cinco filhos. Desde 1934 esteve envolvido com a clínica psiquiátrica, em Leipzig.

Asperger publicou a primeira definição da síndrome, em 1944, em um artigo sob o título "psicopatia autista, uma desordem de personalidade". Ele identificou um padrão de comportamento e habilidades peculiares, principalmente em meninos. O padrão incluía: "falta de empatia, capacidade reduzida para relacionamentos sociais e conversas, comportamento solitário, profunda ligação com interesses especiais e movimentos desajeitados."

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Asperger chamou os seus pacientes de “pequenos professores" em virtude do vasto conhecimento em assuntos de seu interesse.

A Síndrome de Asperger 

 Alguns pesquisadores acreditam que Sindrome de Asperger seja a mesma coisa que autismo de alto funcionamento, isto é, com inteligência preservada. Outros acreditam que no autismo de alto funcionamento há atraso na aquisição da fala, e na Síndrome de Asperger, não.

Por um lado, para algumas pessoas dizer, que alguém é portador de Síndrome de Asperger parece mais leve e menos grave do que ser portador de autismo, mesmo que de alto funcionamento – embora isto seja provavelmente uma ilusão.

A Síndrome de Asperger é um distúrbio do espectro do autismo, que só foi reconhecido em 1984. Por esse motivo, as pessoas que desenvolveram a doença antes desta data, eram vistas como esquizofrênicas, depressivas ou doentes mentais. Na sequência é apresentada a cronologia do reconhecimento da Síndrome de Asperger:
  • Foi reconhecida como patologia e denominada Síndrome de Asperger em 1981
  • Em 1994, foi incluída na Classificação Internacional de Doenças (CID.10), pela OMS
  • Está classificada sob o registro número F84.5 – Síndrome de Asperger

Síndrome de Asperger – CID-10

Um transtorno de validade nosológica incerta, caracterizado pelo mesmo tipo de anormalidades qualitativas de interação social recíproca que tipifica o autismo, junto com um repertório de interesses e atividades restrito, estereotipado e repetitivo. O transtorno difere do autismo primariamente por não haver nenhum atraso ou retardo global no desenvolvimento cognitivo ou de linguagem. A maioria dos indivíduos é de inteligência global normal, mas é comum que seja marcadamente desajeitada; a condição ocorre predominantemente em meninos (em uma proporção de cerca de oito garotos para uma menina). Parece altamente provável que pelo menos alguns casos representem variedades leves de autismo, mas é incerto se é assim para todos. Há uma forte tendência para que as anormalidades persistam na adolescência e na vida adulta e parece que elas representam características individuais que não são grandemente afetadas por influências ambientais. Episódios psicóticos ocasionalmente ocorrem no início da vida adulta.

Diretrizes Diagnósticas: O diagnóstico é baseado na combinação de uma falta de qualquer atraso global clinicamente significativo no desenvolvimento da linguagem ou cognitivo, como com o autismo, a presença de deficiências qualitativas na interação social recíproca e padrões de comportamento, interesses e atividades restritos, repetitivos e estereotipados. Pode haver ou não problemas de comunicação similares àqueles associados ao autismo, mas um retardo significativo de linguagem excluiria o diagnóstico.

Inclui:
  • psicopatia autista
  • transtorno esquizóide da infância
Exclui:
  • transtorno de personalidade anancástica (F.60.5)
  • transtorno de vinculação na infância (F.94.1;F94.2)
  • transtorno obsessivo-compulsivo (F42.__)
  • transtorno esquizotípico (F21)
  • esquizofrenia simples.
c) Síndrome de Asperger - DSM-IV

Características Diagnósticas: As características essenciais do Transtorno de Asperger são um prejuízo severo e persistente na interação social (Critério A) e o desenvolvimento de padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses e atividades (Critério B) (Consultar p. 66, em Transtorno Autista, para uma discussão acerca dos Critérios A e B). A perturbação deve causar prejuízo clinicamente significativo nas áreas social, ocupacional ou outras áreas importantes de funcionamento (Critério C). Contrastando com o Transtorno Autista, não existem atrasos clinicamente significativos na linguagem (isto é, palavras isoladas são usadas aos 2 anos, frases comunicativas são usadas aos 3 anos) (Critério D). Além disso, não existem atrasos clinicamente significativos no desenvolvimento cognitivo ou no desenvolvimento de habilidades de auto-ajuda apropriadas à idade, comportamento adaptativo (outro que não na interação social) e curiosidade acerca do ambiente na infância (Critério E). O diagnóstico não é dado se são satisfeitos critérios para qualquer outro Transtorno Invasivo do Desenvolvimento específico ou para Esquizofrenia (Critério F).

Características e Transtornos Associados: O Transtorno de Asperger é observado, ocasionalmente, em associação com condições médicas gerais que devem ser codificadas no Eixo III. Vários sintomas ou sinais neurológicos inespecíficos podem ser observados. Os marcos motores podem apresentar atraso e uma falta de destreza motora em geral está presente.

Prevalência: As informações sobre a prevalência do Transtorno de Asperger são limitadas, mas ele parece ser mais comum no sexo masculino.

Curso: O Transtorno de Asperger parece ter um início mais tardio do que o Transtorno Autista, ou pelo menos parece ser identificado apenas mais tarde. Atrasos motores ou falta de destreza motora podem ser notados no período pré-escolar. As dificuldades na interação social podem tornar-se mais manifestas no contexto escolar. É durante este período que determinados interesses idiossincráticos ou circunscritos (por ex., fascinação com horários de trens) podem aparecer e ser reconhecidos como tais. Quando adultos, os indivíduos com a condição podem ter problemas com a empatia e modulação da interação social. Este transtorno aparentemente segue um curso contínuo e, na ampla maioria dos casos, a duração é vitalícia.

Padrão Familia: Embora os dados disponíveis sejam limitados, parece existir uma freqüência aumentada de Transtorno de Asperger entre os membros das famílias de indivíduos com o transtorno.

Fonte: simaia.blogspot.com.br

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência chama atenção para inclusão

De acordo com o Censo 2010, mais de 45 milhões de brasileiros possuem pelo menos um tipo de deficiência, representando quase um quarto da população.



Poucos dias após o fim da Paralimpíada Rio 2016, o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência é comemorado nesta quarta-feira (21). A data chama a atenção, novamente, para a inclusão das pessoas com deficiência.

O Dia Nacional foi instituído por iniciativa de movimentos sociais, em 1982, e oficializado pela Lei Nº 11.133, de 14 de julho de 2005. A data foi escolhida para coincidir com o Dia da Árvore, representando o nascimento das reivindicações de cidadania e participação em igualdade de condições.

Ações especiais do Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência ocorrerão em todos os Estados, como entrega de documentos com reivindicações, seminários e eventos culturais.

Direitos

Em 2008, o Brasil ratificou a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, adotada pela Organização das Nações Unidas (ONU) e o Protocolo Facultativo, e o documento obteve aqui equivalência de emenda constitucional. Da convenção, surgiu a Lei Brasileira de Inclusão (LBI), que trata os objetivos de forma mais concreta e entrou em vigor em janeiro deste ano.

Alguns artigos que ainda precisam de regulamentação são prioridades da gestão, informa Rosinha da Adefal, Secretária Especial dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Ministério da Justiça e Cidadania (Sepd/MJC).

Facilitar o acesso a órteses e próteses, além de aumentar a acessibilidade urbana e na comunicação, são outras metas da secretaria, cujo trabalho é articular o que está previsto em lei com as pastas responsáveis.

“Até 2008, fazíamos avaliação da deficiência só com olhar médico. […] Com o conceito de deficiência pela convenção, não é só a deficiência pura e simplesmente, mas o contexto em que ela vive vai fazê-la mais ou menos limitada”, explica a secretária.

Um grande desafio, lembra Rosinha, é aplicar as ações em todo o País, muito extenso e diverso. “Às vezes, conseguimos, tal qual está na lei, resolver um grande problema de acessibilidade, mas é pontual, devido a questões geográficas e culturais.”

Segundo a secretária, o governo está trabalhando no redesenho do Plano Viver sem Limite e no fortalecimento de uma política pública permanente. Também fruto da convenção, o plano prevê políticas governamentais de acesso à educação, inclusão social, atenção à saúde e acessibilidade.

Inserção na sociedade

De acordo com o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 45 milhões de brasileiros possuem algum tipo de deficiência.

Em contraste ao número, a Relação Anual de Informações Sociais (Rais), do Ministério do Trabalho, mostra que 327.215 pessoas com deficiência ocupavam vagas no mercado de trabalho formal em 2014, mesmo com a Lei de Cotas garantindo o direito de inserção às pessoas com deficiência nas empresas.

Nas escolas, segundo dados do Ministério da Educação (MEC), o acesso de pessoas com deficiência aumentou 381% entre 2003 e 2014. Nesse intervalo, o número de matrículas de PCDs saltou de 145.141 para 698.768.

Esporte

A Paralimpíada Rio 2016 é um marco na luta e na história do esporte brasileiro. Nesta edição, participaram 287 atletas (185 homens e 102 mulheres) em 22 modalidades, a maior delegação já enviada pelo País. Os atletas conquistaram 72 medalhas, outro recorde para o Brasil – 67% a mais do que na edição anterior, em Londres.

Os números da bilheteria também impressionam: foram vendidos 2,1 milhões de ingressos no total, segunda maior venda da história da Paralimpíada, mostrando o interesse do brasileiro pela diversidade e inclusão por meio do esporte.

Para a secretária, a Paralimpíada deixa dois grandes legados: o urbano, do investimento em transportes, mobilidade e acessibilidade; e o comportamental, que mostra que as pessoas com deficiência são dignas de respeito e admiração pelas suas vitórias.

“A Paralimpíada trouxe visibilidade para nossa eficiência, qualidades, dons e conquistas. E não só no momento da medalha, mas também na vida comum, que traz grandes conquistas”, comemora Rosinha, lembrando da grande quantidade de crianças que frequentaram as competições. “A médio e longo prazo, teremos uma sociedade muito mais inclusiva.”

Fonte: DeficienteCiente — Portal Brasil, com informações da Secretaria Especial dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Comitê Paralímpico Brasileiro, Ministério do Trabalho, Senado Federal, IBGE e MEC

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Pai adapta bicicleta para flho com paralisia cerebral sentir o prazer de pedalar


Gabriel Couto Rocha, o Biel, como é mais conhecido, tem paralisia cerebral e por isso tem algumas limitações motoras. Mas nada que o impeça de fazer aquilo que mais ama: andar de bicicleta.

Tudo graças ao pai, Rodrigo Silva Rocha, um eletricista que também é ciclista. Rodrigo projetou um modelo de bike, muito parecido com os tradicionais triciclos, em que ele puxa o filho, proporcionando-lhe o prazer de pedalar.



A inspiração veio de um modelo que ele encontrou na internet após pesquisar muito. Rodrigo adaptou o modelo para as condições locais, devido ao excesso de quebra molas, irregularidades de piso, etc. “Foi tudo desenhado e projetado entre eu e amigos que foram solidários ao caso”, conta o pai em entrevista para o site vá de bike.

Em 2013, eles participaram juntos de uma corrida em Barra da Piraí, no Rio de Janeiro, cidade onde vivem. “Levar ele para a bike surgiu depois que decidi que maratona era simples, que tínhamos que ir mais longe, novas adrenalinas, novos desafios.”



Pai e filho também correram a Maratona do Rio. “Acreditei em meu potencial e na força que Biel me transmite durante as corridas. Realmente, sua presença e olhares são muito fortes”. Foi daí que surgiu a frase deles e da tattoo de Rodrigo: “Eu o empurro, mas é ele quem me leva”.

Rodrigo conta que Biel está amando a bike. “Diariamente, ele fica apontando para onde a bicicleta fica guardada e a minha esposa tem que levar ele para ver que ela está lá, com a promessa de andarmos no final de semana.”

Quem quiser acompanhar mais de perto as aventuras de Biel nos pedais é só seguir sua página no Facebook e o seu perfil no Instagram.

Fonte: Razões para acreditar

quarta-feira, 14 de setembro de 2016

O que é Autismo? Síndrome de Asperger, Angelman, XFrágil, Rett, Hiperlexia e outros? - Parte V

Hiperlexia e a chave para o sucesso


A partir dos parâmetros dados pela Associação Americana de Hiperlexia, uma criança pode ser diagnosticada como hiperléxica se possui as seguintes características:
  • uma precoce habilidade para ler, mais do que poderia ser esperada para sua idade;
  • o desenvolvimento de uma intensa fascinação por letras e números;
  • uma significativa dificuldade para compreender a linguagem falada;
  • dificuldades em suas habilidades sociais.


Ademais podem demonstrar aprender a linguagem oral de forma peculiar, com fenômenos de ecolalia e memorizando as orações sem compreender seu significado, uma intensa necessidade de manter rotinas, uma hipersensibilidade auditiva, olfativa e táctil, e muitas vezes parecem surdas.

Embora as crianças hiperléxicas possuam padrões comportamentais muito similares ao quadro de autismo, entre dois e três anos de idade tendem a perder estas características autistas, à medida que desenvolvem suas habilidades de linguagem. Daí a aproximação que é feita por alguns autores entre a hiperlexia e o transtorno de Asperger, que por sua vez é considerado um autismo brando de alto funcionamento.


Definição, sintomas, comportamento


Hiperlexia - esta é a palavra que define uma síndrome, ou seja, um conjunto de sintomas, presente em crianças que mostram transtornos em determinadas áreas do seu desenvolvimento.


Leitura precoce

Não é raro que as crianças hiperléxicas leiam as palavras de cabeça para baixo, ou em qualquer posição. Geralmente é entre os 18 e os 24 meses que as crianças hiperléxicas demonstram capacidade para identificar letras e números.

Por volta dos três anos, começam a ver as letras reunidas, formando palavras, não importando em que contexto apareçam, nem que aspecto tenham; datilografadas ou manuscritas, maiúsculas ou minúsculas, a criança reconhece. É bem provável que, ainda sem ter desenvolvido a capacidade de falar, sem dominar a linguagem oral usada por outras crianças da mesma idade, ela já esteja lendo palavras e frases.

Isso não é ensinado. A capacidade de ler, simplesmente aparece e fica. Do reconhecimento da palavra escrita, a criança, sem prévia instrução fonética, evolui para se interessar pelas sílabas que a compõem. Ela aprende a decifrar, a decodificar palavras.

Algumas crianças atingem alto nível visual, instantâneo, e raramente erram a pronúncia, mesmo de palavras difíceis. Outras crianças continuam a reconhecer as palavras pela forma, ou usam uma combinação de decifração fonética e reconhecimento visual.

Geralmente, se uma criança começa a ler sem receber lições antes dos cinco anos, isto é considerado leitura precoce e pode significar hiperlexia. As crianças hiperléxicas não têm, todas, igual capacidade de ler, algumas lêem aos dois anos outras só aos quatro. A compreensão também varia, mas todas reconhecem as palavras em nível muito superior ao que se poderia esperar de um pré-escolar.


Leitura compulsiva

Para uma criança hiperléxica, o nível do reconhecimento de palavras isoladas é um, e outro é o nível de compreensão de palavras agrupadas, formando conceitos.

As crianças hiperléxicas lêem tudo que seus olhos encontram em forma de letra. Pode ser difícil conseguir que fiquem sentadas por algum tempo, lendo histórias infantis, mas lerão qualquer outra coisa que lhes apareça. Elas, simplesmente, não podem evitar isso, pois os estímulos visuais são muito do seu agrado, principalmente sob a forma de letra.


Conduta social atípica e inflexível

Enquanto outras crianças estão começando a falar e descobrindo na linguagem um meio de comunicação com seus pares, as hiperléxicas estão por fora! Elas não têm interesse social no mesmo nível que pode ser notado em outras crianças, se colocadas em ambiente social, demonstram não possuírem as qualidades requeridas para interação em grupo.

Uma criança pode ser muito geniosa sem que isso nada tenha a ver com a hiperlexia, mas o que se ressalta é que, nas crianças hiperléxicas, o "mau gênio" é ainda mais forte e as explosões podem ser bem mais duradouras. As situações constrangedoras podem ocorrer por conta da inflexibilidade, típica das crianças hiperléxicas, que se julgam com o direito ao comando das decisões, mas também pode ter raízes na circunstância de aquelas crianças não entenderem os fatos correntes, nem saberem o que se esperam que elas façam.

É a limitação da sua linguagem que determina a sua conduta. Desde que não entendem o que dizem às pessoas, procuram assumir o controle da situação. A reação que têm contra a confusão, a frustração e a insegurança - que sentem sem poder exprimir - é comportarem-se de um modo que abala a estabilidade de todos!


Apego à rotina e desligamento da realidade

Para as crianças hiperléxicas, qualquer mudança é algo muito difícil. Quando for necessário introduzir alguma modificação na rotina, é importante preparar a criança para isso.

A criança hiperléxica parece pensar que vive num mundo somente seu. É perigoso se ter confiança para deixá-la sair com um grupo numa excursão, por exemplo, ou ser deixada na rua sem vigilância, mesmo perto de casa.

Pequena capacidade de atenção

A capacidade de atenção das crianças é pequena, e menor ainda nas hiperléxicas. Em certos casos, manter concentrada em um determinado assunto por mais de alguns instantes é um desafio realmente sério para seus pais e professores.

Com frequêcncia, a criança desvia a atenção para outro objeto, deixando de lado as tarefas que lhe são propostas, uma após a outra. Por outro lado, se o assunto for de sua própria escolha, algumas crianças hiperléxicas serão capazes de lhe dedicar atenção por longo tempo. É o que acontece, por exemplo, quando assistem a programas de televisão ou a gravações em vídeo, e isto ocorre do constante estímulo visual que recebem.

Melhora na linguagem: a chave para a ajuda

Há outros procedimentos que também são comuns em crianças hiperléxicas: atitudes de auto-estímulo, tais como, agitar as mãos, bater a cabeça, torcer coisas; sensação geral de ansiedade inexplicada; temor específico a alguma coisa fora do comum; sensibilidade a barulho, frequentes acessos temperamentais.

Muitas crianças apresentam esses sintomas entre os 2 e 3 anos, e parecem ser autistas. Entretanto, melhorando a linguagem (compreensão e expressão), a conduta autista diminui ou desaparece.

Deve ser lembrado que a hiperlexia é um distúrbio de linguagem, não um distúrbio de conduta. A medida que pais, professores e terapeutas desenvolvam estratégias para melhorar a linguagem e ajudar a criança a entender o que se passa em torno de si, ou o que se espera de si, ela fica menos ansiosa, mais flexível, mais interativa.

A chave para o sucesso


Os pais da criança e qualquer adulto que tenha contato regular com a mesma, devem lembrar-se sempre deste princípio: O desenvolvimento da linguagem é a chave para destrancar uma criança hiperléxica.

Estratégias e limites

Devemos refletir bem sobre o que ensinar e como ensinar a uma criança hiperléxica. Encontrar o vínculo criativo entre brincar e aprender é um desafio diário. Como os interesses mudam e as necessidades cognitivas também, você tem que estar sempre à procura de novos meios de ligação entre a diversão e o ensino.

Respeite, porém, os limites e não exija da criança mais do que ela pode dar. Gradualmente, tente esticar o período de tempo em que a criança esta se envolvendo com o mundo à sua volta, mas aceite a retirada quando ela precisar de uma trégua.

Inteligência e capacidade de aprendizagem

A inteligência não é prejudicada pela hiperlexia. O teste adequado geralmente mostra que as crianças têm, no mínimo, uma inteligência normal.

Embora por métodos não usuais, os hiperléxicos aprendem e isto é importante ter-se em mente. É necessário conhecer sua maneira singular de aprender, e então usá-la para transmitir os conceitos que eles não aprenderem pelos métodos comuns. As crianças hiperléxicas captam rapidamente novas idéias, se os conceitos forem apresentados na forma apropriada, ou seja, adaptada às suas condições psicológicas e à sua maneira de entender. Você poderá ter que usar métodos não usuais, mas as crianças aprenderão.

É preciso também levar em conta ao máximo os interesses da criança. Por exemplo, se ela reage bem a anúncios comerciais musicados, ponha as tarefas da escola na música desses anúncios. Se gosta de dinossauros, ponha dinossauros nos seus exemplos. Em lugar de insistir para que a criança se adapte aos padrões normais de ensino, observe como é que ela aprende e use esse método quando lhe for ensinar algo de novo.

Leitura e estilo de aprendizagem

A fenomenal capacidade precoce de leitura é extremamente favorável à criança hiperléxica. Uma ótima estratégia para liberar sua linguagem será usar a leitura como instrumento, não só para desenvolver qualquer aprendizagem, como para disciplinar a conduta. A palavra escrita é concreta, enquanto a palavra falada voa antes que a criança possa perceber o seu significado. A palavra escrita permanece num só lugar e permite que a criança olhe por quanto tempo seja necessário até descobrir o que ela expressa.

Cotidiano e rotinas

As crianças hiperléxicas são as pessoas de hábitos mais conservadores que podem existir. Gostam das coisas sempre da mesma forma. Eles procuram sempre padronizar as situações: o caminho para o mercadinho tem que ser apenas um, a seqüência da história na hora de dormir deve ser sempre a mesma, o programa da televisão não deve mudar, como também não pode variar o número de casas em que o ônibus escolar deverá parar.

Assim, como a linguagem deles é feita em blocos que não se partem , a conduta tende a seguir o mesmo princípio. A criança hiperléxica prefere a segurança do que lhe é familiar; isto pode levá-la a opor resistência à professora quando lhe parecer que ela pretende mudar seu comportamento.


Linguagem e conduta

Linguagem e conduta são temas que precisam ser tratados de maneira muito específica. É importante entender-se que as crianças hiperléxicas não captam muito do meio ambiente como outras crianças, mas se receberem demonstrações com modelos visuais, contarão com a vantagem da sua poderosa memória.

Professores e terapeutas de crianças com sintomas de hiperlexia confirmam que a melhora da linguagem faz a melhora da conduta. Mas como pular a barreira da linguagem para chegar à conduta?

Faça a criança sentir-se segura. A criança ameaçada ou assustada agirá por reflexos, não por pensamento consciente. Um afago, então, pode ser mais eficaz do que uma reprimenda, para afastar uma explosão temperamental. Evite palavreados e procure descobrir porque a criança está insegura.

Às vezes a insegurança decorre apenas de um encontro da criança com algo diferente, fora da rotina. A criança hiperléxica deve ser preparada para mudanças físicas ou novas experiências, antes que elas ocorram.

Outras vezes, mais frequentes, você terá que agir diretamente sobre as condições ambientais. Você poderá precisar retirar a criança do ambiente estressante (um recinto barulhento ou superlotado), ou, simplesmente, remover daquele recinto o que estiver perturbando. Quando a criança lhe parecer calma e segura, então poderá ser viável dar-lhe uma explicação.


Aprendizagem concreta e simbólica

As crianças hiperléxicas fixam-se no simbólico desde o início. Elas aprendem a ler antes de saberem falar. Com os bloquinhos de construção, em vez de erguerem torres, formam letras. Se olham para o suporte da mesa, vêem um H. Essas crianças precisam ser conduzidas à fase mais elementar dos jogos, para pegar experiência concreta, que geralmente pulam. Não tendo descoberto a relação causa/efeito, por exemplo, através de jogos, elas precisam que lhes seja mostrado, visual e intencionalmente, que uma coisa traz a outra. Que elas voltem a subir em árvores, a fazer coisas simples. Que não se fixem no simbólico, deixando de lado a formação de aptidões concretas.

Ajude a criança a dominar as aptidões que envolvem tocar e sentir o mundo real. Enquanto outras crianças podem descobrir conceitos por si mesmas, a criança hiperléxica precisa de demonstrações concretas. Se uma criança puder processar os estímulos que recebe do mundo físico ao seu redor, sua ansiedade diminuirá e a verdadeira aprendizagem começará. Então o problema do desenvolvimento da linguagem poderá, realmente, ser enfrentado.


Ensinando ao hiperléxico

As crianças hiperléxicas têm processos incomuns de aprendizagem, não há dúvida. A compreensão desses processos nos dará apoio para encontrarmos a maneira efetiva de transmitir a elas conhecimentos de linguagem e conceitos abstratos. Atuar sobre os hiperléxicos com a força da própria hiperlexia será a melhor maneira de ajudá-los a descobrir a linguagem e o prazer de usá-la. Você terá que deixar de lado tudo o que já souber a respeito de como as crianças aprendem a linguagem em geral, e fixar-se em como aprende a sua criança; este será o seu ponto de partida.

Pais e terapeutas já descobriram muitas maneiras, criativas e eficazes, para vencerem as barreiras que se opõem ao desenvolvimento da linguagem. A estratégia se processa em três fases:
  • Forme a sua compreensão do estilo de aprendizagem do hiperléxico;
  • Ouça e observe para sentir que falhas há no desenvolvimento de sua linguagem;
  • Crie atividades concretas e específicas que utilize o estilo pessoal da criança;
  • Escreva, escreva, escreva... porque a criança lerá, lerá, lerá.

Se você tem contato frequente com uma criança hiperléxica, você sabe que não adianta dizer-lhe vezes e vezes seguidas a mesma coisa. As crianças hiperléxicas em idade pré-escolar não entendem tudo o que lêem em um livro, numa revista ou num rótulo de uma caixa de cereais, mas se você escrever sentenças claras, do nível de sua compreensão, você observará que elas prestarão mais atenção às suas letras do que à sua voz.

Não espere que a criança chegue ao 1º. grau para fazer uso da sua capacidade de leitura. As instruções por escrito podem constituir uma estratégia básica, aplicável em dezenas de maneiras.


Convivência e linguagem oral

Dois grandes benefícios derivam do inter-relacionamento de crianças normais com hiperléxicas: estimula-se o uso da linguagem oral e desenvolve-se a capacidade de interações.

A criança com aptidão comum de linguagem é, para a criança hiperléxica, um modelo constante de tagarelice. Embora estejam em campo de diferentes padrões de linguagem, a criança hiperléxica presencia os irmãos e os amiguinhos usando uma linguagem funcional. Mesmo quando em desacordo, zangados, gritando a plenos pulmões, estarão falando, estarão usando linguagem verbal.

O contato com outras crianças levará a hiperléxica a perceber o uso prático da linguagem como um meio de comunicação. Haverá, então, muitas oportunidades para que os adultos a estimulem a usar suas próprias palavras, ao desejarem pedir algo, ou dizer o que sentem em determinado momento.

Mesmo sem entender em detalhes as características da hiperlexia, as outras crianças, pelo convívio diário, acabam sabendo o que podem esperar da criança hiperléxica e acham meios para se relacionarem com a mesma. Há impactos pelo caminho, mas no seio da família ou entre bons amigos geralmente o equilíbrio se restaura.

Um membro hiperléxico não corta laços de família, não desfaz amizades, não dispensa o sentimento de solidariedade entre as pessoas.


Ensino e inclusão escolar

As professoras precisam fazer alguns ajustes no currículo escolar, para a criança hiperléxica. Algumas são mais prestimosas do que outras para essa tarefa que requer atenção especial quanto a alguns pontos, como: lotação da sala de aula, intensidade no programa de desenvolvimento da linguagem, flexibilidade do programa de modo geral.

Idealmente a sala de aula não será grande, mas também não deve ser muito pequena. É importante que a criança hiperléxica tenha coleguinhas em número significativo, para que possa aprender a ser parte de um grupo e observar a interação social de outras crianças; se a classe for muito numerosa a criança hiperléxica poderá se sentir sobrepujada e expressar esse sentimento através de conduta desagradável. Ademais, em classe numerosa, professora e auxiliares disporão de pouco tempo para fazer o que for necessidade exclusiva da sua criança, como ter que escrever tudo que bastaria ser dito oralmente.

Sugestões têm surgido para a criação de salas de aula destinadas a hiperléxicos em razão da sua conduta indócil. Não é uma colocação apropriada, dado que os problemas de conduta da criança hiperléxica estão ligados à linguagem. Talvez um ambiente exclusivo, ou predominantemente de hiperléxicos, não proporcionaria facilidades para a abordagem natural do problema, que seria, justamente, proporcionar a convivência de crianças hiperléxicas e crianças não hiperléxicas.

A chave do sucesso encontra-se com frequência nas classes comuns ajudadas pelos serviços auxiliares; a criança pode ter assistência de um fonoaudiólogo, um professor especialista em dificuldades de aprendizagem, um professor de reforço ou um assistente social. A professora da classe trocando idéias com essas pessoas também receberá ajuda.

Fonte: bengalalegal.com/hiperlexia

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Os benefícios da natação para crianças com autismo

natação para autistas

O autismo é um transtorno global do desenvolvimento de acordo com o CID-10 que é o Código Internacional de Doenças. Manifesta-se antes dos três anos. Segundo a Associação Americana de Autismo (ASA-American Society for Autism) a cada mil nascimentos ocorrem dois casos.

A pessoa autista apresenta dificuldades em interação social, na comunicação e atenção restrita, assim como, movimentos repetitivos. O trabalho com a criança autista não é fácil, pode-se dizer que é um desafio, porém não é impossível de ser realizado e os resultados são perceptíveis e fantásticos de se acompanhar. Desde crianças, assim como as outras, necessitam e devem ter estimuladas as percepções, o desenvolvimento motor, o cognitivo já que podem apresentar deficiência mental associada, assim como o contrário é verdade. Existem casos de autistas superdotados.

A natação é uma das atividades físicas que desenvolve um trabalho corporal completo. Sendo assim, oferece possibilidades de estímulos e desenvolvimento necessários à pessoa autista. Através de músicas, brinquedos e demais objetos utilizados em aula, claro que cada um no tempo e exercício certo, fica mais fácil para conseguir sua atenção e executar um trabalho excelente com ele, visto que, uma das dificuldades do autista é a organização espaço temporal.

Para exemplificar, como as aulas de natação influenciam na percepção espaço tempo do autista, em seu primeiro dia de atividade o professor mostra ao aluno o local onde os dois irão nadar. Ensina a ele por onde e como entrar e/ou sair, utiliza os objetos para o desenvolvimento de cada exercício e incentiva-o a guardar cada um em seu local. Esta é uma forma de organização que começa dar um norte ao aluno. Uma vez gravadas estas informações o professor precisa tomar cuidado com mudanças futuras.

Então, não devemos encarar a natação como simplesmente técnicas de nado, pois ela engloba muito mais do que isto. Há a preocupação da adaptação ao meio líquido, o desenvolvimento motor de maneira lúdica, o nado de sobrevivência, sem falar da fonte de conhecimento corporal que esta atividade física é. A criança irá aprender a se deslocar pela piscina e terá certa independência na água refletindo assim no seu dia-a-dia. O trabalho todo feito com o autista precisa ter o objetivo de desenvolver o máximo a independência da criança com este transtorno global.

É preciso salientar a importância do trabalho olho no olho com o autista, pois ele apresenta déficit de atenção e se o professor não se fizer ser entendido, seu esforço de nada adiantará. Uma vez conseguido com que o aluno perceba você, ele provavelmente executará todas as atividades proposta. Este é um momento de grande conquista e avanço para ele. Professores e família, esta mais ainda precisa vibrar, participar e entender que qualquer movimento que ele consiga fazer, por mais simples que seja já é um grande passo e todos devem partilhar disto. O simples ato de mergulhar o nariz já é uma grande realização para esta criança. Feito este merecedor de aplausos e incentivos. Incentivo! Esta é uma das maneiras de se reforçar o quão seu aluno está indo bem e conseguir atingi-lo cada vez mais. Ao contrário do que muitos em nossa sociedade pensam, o autista tem sentimentos, sim, mas encontra uma grande dificuldade em expressÁ-los. E assim como toda criança, gosta de ser elogiado e percebe quando fez algo certo ou “decepcionante”.

A natação, além de todos os benefícios motores e cognitivos trabalha também o lado social da criança. O autista não consegue abordar as pessoas com a mesma naturalidade que nós. Nesta atividade como se faz em um meio que a princípio o aluno não conhece, ele é obrigado a estabelecer uma relação de confiança com o professor. (Claro que o professor terá que se esforçar para conseguir esta relação). Sem contar que estará cercado de outras pessoas também praticantes ao mesmo tempo em que ele e muitas vezes estes “coleguinhas” irá abordá-lo em aula, sem muito sucesso inicialmente, mas alcançando algum resultado futuro.

Outra função da natação é a de atividade relaxante. O autista pode apresentar crises de auto agressão ou agressão aos outros. Mas isto acontece somente se for irritado ou ocorrer mudanças bruscas em sua rotina. Nas aulas de natação este aluno terá oportunidade de aliviar suas tensões, pois por si só a água já é prazerosa, com as práticas realizadas de forma lúdica e contínua o resultado é melhor ainda. Situações de relaxamento que podem ocorrer em aula: tocar, deitar, deslizar, mergulhar, jogar água para cima, brincar de bater na água para fazer com que espirre por todo o lado.

Enfim, é uma prática esportiva que trás inúmeros benefícios a clientela autista, porém ainda não é de conhecimento de todos. E não podemos deixar que estas pessoas sejam privadas de algo tão prazeroso e importante a elas. Pois isto ocorre somente por nossa sociedade ainda não ter conhecimento destas informações tão necessárias até mesmo para evitar a segregação ou a superproteção destas pessoas que em ambos os casos prejudicam o desenvolvimento global delas.

Fonte: criancaesaude.com.br

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Os óculos que meu filho me deu

Fernando Paiva e Bernardo.Desde muito cedo alimentei o sonho de ser pai. Lembro que a primeira vez em que pensei sobre isso foi aos 13 anos de idade. À época, fiz algumas contas: se eu tivesse um filho aos 20 e meu filho tivesse um filho aos 20, eu seria avô aos 40. E se meu neto tivesse um filho aos 20, eu seria bisavô aos 60. Com sorte, poderia até ter um tataraneto. O pensamento era um reflexo do amor que eu sentia pelo meu avô paterno, com quem brinquei muito. Queria poder ser um avô também um dia. De preferência o mais jovem possível.

Obviamente, a vida tratou de mudar esses planos. Fui pai pela primeira vez não aos 20, mas aos 34, bem mais maduro – tenho certeza de que foi melhor assim. Bernardo me deu toda a felicidade que eu sempre havia sonhado em relação à paternidade. Mas me ofereceu também um desafio que eu nunca havia pensado que enfrentaria: ser pai de um menino com síndrome de Down.

Recebemos a notícia logo após o parto. Os exames pré-natais não haviam indicado a síndrome. Claro que foi um choque. Mas não mudou em nada o amor instantâneo que um pai sente pelo filho assim que nasce.

Em pouco tempo li tudo o que podia a respeito da síndrome de Down. Fiz novas amizades por conta disso. E o mais importante: abri meus olhos para as pessoas com deficiência, de qualquer tipo, não apenas Down. Antes elas talvez passassem despercebidas à minha frente. Assim como a falta de uma rampa, ou a falta de política inclusiva nas escolas. Não mais. Passei a enxergar todas as pessoas. E os problemas que elas enfrentam. Bernardo me deu de presente óculos invisíveis para ver o mundo de outra forma. Agora, luto para que outras pessoas também vistam esses óculos. Não sei se um dia serei tataravô, mas pelo menos estou vendo tudo melhor.

P.S.: Um ano e sete meses depois do Bê, eu e Marina tivemos nosso segundo filho, o Francisco. É um doce de menino. Ele e Bê brincam muito juntos. E o Chico, tenho certeza, nem vai precisar desses óculos especiais. Está crescendo em uma família inclusiva e não vai sofrer com a miopia da exclusão.]

Fernando Paiva é pai de Bernardo, de 4 anos, e de Francisco, de 2 anos. Fernando  é Jornalista, Escritor e Compositor, e participa do grupo Acolhedown, iniciativa do RJDown, apoiada pelo Movimento Down.

Foto: arquivo pessoal
Fonte: movimentodown.org.br

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Sobre não esconder os filhos em casa

nao esconder os filhos em casa autismo

Antes de qualquer coisa, preciso afirmar que o comportamento do Bernardo em locais públicos melhorou muito desde o início das intervenções (há cerca de um ano e meio), e que atualmente sair de casa com ele se dá de forma infinitamente mais tranquila do que no passado e que a maioria dos hábitos que irei descrever não correspondem mais a forma dele estar nos ambientes sociais, mas nem sempre as coisas foram assim.

Antes das terapias, assim que o Bê tinha completado dois anos, já chegamos a ir ao casamento de uma de minhas melhores amigas e só esperar para vê-la entrando na igreja e ir embora em seguida, pois não havia a menor condição de estar com ele naquele ambiente.  Era exaustivo demais, em todos os sentidos. Quando a noiva fez sua bela entrada eu já  havia ficado pelo menos meia hora correndo atrás dele sem parar um minuto (de salto alto) e estava no limite de cansaço. Não havia a menor condição de tolerar uma celebração e menos ainda uma festa. Sendo assim, precisamos voltar para casa. Não era raro que, ao sair de casa, o Bê simplesmente não parasse de correr.

A fase em que o Bernardo estava com fixação em pegar canudos foi a mais complicada. Além do constrangimento óbvio, sair com ele estava passando a se tornar cada vez mais cansativo. A gente não conseguia sentar e conversar com as outras pessoas. Até aí tudo bem, essa é a realidade de todo mundo com filhos pequenos, mas houve situações de estarmos em um lugar em que havia outras crianças e brinquedos e mesmo assim ter que passar o tempo todo nos revezando correndo atrás do Bê e evitando que ele tirasse os canudos dos copos das pessoas, pois este era o único interesse de nosso filho.

Nunca fui de importar com a opinião dos outros no que se refere a mim, mas o que envolve o Bernardo é diferente. Os olhares recriminatórios vindo de alguns pais como se meu filho simplesmente fosse uma criança mal educada e eu fosse uma frouxa e não estivesse me esforçando o suficiente começaram a me irritar. Nessa fase, em qualquer evento social eu passava grande parte do tempo pedindo desculpas a estranhos pelo comportamento dele e isso me incomodava tanto que por um tempo praticamente paramos de sair de casa.

Nunca fui de importar com a opinião dos outros no que se refere a mim, mas o que envolve o Bernardo é diferente. Os olhares recriminatórios vindo de alguns pais como se meu filho simplesmente fosse uma criança mal educada e eu fosse uma frouxa e não estivesse me esforçando o suficiente começaram a me irritar. Nessa fase, em qualquer evento social eu passava grande parte do tempo pedindo desculpas a estranhos pelo comportamento dele e isso me incomodava tanto que por um tempo praticamente paramos de sair de casa.

Hoje, os tais olhares recriminatórios que descrevi raramente me incomodam. Já me considero calejada e de forma alguma deixo de levar o Bernardo em algum lugar para evitar olhares atravessados (e ninguém sabe mais sobre tolerar tais olhares do que uma mãe de criança com autismo quando leva seu filho ao salão para cortar os cabelos).  E não vejo como ser diferente, por mais que seja difícil. Para as pessoas aceitarem a diferença, elas precisam enxergá-la e isso não acontece quando os próprios pais não incluem o filho nos ambientes sociais frequentados por eles.

Atualmente, muitas pessoas se espantam pelo fato de que eu e meu marido levamos nosso filho conosco a todos os lugares (a primeira festa que fomos à noite, sem ele, foi este mês!) e dizem algo do tipo “meu filho também tem autismo e isso seria impossível lá em casa.” De forma alguma estou negando o fato evidente que cada caso é um caso e nem pregando que os pais devem impor ao filho que este permaneça em locais insuportáveis para ele, mesmo porque sabemos o quanto que o excesso de estímulos pode ser penoso para algumas pessoas no espectro.

Expor a criança a ambientes aversivos não é o caminho, mas desistir de sair com ela de casa também não pode ser! Nossas premissas aqui foram em primeiro lugar, a de que “onde não cabe nosso filho, não nos cabe” e a segunda a de persistir sempre. Se hoje, levar nosso Bê a restaurantes é algo fácil e corriqueiro, isso só foi possível porque continuamos a levá-lo quando era difícil. E mais uma vez. E outra. E mais outra. Devagar e sempre.

Um grande abraço e até a próxima!

Érika Andrade, mãe do Bernardo, Psicóloga e administradora do instagram @maternidadeazul.
Fonte: http://criancaesaude.com.br/