sexta-feira, 28 de junho de 2019

Atividades adaptadas para alunos com deficiência intelectual

Dr. Clay Brites para o neurosaber.com.br

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Sabia que a educação é um direito universal? Assegurado por lei, o acesso a esse importante passo deve ser oferecido a todo e qualquer ser humano, inclusive àquelas pessoas que necessitam de acompanhamentos e adaptações para a fruição do conteúdo exposto.

O assunto desse artigo desta vez vai dar ênfase aos alunos com deficiência intelectual, cuja experiência com informações e atividades pedagógicas deve ser adquirida de forma efetiva e garanta desenvolvimentos de algumas habilidades.

Professores capacitados: o ponto de partida

Antes de traçar currículos adequados e adaptados às demandas dos alunos acolhidos, é necessário chamar a atenção para a presença imprescindível dos educadores na sala de aula. Sabe-se que a capacitação desses grandes profissionais é o elemento-chave na elucidação de tarefas e didáticas que possibilitem o sucesso de métodos de ensino.

No entanto, é notória a pluralidade da educação no Brasil. Isso reflete muito na vida dos alunos com deficiência intelectual. Tomemos como exemplo o João, aluno de uma escola que conta com professores prontos para lidarem com essa situação. João terá muito mais chances de se desenvolver por meio de programas que valorizem o acesso à educação.

Na outra ponta, temos o Pedro, estudante que também convive com o mesmo grau de  deficiência intelectual. No entanto, sua escola não tem professores capacitados para ensiná-lo. Os resultados apresentados por João podem ser mais satisfatórios do que os mostrados por Pedro.

O ponto de partida para a aplicação de atividades adaptadas está justamente na capacitação dos professores e no engajamento que a escola dá a essas crianças ou adolescentes.

Dicas de atividades voltadas para alunos com deficiência

– O uso de itens como fita crepe, tintas, carrinhos, carimbos e massinha é ideal para estimular a coordenação viso-motora; e aprimorar as habilidades de preensão;

– Uso de pastas com plástico, atividades em sulfite envoltas em papel contact e canetão de lousa branca para que o pequeno risque, brinque e apague, promovendo a psicomotricidade do aluno;

– Utilização objetos reais e do cotidiano para o desenvolvimento de percepções e compreensão de medidas e suas variações de maneira eficaz, valorizando os registros por meio de desenho para posteriormente atribuir significado numérico;

– Utilize brinquedos que possam incentivar a leitura, a associação de palavras e dos objetos e a categorização;

– Personagens do universo infantil e que desperte interesse na criança. Isso pode fazer com que ela desenhe e construa tanto o seu silabário quanto os jogos temáticos, o que favorece a alfabetização;

– Utilização do Geoplano para o desenvolvimento de aspectos de percepção, elaboração, espaço, formas e medidas, reprodução de imagens;

– Interessante usar objetos do interesse e de coleções da criança para categorização, classificação, agrupamento, ordenação, noções de conjunto e quantidade;

– Os encartes de revistas são excelentes para a criação de quebra-cabeças, além de possibilitar percepções de posições no espaço.

Como deve ser a comunicação para eles?

Bom, neste caso a forma de expor alguma situação, explicar determinada tarefa e até mesmo dar alguma ordem deve se pautar sempre no bom senso. É necessário que o educador conheça a intensidade do grau de deficiência intelectual do aluno para saber como abordá-lo.

A partir desse ponto, a comunicação adequada passa a ser aquela que não utilize sentido figurado, metáforas e quaisquer figuras de linguagem que possam confundi-los. Procure sempre usar o sentido literal, ou seja, a denotação para tornar tudo mais acessível ao aluno. Lembrando que a deficiência intelectual, muitas vezes, pode impedir que a pessoa tenha discernimentos. Portanto, falar como algo é de fato é sempre o melhor caminho.

Converse com os pais de seu aluno, procure saber os detalhes que farão toda a diferença no aprendizado e na experiência do estudante.

quarta-feira, 26 de junho de 2019

LEGO Braille Bricks: projeto traz peças customizadas para ajudar no desenvolvimento de crianças com deficiências visuais

Peças foram desenvolvidas em colaboração entre as associações da Dinamarca, Brasil, Reino Unido e Noruega, e primeiros protótipos estão rodando nesses mesmos países para testes


por Soraia Alves para o b9.com.br

A LEGO Foundation e o Grupo LEGO anunciaram suporte ao LEGO Braille Bricks, projeto pioneiro que ajudará crianças cegas e com baixa visão a aprender Braille de maneira divertida usando peças LEGO customizadas para o Braille.

O projeto foi apresentado durante a Conferência de Marcas Sustentáveis em Paris. O conceito do LEGO Braille Bricks foi primeiramente proposto para a LEGO Foundation em 2011, pela Associação Dinamarquesa, e novamente em 2017, pela Fundação Dorina Nowill para Cegos do Brasil, cuja mobilização “Braille Bricks for All” teve repercussão internacional e possibilitou o acordo para a produção do produto.


Desde então, as peças foram desenvolvidas em colaboração entre as associações da Dinamarca, Brasil, Reino Unido e Noruega, e os primeiros protótipos estão rodando nesses mesmos países para testes.

Segundo Philippe Chazal, Tesoureiro da União Europeia de Cegos: “Com milhares de audiolivros e programas de computador disponíveis, cada vez menos crianças estão aprendendo a ler em Braille. Isso é particularmente crítico quando entendemos que as pessoas que usam o Braille com mais frequência são mais independentes, possuem um nível mais alto de educação e melhores oportunidades no mercado de trabalho”, explica. A ideia é que o LEGO Braille Bricks ajude a impulsionar o interesse em aprender o Braille.

O LEGO Braille Bricks será moldado com a mesma quantidade de pontos em relevo usados nas letras e números do alfabeto Braille, permanecendo totalmente compatível com o sistema LEGO.

Para garantir que a ferramenta seja inclusiva e permita que os professores, alunos e membros da família sem a deficiência também interajam, cada peça também terá uma letra ou um caractere impresso. Essa combinação traz uma abordagem totalmente nova e divertida para que crianças cegas e deficientes visuais se interessem em aprender Braille, permitindo que desenvolvam uma ampla gama de habilidades necessárias para prosperar e ter sucesso em um mundo dinâmico.


Diretor de Arte Sênior da LEGO, Morten Bonde, que sofre de um distúrbio genético nos olhos que está tornando-o gradualmente cego, trabalhou como consultor interno no projeto: “Fico emocionado ao ver o impacto que este produto tem no desenvolvimento da confiança acadêmica e na curiosidade de crianças cegas e deficientes visuais em seu período de alfabetização”, conta.

O produto está sendo testado em dinamarquês, norueguês, inglês e português, enquanto o alemão, espanhol e francês serão avaliados no terceiro trimestre de 2019.

A versão final do kit deverá ser lançada em 2020 e distribuída gratuitamente para instituições selecionadas por meio de parceiros participantes nos mercados onde os testes estão sendo realizados. Serão aproximadamente 250 peças cobrindo o alfabeto completo, números de 0 a 9, símbolos matemáticos selecionados e inspiração para o ensino e jogos interativos.

sexta-feira, 21 de junho de 2019

Dicas de festas juninas para crianças com autismo

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Junho significa fogueira, bandeirinhas, dançar quadrilha, pé de moleque, pipoca, bombinhas, fogos de artifícios e roupas de caipira.

A maioria dos pais de crianças com autismo adorariam ver seus filhos participando da quadrilha da escola e da Festa Junina. No entanto, sabemos que para essas crianças muitos obstáculos podem aparecer e impedir que este momento seja feliz e livre de problemas.

Devemos considerar que as crianças com autismo e outros transtornos podem apresentar sensibilidade a certos estímulos, como texturas, cores, cheiros, ruídos altos, os quais tornam difícil tanto vestir a roupa de caipira, quanto participar da Festa Junina.

Veja algumas dicas para tornar esta festa uma experiência gostosa e sem dificuldades para as crianças com autismo e seus pais:

○ Colocar a roupa de caipira dias antes da festa. Certifique-se de que seu filho se sinta bem com a textura da roupa. Caso a criança fique incomodada com a fantasia, improvise usando camisa xadrez e calça ou saia jeans. Treine antes, também, colocar a maquiagem e o chapéu. Deixe seu filho usar a roupa de caipira em casa para se acostumar bem antes do dia especial. Caso o seu filho não tolere permanecer com o chapéu na cabeça ou prender o cabelo, não insista!

○ Praticar em casa a dança ou quadrilha. Coloque a música e treine com seu filho os passos da dança. Caso a criança tenha acompanhante terapêutico (A.T.), combine com a equipe da escola como será no dia. Ajustes podem ser feitos para melhor adequar a situação para a criança. Por exemplo, a criança ficará com a A.T. desde o início da festa para evitar recusa na hora da dança, ou é melhor ficar com os pais até a hora da dança?

○ Mostrar imagens sobre a festa junina e o que irá acontecer no dia pode ser muito útil. Peça para a equipe da escola tirar fotos da criança ensaiando a dança. Monte uma história com as imagens descrevendo o que irá acontecer no dia da Festa Junina. Lembre-se de explicar na história que a criança irá para escola no dia da festa não para estudar, mas para dançar, brincar nas barraquinhas e comer várias coisas gostosas. Por isso, ela não irá usar uniforme. Mudanças na rotina podem ser complicadas. As crianças podem não entender porque estão indo para a escola no final de semana e sem uniforme. O aglomerado de gente pode ser difícil para a criança e comportamentos inadequados podem ocorrer em decorrência da mudança da rotina.

○ Assistir vídeos de fogos de artifícios. O barulho alto pode ser um estímulo aversivo para algumas crianças. Se este for o caso, inicie com o vídeo em volume baixo e, aumente gradualmente o volume à medida que a criança for aceitando o ruído dos fogos. Treine também, as bombinhas (estalinhos). Explique para a criança que a bombinha é apenas um barulho alto, mas que não machuca.

○ Não há problema em ficar em casa. Se você achar que o seu filho não vai aproveitar a Festa Junina, você pode fazer a sua própria festa. Decore a sala com bandeirinhas, faça pipoca e dance ao ritmo da música caipira.

A Festa Junina deve ser um momento divertido para toda a família! Por isso, sempre que necessário, considere as alternativas para o seu conforto e do seu filho.

Fonte: StimulusABA

quarta-feira, 19 de junho de 2019

Mãe cria acessório bem diferente que ajuda crianças com deficiência em casos de acidente de trânsito

A filha de Natalie Bell tem dificuldades auditivas e a inspirou na criação do objeto


Giovanna de Boer para paisefilhos.uol.com.br

Shae usando o acessório criado pela mãe (Foto: facebook/ Personalised by Nat)

A mãe australiana, Natalie Bell, criou uma alternativa acessível que pode ajudar outras mãe a protegerem seus filhos. Natalie inventou um acessório que pode ser aplicado no cinto de segurança do carro, um aviso de velcro. O utensílio deixa amostra a condição da filha, que tem deficiência auditiva. A menina de 10 anos, Shae Bell, tinha acabado de receber um implante coclear.

“Sempre me perguntei o que poderia acontecer caso estivéssemos envolvidas em um acidente de carro e eu não conseguisse dizer aos médicos que minha filha não poderia fazer uma ressonância magnética por causa do implante coclear”, escreveu Natalie no Facebook. “Agora eu não preciso mais me preocupar com essas capas de cinto de segurança. Isso pode ser adaptado para qualquer necessidade especial que a equipe médica precisa saber”.

Ela compartilhou essa foto da filha com o acessório:

Deficiente auditiva, inspirou a mãe na criação do objeto (Foto: facebook/ Personalised by Nat)

O post rapidamente viralizou nas redes sociais, com mais de 758 mil compartilhamentos e 2016 mil likes, Natalie compartilhou outra foto com escritos diferentes nos acessórios:


Nat não parou por aí. Ela criou um relógio acessível para a filha que mostra os números em linguagem de sinais. Emocionante, né?

Relógio mostra as horas em linguagem de sinais (Foto: facebook/ Personalised by Nat)

“Tenho recebido muitos feedbacks positivos de pessoas ao redor do mundo todo- incluindo bombeiros, ambulâncias e policiais- dizendo o quanto isso teria feito muita diferença em acidentes passados sobre a forma como abordaram a situação”, Natalie disse para a Revista People.

Shae Bell

A menina nasceu com perda auditiva leve. Quando completou 1 ano de idade, Shae já tinha perdido quase toda a audição do ouvido esquerdo e apresentava uma perda auditiva severa do lado direito. Agora, a mãe da menina, de 5 anos, diz estar muito feliz por seus esforços terem tocado e conscientizado muitas pessoas ao redor do mundo.

sexta-feira, 14 de junho de 2019

Maior risco de autismo em crianças hiperexpostas a mídias audiovisuais

Veja as considerações do médico acerca do maior risco de autismo em crianças hiperexpostas a mídias audiovisuais


Tatiana Takeda para opopular.com.br

Foto: Shutterstock

No mês de abril, a Ludovica reuniu grandes prossionais atuantes na área do autismo. Entre eles, contamos com a presença do neurologista infantil e siologista, doutor Helio van der Linden Júnior. Na ocasião, o especialista contribuiu muito para a discussão sobre o tema mais discutido do evento: a hiperexposição de crianças com autismo aos celulares e tablets. Cientes de que esse assunto merece atenção, convidamos o doutor Helio para dispor sobre uma “teoria perturbadora” e que, em conformidade com o especialista em neurologia infantil, embora careça de comprovação, é algo a ser observado, estudado e refletido.

Veja a seguir as considerações do médico acerca do maior risco de autismo em crianças hiperexpostas a mídias audiovisuais:

Nos dias atuais é simplesmente impossível viver sem o apoio da tecnologia. Computadores de última geração, tablets, smartphones, internet disponibilizada praticamente em toda e qualquer esquina e no telefone celular tornam o mundo cada vez mais digitalizado e hiperconectado. No entanto, todo esse fácil acesso e o uso indiscriminado da tecnologia tem trazido vários problemas. O uso excessivo e precoce de dispositivos audiovisuais por crianças tem sido mais recentemente pesquisado, com vários estudos demonstrando uma maior associação com o transtorno de ansiedade, problemas de autorregulação, déficit de atenção, distúrbio do sono, além de problemas físicos, como a obesidade infantil.

Entretanto, poucos estudos até agora focaram especificamente na associação da hiperexposição audiovisual precoce e o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Essa possibilidade de associação até tem sido discutida de maneira informal entre especialistas que trabalham com TEA, mas pouco se fala abertamente sobre o tema. Em 2015, os pesquisadores Karen Heffler e Leonard Oestreicher publicaram no periódico Hipóteses Médicas uma nova teoria. Segundo os autores, uma grande parcela de casos de TEA é decorrente de uma exposição precoce e intensa das crianças menores de dois anos às mídias audiovisuais. Essa exposição levaria a uma hiperestimulação de vias cerebrais relacionadas ao processamento de informações audiovisuais não sociais.

A hiperestimulação, mantida ao longo do tempo, levaria a uma falha ou inibição do desenvolvimento das redes neurais relacionadas ao chamado cérebro social. Para os autores, a criança pequena, o lactente, não consegue discriminar a relevância social da mídia audiovisual e se sente naturalmente atraída pelas telas brilhantes e ricas em estimulação visual. Dessa maneira, acaba perdendo o interesse por atividades reais, no concreto. Diante da “concorrência” da tela brilhante, chamativa e interativa, que gera respostas rápidas a um simples toque ou que bombardeia o cérebro com milhares de informações sensoriais em poucos segundos, a criança fica cada vez mais fascinada e envolvida nessas atividades de reforço imediato, com um custo baixo para obtenção de resposta.

É como se fosse uma “droga”, em que a criança obtém um reforço, uma satisfação, sem que haja um mínimo de esforço, um engajamento ou uma atividade motora mais elaborada. Ante tanta atividade prazerosa instantânea e imediata determinada pelas mídias audiovisuais, o cérebro fica cada vez mais “especializado” em processar os estímulos originados por essa via. A teoria de um desenvolvimento exagerado de vias neurais relacionada a informações sensoriais visuais e auditivas é reforçada pelo fato de que muitas pessoas com TEA apresentam uma sensibilidade exagerada ou problemas de modulação de determinados sons, bem como têm facilidade em processar informações pela via visual. Alguns até podem desenvolver habilidades extraordinárias, como ouvido absoluto ou memória fotográfica.

O desenvolvimento típico na infância decorre de experiências e interações sociais com pessoas, com objetos, com sensações internas e externas. Desde bebê, quando uma criança se acalma ao ouvir a voz da mãe, quando emite algum som ou sorri, provoca também uma reação na pessoa à frente. Esse processo de determinar uma reação do outro é a base do desenvolvimento social, que vai se especializando em relações mais complexas. A criança necessita compartilhar e dividir a experiência de aprendizado com o outro, provocando reações de mudança de comportamento e vice-versa. Estudos demonstram que crianças de três meses são naturalmente atraídas pela luminosidade e movimentação da tela, em detrimento ao interesse pelas faces.

A ausência de reciprocidade social das mídias audiovisuais, como um contato olho a olho, um sorriso frente a um olhar ou a procura pela fixação ocular do outro, não estimulam um elemento fundamental para o desenvolvimento social, a chamada atenção compartilhada. Trata-se da capacidade de chamar a atenção do outro para si e levar o olhar e atenção desse para outra direção.

Essa teoria nos faz ainda pensar do ponto de vista epidemiológico. A prevalência do TEA no mundo vem aumentando progressivamente a partir da década de 1970. Curiosamente, essa época marcou a ampliação do acesso da televisão nos lares domésticos. Atualmente computadores, tablets e celulares passaram a ser parte do cotidiano na vida das famílias, influenciando, de maneira considerável, os hábitos e comportamentos das pessoas. Diante da falta de tempo e das atribulações do dia a dia, as famílias recorrem cada vez mais às chamadas “babás eletrônicas” e deixam de realizar atividades ao ar livre ou em ambientes naturais. É muito comum até as pessoas acharem verdadeiramente que estão estimulando o desenvolvimento dos filhos colocando-os para assistir TV ou brincar no celular ou tablet.

Apesar do aumento do acesso a informação, ampliação dos critérios diagnósticos, melhora na qualidade da assistência à saúde, é pouco provável que esses fatores sejam os únicos responsáveis pelo expressivo aumento da prevalência do TEA, cujos dados atuais do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos é de um para cada 59 pessoas. Evidentemente, essa teoria não tem a pretensão de explicar que todos os casos de TEA são decorrentes da hiperexposição audiovisual precoce. Como se bem sabe, o TEA é uma colcha de retalhos, com uma série de etiologias genéticas bem conhecidas. Provavelmente as causas do que se chama autismo secundário, ou seja, o autismo causado por uma alteração do DNA, continuam a ter um papel importante nesse cenário e é possível a identificação destas alterações, através de exames.

No entanto, na maioria dos casos não se encontra um “defeito” genético, configurando o chamado autismo idiopático. Provavelmente esses casos são os que podem sofrer mais a influência ambiental da hiperexposição audiovisual. É lógico que essa nova teoria traz um impacto gigantesco na sociedade atual. Admitir e confirmar esse risco deverá trazer uma mudança de hábitos de maneira radical, com a proibição de dispositivos audiovisuais em crianças menores de quatro anos. Atualmente as sociedades brasileira e americana de pediatria já recomendam que se evite a exposição aos dispositivos eletrônicos em crianças até os dois anos de idade. Contudo, essa recomendação é muito pouco difundida e, consequentemente, pouco seguida. Apesar da necessidade de confirmação da teoria, os argumentos e dados epidemiológicos, associados ao conhecimento da fisiologia do desenvolvimento neuropsicomotor típico, permitem colocar essa hipótese como plausível para parte do aumento de casos de TEA no mundo.

Até que essa teoria possa ser comprovada, cabe a recomendação de se evitar ao máximo (e até proibir) que crianças menores de quatro anos de idade sejam expostas a estimulação audiovisual excessiva. Uma medida simples do comportamento, com mudança de atitude e hábitos, privilegiando-se atividades lúdicas no “mundo real”, olho a olho, pode contribuir para um desenvolvimento infantil saudável, não só nos aspectos sociais, mas também físico e emocional.

Fonte:

- Heffler KF, Oestreicher LM. Causation model of autismo: Audiovisual brain specialization in infancy competes with social brain network. Med Hypotheses (2015)

- Media usa by children younger than 2 years. American Academy of Pediatrics. doi: 10.1542/peds.2011-1753

- Radesky J, Christakis D. Increased screen time: implications for early childhood development and behavior. Pediatr Clin N Am 63 (2016): 827-839


*Helio van der Linden Júnior é neurologista infantil e fisiologista e atua no Instituto Neurológico de Goiânia e no Centro de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo (CRER).

*Tatiana Takeda é advogada, membro da Comissão dos Direitos da Pessoa com Deficiência da OAB/GO, em que coordena a Subcomissão de Defesa dos Direitos da Pessoa Autista, Vice-Presidente da Comissão de Inclusão Social e Defesa da Pessoa com Deficiência do IBDFAM/GO, professora do curso de Direito da PUC Goiás, servidora pública, mestre e especialista em Direito, pós-graduada em Ensino Estruturado para Autistas e autora da coleção de Ebooks “Viva a Diferença – O que você precisa saber sobre Autismo”, disponível para download gratuito no site www.ludovica.com.br.

quarta-feira, 12 de junho de 2019

Modelos de aprendizado e sua relação com necessidades educacionais especiais

Por Leandro Rodrigues para o Instituto Itard

modelos de aprendizagem

As pessoas aprendem de maneiras diferentes. Algumas aprendem melhor vendo, outras ouvindo, algumas até pelo toque. Saber em quais modelos de aprendizado nos encaixamos melhor ajuda a aprender e lembrar coisas novas. Saber qual o melhor modelo de aprendizado do seu aluno com deficiência é fundamental.

Existem três modelos básicos de aprendizado:

  • Auditivo (ouvindo a informação)
  • Visual (vendo a informação)
  • Cinestésico ou Tático-Motor (tocando, participando)
  • Quando pais ou professores aprendem qual o modelo de aprendizado ideal de seus filhos e alunos eles podem ajudá-lo a aprender mais efetivamente. Importante também é saber o quanto você mesmo se encaixa em cada modelo.

Os pais normalmente ensinam da forma que gostam de aprender, que pode ser diferente da forma ideal para a criança. Isso pode der frustrante tanto para os pais quanto para criança. Por exemplo, imagine que você aprende muito bem ouvindo e tenta explicar futebol verbalmente para seu filho que é mais visual e realmente precisa ver as jogadas para entender!

Apesar de termos modelos de aprender que são ideais para nós, ainda podemos aprender de outras maneiras. As pessoas têm variações nos níveis de preferência de cada modelo – alguns são altamente auditivos, outros altamente visuais, alguns altamente táteis, enquanto outros aparentam uma preferência moderada por todos os três tipos de aprendizado.

Agora imagine que uma criança com deficiência visual, por exemplo, terá suas opções de aprendizagem limitadas por causa da deficiência. Essa criança deverá ser encorajada a explorar seus outros sentidos ao máximo: audição e tato. Você ficaria surpreso ao ver uma pessoa cega ouvir um audio-book na velocidade rápida e entender tudo o que for dito.

Apesar de termos modelos de aprender que são ideais para nós, ainda podemos aprender de outras maneiras. As pessoas têm variações nos níveis de preferência de cada modelo – alguns são altamente auditivos, outros altamente visuais, alguns altamente táteis, enquanto outros aparentam uma preferência moderada por todos os três tipos de aprendizado.

Em qualquer idade, seu filho ou aluno irá aprender com mais facilidade usando seu modelo de aprendizagem ideal, mas isso não significa que ele não pode e não vai aprender de outras formas. Na verdade, ele deve ser encorajado a usar e melhorar todas as formas de aprendizagem.

Quanto mais sentidos nós usamos para aprender alguma coisa mais informação absorvemos! Uma boa diretriz é permitir que seu filho ou aluno use seu modelo de aprendizagem ideal para aprender informações essenciais (ex.: segurança no trânsito), e que pratique os outros modelos com coisas que não são tão importantes (ex.: as palavras das músicas que você canta no carro).

Aprendizado baseado nos interesses

Quem aprende ouvindo vai gostar de ouvir as músicas gravadas; quem aprende vendo vai gostar de ler as palavras enquanto as escuta sendo cantadas; quem aprende de forma cinestésica vai gostar de dançar ou atuar de acordo com a música.

Interessante prestar atenção ao que seu filho ou aluno tem mais interesse. Teve um caso de uma mãe de criança autista não verbal encontrar a solução para estabelecer a comunicação com seu filho através de orcas (sim, o animal). Assista ao filme baseado em fatos reais “O Farol das Orcas” (tem na Netflix).

Eu, Leandro, em minhas pesquisas para ensino de crianças com deficiência, descobri que duas coisas são fundamentais: a Análise e a Empatia. É justamente disso que estamos falando aqui: aprendizado baseado nos interesses. Para saber os interesses do seu aluno você precisará conhecê-lo profundamente (Análise) e estabelecer uma afetividade com ele (Empatia), só assim ele confiará em você e aceitará sua informação. Essa informação deverá estar personalizada de acordo com os interesses pessoais do aluno. Isso é extremamente importante e vou falar mais sobre isso em outros posts.

Quando a criança é pequena

Todas as crianças pequenas aprendem de forma cinestésica (tátil-motor). Bebês colocam tudo na boca e usam o tato para explorar seu mundo. Preferências pelos modelos visuais e auditivas podem surgir depois. As escolas tradicionalmente usam métodos visuais e auditivos para ensinar, principalmente em séries mais altas. As crianças que aprendem fácil através desses métodos normalmente tem sucesso na escola, enquanto as crianças que aprendem de forma tátil-motora costumam ter dificuldade na escola. Nossa grande maioria – não apenas crianças – aprende melhor quando está ativamente envolvido em nosso próprio aprendizado.

Obviamente, todas as experiências futuras de aprendizado são afetadas pelas primeiras experiências, que temos na primeira infância. Se forem positivas e satisfatórias a fundação é formada para uma vida de entusiasmo em relação a aprendizagem. Ter atenção aos modelos de aprendizado quando as crianças ainda são pequenas vão ajudar a fazer com que aprender seja positivo e agradável. Por exemplo, uma pessoa que aprende melhor vendo e precisa se lembrar de uma informação passada em uma palestra (modelo auditivo) sabe que vai precisar fazer anotações, esquemas ou ler um livro sobre o assunto para reforçar o conteúdo da palestra.

DICA: Observe sua criança brincar. Ela já demonstra uma inclinação par algum modelo de aprendizado? Lembre-se de que crianças pequenas ainda estão se desenvolvendo e em sua maioria são muito táteis – elas querem e precisam estar ativamente envolvidas para conseguir entender as coisas. Tente fazer com que sua criança tenha várias oportunidades de usar todos os tipos de aprendizagem para que possa desenvolver seu potencial máximo.

Qual seu modelo de aprendizado ideal?

Observe as listas a seguir, elas contêm alguns comportamentos comuns encontrados em pessoas que se encaixam em cada modelo de aprendizado. Qual você acha que é sua forma ideal de aprender?

Modelo Auditivo:
  • Gostam de discussões verbais
  • Precisam falar em voz alta para memorizar algo
  • Precisam que as coisas sejam verbalmente explicadas
  • Tem dificuldade com instruções escritas
  • Falam sozinhos quando estão aprendendo algo novo
  • Repetem um número de telefone para memorizá-lo

Modelo Visual:
  • Lembram de detalhes visuais
  • Preferem ver o que estão aprendendo
  • Gostam de ter papel e lápis perto
  • “Rabiscam” enquanto estão ouvindo
  • Tem dificuldade de acompanhar palestras
  • Gostam de escrever instruções ou números de telefone

Modelo Cinestésico:
  • Preferem realizar atividades
  • Gostam de realmente fazer o que está sendo falado ou aprendido
  • Gostam de se mover enquanto estão ouvindo ou falando
  • Costumam gesticular
  • Gostam de tocar as coisas quando aprendem sobre elas
  • Lembram “quem fez o que” ao invés de “quem disse o que”

Tradução: Sarah Bezerra
Adaptação: Leandro Rodrigues
Fonte: Understanding Learning Styles – Canadian Child Care Federation

sexta-feira, 7 de junho de 2019

Projeto Sorriso Especial - Bruno

Nas últimas semanas recebemos a visita do Bruno Marcos. O paciente retornou  para uma nova avaliação dentária.



Ele foi atendido pela nossa dentista voluntária Vania Leitier. A profissional realizou uma limpeza completa no paciente.


Drª Vania e Bruno

Gostaria de ajudar no tratamento do Bruno e das dezenas de crianças e adolescentes com deficiência da comunidade da Maré? Saiba como ajudar aqui.

Conheça o Projeto Sorriso Especial aqui.

quarta-feira, 5 de junho de 2019

Crianças com deficiência se desenvolvem melhor em escolas regulares

Um dos maiores problemas relacionados a crianças com deficiências é a falta de investimento em relação à escola. A maioria das instituições não tem a estrutura necessária, e isso pode prejudicar as possibilidades que a criança tem para melhorar seu desenvolvimento


Por Carolina Juliano Fotos – Raquel Espírito Santo/Editora Globo Styling – Bruna Castro Produção Executiva – Mariana Costa Beleza – Isabelle Freitas / Cenário – Tamy Rente / revistacrescer.globo.com


criança estudando (Foto: Pexels)
(Foto: Pexels)

Há dez anos, a Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) de São Paulo fechou a escola especial que mantinha e passou a apoiar a inclusão das crianças com deficiência nas escolas regulares. O acompanhamento das crianças que migraram para essas instituições, durante três anos, mostrou que elas se desenvolveram melhor do que as que optaram por outra escola especial. A superintendente-geral da entidade, Aracélia Costa, explica por quê.

Em que momento e por que se deu essa mudança de paradigma?
Há 60 anos, quando surgiram os movimentos para cuidar dessas pessoas, eles eram ainda pautados num modelo de oferecer atendimento dentro das instituições. A sociedade nem imaginava como cuidar dessas crianças. Felizmente, como o mundo evolui, as condições da sociedade também mudaram e surgiram alguns códigos internacionais, como a Convenção de Direitos da Pessoa com Deficiência, da ONU, depois, no Brasil, a Lei Brasileira de Inclusão. Todos esses marcos regulatórios acabaram forçando uma reorganização da sociedade.

Como deve ser feita essa inclusão?
Nós acreditamos muito no atendimento educacional especializado, no apoio ao professor, à família e ao aluno. Esse tripé é que garante uma inclusão escolar plena. Nós apoiamos a escola, formamos professores, temos curso de especialização e pós-graduação. Além disso, apoiamos os centros de AEE [Atendimento Educacional Especializado] e o aluno, temos avaliação psicopedagógica e avaliações de funcionalidade na tentativa de que, a partir disso, possamos orientar melhor o professor no dia a dia da sala de aula com aquele aluno.

Quais são as principais barreiras da inclusão?
Especialmente a atitudinal. Tem a ver muito com o conhecimento sobre cada aluno e quais são os seus mecanismos de melhor aprendizagem. É preciso informação de qualidade para que os ambientes possam ser incluídos. Isso se aplica a escolas, a empresas e a qualquer outro lugar. Mas estamos em um movimento de avanço porque, primeiro, não havia escolas para essas pessoas, depois tivemos as especiais, agora estamos num modelo de educação inclusiva.

A nossa sociedade está preparada para evoluir na inclusão?
A nossa percepção é de que ninguém é contrário à inclusão, é impossível você não querer um mundo onde todos têm o seu lugar – acho que isso faz parte da dimensão humana. Ocorre que é preciso agir para incluir e aí aparecem as barreiras. Não existe inclusão sem investimento, senão ela só fica na ideologia. Nós, das organizações, acumulamos experiência em lidar com essas pessoas e queremos colocar isso à disposição das escolas, dos pais e dos alunos. O acesso é o primeiro passo, mas lá, dentro da escola, o aluno precisa ter todo o apoio de que necessita, e precisamos avançar nisso.