sexta-feira, 27 de agosto de 2021

8 expressões capacitistas para tirar do vocabulário (seu e das crianças)

Entenda quais expressões são consideradas preconceituosas contra quem é PCD e porquê

Ketlyn Araujo para o bebê.com.br


Rudzhan Nagiev/Getty Images

Capacitismo é, por definição simplificada, o nome dado ao ato de discriminar pessoas com deficiência (PCD) – seja ela física ou mental – ao enxergá-las com um olhar de superioridade, como se fossem incapazes ou tivessem menos valor dentro da sociedade. De acordo com a psicóloga e terapeuta integrativa Bianca Panvequi, portanto, usar do capacitismo é manifestar um preconceito social por suposição.

Mas nem sempre é fácil identificá-lo no dia a dia, já que, como acontece com outros tipos de preconceitos, como machismo e racismo, muitas vezes ele é minimizado ou ignorado. “É capacitismo quando a sua família te questiona sobre estar preparado para ter um relacionamento com uma pessoa com deficiência, quando casas de shows e outros espaços públicos não possuem infraestrutura para quem é PCD, e muitas vezes, as colocam nos piores lugares”, explica, na prática, Sonny Pólito, que tem deficiência visual e é um dos fundadores da Inclue, startup que permite treinamento ao varejo e atendimento inclusivo para PCD.

Outros exemplos no dia a dia, diz Sonny, são mostrados quando uma pessoa PCD vai prestar vestibular ou concurso público, e o responsável por aplicar a prova não possui nenhum tipo de treinamento na intenção de auxiliar quem tem deficiência. A ausência ou pouca oferta de brinquedos que representem crianças com deficiência, enxergar a acessibilidade como luxo (e não obrigação), e considerar vagas e cotas para quem é PCD como privilégio são atos igualmente capacitistas.

Além disso, este preconceito também é manifestado na linguagem, por meio de expressões e termos altamente ofensivos para quem é PCD, mas muitas vezes naturalizados. Para que isso mude, basta um esforço para compreender o porquê, manter uma postura vigilante e substituir palavras preconceituosas por termos neutros.

A seguir, selecionamos algumas das principais expressões capacitistas para você eliminar do vocabulário imediatamente – e ensinar as crianças de casa a fazerem o mesmo.

Chamar uma pessoa com deficiência de “coitado (a)”

Bianca explica que chamar uma pessoa com deficiência de “coitadinho” ou “limitado” é algo que ainda está bastante presente na nossa sociedade, mesmo sendo um ato extremamente ofensivo. “A pessoa com deficiência pode, sim, executar suas tarefas diárias e realizar suas próprios vontades da maneira como conseguir e se sentir melhor. Eles precisam de incentivo, e não de quem os enxergue com dó ou pena”, fala a profissional.

“Fazer perguntas mais intimas também é ofensivo quando você não tem liberdade ou algum vínculo próximo com a pessoa com deficiência em questão. Neste caso, não estamos falando necessariamente sobre palavras ou frases, mas sim de um preconceito velado e da falta de informações sobre o assunto, que infelizmente ainda existem por parte dos adultos”, complementa ela.

Chamar alguém de ou se autodefinir como “retardado”

O retardo mental ou deficiência intelectual é um transtorno neuropsiquiátrico, que necessita de diagnóstico médico. Trata-se de uma condição manifestada logo no nascimento ou nos primeiros anos da infância.

Portanto, usar do termo para se autodefinir quando fizer algo de “errado”, ou chamar alguém de “retardado” para xingar ou ofender aquela pessoa é outra forma de manifestar o preconceito frente quem é PCD, reforçando essa falsa ideia de superioridade.

Usar a expressão “fingir demência”

Assim como o retardo mental, a demência também é um diagnóstico médico dado a pessoas que sofreram ou vêm sofrendo com o declínio geral das habilidades mentais (como memória, linguagem e raciocínio). Não é difícil, portanto, entender que, ao usar o termo “fingir demência” para falar sobre uma situação na qual você fingiu não compreender o que estava acontecendo, é mais uma forma de expressar o capacitismo.

Substitua “fingir demência” por um simples “se fingir de desentendido”, expressão que não ofende ninguém.

Falar “deu uma de João-sem-braço”

Imagine o seguinte cenário: você está em um restaurante, contando uma história sobre uma pessoa preguiçosa, que se fingiu de desentendida para tirar vantagem de determinada situação. Para falar sobre esse indivíduo você, então, diz que ele “deu uma de João-sem-braço”. Quando você repara nas mesas ao seu redor, nota a presença de uma pessoa com deficiência, que não tem um braço, olhando para você de maneira bastante desconfortável.

A situação acima explica por si só a necessidade de tirar a expressão, ainda que popular, do seu vocabulário e das crianças, já que o termo é outro exemplo de capacitismo na linguagem, colocando pessoas que não têm deficiência como melhores do que quem é PCD. Substituir a frase não é complicado, basta usar “preguiçoso”, dizer que alguém “fugiu da responsabilidade” ou “se fez de desentendido”.

Perguntar “você está cego/surdo/mudo?”

Quando alguém não ouviu o que você disse, não pergunte se aquela pessoa “está surda”, quando alguém não conseguiu ver algo que você tentou mostrar a ela, não pergunte se ela “ficou cega” e, quando alguém não respondeu algo que você perguntou, não diga que ela “está muda”. Aqui, batemos na mesma tecla de que quem tem deficiência auditiva, visual ou de fala não é inferior e, portanto, não deve ter sua condição apontada como algo errado.

Usar a expressão: “Em terra de cego, quem tem um olho é rei”

Apesar de ser uma expressão bastante difundida ao longo dos anos, o ditado “em terra de cego, quem tem um olho é rei” é mais uma forma de demonstrar que pessoas sem deficiência visual são superiores e podem tirar vantagem de quem é PCD – neste caso, de quem não enxerga.

O dito popular, caso você deseje muito usá-lo, pode então ser reformulado por “no meio da ignorância, domina quem sabe pouco”.

Falar que alguém está “muito autista”

Falar sobre você mesmo ou se referir a alguém dizendo que aquela pessoa está “muito autista” para definir um comportamento de ausência, distração e isolamento é outro termo extremamente capacitista e preconceituoso.

Isso porque o autismo não é uma condição temporária, um estado de espírito: adultos e crianças dentro do espectro autista enfrentam, em diferentes níveis, alterações na capacidade de comunicação, nas interações sociais e no comportamento – e devem ser vistos e respeitados em toda sua complexidade.

Portanto, elimine o “estar muito autista” da sua fala. Substitua a expressão por “estou menos sociável” hoje, “ele está em um dia mais introspectivo”, “ela não está no clima de interagir com ninguém”.

Dizer que a sua empresa/projeto/atividade não vai dar certo, pois vocês não têm “perna/braço suficiente para tal coisa”

Sonny chama a atenção para o fato do capacitismo ser representado, também, pelo hábito que muitas empresas têm de contratarem pessoas com deficiência apenas na intenção de cumprirem a lei de cotas para PCD. Ao mesmo tempo, é bastante comum encontrarmos, em ambientes corporativos, gente que use a frase “não temos braço suficiente” ao se referirem à ausência de funcionários para a realização de determinado feito ou projeto em equipe.

A expressão também é preconceituosa e precisa ser revista, pois dá a entender que quem vive sob a condição de não ter um ou mais membros do corpo é incapaz de obter sucesso na vida. Vale trocá-la por “não temos um número de pessoas suficiente para resolver esse problema”, “não temos recursos para executar a tarefa”, e por aí vai.

Ensinando às crianças o respeito a quem é PCD

Para que crianças saibam respeitar pessoas com deficiência, o papel dos pais e responsáveis é de ensinar o vocabulário correto e abrir o diálogo sobre o assunto ainda na infância, sempre com naturalidade e de maneira direta. Mostrar aos pequenos que as diferenças existem, sim, mas que nem por isso elas são indicativo de superioridade ou inferioridade, diz Bianca, é igualmente essencial.

“Cada pessoa é única e, com as crianças, o melhor a fazer para tocar no tema da deficiência é abordar o assunto de forma lúdica. Investir em bonecos e bonecas, contar histórias e recorrer a outros materiais, como filmes e livros, possibilitam uma compreensão ainda melhor sobre a condição de quem é PCD”, exemplifica a psicóloga.


Para Sonny, o capacitismo só tem fim quando espaços públicos e privados forem, de fato, ocupados por pessoas com deficiência, que devem ter oportunidades de serem incluídas na sociedade de maneira igualitária e por meio da acessibilidade.

Só existe inclusão com convivência. É preciso mais empatia, é necessário sentir a necessidade do próximo e ver o quanto você pode ser capaz de preparar o seu produto ou serviço para atender a todos de forma igual. É preciso que a gente tenha mais pessoas com deficiência nas empresas, na televisão, nos meios de comunicação, nos negócios. Dessa forma, todos podem participar da sociedade de maneira mais igualitária, para que a convivência realmente diminua o preconceito”, finaliza.

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

Inclusão é o único caminho

Mais de 12 milhões de brasileiros têm algum tipo de deficiência. A construção de um ambiente educacional para todos é um compromisso que o Brasil assumiu há décadas, embora ainda existam os que os inferiorizam negando-lhes um futuro

Ana Lúcia Villela para o EL PAÍS Brasil


Uma menina com síndrome de Down com a professora. GETTY.

Assim que Renata Basso chegou ao mundo, uma médica se virou para a família da bebê e disse: “Só não vou prometer que [no futuro] ela vai fazer uma faculdade”. E ponderou: “Mas eles são muito inteligentes”. As frases foram lembradas pelo pai da criança em uma das cenas do documentário Outro Olhar - Uma Nova Perspectiva. Peço que as palavras da médica sejam lidas novamente não por presumir descuido de quem lê, mas para que o leitor dê a elas o peso para o que de fato são. O que houve nesse nascimento para que a família recebesse, de partida, a previsão de tantas negativas? Por que atribuir falta de capacidade e apontar baixas expectativas a uma criança que acaba de nascer?

Mais de 12 milhões de brasileiros têm algum tipo de deficiência, segundo o IBGE. Renata, que tem síndrome de Down, faz parte dessa estatística. O filme conta sua história no momento em que a jovem conclui o ensino médio na escola comum. A construção de um ambiente educacional para todos é um compromisso que o Brasil assumiu há décadas. Com a Constituição de 1988, o país passou a estabelecer a educação como um direito de todos e a garantir a igualdade de condições de acesso, permanência na escola e progressão aos níveis superiores de educação.

Em 2008, esses direitos se reafirmaram com a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva Inclusiva, que consolidou o paradigma da inclusão ao valorizar as diferenças na escola. Já a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU, que tem status de emenda constitucional no país, determinou o acesso às pessoas com deficiência ao ensino inclusivo “em igualdade de condições com os outros”.

Se há os que acreditam que algumas pessoas, por conta de suas características, não são capazes de acessar a educação básica e, muito menos, o ensino superior, é porque ainda persiste um entendimento de mundo que inferioriza sujeitos pela deficiência ou outros atributos. Com essa compreensão limitada, passam a achar que a sociedade pode ser dividida entre os que podem ou não aprender; os que merecem ou não a nossa aposta.

O que essas pessoas não sabem é que todos ganham com a inclusão, como revela pesquisa de 2016 do Instituto Alana e da ABT Associates, coordenada por Thomas Hehir, da Harvard Graduate School of Education. A análise, que fez uma revisão sistemática de estudos de 25 países, mostra que a inclusão melhora o desempenho acadêmico dos estudantes e abre a possibilidade de a escola ser um espaço de criação, porque cria oportunidades de aprimoramento de práticas pedagógicas.

Vale lembrar que as conquistas legais no campo dos direitos das pessoas com deficiência apoiaram a progressão desses jovens no ensino superior. Porém, os números estão aquém do total de pessoas com deficiência e na proporção com os demais estudantes, indicativo que muitos ainda enfrentam baixas expectativas sobre suas trajetórias de vida e escolar. Felizmente, a maior parte dos brasileiros reconhece que não há caminho fora da inclusão: 86% acreditam que as escolas se tornam melhores ao incluir crianças com deficiência, mostra pesquisa do Datafolha de 2019 encomendada pelo Instituto Alana.

Esses dados poderiam servir de baliza para tomadas de decisão em momentos críticos como agora. O Decreto 10.502/2020, que abre margem para escolas exigirem avaliações para estudantes com deficiência efetuarem matrícula na escola comum, é, atualmente, uma das principais preocupações de nós, que nos comprometemos com a construção de um mundo que garanta a participação de todos. A escola é lugar de oportunidades e não de avaliação de capacidades. São anos de histórias bem sucedidas, com pesquisas apontando o que fazer para melhorar, no entanto, tivemos que interromper os esforços para combater retrocessos e proteger o que já é de direito das crianças.

A boa notícia é que a construção dessa realidade em que ninguém é deixado de fora resiste e pulsa em escolas pelo Brasil e continua sua trilha no mercado de trabalho. Aspectos como motivação da equipe podem ser impactados positivamente quando há colaboradores com síndrome de Down nas empresas, mostra um estudo de 2015 da consultoria McKinsey & Company em parceria com o Instituto Alana.

No Alana apostamos em contar histórias como a de Renata para ampliar o olhar do público em temas tão urgentes como a inclusão. Neste semestre, lançaremos “Um Lugar para Todo Mundo”, uma investigação de histórias de famílias que lutam pelo direito de seus filhos frequentarem uma escola que não os separa de outras crianças por conta de suas características. Esse é um novo convite para atuarmos, juntos, por uma educação de qualidade para todos, mas para cada um também. Só assim poderemos avançar.

No filme sobre Renata, a jovem expressa a vontade de ser atriz. O meu desejo – e o compromisso que assumimos como país – é que ela e todas as pessoas com deficiência possam crescer em um mundo em que possam ser tudo o que quiserem, sem que ninguém tire sua potência e determine seu destino ao nascer ou ao longo da vida.

Ana Lúcia Villela é fundadora e presidente do Instituto Alana

sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Projeto prioriza matrícula de crianças e jovens com deficiência

O Senado analisa o PL 2201/2021, que altera o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e o Estatuto da Pessoa com Deficiência para priorizar a matrícula de crianças e jovens com deficiência em creches, pré-escolas e escolas públicas ou subsidiadas pelo Estado. O objetivo do projeto, da senadora Nilda Gondim (MDB-PB), é garantir mais igualdade na disputa por vagas, além de oportunidades de desenvolvimento e de combate à discriminação.

Marcella Rodrigues para o Senado Federal

Transcrição
ESTÁ EM ANÁLISE NO SENADO UM PROJETO QUE PRIORIZA A MATRÍCULA DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM DEFICIÊNCIA EM CRECHES, PRÉ-ESCOLAS E ESCOLAS PÚBLICAS. O OBJETIVO DA PROPOSTA É PROMOVER IGUALDADE NA DISPUTA POR VAGAS E COMBATER A DISCRIMINAÇÃO. A REPORTAGEM É DE MARCELLA RODRIGUES: A proposta altera o Estatuto da Criança e do Adolescente, o ECA, e o Estatuto da Pessoa com Deficiência para priorizar a matrícula de crianças e jovens com deficiência em creches, pré-escolas e escolas públicas ou subsidiadas pelo Estado. A autora do projeto, senadora Nilda Gondim, do MDB da Paraíba, destacou a importância de as pessoas com deficiência terem garantido o acesso ao ensino: Esse projeto é muito importante, primeiro porque dá prioridade à matrícula de crianças e adolescentes com deficiência nas creches e nas escolas. É realmente um objetivo maior. Dar prioridade a essas crianças, crianças que têm problemas com deficiência motora, mental, autista. É prioridade pra mim, maior prioridade, de que elas possam interagir com outras crianças e ter uma vida melhor, qualidade de vida. A senadora destacou que não reconhecer as dificuldades de crianças e jovens com deficiência ainda é uma prática comum. Eles disputam as mesmas vagas com quem não têm essas dificuldades. Assim, o objetivo do projeto, segundo Nilda Gondim, é possibilitar mais igualdade, oportunidades de desenvolvimento e de combate à discriminaçao. Porque a gente sabe que sempre há uma discriminação, sempre há um olhar diferente. E eles lá, tendo a oportunidade de interagir com outras crianças, eles vão se sentir mais à vontade, mais felizes. E para os pais isso é definitivo para eles. O Estatuto da Criança e do Adolescente, que já prevê o atendimento educacional especializado às pessoas com deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino, também deverá priorizar as matrículas como um dever do Estado. No Estatuto da Pessoa com Deficiência, o poder público deverá assegurar, implementar, incentivar, acompanhar e avaliar essa prioridade. A proposta aguarda análise no Senado. Sob supervisão de Maurício de Santi, da Rádio Senado, Marcella Rodrigues.

quarta-feira, 18 de agosto de 2021

O autismo, seu espectro e a escola

 Rodrigo Hübner Mendes para o ECOA UOL


Segundo estudos, a estimativa é de que, aproximadamente, uma a cada 59 crianças tenha alguma característica de autismo Imagem: Getty Images

Durante mais de cinco anos, convivi intensamente com Paulo Sérgio, aluno da nossa então escola de artes visuais que tinha Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Antes de ir para a aula, Paulo seguia um ritual que se repetia a cada quinta-feira e que passou a ser parte da minha própria rotina. Vinha até minha sala, batia na porta e dizia em voz alta: "posso entrar, Rodrigo Mendes?". Fazia questão de recebê-lo para perguntar como tinha sido a semana. Sem cerimônia, ele não dava muita bola e pedia para usar meu computador, onde fazia pesquisas sobre música. Era extremamente talentoso nesse campo. Memorizava melodias e letras com impressionante facilidade e sempre animava nossos eventos de final de ano, dando uma palhinha da sua vertente de barítono. Com o tempo, percebi que Paulo tinha muita facilidade com cálculos matemáticos. Mais do que isso, descobri algo notável. Ao perguntar em qual dia da semana havia caído uma determinada data do passado, pensava por poucos segundos e respondia com precisão.

Nos anos 1940, os austríacos Leo Kanner e Hans Asperger produziram estudos que iniciaram a base do que se conhece sobre o autismo. O tema passou a ser vastamente investigado por inúmeros pesquisadores, como o neurologista inglês Oliver Sacks, que trouxe uma abordagem literária em obras que se tornaram populares e palatáveis ao senso comum. Um Antropólogo em Marte ilustra essa contribuição. Mais recentemente, essa especificidade evoluiu para o conceito de um espectro que contempla diversas nuances e tipos de características. Segundo o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, criado pela Associação Americana de Psiquiatria, o TEA é um transtorno do desenvolvimento neurológico, caracterizado por dificuldades de comunicação e interação social e pela presença de comportamentos e interesses repetitivos, cuja gravidade é variável. Interessante notar que os casos denotam um curioso contraste entre tais dificuldades e habilidades diferenciadas, como as que eu observava em Paulo Sérgio.

Graças ao amadurecimento do campo da Educação Especial, hoje pensada internacionalmente numa perspectiva inclusiva, alunos com TEA estão frequentando as escolas comuns e desfrutando do insubstituível benefício de conviver com outras crianças e adolescentes. É claro que essa participação, viabilizada pelas políticas de inclusão escolar, envolve uma importante complexidade. Não basta simplesmente abrirmos as portas da escola e garantirmos a matrícula. Para que o processo corra bem e permita a construção da autonomia do estudante, um amplo conjunto de estratégias se faz necessário. Dentre elas, merecem destaque tempo para o planejamento das aulas, formação continuada e trabalho colaborativo dos educadores, assim como o engajamento das famílias no cotidiano escolar.

Centenas de experiências exitosas já apontam caminhos para a viabilização da educação inclusiva. Um exemplo que tenho acompanhado de perto desde 2005 é o da Escola Vera Cruz, narrado em uma tese da pedagoga Gláucia Affonso. É possível ver ali que, apesar de todas as dúvidas com as quais a ciência ainda se depara em relação ao autismo, a escola comum pode se transformar para atender com qualidade todo aluno. Mais do que isso: a experiência mostra que isso enriquece não apenas a vivência do estudante com TEA e sua família, mas também a dos demais alunos e profissionais da instituição. O caso do Vera foi detalhado pelo livro "Educação Inclusiva na prática", lançado em 2020 pela Fundação Santillana e a Editora Moderna. A publicação traz também outros exemplos de boas práticas nas cinco regiões do Brasil, em todos os níveis de ensino, e um capítulo introdutório com conceitos fundamentais da concepção inclusiva. O livro é gratuito e está disponível para download em formato acessível. Sua leitura pode ser um ótimo impulso para educadores que vivenciam os desafios de tornar a inclusão uma realidade em suas salas de aula e para pessoas que desejam embarcar na premente missão de se construir uma educação de qualidade em nosso país.

sexta-feira, 13 de agosto de 2021

Autismo pode ser detectado na infância com um simples teste

Kaique Lima para o olhardigital.com.br

Uma pesquisa liderada por pesquisadores da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, sugere que o autismo pode ser detectado em períodos que variam entre 18 e 30 meses usando alguns testes relativamente simples. As verificações consistem em uma série de avaliações quantitativas para autismo em crianças.

O estudo envolveu em torno de 4.000 crianças usando um instrumento de relatório desenvolvido pela equipe do Centro de Pesquisa do Autismo de Cambridge, que foi batizado de Lista de Verificação Quantitativa para o Autismo em Crianças (Q-CHAT). Durante as pesquisas, as crianças foram acompanhadas desde quando tinham um ano e meio, até completarem quatro anos.

O Q-CHAT é uma atualização de um questionário anterior desenvolvido pelos mesmos autores na década de 1990, o CHAT. Este teste, que conta com 25 itens, retém os principais itens do teste original, mas inclui alguns itens adicionais, que examinam o desenvolvimento da linguagem, comportamentos repetitivos, sensoriais e de comunicação social.

Poucas respostas


De 13.070 pais convidados a participar da pesquisa, apenas 3.770 toparam. Imagem: Lightspring/Shutterstock

Na primeira fase da pesquisa, 13.070 tutores foram convidados a preencher o Q-CHAT sobre suas crianças, mas apenas 3.770 devolveram os testes, destes, 121 foram convidados para uma avaliação diagnóstica de autismo. Já na fase dois, essas 121 crianças foram acompanhadas até que completassem quatro anos de idade.

Para esse acompanhamento, foi utilizado o Teste de Triagem do Autismo Infantil (Cast), em conjunto com uma lista de verificação que indagava se alguma das crianças havia sido encaminhada com alguma condição de desenvolvimento, o que incluía o autismo. Essas avaliações foram feitas com auxílio de métodos internacionalmente conhecidos.

Boa taxa de previsão

A taxa de acerto do Q-CHAT na previsão do autismo na fase dois foi de 44%, com a especificidade, que é a proporção de crianças que não são autistas e que estão corretamente identificadas pelo teste como não sendo autistas, foi de 98%. Esses resultados mostraram que o “valor preditivo positivo”, que é a proporção de indivíduos autistas com triagem positiva no Q-CHAT, foi de 28%.

Segundo os pesquisadores, o que há de mais positivo no teste é a demonstração de que a detecção precoce e o diagnóstico de autismo são possíveis com o uso do Q-CHAT. No entanto, o teste não identificou todas as crianças que foram diagnosticadas com autismo aos quatro anos de idade. 

Com informações do Medical Xpress

quarta-feira, 11 de agosto de 2021

É possível incluir? Quatro escolas mostram que sim!

por Ana Luiza Basilio para cartacapital.com.br

Sem dúvidas, a questão da inclusão escolar deve ser avaliada sob a ótica da política pública. É necessário um compromisso do Estado para que as unidades escolares disponham dos recursos necessários para ofertar uma educação em condição de igualdade para todos.

Ainda assim, algumas escolas já vêm desenvolvendo trabalhos significativos nesse sentido, promovendo a releitura de seus espaços e práticas para que as ações pedagógicas se deem com base na diversidade humana e, portanto, deem conta das especifidades de cada indivíduo.

No Dia Nacional da Luta da Pessoa com Deficiência, o Carta Educação apresenta a experiência inclusiva de quatro escolas que participam do programa Diversa, do Instituto Rodrigo Mendes. A iniciativa, que começou em 2012, tem como objetivo apoiar as redes de ensino no atendimento de estudantes com deficiência no ensino regular. Confira!

1. Identidade vs Preconceito

Este é o nome do projeto desenvolvido pelo Colégio Estadual Igléa Grollmann, localizado em Cianorte, no Paraná, desde 2013. Sua formatação coincidiu com a chegada de dois estudantes com deficiência na instituição, Maria Clara, que tem Síndrome de Down, no nono ano, e Luan, que apresenta transtorno do espectro autista (TEA), no sexto.

Para apoiar a integração dos alunos nas novas turmas e nos ambientes escolares, os professores e a equipe gestora apostaram na interdisciplinaridade como estratégia pedagógica, com total respaldo no projeto político pedagógico, que já tem como diretriz principal a apropriação de conteúdos para que os estudantes sejam capazes.

Por isso, todas as áreas de conhecimento se voltaram para a oferta de conceitos científicos sobre preconceito, discriminação, segregação e etnocentrismo, com o intuito de relacioná-los com as atitudes cotidianas.

Na turma de Maria Clara, as disciplinas se pautaram pelo material “Alterações cromossômicas do PAR 21 e o direito de ser e pertencer“, caderno pedagógico que traz sugestões de atividades e aspectos teóricos para embasar o trabalho com estudantes com Síndrome de Dowm.

Segundo relato da escola para a plataforma do programa Diversa, o material suscitou reflexões em todas as áreas. Em História, por exemplo, foram propostas discussões como: por que os mongóis medievais eram considerados bárbaros? O que significam os conceitos de barbárie, civilização e preconceito? O que você entende pelos termos mongol e mongoloide?

Em Geografia, explorou-se o espaço e o território da Mongólia. Em Ciências, foram aprofundados tópicos sobre DNA com discussões sobre a Trissomia 21. Nas aulas de Matemática, a educadora utilizou as estatísticas de pessoas com deficiência no Brasil para falar sobre tratamento da informação. Em Língua Portuguesa, os estudantes fizeram a leitura, interpretação e reescrita dos contos “A vida íntima de Laura” e “A vendedora de fósforos”, de Clarice Lispector. Por fim, para as atividades de Educação Física, os professores elaboraram jogos colaborativos e de socialização.

Para aprofundar as reflexões, ainda foram apresentados à turma os filmes, “O oitavo dia”, “Animais unidos jamais serão vencidos”, “Corrente do bem” e “Meu nome é Rádio”.

Com Luan, a estratégia pedagógica se baseou na interação social, com a oferta de atividades em equipe como danças, jogos e confecção de materiais.

2. Minitênis

A escola Terezinha Souza, em Belém (PA), driblou os desafios pedagógicos e os altos custos da modalidade escolhida como estratégia para promover a inclusão: o tênis.

A unidade partiu para a reutilização de materiais como giz, pneus usados, garrafas pet, tubos de PVC e fita adesiva para estruturar o minitênis e ofertá-lo aos estudantes do ensino fundamental.

Para atender às necessidades de doze alunos com deficiência – entre transtorno do espectro autista, deficiência intelectual, auditiva e múltipla e síndrome de Down e de Turner -, os professores de Educação Física se uniram aos de Artes e aos profissionais do Atendimento Educacional Especializado. A ideia era trabalhar para valorizar as potencialidades de cada estudante. (veja relato completo sobre a atividade)

As regras do jogo, que foi realizado em mini quadras demarcadas pelos próprios alunos, foram flexibilizadas a fim de acolher as diversas capacidades motoras.

3. Bocha inclusiva

A escola Municipal Dom Orione, em Belo Horizonte (MG), tinha como desafio incluir o estudante Pedro, 12 anos, que apresenta tetraplegia, nas aulas de Educação Física. Sem estratégias pedagógicas definidas, o aluno acabava ficando na companhia de um monitor ou na biblioteca enquanto os demais iam para a quadra poliesportiva.

A partir de uma formação inclusiva direcionada aos profissionais da unidade, se percebeu que participação do garoto poderia contribuir para sua formação geral e melhora em seus aspectos motores, cognitivos, afetivos e sociais.

A modalidade escolhida foi a bocha adaptada, estruturada a partir de adaptações no espaço, regras próprias e uso de bolas moldáveis, calhas e ponteiras.

O projeto partiu de três estratégias principais: criação de uma estratégia de comunicação para que todos pudessem se comunicar com Pedro; parceria com o programa Superar da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer (SMEL) de Belo Horizonte, que é referência em modalidades esportivas adaptadas, para criar as ações que seriam replicadas; e a implementação da bocha inclusiva nas aulas de Educação Física. (confira o relato completo da atividade)

4. Capoeira: esporte gingado

A capoeira inclusiva chegou à Escola Municipal Antônio Heráclio do Rego, em Recife, por uma parceria estabelecida entre Fernando de Melo, um aluno cadeirante, que já jogava capoeira em sua comunidade, e o professor Márcio Luiz de Matos, que já tinha dado aulas de capoeira em uma clínica psiquiátrica e topou o desafio de estender o trabalho à comunidade escolar.

Figuraram entre as estratégias de construção da atividade o envolvimento das famílias para que, juntamente com a comunidade escolar, superassem quaisquer preconceitos para com a prática; a oferta de uma palestra para abordar a história da capoeira, seus movimentos, a musicalidade e sua a importância para o desenvolvimento físico e mental, além da socialização; e a roda em si, que valorizou as potencialidades de cada um.


FERNANDO PARTICIPA ATIVAMENTE DA RODA DE CAPOEIRA.
CRÉDITOS: PAT ALBUQUERQUE

A atividade foi pensada em parceria com as profissionais do atendimento educacional especializado (AEE) e responsável por incluir Fernando, contribuir com a auto estima dos demais estudantes e quebrar as barreiras de idade e gênero, ainda muito presentes nas instituições.

sexta-feira, 6 de agosto de 2021

Os gargalos da inclusão no Ensino Médio

 por tory para cartacapital.com.br

A pedagoga Soraya Rebouças, 48 anos, já trabalhava há dez anos com Educação Inclusiva quando seu filho nasceu com uma síndrome rara. Por escolha dela, Guilherme estudou em escolas regulares desde a Educação Infantil, perseverou e, hoje, aos 17 anos, é um dos 42,4 mil alunos com deficiência matriculados no Ensino Médio regular em todo o Brasil.

Guilherme está no 2º ano dessa etapa em um colégio particular em São Bernardo do Campo (SP), gosta das aulas de Literatura e pensa em seguir carreira na área de Humanas. Mesmo enfrentando problemas como o bullying de alguns colegas e o pouco tempo dos professores, a mãe considera que a experiência foi positiva para o filho.

“Hoje, ele é um menino que não tem vergonha de ser quem é. Isso foi a inclusão que deu para ele”, conta Soraya, que é também consultora na área e trabalha na rede municipal de São Bernardo como professora do Atendimento Educacional Especializado (AEE).

Cada vez mais presentes nas salas de aula regulares nos ensinos Infantil e Fundamental, os alunos com deficiência ainda têm dificuldades para chegar ao Ensino Médio. Atualmente, são 42,4 mil alunos com algum tipo de deficiência física ou intelectual estudando em classes comuns do Ensino Médio público ou privado.

Contudo, embora o total tenha aumentado 219% entre 2007 e 2012, ainda é grande a defasagem na transição do Ensino Fundamental. Segundo dados preliminares do Censo Escolar 2013, elaborado pelo Ministério da Educação (MEC), em 2012 havia 485 mil alunos com deficiência frequentando o Ensino Fundamental.

Ediclea Mascarenhas Fernandes, professora da Uerj e coordenadora do Núcleo de Educação Especial e Inclusiva da universidade, explica que a passagem do Fundamental para o Médio é um ponto de estrangulamento já conhecido no sistema educacional, no qual há mais chances de os alunos – com deficiência ou não – abandonarem a escola.

“São pontos problemáticos para todos. Para o aluno com deficiência, esse é mais forte, pois ele precisa mais de apoio e de adequações curriculares”, explica. “E, infelizmente, não temos ainda nas escolas os apoios necessários para que eles possam cumprir seu progresso no sistema de ensino.”

A maior complexidade dos conteúdos trabalhados no Ensino Médio, a ênfase no vestibular e o grande número de professores são outros fatores que influenciam a baixa saída de alunos na última etapa da Educação Básica.

“A qualidade da educação para eles é ainda pior do que para os estudantes sem deficiência. Pela falta de suporte, acabam desistindo”, analisa Eniceia Gonçalves Mendes, coordenadora do programa de extensão em formação continuada da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e presidenta da Associação Brasileira de Pesquisadores em Educação Especial.

Outras barreiras de infraestrutura, como a falta de banheiros adaptados para cadeirantes e a ausência de intérpretes em Língua Brasileira de Sinais (Libras) para os surdos ou de orientadores de mobilidade para alunos com comprometimentos motores, também dificultam o acesso ao Ensino Médio. “Tudo isso está previsto na legislação. As políticas escritas nós já temos, o que precisamos agora é que elas sejam cumpridas”, defende Ediclea.

No entanto, algumas instituições relatam dificuldades para pôr em prática o trabalho de inclusão. Um desses obstáculos, alegado principalmente por escolas privadas, é o custo trazido pelos alunos com deficiência, que em geral demandam adaptações. Na Escola da Vila, centro de ensino particular em São Paulo conhecido pelo trabalho com alunos com deficiência, o valor é diluído entre todos os outros pais.

“Para a nossa comunidade é importante a inclusão, mas outras escolas privadas podem ter problemas, inclusive financeiros”, conta a diretora Sonia Maria Barreiro. A cobrança de taxas ou mensalidades diferentes dos estudantes com deficiência é hoje alvo de questionamentos judiciais – a Lei de Diretrizes Básicas da Educação (Lei nº 9.394/96) fixa como dever do Estado garantir atendimento educacional especializado e gratuito aos educandos nessa condição.

A formação de professores é outro grande entrave, seja nas escolas públicas, seja nas particulares. Um dos motivos é que os cursos de licenciatura e de Pedagogia não se modificaram para atender o novo público que está chegando às escolas.

“Sem dúvida é difícil (a inclusão) porque ainda não temos na formação dos professores uma preparação para isso”, lamenta a professora Ediclea, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. No entanto, algumas iniciativas já estão em vigor.

Desde 2006, todos os alunos dos cursos de licenciatura da Faculdade de Educação da Uerj precisam cursar uma disciplina de 60 horas sobre Educação Inclusiva. Assim, explica Ediclea, o professor de Química, Física ou Biologia terá formação teórica e prática sobre como trabalhar com alunos com necessidades especiais.

“Ele saberá adaptar um texto para o estudante cego ou elaborar uma avaliação diferenciada para o que tem necessidades motoras”, exemplifica.

O envolvimento dos professores, na visão de Soraya, é determinante para o desempenho do filho com deficiência. “Quando o professor olha para ele positivamente e busca metodologias diferenciadas, ele consegue avançar”, conta essa mãe e educadora.

Para Macaé Evaristo, secretária de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão do MEC, o Ensino Médio ainda é um desafio. Apesar dos avanços, a dispersão dos alunos com deficiência é grande na comparação entre os primeiros anos do Fundamental e os do Médio.

“Construir um sistema educacional inclusivo cada vez mais significa eliminar barreiras, não só de acesso, mas de permanência e de aprendizado”, defende Macaé, citando o aumento das matrículas de alunos com deficiência no Ensino Superior, que passou de 2.173 no começo de 2000 para 20.287 em 2010.

A Política de Educação Especial na Perspectiva da Inclusão, criada pelo MEC em 2008, prevê a instalação de salas com recursos multifuncionais nas escolas públicas e o chamado Atendimento Educacional Especializado, realizado no contraturno, preferencialmente na própria unidade de ensino, por professores especialistas.

A tarefa de incluir um aluno com deficiência, porém, não deve ser apenas do docente de Educação Especial. “Acolher a todos precisa ser uma filosofia da escola”, defende Eniceia, da UFSCar.

Na visão de Silvia Viegas, coordenadora gestora do Núcleo de Educação da Diferença da Escola Viva, os alunos com deficiência chegam para ajudar a pensar o lugar de outra maneira: “Eles nos desafiam, movimentam a escola. Essas experiências são muito ricas para os alunos e também para nós educadores”.

quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Acessibilidade na escola: entenda como a tecnologia pode auxiliar

por Darcy Furquim para o escolasdisruptivas.com.br

De acordo com o último Censo demográfico do IBGE, 7,5% da população que tem deficiência está entre 0 e 14 anos, algo que só reforça a importância dos gestores implementarem a acessibilidade na escola de fato.

Independentemente se a deficiência é visual, auditiva, física, mental ou múltipla, você precisa ficar de olho no que tem de mais moderno para amparar essas crianças e adolescentes e fazer com que eles se sintam parte do grupo. Uma boa solução é investir em inovações, pois ajudam a contornar os desafios diários, complementam as práticas tradicionais e melhoram as formas de comunicação.

Neste post, trouxemos alguns dos principais recursos tecnológicos que toda instituição de ensino deveria ter. Acompanhe a leitura e confira!

Livros em áudio

A utilização de livros infantis e didáticos é um recurso pedagógico recorrente em salas de aula, pois permite soltar a imaginação, aprender lições do cotidiano, desenvolver o senso de contar histórias, entre outros aspectos. No entanto, pensando em um ensino inclusivo, os livros precisam estar de acordo com a integração de alunos com algum tipo de deficiência.

A melhor alternativa nesses casos, principalmente para crianças e adolescentes que apresentam deficiência visual, é o audiobook, tendo em vista a possibilidade de acompanhar as descrições das imagens e enredos inteiros por meio de áudios. Ter essas histórias gravadas faz com que os alunos se sintam mais engajados e possam acompanhar melhor a dinâmica das aulas.

Aplicativos e softwares

O ensino do século XXI está recheado de opções bem-interessantes para promover a acessibilidade na escola, porém, vale introduzir aplicativos e softwares especializados para facilitar o dia a dia dos jovens com deficiência. Existem programas, por exemplo, capazes de sintetizar a voz, tal como o Liane TTS, e, assim, estabelecer uma comunicação mais ágil para que o conteúdo da aula seja aproveitável.

Já outros softwares, como o DosVox, Virtual Vision e Jaws, fazem com que deficientes visuais possam ter um nível aceitável de independência e consigam acompanhar o ritmo dos demais alunos. Com esses programas, é possível desempenhar inúmeras tarefas, reconhecer textos do pacote Office e traduzir linguagens também.

No caso de alunos com síndrome de Down, o software Jeripe é uma ótima opção, tendo em vista que funciona como um jogo para estimular o raciocínio, construir noções de lógica e contribuir com a inclusão. Para os jovens com dificuldades auditivas, existe o Dicionário da Língua Brasileira de Sinais, um programa com recursos de vídeo em Libras para vários vocábulos.

Equipamentos adaptáveis

Evidente que a acessibilidade na escola passa também pela adaptação de equipamentos, a fim de deixar a tecnologia cada vez mais inclusiva e fazer com que os estudantes possam aprender dentro do próprio ritmo, mas sem se perder dos demais. Para tanto, vale utilizar teclados alternativos que otimizem as tarefas dos alunos, algo que se torna ideal para pessoas com certos problemas em digitar.

Quem tem deficiência física ou mobilidade reduzida deve ter por perto aparelhos ou adaptações para tornar a experiência de aprendizagem nos computadores mais simples. Para trazer mais interatividade, pode-se colocar uma mesa digital na sala, pois ela tem característica multidisciplinar com jogos e aplicativos acionados pelo toque.

Em relação aos periféricos, existem mouses com adaptadores para que, dependendo da deficiência física, seja possível executar tarefas no computador com tranquilidade. Caso seja preferível ter notebooks ou dispositivos móveis em sala, pode-se ajustar as configurações para que os recursos de acessibilidade, presentes no sistema operacional, possam conduzir os alunos e ajudá-los a ter um desempenho melhor.

Impressoras 3D

Se na construção civil as impressoras 3D já estão causando um estardalhaço na questão de praticidade, imagina a disrupção na educação que podem proporcionar, não é mesmo? Com esse recurso tecnológico, é possível imprimir livros com relevo e fazer do ensino em braile algo muito mais comum em sala, permitindo que os alunos cegos possam entender o que se passa sem quaisquer problemas.

Por meio de impressoras com essa finalidade, você pode imprimir mapas, o que tornaria as aulas de Geografia ainda mais interessantes para os alunos. É possível transformar imagens em objetos tridimensionais e fazer com que a assimilação de conteúdos, que seriam exclusivamente visuais, possa ganhar uma roupagem acessível.

Recursos de locomoção

Qualquer gestão escolar que se preze precisa levar em consideração não apenas os recursos tecnológicos dentro da sala de aula, mas todo o entorno. Pensar em acessibilidade na escola é conferir meios pelos quais os alunos possam se locomover até a sala, sem problema nenhum, e consigam ter uma vida acessível como a dos outros.

Para que isso ocorra, a estrutura da escola precisa estar adaptada para inúmeros fatores que possam acontecer, respeitando cada deficiência evidentemente. Por isso, é de bom tom que as instalações da escola tenham elevadores sonoros, plataformas de elevação, piso tátil muito bem sinalizado, entre outros aspectos que influenciem a locomoção.

Metodologias educativas

Por fim, mas tão importante quanto os demais itens citados, torna-se enriquecedor para o aprendizado de crianças e adolescentes a utilização de estratégias pedagógicas que promovam a inclusão de todos na sala. Para se ter uma ideia da relevância disso, existe um projeto da Microsoft que consiste em disseminar a linguagem de programação entre deficientes visuais.

Basicamente, o recurso mostra uma nova linguagem de programa tátil em que utiliza blocos modulares com cores, tamanhos e formatos distintos que dispõem de comandos específicos. A intenção é trazer para o ambiente escolar uma experiência de ensino que possa estimular a lógica, a criatividade e, naturalmente, o senso crítico para criar programas de qualidade.

Além disso, existe também a metodologia STEM, que traz para a escola algumas técnicas responsáveis por englobar aspectos voltados para a Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, pensando no desenvolvimento dos alunos nos princípios básicos das disciplinas. Entre os vários benefícios, podemos observar mais dinamismo nas tarefas, entendimento apurado e bastante trabalho em equipe.

Para finalizarmos, entenda que os gestores precisam se atualizar constantemente, visando proporcionar não apenas acessibilidade na escola, mas adaptação às tendências de mercado e, por consequência, a garantia da permanência dos alunos em sala de aula.