quarta-feira, 31 de julho de 2019

Casal cria site e curso online para ajudar pais de crianças com deficiência

O objetivo do projeto é mostrar aos pais de crianças com deficiência que é possível cuidar de si mesmo, da criança e da família como um todo


Por Lucian Haro para o semprefamilia.com.br

Foto: Arquivo Pessoal/Fábio e Kerol

Uma criança com diagnóstico de autismo, paralisia cerebral, epilepsia, síndrome de down ou alguma enfermidade grave precisa de terapias, acompanhamento médico e de um ambiente familiar acolhedor para se desenvolver. Mas e dos pais, quem cuida?

Foi justamente pensando neles que os curitibanos Fábio e Kerol Kreusch criaram um projeto para ajudar a mostrar que a maternidade e a paternidade atípica podem, sim, ser um “plus” na vida dessas pessoas. Outro objetivo do Mater & Pater Plus é acabar com aquele pensamento ultrapassado de que um filho especial é um “peso ou um problema para a família”. “Principalmente nas salas de espera das terapias, a gente via a angústia de muitos pais. Eles sempre falavam da rotina com os filhos com pesar, com ar de sofrimento, como se tivessem enfrentando um castigo”, disse Fábio ao Sempre Família.


Segundo Kerol, a iniciativa do casal surgiu da própria experiência deles com o filho, Paulo, de 5 anos. O menino ficou sem oxigênio durante o parto e, por conta disso, tem uma rotina puxada de consultas, exames e terapias para reabilitação neurológica. “Tudo começou com um blog que eu escrevia sobre a minha vivência como mãe de uma criança com necessidades especiais. Com o tempo, a gente percebeu que os pais queriam saber mais sobre nós, sobre como lidávamos com a rotina de exames e consultas e não só sobre tratamentos e indicações de especialistas”, revelou.

Um novo olhar

Hoje o Mater & Pater Plus funciona em duas frentes: a primeira é um site que traz informações sobre o projeto, mantém o blog com textos do Fábio e da Kerol e ainda traz depoimentos de pessoas que mudaram a forma de pensar depois que começaram a seguir o casal. Já a segunda é um curso online chamado “Voe para o Plus”, que tem o objetivo de mostrar, de forma profunda e ao mesmo tempo prática, que é possível cuidar de si mesmo, da criança e da família como um todo.

“É um convite a refletir sobre essa realidade do desenvolvimento atípico. Porque é muito fácil a gente cair no piloto automático e virar apenas um cumpridor de tarefas. A gente quer que esses pais reflitam sobre o que estão vivendo e transformem isso numa realidade melhor”, afirmou Kerol.

“Um filho com necessidade especial consegue, de uma maneira muito natural, extrair de nós o nosso melhor. Se a gente enxerga as dificuldades como algo positivo, como uma chance de nos tornamos pessoas melhores, o resultado sempre vai ser positivo diante dos fatos”, concluiu Fábio.

quinta-feira, 25 de julho de 2019

Educação inclusiva: sem pluralidade na escola, não há paz

Por que a lógica da exclusão ainda é comum em tantas escolas? "Um mundo em que poucos cabem é um mundo que não tolera a paz"



iStock/Arte Lunetas

Por Mariana Rosa para o lunetas.com.br

"A escola não pode parar”. Essa foi a justificativa para não promover a inclusão de uma criança com deficiência. A escola não pode parar. Repito a frase não por descuido ou ênfase, mas pela necessidade de entrarmos em contato com a afirmativa no lastro do espanto.

A crença que me parece vir a reboque da inclusão é a de que a escola vai precisar parar para rever todo o seu modelo de ensino, seu projeto político-pedagógico, seu currículo, seu espaço, suas relações, sua prática. Pois bem, se o fazer escolar foi construído a partir da exclusão, se seu modelo de trabalho – seja ele público ou privado – teve sucesso a partir da perpetuação do preconceito, se as vivências em sala de aula não valorizam a empatia como ferramenta para acessar a riqueza da diversidade humana, como seguir adiante?

Isso já é o bastante para repensar e refazer a experiência das crianças com deficiência neste ambiente. Mas ainda tem mais. Como queremos dar conta dos desafios do mundo contemporâneo, permeado por incertezas, ambiguidades e complexidades, se subtraímos da educação as diversas possibilidades de ser e estar no mundo, limitando, empobrecendo e reduzindo a convivência?

Quem alega não poder parar, em algum momento, atropela. Por vezes, mata. Mata a criatividade, a inovação, a flexibilidade, a conexão, o respeito. Mata presente e futuro. Deixa um corpo estendido na passarela de moda, porque o desfile não pode parar. Esta continuidade irresponsável de padrões e normas que oprimem milhares de existências em nome do exigido, do cobrado, do seguro, é a mesma que responde pelo aumento assombroso de suicídios entre crianças e adolescentes nos últimos anos.

Em que momento fomos autorizados a hierarquizar vidas, apontando as que importam e aquelas para as quais não podemos parar? Quando foi que decidimos pasteurizar, medicar ou tornar invisíveis as diferenças que nos fazem únicos? Por que o ‘basta’ ainda é um sussurro de poucos, se, direta ou indiretamente, todos colhemos as mazelas deste projeto de mundo excludente e adoecido?

As frases sobre compaixão nos murais da escola me soam vazias de sentido. O dia do índio, o dia da consciência negra, a celebração da paz, os projetos de combate ao bullying: nada disso me parece ter significado se não impregnarmos o cotidiano da escola de uma convivência diversa e plural. Compaixão, igualdade, justiça não como metas, como objetivos finais, mas como premissas, pontos de partida na perspectiva da educação. Como consequência, um currículo que acolhe individualidades, um projeto político-pedagógico em que todos cabem.

“Lembremos que somente haverá um outro mundo possível quando, passo a passo, existir em nós e entre nós, um outro ser humano possível”, diz o antropólogo Carlos Rodrigues Brandão.

quarta-feira, 24 de julho de 2019

Crianças com deficiência: quais são as suas maiores necessidades?

www.educamundo.com.br

O que o cuidador de crianças com deficiência deve dominar para atender as necessidades especiais desse público? Leia o artigo abaixo e saiba mais sobre a função.

As crianças com deficiência ou altas habilidades demandam atenção especial de pais e cuidadores escolares.

Com direitos garantidos à inclusão na educação infantil e educação regular básica, um novo horizonte se abriu a esse público.

Esse novo cenário deixou para trás o pensamento de que, apesar das dificuldades, essas crianças e jovens não podem ter uma vida escolar normal, dentro de suas especificidades, é claro.

Na verdade, a garantia dos direitos de crianças especiais foi muito além: extinguiu a ideia ultrapassada de que elas deviam ser separadas e escondidas da sociedade.

Em uma nova contextualização, elas têm atendidas não somente suas necessidades emocionais, como também suas necessidades especiais de aprendizagem.

Assim, os educadores também tiveram novos desafios, mas eles contam com os cuidadores escolares, ou os professores de apoio, garantidos por lei em classes que atendem crianças com deficiência ou superdotação.

Os direitos de crianças especiais e o novo contexto escolar

Abordamos bastante o contexto escolar, pois é ele que concentra os maiores desafios, tanto em infraestrutura quanto em materiais e profissionais.

A inclusão escolar é um grande feito, mas ainda não tem o suporte necessário e ideal para atender o público com deficiência ou superdotação. Ora falta o cuidador escolar, ora falta acessibilidade.

A mobilidade é uma de suas maiores necessidades. Além dessa, podemos citar alimentação, higiene, interação e conforto. O responsável por garantir parte disso é o cuidador, por isso a necessidade de que ele tenha uma boa formação nessa área.

Recursos como cursos online podem ajudá-lo. Importante salientar que, apesar de haver uma função de cuidador escolar, é ótimo que todos na escola tenham em sua formação um curso que as prepare para lidar com esse público no dia a dia.       

A inclusão na educação infantil exige um novo perfil de educador

Tanto a inclusão na educação especial quanto na regular se abriu espaço para um novo perfil de educador. Por isso, é essencial que quem atua na área de educação adicione a capacitação em cuidador de crianças com deficiência e altas habilidades em suas competências.

A necessidade de saber lidar com esses pequenos especiais é urgente. Por isso, qualificar-se é tão importante e tem caráter imediato.

Além das necessidades emocionais: as necessidades educacionais especiais

Sabe por que é difícil atender as necessidades de crianças e jovens com deficiência e altas habilidades? Porque falta de formação teórica e prática quanto à educação especial, para professores assistentes ou cuidadores.

O cuidado com essas crianças vai além de suas necessidades emocionais. O cuidador pode auxiliar também na elaboração de materiais, pode ter boas ideias para a preparação de aulas etc.  Mas, para isso, precisa conhecer os vários tipos de deficiência ou de superdotação.

A criança autista é diferente da com paralisia. A criança que é deficiente física exige um tipo de cuidado diferente da que tem síndrome de Down. TDAH e dislexia têm diferentes diagnósticos, portanto, precisam de atenções diferentes e assim por diante.

Para aproximar esse público de seu objetivo, o Educamundo criou o Curso Online Cuidador da Criança com Deficiência.

sexta-feira, 19 de julho de 2019

Projeto Sorriso Especial - Cauã Mendes

Essa semana recebemos a visita do Cauã e sua mãe, Jucilene.

Cauã e sua mãe, Jucilene

O pequeno é autista e retornou para uma nova consulta, pois ele desenvolveu bruxismo. A dentista voluntária Isadora Schaider confeccionou um batente de resina nos molares inferiores de Cauã para cessar os danos aos seus dentes.




Cauã e Dra Isadora

Mais uma vez o Cauã foi super colaborativo, permitindo que o procedimento ocorresse de forma satisfatória. Confira a sua última visita ao dentista clicando aqui.

Ajude-nos a continuar oferecendo tratamento odontológico gratuito a famílias carentes da comunidade. Saiba como ajudar aqui.

Conheça o Projeto Sorriso Especial aqui.

quarta-feira, 17 de julho de 2019

Rejeição na adoção de crianças com deficiência

Percebe-se certo descaso para com essas crianças e adolescentes com deficiência mental


Tatiana Takeda para opopular.com.br

Foto: Shutterstock

O Cadastro Nacional de Adoção (CNA) existe desde 2008 e é a ferramenta digital que auxilia os juízes das Varas da Infância e Juventude na condução dos procedimentos dos processos de adoção em todo o país. Ao pesquisar junto a essa ferramenta, disponível no site do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), verifiquei os seguintes números relativos às crianças/adolescentes com deficiência ou doença crónica disponíveis para adoção em 16.02.2016 (veja tabela no final do texto):

De um total de 6.302 de crianças/adolescentes cadastrados junto ao CNA (data de referência: 16.02.2016), 242 possuem deficiência física (3,84%) e 554 (8,79%) possuem deficiência mental. Ao verificar os números do último Censo Demográfico, de 2010 (IBGE), no qual ficou destacado a existência de 45 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência no Brasil, percebe-se certo descaso para com essas crianças/adolescentes com deficiência mental.

O Censo de 2010 indica que existem muito mais pessoas com deficiências motoras (13.256.599) do que mentais (2.611.536). No entanto, constata-se um número bem maior de crianças/adolescentes na fila da adoção com deficiência mental do que física.

Não obstante esses números, o legislador percebeu a urgência de se encontrar um lar para as crianças/adolescentes com a saúde comprometida ou em condição peculiar. Por isso, foi sancionada a Lei nº 12.955/2014, que estabelece prioridade de tramitação aos processos de adoção em que a criança/adolescente tenha deficiência física/mental ou doença crônica. Para isso, houve acréscimo de parágrafo ao artigo 47 do Estatuto da Criança e do Adolescente, no sentido de dar prioridade de tramitação aos processos de adoção dessas crianças/adolescentes (§ 9º).

Essa norma acabou de fazer dois anos de idade e com ela uma triste constatação: 69,64% das famílias que pretendem adotar uma criança optam por aquela que não possui algum tipo de deficiência ou doença crônica. Com base na data de 16.02.2016, verifica-se que 1.593 pretendentes a adotar (4,58%) aceitariam uma criança com deficiência física e apenas 891 (2,56%) adotariam uma com deficiência mental.

Com base nesses dados, percebe-se o quanto é difícil encontrar uma família disposta a adotar uma criança com deficiência mental. Se for adolescente, essa chance diminui ainda mais.

Em entrevista à Agência Câmara Notícias, a integrante da Comissão de Seguridade Social da Câmara, Carmen Zanotto, salienta que as famílias preferem crianças/adolescentes sadios pela seguinte razão: “Não diria que é o medo, mas é a complexidade que há em assumir um filho. A Lei de Adoção pretende que as crianças tenham um lar, uma estrutura de alimentação, educação e afeto. Muitas vezes, o grau de complexidade da deficiência assusta por causa da complexidade que isso envolve”.

Não obstante a complexidade citada, aqueles que pretendem adotar uma criança/adolescente devem procurar a Defensoria Pública da Criança e Juventude da sua região e dar início ao processo de adoção que, segundo o CNJ, dura mais ou menos um ano.



*Tatiana Takeda é mãe de uma criança com autismo, advogada, professora universitária, servidora pública, mestre e especialista em Direito e especializanda em Autismo