sexta-feira, 6 de novembro de 2020

Tecnologia abre portas para o mundo dos sons

Aparelho auditivo de alta tecnologia disponibilizado pelo Centrinho-USP de forma pioneira na rede pública tem propiciado melhor audição a crianças

O pequeno David Gabriel Vicente de Souza, de apenas dois anos,já derrotou "gigantes". Depois de lutar pela vida em seus primeiros meses, a mais nova batalha vencida é poder ouvir!

David Gabriel ouvindo após receber a banda elástica no HRAC / Crédito: Divisão de Saúde Auditiva, HRAC-USP

David Gabriel nasceu com perda auditiva severa decorrente de malformação nos dois ouvidos e recebeu, no último dia 16 de outubro, uma tecnologia que permite uma audição melhor para bebês e crianças que ainda não podem passar por cirurgia para prótese auditiva implantável.


Banda elástica (softband) com processador de áudio bilateral / Crédito: Tiago Rodella, HRAC-USP

"O David Gabriel praticamente não escutava, não reagia quando o chamávamos. Vê-lo ouvindo bem agora, dançando e se alegrando com música é um alívio e uma felicidade muito grande", comemora a mãe, a dona de casa Rosangela Borges, 32, de Joinville, Santa Catarina.

O Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (HRAC/Centrinho) da USP em Bauru é o primeiro serviço no Brasil a oferecer, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), a chamada banda elástica (softband) com processadores de áudio para os dois ouvidos, destaca a fonoaudióloga Tyuana Sandim Silveira Sassi, chefe técnica da Divisão de Saúde Auditiva da instituição.

David Gabriel com o pai Sidnei e a mãe, Rosangela, no aniversário de 1 ano
David Gabriel com o pai Sidnei e a mãe, Rosangela, no aniversário de 1 ano  / Foto: Arquivo pessoal

"A reabilitação de indivíduos com deficiência auditiva é rotineiramente realizada por meio da adaptação de aparelhos de amplificação sonora individual (AASI). Contudo, em pacientes com deficiência auditiva decorrente de malformações de orelha, a adaptação destes dispositivos é inviável. Atualmente, temos as próteses auditivas ancoradas no osso. Porém, em crianças menores de cinco anos, enquanto não é possível realizar a cirurgia para implantação dessas próteses, é indicada a adaptação do processador de áudio posicionado por meio da banda elástica, a qual permite estimulação auditiva por via óssea sem causar desconforto", explica a fonoaudióloga.

"Como hospital de ensino da USP, buscamos sempre desenvolver e oferecer os melhores tratamentos, tecnologias e inovações em nossa rotina assistencial. Esta é uma marca do HRAC! É uma satisfação indescritível ver a ciência, a expertise de profissionais altamente qualificados e também as políticas públicas e esforços de gestão beneficiando diretamente a saúde e qualidade de vida dos nossos pacientes", assinala o professor Carlos Ferreira dos Santos, superintendente do Centrinho-USP e diretor da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB-USP).

Já o professor Luiz Fernando Lourençone, diretor clínico do Centrinho-USP e docente do Curso de Medicina da FOB-USP, ressalta a importância da reabilitação integral dos pacientes. "O HRAC sempre priorizou um tratamento completo e, felizmente, temos conseguido avançar nas diversas frentes para a reabilitação global de crianças e adultos com tantas e diferentes necessidades".

OFERTA PELO SUS

A banda elástica passou a integrar a rotina assistencial do HRAC-USP em outubro de 2020. Segundo a fonoaudióloga responsável Tyuana Sassi, há licitação em andamento para aquisição de 20 processadores de áudio para serem adaptados com banda elástica bilateralmente, portanto em dez pacientes. "A previsão, inicialmente, é de um paciente adaptado por mês", informa. Com atendimento pelo SUS, o acesso de novos pacientes no Centrinho-USP é por meio da Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde (Cross) do Estado, a partir de avaliação inicial em unidade básica de saúde.


Reprodução do planejamento virtual da cirurgia da micrognatia / Crédito: Dr. Cristiano Tonello, HRAC-USP

MUITO ALÉM DA AUDIÇÃO

Ouvir foi a vitória mais recente, mas David Gabriel já travou inúmeros outros combates. O pequeno nasceu com alterações nos membros - braços e pernas -, Síndrome de Treacher Collins e Sequência de Pierre Robin, condições que comprometem, além da estética, funções vitais como a respiração e a alimentação, e que podem trazer consequências graves aos pacientes.

A mãe de David Gabriel, Rosangela, conta como a notícia da malformação impactou a família. "Perdi o chão. Ouvi de alguns que, se meu filho sobrevivesse, ele não ia andar, falar. Muita coisa ruim passou pela minha cabeça. Cheguei até mesmo a pensar em tirar minha própria vida, para o meu filho não sofrer. Mas, felizmente, com muita fé, força da nossa família e amor, superei isso".

Depois de passar os primeiros dias de vida na UTI em sua cidade, com 26 dias o bebê foi transferido para a UTI pediátrica do Centrinho-USP em Bauru. No centro especializado, David Gabriel passou por distração mandibular com apenas 40 dias de vida, procedimento que envolveu um complexo planejamento virtual da cirurgia, com a colaboração das Faculdades de Odontologia e de Medicina da USP da capital. "Obtivemos avanço de 17 milímetros da mandíbula, com ganho de peso e melhora completa do desconforto respiratório da criança", explica o cirurgião craniofacial Cristiano Tonello, chefe técnico do Departamento Hospitalar do Centrinho-USP e professor do Curso de Medicina da FOB-USP.

A mãe relembra que só retornou para casa com o filho perto dos seus três meses de vida. "Sei que temos um longo caminho a seguir ainda, mas a vida do David Gabriel se transformou completamente. Hoje ele é outra criança, anda, brinca e procura se virar. Só tenho a agradecer ao Dr. Tonello e a toda equipe do Centrinho por salvar a vida do meu filho", finaliza Rosangela.

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