O texto a seguir traz uma interessante introdução ao tema da sexualidade infantil, relacionando-a à questão dos portadores de necessidades especiais. Cremos que será de interesse para pais, responsáveis, cuidadores e profissionais ligados à área. Voltaremos a este tema, aprofundando-o mais.
Ao elegermos o tema da sexualidade, o fazemos por acreditar que o tema permeia todas as relações humanas, com implicação direta no desenvolvimento afetivo e social dos indivíduos.
Ao elegermos o tema da sexualidade, o fazemos por acreditar que o tema permeia todas as relações humanas, com implicação direta no desenvolvimento afetivo e social dos indivíduos.
Tratar do tema da sexualidade transversalmente ao tema da violência
contra a criança e o adolescente, é abrir um espaço para a
discussão e compreensão de uma modalidade de prática violenta,
ainda pouco compreendida e debatida na sociedade: a violência
sexual, abuso e exploração sexual comercial.
Entendemos, assim, que tanto a questão da violência, quanto a
questão da sexualidade são aspectos constitutivos da formação do
psiquismo e subjetividade humana.
A discussão da sexualidade ganha
grande espaço e sofre forte transformação a partir das formulações
e contribuições de Freud e da psicanálise no inicio do séc. XX,
que rompe com conceitos dominantes até então, de uma sexualidade
ligada exclusivamente à necessidade instintiva da reprodução
humana, pelo coito entre um homem e uma mulher, para uma conceituação
e compreensão da sexualidade mais abrangente e complexa que
acompanha e perpassa a vida do individuo do nascimento à morte.
A compreensão da sexualidade deixa de ser meramente reprodutiva e
passa a ocupar o espaço de elemento formador da constituição
do psiquismo e da subjetividade humana.
Desde o nascimento o bebê irá experimentar, em sua relação
com a mãe, sensações de prazer (alimentação, calor, aconchego,
p.ex. ) e desprazer , fúria ( fome, cólica, frio, por.ex). Ao
sentir fome, o bebê experimenta uma sensação ruim e de
desconforto. A mãe atenta às necessidades de seu filho irá
alimentá-lo, gerando uma experiência de prazer e satisfação. O
bebê irá buscar, na relação com sua mãe, a repetição desta
experiência de prazer. Assim sendo, podemos imaginar que toda
experiência de prazer\desprazer, busca de satisfação, acontecerá
na presença e na relação com outro ser humano, fundando assim a
sexualidade.
Porém, não devemos confundir a sexualidade do bebê e da criança, pautada na busca da sobrevivência em um primeiro momento e da repetição de uma experiência
prazerosa, posteriormente, com a sexualidade adulta, madura, genital
e voltada para a relação sexual para obtenção de prazer e
reprodução. São momentos distintos no desenvolvimento humano e
assim devem ser vistos e compreendidos. Freud propôs uma compreensão
do desenvolvimento infantil e da sexualidade humana em fases e etapas
distintas, que são definidas por processos de maturidade
bio-fisiológica e desenvolvimento afetivo. Tentaremos descrever as
etapas descritas por Freud de forma resumida, para que possamos
iniciar nossas reflexões e compreensão da sexualidade humana e sua
relação com a violência e o abuso sexual da criança e do
adolescente, com e sem deficiência intelectual.
- Fase Oral – Momento do desenvolvimento que vai do nascimento até por volta dos 2 anos de idade e se caracteriza pela oralidade como forma de exploração do mundo exterior e busca de prazer pela criança. O mundo lhe será apresentado, neste período, através dos olhos e da fala da mãe.
- Fase Anal
– Ocorre dos 2 aos 4 anos de idade. É o momento em que a criança
vivência o início da independência e da autonomia, onde irá
experimentar a possibilidade de controlar suas próprias produções
e o seu corpo. O aprendizado da marcha e da linguagem irão permitir
que a criança experimente comunicar seus anseios e desejos. As
relações, antes estritamente duais, passam a permitir a entrada de
novos elementos, as relações triangulares. É comum, neste momento
do desenvolvimento, crianças apresentarem comportamentos mais
birrentos, testando e buscando o controle do ambiente a sua volta; em
função disso é comum, neste momento, que pais e cuidadores
respondam a estes comportamentos com violência, tirania e abuso,
calando a voz da criança e coibindo suas ações e expressões.
- Fase Fálica - Caminha dos 4 aos 6 anos aproximadamente. Fase crucial do
desenvolvimento da subjetividade, onde ela viverá e tentará
elaborar o Complexo de Édipo. A criança nesta fase irá se
identificar com um dos pais, buscando encantar o outro. É o momento
da interdição da criança, com a entrada na cultura. É a
elaboração da interdição que irá nos constituir como sujeitos.
- Fase de Latência - Ocorre dos 4 aos 10 anos. É o momento em que a criança trabalhará intensamente na elaboração e internalização das regras e normas sociais, passando a experimentá-las como elemento organizador. Neste momento, as crianças costumam ter preferência por jogos e brincadeiras mais estruturadas e se dividem por grupos de gênero. Meninos e meninas. A vida social e escolar ganha força e fica em destaque.
- Puberdade e adolescência - Iniciando-se próximo aos 11 anos costuma alongar-se até por volta dos 19 anos de idade. Momento intenso na vida da criança, onde irá experimentar sentimentos ambíguos e contraditórios. A passagem da infância para a vida adulta. É necessário elaborar o luto pela perda do corpo infantil e acostumar-se com as intensas mudanças que irão transformá-lo em um corpo adulto. A curiosidade com o corpo do outro, com aspectos da sexualidade e o desejo sexual voltam à tona com força. Trata-se de momento de intenso conflito e contraposições com as figuras paternas e de autoridade, na busca de se diferenciar e se constituir como sujeito mais livre e autônomo.
"As crises da adolescência duram apenas um tempo e o tempo é seu remédio natural. Ou seja, existe um trabalho do tempo que opera mudanças. É claro que muitas vezes essas crises representam riscos que precisam ser considerados, porém, no atacado, se elas não forem impedidas, sempre acabam relativamente bem. Não se deve combatê-las, curá-las ou encurtá-las, mas acompanhá-las e explorá-las para que o sujeito tire o maior proveito delas” (Winnicott apud Pavan, 2003).
Tentamos apresentar aqui um recorte do tema sexualidade, apresentando
alguns marcos do desenvolvimento, pelo olhar da psicanálise,
trazendo à discussão e jogando luz na importância e na
complexidade do tema para a formação da subjetividade e da
identidade do sujeito.
O tema da sexualidade deve ser encarado com seriedade e cuidado e os mitos e
tabus, que ainda persistem, devem ser desmistificados possibilitando
lidar com o tema de forma mais livre e crítica.
A manifestação da sexualidade nas crianças não deve ser ignorada ou
punida como atos desviantes. Muitas das dificuldades do adulto em
tratar do tema da sexualidade de crianças com ou sem deficiência
intelectual, consiste na impossibilidade do adulto em se distanciar
de sua vivência da sexualidade, genital, e se aproximar da
sexualidade infantil, pré-genital. Os adultos pensam e sentem
necessidades sexuais diferentes da criança e do adolescente, que
ainda estão em fase de construção de sua identidade e
subjetividade.
Tratar do tema sexualidade com crianças, adolescentes e pessoas com
deficiência intelectual, faz com que tenhamos que olhar para nossa
própria experiência e sexualidade, questionar nossos mitos, crenças
e valores. Por isto mãos à obra, temos muito trabalho pela frente.
Bibliografia indicada:
PAULA,
A.R. de e REGEN, M. Sexualidade e a Pessoa com Deficiência -
Reabilitação de Pessoas com Deficiência: A Intervenção em
discussão. Editora ROCA, São Paulo, 2006.
PAULA.
A.R. de e REGEN, M. Sexualidade e Deficiência: rompendo o
silêncio. Editora Expressão e Arte, São Paulo, 2ᵃ edição,
2011.
Fonte:
http://www.apaesp.org.br/Paginas/Sexualidade
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