Bloco de rua foi criado por psicólogos do DF que trabalham com crianças autistas e com comprometimentos no desenvolvimento cognitivo e sensorial. Evento foi aberto ao público.
Jovens com autismo e síndrome de Down distribuíram panfletos sobre o Bloquinho Bom Para Todos nas ruas de Brasília (Foto: Deborah Souza/Divulgação)
Neste carnaval, o Distrito Federal desfilou o primeiro bloquinho de rua especialmente adaptado para jovens com autismo e doenças que afetam o desenvolvimento cognitivo e sensorial, como a síndrome de Down. O Bloquinho Bom Para Todos saiu neste sábado (18) das 14h às 18h no estacionamento do Parque Vivencial, no Lago Norte.
Diante da inexistência de festas que incluíssem este público, os psicólogos Carolina Passos e Paolo Rietveld – especialistas em desenvolvimentos atípicos – decidiram criar um bloquinho com as adaptações necessárias para que estes jovens possam se divertir à vontade.
“O carnaval é uma celebração tão cultural, tão brasileira, mas os meninos ficam de fora por falta de adaptação. Há um histórico de isolamento das pessoas com deficiência”, diz Carolina.
Para transformar a ideia em realidade, a dupla contou com a ajuda das crianças – tanto no planejamento, quanto na execução do projeto. “Construímos isso junto com eles. Pensamos nas adaptações necessárias, o que seria legal, o que eles gostariam de curtir."
O psicólogo Paolo Rietveld instruiu sobre a distribuição de panfletos de divulgação do bloquinho em Brasília (Foto: Deborah Souza/Divulgação)
No sábado passado (11), eles distribuíram panfletos sobre o evento nas ruas da cidade. Segundo Paolo, a ação estimula o desenvolvimento de habilidade sociais. “Tudo isso é muito terapêutico, porque trabalhamos inabilidades e dificuldades que eles têm a partir de atividades que lhes permitem aprimorar este repertório.”
Daniel Bertoni distribui panfletos sobre o Bloquinho Bom Para Todos em Brasília (Foto: Deborah Souza/Divulgação)
Apesar da limitação sonora, o bloquinho é – como diz o nome – para todos. “A ideia é que seja um carnaval inclusivo, que qualquer um participe. Nosso trabalho é fazer a ponte desses jovens com a sociedade”, explica Paolo. Para ele, é essencial que as pessoas tomem consciência de que é preciso se adaptar “um pouquinho” para incluir estes jovens.
“A gente faz muito pros meninos se adaptarem, mas não há um retorno [da sociedade]. Eles fazem muito esforço para estar em ambientes desconfortáveis e a sociedade ainda está muito em falta com isso”, diz Carolina.
Adaptações sonoras
Como eles são muito sensíveis aos sons, o volume foi reduzido, mas não faltou atração musical. A banda Lagartixa Chorosa e outros três cantores se apresentaram em um palco afastado do centro das atividades. A organização recomendou aos foliões que não levassem apitos, balões ou quaisquer instrumentos que pudessem fazer barulhos estridentes.
Ao lado do estacionamento, próximo ao parquinho, foi montado um espaço de “conforto sonoro”, que ficou afastado da banda. Além dos brinquedos tradicionais, houve uma pista de obstáculos feita com elásticos amarrados à estrutura para prender bicicletas.
A decoração brinca com sentidos e foi feita à mão por eles mesmos. “Como o autismo é um transtorno sensorial, alguns sentidos ficam muito aguçados”, explica Paolo. Por isso, foram espalhados o cata-ventos por toda a parte. “Eles ficam fascinados com o movimento das cores.”
No domingo 12, as crianças participaram de uma oficina para criar pêndulos e varais de enfeites com cartolina colorida e aprenderam a fazer pinhata, que foi uma das atrações do bloquinho.
Para quem esqueceu a fantasia ou quis incrementar o visual carnavalesco, os organizadores disponibilizaram uma caixa com adereços. Ao final, houve um desfile de fantasias.
Comidinhas carnavalescas
No food truck 'Kombinha azul', jovens com autismo vendem alimentos sem glúten e sem lactose em Brasília (Foto: Kombinha Azul/Divulgação)
A “Kombinha azul”, um food truck administrado por jovens com autismo, esteve no local. O cardápio é pensado especialmente para o público do bloco. Nada de glúten ou lactose. O truck de sucos naturais Sucupira também esteve no local.
Como todo o atendimento é feito pelos jovens, a experiência permite trabalhar capacidades de relacionamento interpessoal e habilidades acadêmicas, como matemática aplicada na hora de calcular o troco.
De acordo com o idealizador do projeto, Gustavo Tozzi, a "Kombinha azul" permite a vivência de uma experiência de mercado aos alunos que estão na faixa etária de jovens-aprendizes, entre 14 e 19 anos.
Fonte: G1
Nenhum comentário:
Postar um comentário