Érika Andrade para o Criança e Saúde
Logo após o diagnóstico do meu filho, quando iniciei os estudos acerca do Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), tomei conhecimento de que indivíduos com TEA quase sempre apresentam alguma dificuldade sensorial, respondendo de forma incomum a estímulos.
Com relação a possíveis disfunções no processamento sensorial, percebemos que, para o Bernardo, as dificuldades eram, predominantemente, táteis. Após iniciado o acompanhamento com a terapeuta ocupacional, nós pudemos nomeá-las: Defensividade Tátil. Outras crianças com autismo podem exibir os sintomas de disfunção sensorial através da dificuldade de processar as informações trazidas por qualquer de seus outros sentidos, o que pode aparecer como intolerância a determinados sons, luzes etc. Pode haver um comprometimento sensorial leve, moderado ou intenso, manifestando-se tanto pela hipersensibilidade (forte reação/intolerância e fuga) ou pela hiposensibilidade (busca constante) aos estímulos como toque, som, cheiros, sensações etc… No caso de pessoas que, assim como o Bê, podem ser consideradas hipersensíveis táteis são comuns ocorrências de reações mais exageradas que a da maioria das pessoas a determinados toques e sensações. Muitas vezes, os familiares e professores não reconhecem essa sensibilidade aumentada e agem como se o desconforto fosse um “chilique”, ou pirraça. Não é. O incômodo é real. Já falei especificamente sobre as questões táteis no texto Disfunção Sensorial.
O acompanhamento feito pela T.O. era através da Integração Sensorial. Trata-se de uma técnica que foi preconizada pela terapeuta ocupacional americana Jean Ayres que visa a auxiliar no processo de organização cerebral para que este processe de forma eficiente a recepção de informação sensorial e apresente respostas apropriadas ao conjunto de estímulos. A integração sensorial trabalha com a perspectiva de que quando existe uma disfunção sensorial todo o sistema de autorregulação é alterado e que isso pode afetar o desenvolvimento das habilidades básicas, motoras, de comunicação e de interação social. “Autorregulação” diz de estratégias autocentradas que auxiliam no controle do nível de ansiedade do indivíduo, como por exemplo, mascar chicletes, balançar os pés ou as mãos.
Cabe ressaltar que, apesar de comuns em indivíduos no espectro, as disfunções táteis não acometem apenas a eles, constando no manual psiquiátrico DSM V como um distúrbio neurológico independente. Eu mesma devo admitir que o incômodo que sinto ao ser esbarrada por estranhos ou quando alguém conversa pegando em mim, é maior do que observo na maioria das pessoas. Por este motivo, não frequento lugares cheios, incluindo a maioria dos shows e a feira hippie de Belo Horizonte. Entretanto, as dificuldades sensoriais só são consideradas efetivamente um transtorno quando geram um comprometimento significativo sobre a capacidade de desenvolvimento ou funcionamento diário. Nestes casos, cabe a intervenção profissional do terapeuta ocupacional.
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