No início, ela diz, que não sabia muito o que fazer, mas que quando perguntou a ele o que ele queria prestar no vestibular, ele respondeu que queria ser calouro. Na hora ela fez um trato com ele e disse que se era isso que ele queria, era isso que iria acontecer.
Os anos passaram e Caio passou no vestibular! Ele se inscreveu em 3 universidades e passou em todas. Os pais preferiram que ele estudasse em uma faculdade privada, pois assim ele teria um tratamento mais diferenciado e ele acabou optando por estudar Farmácia. Daniela diz que, nenhum filho, autista ou não, consegue ser grande se não tiver o apoio da família e isso Caio teve o tempo inteiro, pois seus pais sempre acreditaram nele.
No fim do depoimento, ela agradece também os donos da escola em que ela deu aula para Caio, que sempre foram humanos e acreditaram em uma educação compreensiva e com amor. Quer ler o depoimento completo?
A primeira vez que eu vi o Caio foi em sala de aula. Era o primeiro dia de convênio no Colégio Avante e eu seria a sua professora de redação. Vi que ele estava fora da fila indiana e pedi para pôr a carteira no lugar: “Você pode colocar a carteira na fila, por favor?!”. Ele me olhou sem graça e me chamou para perto. “Eu sou autista!”. Falou rápido ao meu ouvido. Eu olhei para a moça ao lado e ela me explicou: “Sou a acompanhante dele, professora. Ele é autista!”. Eu respirei fundo e olhei para ele sorrindo: “Quer fazer o quê no vestibular?”. “Quero ser calouro!”. “É?”. “É!”. “Então você será?”. Ele não tem a mesma reação que todo mundo mas exitou quando eu dei a mão para que ele batesse: “Bate aqui!”. E ele bateu forte. “Temos um trato. Ouviu, turma? Eu e ele temos um trato, ele será calouro!”. Todos balançaram a cabeça em sinal de positivo.
Se inscreveu em três universidades privadas e passou em todas. Foi aprovado em Jornalismo, na Unama, Biomedicina, na Fibra e Farmácia, no Cesupa. Escolheu cursar Farmácia e está super feliz. Nos encontramos na festa dos calouros e ele me abraçou forte como quem estivesse grato. Ele não tem a mesma expressão que os outros alunos, não formula as mesmas frases e talvez não saiba dizer o que sente, mas não importa. Aquele abraço, aquele laço verde na cabeça, aquela cabeça suja de trigo e ovo, aquela plaquinha de aprovação e a palavra “calouro” escrita na bluda e na testa são a prova mais linda de que ele cumpriu o trato que fez comigo desde o primeiro dia quando nos vimos pela primeira vez. É calouro!
A família do Caio preferiu inscrevê-lo nas universidades privadas porque ele precisa de um apoio diferenciado, mas esse menino é um exemplo e eu estou muito orgulhosa do seu desempenho, da sua história. Será farmacêutico porque tem o apoio dos pais que, sobretudo, confiam e acreditam nele. Nenhum filho, autista ou não, será grande se não tiver o apoio da família. É de suma importância o acompanhamento. Amar é a melhor forma de dizer que confia. O amor vence todas as barreiras. Não neguem aos seus filhos o direito de sonhar, independente, das limitações ou qualquer outra coisa. Nossos filhos precisam se sentir amados e protegidos. Se confiarem em nós vão longe e serão capazes de ganhar o mundo. Se seu filho é autista, lute por ele também. Incentive. Persista nos seus sonhos. Faça-o acreditar. Mostre que está ao seu lado e que aposta nos seus projetos.
A vitória do Caio não é minha nem dele exclusivamente. É dos pais, da coordenação,da escola que tratou esse menino com respeito e acreditou nele junto com a família. Essa luta é também da Paula, a professora que o acompanhava nas aulas, ela foi fundamental e necessária para que chegássemos aqui. Agradeço ao Avante por ter me dado a chance de viver essa história. Parabenizo o Fábio e a Thaís que são os donos da escola por respeitarem as leis e serem humanos ao receberem alunos autistas, cadeirantes, cegos, surdos, down…dando a eles condições de superarem as dificuldades. Uma escola mais inclusiva torna o mundo mais inclusivo também. Muito obrigada por tudo, Caio!
Trato feito. Trato cumprido.
Eu te amo!
Essa é a postagem original de Joana:
Fotos: reprodução Facebook Joana Vieira
Fonte: Razões para Acreditar
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