sexta-feira, 30 de abril de 2021

Educação de estudantes com deficiência é desafio para comunidade escolar na pandemia

Prejuízos para alunos com deficiência no ensino remoto vão desde o acesso a tecnologias especializadas de aprendizagem à perda de convívio e rotina

Luana Severo para o diariodonordeste.verdesmares.com.br

Francisco Miguel, 14, filho da Andrea, 40, tem transtorno do espectro do autismo.
Ele estuda numa escola da rede pública de Fortaleza. Foto: Arquivo pessoal

Além de colapsar a saúde pública, a pandemia de Covid-19 escancara uma série de desigualdades sociais históricas no Brasil. Uma delas — e que se agrava em tempos de ensino remoto — é a falha sistêmica na inclusão educacional de estudantes com deficiência.

Os prejuízos para todos da comunidade escolar durante a pandemia já são colossais. Porém, para crianças e adolescentes com necessidades mais urgentes de socialização e de rotina e que dispunham — ou deveriam, por direito — de estruturas especializadas nas escolas, como tecnologias assistivas e salas de recursos multifuncionais, as perdas são ainda maiores.

Segundo a professora Vanda Magalhães Leitão, doutora em educação pela Universidade Federal do Ceará (UFC), à parte as condições de vulnerabilidade socioeconômica e as dificuldades de acesso à internet, computador, celular ou tablet, que prejudicam parte significativa dos alunos, a falta de convívio e de estímulos sistêmicos provocados pela rotina escolar são os principais prejuízos do ensino remoto — o qual ela acredita ser “infrutífero”.

“Inclusão educacional implica conviver. Tanto as pessoas com deficiência quanto as que não têm condição de deficiência precisam conviver porque isso é um fator de facilitação do processo de inclusão. E elas não estão tendo oportunidade de interagir, trocar”, compreende.

CONVÍVIO

O Miguel, de cinco anos de idade, filho da professora Mônica Costa, 37, que trabalha com formação docente para a educação inclusiva na rede pública de Fortaleza, é uma das crianças que têm sido prejudicadas pela falta do convívio escolar.

Miguel tem transtorno do espectro do autismo e um nível de aprendizagem “muito bom”, segundo a mãe. Lê desde os dois anos. Portanto, no começo das aulas remotas, o desafio somente foi fazê-lo entender que o computador que ele usava para se divertir serviria, também, para estudar. “Mas logo ele entendeu. Pro meu filho foi muito fácil porque ele gosta do computador e da escola, sempre teve interesse pelas atividades escolares”, diz Mônica.

Um ano depois, porém, Miguel já está “desinteressado” pelas aulas e não está demonstrando o mesmo desempenho de antes. Além da fadiga natural do modelo de ensino, Mônica acredita que tem pesado para o filho a falta da escola. “Foi um ano de muitos ganhos em outros aspectos, mas, na interação, percebi perda significativa. Já é próprio do autismo ter essa dificuldade. Meu filho perdeu ainda mais o interesse em brincar e se aproximar de outras crianças”, compartilha a professora, consciente de que “criança aprende interagindo”.

APRENDIZAGEM

Uma pesquisa nacional feita em julho de 2020 com professores da educação básica pela Fundação Carlos Chagas com a Universidade Federal do ABC (UFABC), a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e a Universidade de São Paulo (USP), constatou que, para 42,8% dos docentes que atuam em Atendimento Educacional Especializado (AEE), a aprendizagem dos alunos com deficiência diminuiu na pandemia.

Diferentemente do Miguel de cinco anos, o Francisco Miguel, 14, filho da Andrea Batista Irineu de Almeida, 40, tem preferido estudar em casa, assistido pela mãe, por ter dificuldade de socialização na escola. Porém, garantir a aprendizagem dele tem sido desafio constante.

Francisco Miguel tem sido acompanhado em seus estudos remotos pela mãe, Andrea.
Foto: Arquivo pessoal

“Miguel tem muita dificuldade com escrita e leitura. Se mandar ler alguma coisa, ele vai ler, mas é disperso, não vai entender muita coisa. Se passar [o conteúdo] oralmente é que ele vai entendendo”, explica Andrea. Porém, segundo ela, a escola da rede municipal na qual o filho está matriculado não se adaptou para atender às necessidades dos estudantes com deficiência. Ele, por exemplo, não recebeu material adequado às suas dificuldades de aprendizagem.

Andrea, que é atuante na escola, observa ainda que “alguns professores recebem a inclusão de braços abertos, mas, outros, só por obrigação, pra constar no currículo”. E continua: “A inclusão, na prática, é falha, principalmente agora, na pandemia, com aula remota. Se não for a gente atrás dos direitos [dos alunos], não funciona”. A crítica segue ainda para o período sem pandemia: “Não é só colocar dentro da sala de aula e tratar bem o aluno. As atividades têm que ser adaptadas. Sempre vou bater nessa tecla: inclusão na prática, não só no papel”.

ESTRUTURA DA REDE DE ENSINO MUNICIPAL

Atualmente, 8.424 estudantes com deficiência estão matriculados na rede pública municipal, segundo a Secretaria da Educação (SME). E a prefeitura afirma que a demanda é crescente.

Em nota, a pasta informou que, “de acordo com o Censo Escolar 2020, Fortaleza foi a capital que mais ampliou o número de alunos com deficiência na rede municipal. Em números absolutos, tem o maior número de matrículas do Norte e Nordeste e o terceiro maior do Brasil, superada apenas por São Paulo e Rio de Janeiro”.

Porém, principalmente num contexto pandêmico, é preciso não apenas garantir a vaga em sala de aula, mas, também, dar as condições adequadas para que esses estudantes aprendam.

Para a professora Mônica Costa, uma das maiores dificuldades é não ter professores de AEE em todas as escolas. Embora seja composta por 581 unidades de ensino, a rede municipal tem somente 189 profissionais do tipo contratados. Contudo, o município argumenta que disponibiliza outros 368 profissionais para apoio escolar, distribuídos em 286 escolas, o que seria 2.353% a mais do que a quantidade existente em 2014, quando haviam 15 profissionais.

Outra questão que dificulta a inclusão diz respeito à formação dos professores, aponta Mônica. “Formação eficiente pode fazer muita diferença na prática de um professor, seja no ensino inclusivo ou na sala regular. Não vai resolver todos os problemas, mas, um professor que conhece e compreende como aquele aluno aprende, quando ele tem uma formação que possibilita mais segurança nesse processo, faz muita diferença”, afirma a educadora.

REDE ESTADUAL

Na rede pública estadual, conforme a Secretaria da Educação do Ceará (Seduc), há 7.865 alunos com deficiência matriculados em 651 das 731 unidades de ensino. Na contramão da Capital, que vive uma crescente de matrículas, em 2020, esse número era maior (7.986).

Garantindo ter uma rede bem estruturada para atender a este grupo de estudantes, a Seduc comentou, em nota, que “desde o ano passado estão sendo realizadas conferências online tanto de abrangência estadual quanto regional com a participação de profissionais envolvidos com a Educação Especial para dialogar sobre as atividades de estudos domiciliares, bem como compartilhar as experiências desenvolvidas nesse contexto de atividades remotas”.

PAPEL DOS PAIS

Para Mônica Costa e Andrea Batista, como mães, manter terapias e medicações dos filhos durante o isolamento social é fundamental para garantir a aprendizagem escolar e o bem-estar deles. “Os alunos, mesmo tomando medicação, estão entrando em crise porque [devido à pandemia] os pais não estão levando pro médico, fazendo ajustes necessários na medicação. Aí não se concentram, a mãe não consegue ajudar, a professora também não”, relata Mônica.

Andrea comenta ainda que Francisco Miguel tem enfrentado muitas crises de ansiedade neste período. “E autista numa crise é uma coisa que você não queira ver”, compartilha, garantindo que o filho permanecesse indo à terapia.

Além disso, Andrea assume que o medo do retorno presencial à escola é “ter que começar do zero” no que diz respeito às adequações para atender às especificidades do filho. “Como mãe, como conheço o dia a dia dele, sei que não vai se adaptar com máscara.Vai ser difícil”, diz.

RETORNO ÀS AULAS PRESENCIAIS

Para a professora Vanda Magalhães Leitão, da UFC, apesar dos desafios, a volta às aulas presenciais deve ser encarada como prioridade pelos gestores públicos, principalmente no intuito de garantir os direitos dos estudantes com deficiência no acesso à educação.

“A criança de um ambiente de classe média alta tem outras condições, outros recursos. Mesmo que mãe e pai precisem trabalhar, eles têm como contratar uma pessoa [especializada para ensinar em casa]. Uma criança de nível social mais desfavorecido não tem esse recurso. E mesmo que a escola esteja oferecendo esse serviço [remoto], a criança, sozinha, não faz”.

 

quarta-feira, 28 de abril de 2021

“O lado emocional deve ser priorizado”, aconselha psicopedagoga sobre crianças com autismo na pandemia

Psicóloga especialista em educação inclusiva, colaboradora da Afapa e professora de Psicologia, Cristina Py Mairesse é a entrevistada em Dia das Crianças inédito em razão da pandemia de covid-19. 

Anderson Dorneles para o #EntrevistaHumanista

Dia 12 de outubro é a data dedicada à celebração da infância no Brasil. E você já está acostumado a ver reportagens abordando o tema, das mais às menos originais, sempre no entorno do dia 12. Mas, em 2020, o Dia das Crianças está diferente, pois ocorre durante a maior pandemia em 100 anos. A covid-19 mudou a rotina de quem tem crianças em casa. E o Humanista conversou com a psicopedagoga Cristina Py Mairesse para saber como está sendo enfrentar o novo coronavírus para famílias que convivem com o autismo.

Cristina é especialista em educação inclusiva, colaboradora da Afapa (Associação de Familiares e Amigos das Pessoas com Autismo de Porto Alegre) e professora no curso de Psicologia da Faculdade São Francisco de Assis. Ela fala sobre as rotinas das crianças com autismo durante a pandemia e o que se pode fazer para tornar esse momento mais saudável. Também aconselha: “O lado emocional deve ser priorizado”. Confira a entrevista completa!


O que é o TEA (Transtorno do Espectro Autista)?

Podemos dizer que não existe uma única forma de definirmos o TEA (Transtorno do Espectro Autista): existiram e coexistem diferentes critérios classificatórios dentro da psicopatologia – psiquiátrica e/ou psicanalítica (Texto produzido pelo G7, Correio da APPOA, 2013, p. 26). O que parece ser comum entre os critérios apresentados por ambas visões é a dificuldade de interação com o semelhante, inicialmente percebido por quem faz os primeiros cuidados com o bebê, que podem ser os pais, avós e ou professores das escolas infantis.

Em alguns casos, os sinais não são percebidos antes do primeiro ou segundo ano de vida. Algumas crianças com autismo não verbalizam nada ou falam rudimentarmente, sendo uma fala muito aquém ao esperado para a idade. As estereotipias geralmente estão presentes, através de um brincar repetitivo, sem a presença do simbolismo. Ela pode simplesmente rodar um objeto ou olhar para uma ação qualquer, como os movimentos de um objeto presente no seu cotidiano, como rodas, ventiladores, etc. Enfim, são diferentes comportamentos que nos revelam uma dificuldade maior da pessoa em interagir com o mundo externo, podendo se manifestar através da ausência de uma reciprocidade do olhar e de troca com seu cuidador(a).

As crianças com autismo têm mais dificuldades para se adaptar ao isolamento social?

Depende de cada criança, porque vai depender muito da organização familiar dessa criança e da possibilidade até de uma reorganização da mesma. No início da pandemia, nós estávamos falando em permanecer de 15 a 20 dias em casa e hoje nós estamos fechando quase 7 meses de isolamento. A gente ainda não tem uma previsão de retorno à normalidade. Algumas crianças autistas conseguiram se adaptar super bem ao uso da máscara e outras não, então a gente não tem como generalizar. Pra elas e pras outras crianças pequenas pode ser mais difícil porque mudou muito a rotina, mas eu vejo crianças que se adaptaram bem, assim como vejo famílias e crianças com autismo com muita dificuldade. Eu escuto relatos de crianças que estão trocando o dia pela noite e isso é prejudicial para o seu desenvolvimento ao longo dos meses. Eu não sei se tem como a gente mensurar se é pior para as crianças autistas em específico, talvez seja difícil para todas as crianças, pois os pais precisam lidar com uma situação que não foi planejada e, muitas vezes, têm de assumir o ensino dessas crianças.

Nesse momento tão delicado, quais atividades podem ser interessantes para ajudar na saúde mental e bem estar de crianças com transtorno do espectro autista?

Eu acredito que os pais têm que se despir desse papel de professor dos seus filhos, porque às vezes os pais estão tão preocupados em dar conta do conteúdo escolar que esquecem do principal: de serem pais. Às vezes é bom poder estar junto com o filho, sentar no chão, fazer uma brincadeira, passear, olhar um filme, fazer as atividades cotidianas, tudo dentro do que o filho era capaz da fazer antes do início do isolamento social.

Neste momento, não tem como a gente se preocupar tanto com os aspectos dos conteúdos escolares, a gente tem que se preocupar muito mais com as interrelações familiares. Se possível, da gente poder estar próximo, fazer alguma coisa que já fazia antes e continuar fazendo, ou aproveitar para tentar ensinar algo novo, como andar de triciclo, bicicleta, jogar bola. E, claro, tudo dentro da realidade de cada família. A gente não sabe do que cada criança gosta ou iria gostar, então eu sempre digo para os pais partirem do mais simples e do que sabem que seus filhos gostam. Se a criança gosta de música, vamos tentar música. Se possível diminuir a exposição às telas para que elas possam interagir e conversar. Favorecer o brincar e o estar junto com a criança é muito importante.

Com a ausência de atividades escolares, o que os pais podem fazer para que as crianças não tenham tanto prejuízo do ponto de vista psicopedagógico?

É tudo muito novo ainda, nós também estamos aprendendo a como lidar com essa situação da pandemia. Porém, o lado emocional deve ser priorizado. Se a criança não for alfabetizada agora, ela pode ser alfabetizada depois, mas os danos emocionais e de autoestima podem ser difíceis de se reverter. Então, encontrar atividades e brincadeiras que façam com que a criança se sinta bem e socialize com os pais é muito importante. Trabalhamos, através das brincadeiras, noções que são fundamentais para a aprendizagem formal.

Qual é a importância de se manter uma rotina escolar com aulas, mesmo que à distância?

Eu sei que algumas crianças não estão conseguindo nem receber as atividades que são preparadas pelos seus educadores e outras, por outro lado, que estão recebendo a atenção individual de seu professor, tendo um momento com ele. Porém, a gente tem que entender que cada caso é um caso, não adianta querer forçar a criança a ficar na frente de uma tela. Sabemos o quanto a rotina organiza a vida dessas crianças, pois é algo que as auxilia a poderem ter um mínimo de confiança no ambiente. E, quando as famílias estão mais organizadas, as crianças acabam se tranquilizando também, pois percebem que as pessoas a sua volta estão mais tranquilas. Então, a rotina é importante não só para as crianças com espectro, mas para todas as crianças. A gente não pode deixar que uma criança troque a noite pelo dia, por exemplo. É importante lembrar que também está sendo difícil para as escolas poderem auxiliar alguns alunos, pois algumas famílias não têm acesso à internet ou a uma plataforma, sem falarmos nas condições emocionais e pedagógicas para ensinar em casa. O importante de se ressaltar é que cada criança é única e que não existe uma receita universal. Existem diferentes especificidades dentro do espectro autista e nós precisamos pensar em cada criança de maneira única.

Qual é a eficácia do atendimento clínico à distância?

Cada caso é um caso. Tem crianças que estão evoluindo bem até sem atendimento nenhum, nem à distância. E tem crianças que estão com mais dificuldades, percebidas através de um agravamento dos comportamentos que já estavam presentes, como gritos, estereotipias, entre outros, ou pelo aparecimento de novos. Tem crianças que a gente se surpreende em como elas conseguiram ao longo dos atendimentos on-line evoluir e em como as famílias conseguiram se reorganizar, mas outras não. Tem crianças que conseguiram se adaptar ao ensino e ao atendimento remoto e tem outras que têm mais dificuldade. Então a gente precisa às vezes que o pai ou a mãe estejam junto para que a gente consiga interagir com a criança no ambiente virtual.  Para algumas crianças, é recomendado que voltem ao atendimento presencial. Existem colegas que já voltaram justamente pelas grandes dificuldades do atendimento on-line de interação com essas crianças.

Como está ocorrendo a terapia presencial em casos essenciais?

Com todos os cuidados possíveis. Alguns colegas já estão voltando para os consultórios justamente por estarem preocupados com os prejuízos que a falta do atendimento presencial pode trazer para a criança. Eu soube que eles estão fazendo caixas de brinquedos para cada criança, para que uma não tenha acesso aos brinquedos da outra. Sempre higienizando, passando álcool em gel em tudo e com o uso da proteção face shield. E, em alguns casos, com a máscara transparente para que a criança consiga ver o nosso rosto. Algumas das crianças com espectro já estão conseguindo usar máscara e conseguem entender que é um novo momento. Porém, algumas não. Então, temos que avaliar cada caso, se conseguimos ou não realizar o atendimento presencial nesse momento. Alguns pais conseguiram fazer com que o filho usasse máscara porque colocaram algum personagem do seu desenho favorito na estampa do material. No entanto, nós conseguimos fazer com que as crianças autistas não fossem obrigadas a andar de máscara, porque isso pode causar uma ansiedade maior nelas.

Às vezes a gente não precisa atender presencialmente as crianças, mas eu penso que é interessante continuar auxiliando os pais, mesmo que remotamente, para que eles possam auxiliar os seus filhos. Eu venho trabalhando remotamente com os pais, então fazemos uma parceria, conversamos sobre aspectos da rotina, do dia a dia em casa.

Pensando no pós-pandemia, no retorno à socialização e às escolas, como esse processo poderá ocorrer de maneira saudável?

A gente nunca viveu uma situação como essa antes, então é complicado responder essa pergunta. Porém, eu penso que os professores e as escolas vão precisar de um tempo para readaptação, para que as crianças possam voltar a se conhecer. Eu acredito que os professores têm que deixar que as crianças brinquem bastante e que favoreçam esse reencontro delas – tentando manter os protocolos de segurança exigidos para a volta -, porque elas aprendem muito entre si. O grande prejuízo para as crianças é no âmbito das relações interpessoais: mesmo uma criança com autismo que não tenha uma troca maior com outra criança ainda assim precisa do convívio escolar, porque, para ela, muitas vezes é a única representação de um convívio em sociedade.


FOTO DE CAPA: Julyane Galvão/Governo do Maranhão.

quinta-feira, 22 de abril de 2021

No mês do autismo, especialista conscientiza inclusão de autistas na sociedade e a importância do acompanhamento multiprofissional

 imprensa24h.com.br

Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 1% da população mundial é tem Transtorno do Espectro Autista (TEA), caracterizado pelo atraso no desenvolvimento das habilidades sociais, comunicativas e cognitivas. Dando mais visibilidade a essa questão, no mês de abril é realizada a campanha Abril Azul, com o objetivo de ajudar a população de todo o mundo a se conscientizar sobre a inclusão de pessoas com autismo.

Segundo o psiquiatra cooperado da Unimed Sergipe, Celso Vilas-Boas, o transtorno se apresenta em graus e isso é o que se denomina de espectro autista. “Atualmente se observa a existência do espectro autista, ou seja, o autismo se apresenta em grau leve’ Asperger, moderado e grave. Ainda não se tem uma causa clara. Todavia, não se descarta a genética, muito embora a síndrome obedeça a fatores diversos”, explica o médico.

Algumas das associações que acontecem com as pessoas autistas são a deficiência intelectual, dificuldades de coordenação motora e de atenção e, às vezes, problemas de saúde física, como sono e distúrbios gastrointestinais, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, dislexia ou dispraxia.

No entanto, a maioria das pessoas com autismo possui facilidade em aprender visualmente, são atentas aos detalhes e à exatidão, possuem uma capacidade de memória acima da média e  podem se destacar em música, arte e matemática.

Mesmo o autismo podendo ser determinado apenas por um especialista, algumas características de que alguém que tenha o transtorno podem ser observadas já precocemente, ao nascer da criança.  Nos maiores, algumas reações podem ser observadas: não se reconhecer pelo nome, não reclamar ao ser deixado sozinho, ter fisionomia pouco expressiva, não interagir com outras pessoas e ter comportamentos repetitivos.

“É possível constatar já ao nascer quando o neonatologista recebe o recém nascido, a ausência de tônus muscular. Este primeiro dado é importante porque faz-se necessário por parte dos pais a estimulação precoce do bebê. Mas é possível que este dado não seja observado no início. Já durante a amamentação e nos primeiros dias de vida, o bebê apresenta-se “diferente”: não suga o mamilo durante a amamentação, permanece muito quieto no berço sem chorar, mesmo quando molhado e com muito tempo sem alimentação”, destaca o psiquiatra da Unimed Sergipe, pontuando alguns dos primeiros sinais de que a criança pode ser autista.

Acompanhamento multiprofissional

Segundo Celso Vilas-Boas, a depender do grau do autismo, indica-se o melhor procedimento possível. De toda forma, é sempre recomendável que a criança autista tenha acompanhamento multiprofissional

“Recomenda-se psicoterapia com profissional especializado, acompanhamento com fonoaudiólogo, com profissional de educação física, e, a depender do grau do autismo, frequência a escola capacitada. O acompanhamento psiquiátrico é indicado quando a criança apresenta sintomas graves de agitação psicomotora e agressividade. É importante que também os pais tenham acompanhamento psicológico”, orienta o psiquiatra.

Reforçando a importância do acompanhamento multiprofissional, especialmente para ajudar a pessoa no convívio em sociedade, o especialista cita o caso de uma autista nos Estados Unidos que graduou-se em genética de equinos, chegando a fazer mestrado e doutorado, vindo a proferir palestras na sua área.  “É possível que o autista não grave tenha convivência natural com as pessoas e os mais graves possam ter acompanhamentos profissionais com os quais possam melhorar os seus sintomas e comportamentos”, conclui Celso.

sexta-feira, 16 de abril de 2021

Autismo na pandemia: o que podemos fazer para amenizar os prejuízos

 Jaqueline Bifano* para o Estadão

 

Desde 2007, a ONU – Organização das Nações Unidas – instituiu abril como o mês do ativismo em favor do Transtorno do Espectro Autista (TEA). O objetivo é chamar a atenção da sociedade e governantes para esse problema do neurodesenvolvimento, mais comumente conhecido como autismo.

A criança com TEA demanda atenção, cuidado e carinho extras e, no cenário da pandemia, o que já era desafiador para pais, responsáveis, familiares, amigos e professores, tornou-se ainda mais delicado e cheio de surpresas.

Quem convive com o transtorno, sabe como as rotinas são importantes, independente do grau de acometimento e idade, e como as interrupções no dia a dia geram crises, ansiedades, nervosismo, agitação e agressividade.

Nem todo mundo sabe, mas a pessoa com autismo é considerada também pessoa com deficiência (PcD). Mesmo entre o ativismo de minorias, ganham mais destaque as questões de gênero e cor, enquanto causas a favor de pessoas com deficiências (PcD) já não costumam receber tanto destaque, menos ainda quando falamos de uma “deficiência invisível”, como é o caso do autismo.

Nesse contexto, o mês da conscientização é essencial para que a sociedade entenda que as deficiências existem inclusive no campo do neurodesenvolvimento e que essas pessoas, por mais que em alguns casos não pareçam portar alguma deficiência, precisam ter suas limitações respeitadas e seus direitos assegurados. Autistas de grau mais leve muitas vezes não são nem ao menos identificados e, como consequência, a sociedade tende a exigir deles comportamento típico.

Quando diagnosticado, o transtorno costuma ser identificado ainda na infância e, se para um adulto com autismo a convivência com a sociedade já é difícil, imagine os prejuízos que isso poderia trazer a uma criança. É preciso que todos saibamos acolher e apenas através da conscientização é possível ensinar à sociedade como lidar com a situação.

Exigir comportamento típico de uma criança que tem limitações do neurodesenvolvimento só vai trazer sofrimento e pode agravar o quadro. Por isso, é importante estar alerta aos sinais: estereotipias (comportamento repetitivo); seletividade alimentar, dificuldade de comunicação verbal e não verbal; dificuldade de interação empática, rigidez de comportamento e/ou agressividade podem ser alguns deles.

O tratamento é multidisciplinar e precisa ser feito em conjunto, com o diagnóstico do(a) psiquiatra infantil e encaminhamento para fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional e psicólogo comportamental.

Com a rotina modificada pelo contexto social atual, o comportamento também mudou e, em alguns casos, houve a regressão dos ganhos gerados por anos de intervenções na terapia! Por isso é importante tentar, de alguma forma, imprimir o que era realizado antes da chegada da pandemia, ao mesmo tempo, realizando as alterações necessárias.

As aulas, que eram presenciais, voltaram-se para dentro de casa ou estão acontecendo de forma híbrida e trouxeram mudanças significativas. Pais e professores tiveram de entender qual a melhor maneira para incluir o aluno autista durante as atividades da escola, refazer cronogramas e estabelecer horário para cada tarefa.

Outra mudança importante é a atenção redobrada à higienização de utensílios, já que, pacientes com autismo têm o hábito de pegar nos objetos, seja para sentir o cheiro, o sabor ou a textura dos mesmos. Manter tudo muito limpo é importante para evitar que o paciente com o transtorno esteja em contato com o vírus e tenha alterações de suas funções sensoriais, que podem gerar ainda mais estresse.

Mesmo com tantas mudanças severas e restritivas, nem tudo pode ser visto de forma negativa. Por passarmos mais tempo em casa, descobrimos mais sobre o outro e temos a oportunidade de aprofundar os laços afetivos, ressignificar valores e criar a possibilidade de interações lúdicas com mais frequência, isso sim poderia ajudar muito uma criança autista.

Se antes as coisas pareciam complicadas, tornaram-se, com o tempo, desafiadoras, mas contornáveis e solucionáveis.

Estamos todos vendo a nossa vulnerabilidade diante de uma situação que continua pegando a humanidade de surpresa a cada dia.

Precisamos nos ajudar e dar suporte a quem precisa, em especial, às crianças com deficiências como o autismo. Tudo vai passar, mas já passou da hora de entendermos que os transtornos de neurodesenvolvimento também são um tipo de deficiência, demandam atenção e dedicação da sociedade, e essas crianças e pessoas, independente da idade, precisam ter seus direitos garantidos e suas necessidades preenchidas.

*Jaqueline Bifano, psiquiatra da infância e adolescência

quarta-feira, 14 de abril de 2021

Impacto da pandemia: ‘Meu filho regrediu com o isolamento’, relata mãe de criança autista

Mudanças na rotina, ensino a distância e falta de convivência com outras pessoas impactam jovens diagnosticados com o transtorno, que podem ficar irritados, ansiosos e até perder habilidades

Por Bárbara Ligero para a jovempan.com.br

Aos sete anos, Eric aprendeu o alfabeto russo sozinho, mas atualmente demanda esforço de sua mãe, Thaís Cardoso, para prestar atenção nas aulas de português por chamada de vídeo. “Alguns autistas conseguem desenvolver habilidades impressionantes quando gostam de um tema. Porém, eles também têm um sério problema de concentração quando não se interessam por um assunto”, explica a fisioterapeuta. As queixas em relação à adaptação para o ensino a distância (EAD) e a falta de engajamento em certas áreas do conhecimento não são exclusivas das crianças diagnosticadas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Mas a diferença é que Eric tende a copiar o comportamento dos seus colegas quando vai à escola presencialmente para se adequar àquela realidade social e, com a necessidade de permanecer em casa devido à pandemia do novo coronavírus, os exemplos que ele tinha no dia a dia de como se portar no momento dos estudos foram por água abaixo.

“Não é que os autistas não sejam capazes de aprender online, mas eles precisam da interação social porque aprendem o comportamento vendo outras crianças da mesma idade. Claro que tentamos reforçar alguns aprendizados em casa, mas é na escola que o meu filho vê os amigos sendo independentes na hora de comer, de pegar algo na mochila ou vestir o casaco antes de sair”, afirma Thaís. O relaxamento das medidas restritivas para conter a Covid-19 e a implementação do ensino híbrido não solucionaram o problema e ainda geraram um desafio novo. “O abre e fecha das escolas acaba com a rotina que os autistas tanto precisam. As pessoas com TEA se sentem mais seguras quando sabem o que vai acontecer e entram em crise quando há mudanças repentinas. Não estou defendendo a abertura das escolas na situação que estamos vivendo, mas é preciso apontar o impacto que isso causa.” No início da pandemia, Eric desenvolveu uma seletividade alimentar temporária, maneira como é chamada a aversão sensorial a certos sabores, texturas ou cores que pode se tornar até uma fobia de determinadas comidas. Em dado momento, o menino também passou a precisar da ajuda dos pais para se secar e colocar as roupas, coisas que ele fazia sozinho antes da quarentena. “Meu filho teve uma grande regressão para uma criança da idade dele”, conclui Thaís.

O fenômeno também foi percebido dentro das escolas especializadas na educação de crianças autistas, que tiveram que seguir as mesmas diretrizes de todas as outras instituições de ensino do país. “Os autistas, que naturalmente já têm dificuldade de socialização, estão ficando ainda mais fechados com a pandemia. E quanto mais eles se isolam, maior vai ficando essa dificuldade, porque eles entram em uma situação que é cômoda para eles. Houve um prejuízo grande nessa área”, explica a diretora pedagógica Adriana Moral, do Centro Lumi em São Paulo. A escola estava acostumada a trabalhar de forma personalizada com os seus estudantes: cada sala possuía até seis alunos de diferentes idades e estágios de desenvolvimento, que recebiam atenção personalizada de três assistentes e uma professora com formação em pedagogia e psicologia. Por esse motivo, a transição ao ensino remoto foi um desafio. “Como trabalhamos com alunos que têm dificuldades motoras e de atenção, aos poucos percebemos que os exercícios funcionavam melhor nos tablets do que nos materiais impressos e que as atividades tinham que ser mais curtas e lúdicas”, relata Adriana.

Ainda assim, o fato de os autistas terem dificuldade de flexibilização foi um desafio na aceitação do novo ambiente de estudos. “As crianças autistas são mais rígidas na separação entre o espaço da escola e o espaço de casa. Tivemos um aluno que simplesmente não aceitava ter que fazer atividades escolares no seu apartamento”, conta a diretora pedagógica. Com a implementação do ensino híbrido, não houve a recuperação da socialização dos estudantes devido ao distanciamento social, e a necessidade de aplicar outras medidas de combate à Covid-19 ainda trouxe novas dificuldades a serem contornadas. “Muitos alunos não conseguem seguir todos os protocolos de segurança por uma questão de disfunção sensorial que faz parte do transtorno. Uns não conseguem ficar de máscara porque a sensação é horrível para eles, outros têm o costume de colocar a mão na boca ou lamber diretamente certas superfícies. Mas existe também um outro lado: os autistas costumam seguir uma rotina de forma bastante rígida depois que se acostumam com ela. Ou seja, o início foi difícil, mas depois as crianças passaram a não tirar a máscara por nada”, exemplifica Adriana.

sexta-feira, 9 de abril de 2021

Crianças com autismo podem frequentar escolas regulares

 Débora Mantovani para o bonde.com.br

Desde 2012, a Lei N° 12.764, sancionada pela então presidente Dilma Roussef (PT), assegura que os alunos com TEA (Transtorno do Espectro Austista) devem poder frequentar instituições de ensino regulares. A professora e mestra em educação Francielle Zambon comenta sobre a convivência das crianças com autismo com os demais alunos. "É necessário, primeiramente, entendê-los como crianças que vão aprender, como todos os outros, porém num ritmo adequado às suas necessidades”, relata.

 Zambon destaca a importância de observar as particularidades de cada aluno com autismo, uma vez que o espectro é amplo. "Nós, professores, temos nos especializado, temos participado de cursos, buscamos sempre conhecer cada criança mais intimamente e ter contato com a família", declara. "Têm crianças com TEA que acompanham perfeitamente o mesmo conteúdo apresentado à turma, já outras precisam de adaptação, inclusive com o auxílio de um professor de apoio ao seu lado para revisar as atividades", conta. "Essa interação nas escolas regulares ajuda na modulação comportamental, a entender o que elas sentem e como se expressar, e é um ganho muito grande", afirma.

A dona de casa Vanilsa Waltmann, mãe do Matheus, que está no espectro, percebe que o aprendizado se estende também às crianças que não tem TEA. "Para a criança com autismo, o ensino regular ajuda com a socialização, até porque, algumas vezes, o aprendizado ocorre pela imitação dos demais. Mas a inclusão também permite às demais crianças aprender a conviver e respeitar os 'diferentes'", explica. Ela observa um grande esforço dos professores para inserir Matheus na escola, e destaca o acolhimento das outras crianças da turma. "Quando ele tentava se isolar, algumas crianças sempre o procuravam para incluí-lo nas brincadeiras e atividades”, comenta.

Márcia, que pediu para não ter seu nome verdadeiro identificado, e tem um filho com autismo matriculado na rede municipal, teve experiências semelhantes. "Os professores se dedicam, seja criando um ambiente propício à melhora da comunicação e que potencializa a criatividade e autonomia, seja na conscientização dos outros alunos ao abordar conceitos como a diversidade”, descreve.

Gabrielle Hisnauer, mãe do Bernardo, que está no espectro do autismo, entretanto, observa que há escolas nas quais ainda não existe tanto conhecimento sobre o tema. "A inclusão nas escolas existe sim!”, aponta. "Porém, há muitos colégios que usam isso como um 'chamariz': 'somos uma escola de inclusão, cristã e que visa o melhor aprendizado para a vida de seu filho'", exemplifica. "Existe uma diversidade enorme entre os autistas, um pode ser hiporreativo, que necessita mais do toque, brincadeiras mais intensas, etc., enquanto o hiperreativo gosta mais de brincar sozinho e é sensível a barulhos", explica.

Márcia confirma que ainda há espaço para melhoras. "Minha percepção é de que as escolas não dispõem dos necessários recursos humanos. Por isso, penso que a legislação deve vir acompanhada de políticas públicas voltadas à concretização dos direitos nela previstos”, reivindica. "A isso, some-se a educação continuada e adequada capacitação dos professores, bem como adaptação curricular”, pontua.

A professora Francielle Zambon reitera que a educação, de maneira geral, precisa ser tratada com mais respeito pelo governo. "As escolas necessitam de ajuda na sua infraestrutura, nas questões pedagógicas, com materiais adequados, recursos tecnológicos”, aponta. "Nós também, professores, precisamos de tempo, de espaço para pesquisa, para estudar também esses casos particulares que chegam até nós”, informa.

*Sob supervisão de Larissa Ayumi Sato.

quarta-feira, 7 de abril de 2021

Professora se dedica a escrever livros para inclusão e lança história com personagem autista

 Redação Bonde com Agência Educa Mais Brasil 

De acordo com a Revista Autismo, não é possível saber a porcentagem de brasileiros autistas por não existir números oficiais sobre pessoas com essa característica individual, já que não há estudos de prevalência. No entanto, conforme a ONU, cerca de 1% da população pode ser considerada como autista. Somando a estatística às outras necessidades especiais, no Brasil tem-se cerca de 25% da população com alguma deficiência. Ainda assim, a inclusão carece de estar em diversos meios sociais e culturais, entre eles, a literatura. Das memórias afetivas da infância, quando ouvia seus pais lerem histórias infantis, surgiu a paixão da professora e escritora carioca Celina Bezerra pelos livros. Mas foi na vida adulta, radicada na Bahia, que ela descobriu que poderia unir sua vocação com um assunto pouco debatido: a inclusão.

"Ainda na infância, quando encontrava uma criança com deficiência, muitas vezes ouvia de adultos, ‘não fica olhando’ ou ‘para de olhar, que a criança vai ficar encabulada...’ e, na realidade, eu só queria ir lá e brincar, conversar, interagir. Eu não me importava se ela era cadeirante ou se era uma criança com Síndrome de Down. Só queria estar com ela. Isto era uma grande interrogação para mim e eu trouxe essa indagação para a vida adulta”, explica a escritora. A habilidade para lidar com as palavras levou Celina para a faculdade de Letras. Porém, ela quis ir além do curso. Para ajudar a dar visibilidade às pessoas com pouca representatividade na sociedade, ela se especializou em Educação Inclusiva e em Educação da Infância com Ludicidade.

Durante suas pesquisas acadêmicas, Celina se surpreendeu ao ter dificuldades para encontrar histórias que tivessem protagonistas com alguma necessidade especial. "Até tinha um amigo do protagonista que possuía alguma deficiência, mas nunca era o personagem principal”, ratifica. Para ela, a inquietação foi um impulsionador para ir buscar na literatura recursos para suprir a ausência de histórias infantis com a temática da inclusão.

"Decidi, então, escrever para a parcela da população infantil que tinha pouca ou nenhuma representatividade na literatura infantil: as crianças com deficiência ou características especiais”, justifica.

Celina é autora dos livros "Sabrina, a menina albina” e "Bruna, uma amiga Down mais que especial”, que fazem parte da coleção "Amigos Especiais", ambos publicados pela Editora Inverso. Além disso, tem poemas, crônicas e contos publicados em várias antologias e coletâneas.

Neste mês de abril, a escritora pretende lançar o mais novo livro "Charles – a estrela autista”, que narra a história da estrela que vive uma saga em busca de aceitação. "As crianças vão observar as características do personagem e relacioná-las àquele colega que eles têm na sala de aula ou na família com o mesmo perfil de comportamento. E as crianças com TEA (Transtorno do Espectro Autista) estarão ali representadas”, pontua a escritora.

Ao se dedicar à literatura inclusiva, Celina busca passar a mensagem de "olhar para as pessoas com deficiência pelas suas potencialidades e não pela limitação. Não precisa anular uma pessoa porque ela tem uma limitação porque ela tem várias outras potencialidades”, defende.

Celina Bezerra acumula experiências como integrante do Movimento Mulherio das Letras Brasil, Bahia e Europa; membro correspondente da Academia Literocultural de Sergipe e da Academia Internacional de Literatura Brasileira – Brasil/Nova York. Em sua trajetória em sala de aula, foi professora de muitos alunos com diferentes deficiências, autismo e superdotados. Assim, acompanhou de perto a necessidade de inclusão.

"As escolas não devem dificultar a matrícula. É uma oportunidade para outras crianças aprenderem com aquele comportamento diferente. A escola traz oportunidade da criança que não tem autismo conhecer o que é, saber como é o comportamento de quem tem, aprender como colaborar com ela, e a criança com autismo também aprende, dentro dos seus limites, a conviver com os colegas e na sociedade”, argumenta.

Nesse sentido, a escritora ressalta que fazer roda de conversa com as crianças e contar histórias de personagens com deficiência é uma atividade importante para promover a inclusão. "Alguns professores ficam receosos sem saber como lidar com crianças especiais na turma. Na minha opinião, os professores deveriam ser orientados pelas escolas sobre como receber essas crianças. Acredito que a literatura infantil pode ajudar na inclusão”, defende Celina.