quarta-feira, 30 de junho de 2021

Jovens com Síndrome de Down fotografam o cotidiano da pandemia

Projeto fotográfico conta com a participação de 11 jovens com Síndrome de Down no Distrito Federal e fica exposto até o dia 12 de julho no Píer 21

correiobraziliense.com.br


Projeto Galera do DIS - Clicando por aí - (crédito: Divulgação / Gi Sales Fotografia)

A exposição fotográfica ‘Pandemia: olhar plural’, em cartaz no Pier 21, faz parte do projeto ‘Galera do DIS - Clicando por aí’, parceria com a fotógrafa Gi Sales e o Diário da Inclusão Social (DIS). O objetivo do projeto é mostrar o olhar de jovens com síndrome de Down sobre o mundo por meio da fotografia.

A exposição, que vai até o dia 12 de julho, conta com 55 fotografias de 11 jovens com Síndrome de Down. As fotografias foram realizadas em saídas fotográficas realizadas com o auxílio de um grupo de fotógrafos voluntários e retratam a rotina das pessoas em meio à pandemia do novo coronavírus. Os jovens captaram imagens que valorizam os detalhes do cotidiano, como um passeio ao parque ou a prática de um exercício físico, em diversos pontos de Brasília.

O projeto conta com a colaboração da fotógrafa Girlene da Costa, mais conhecida por Gi Sales. A fotógrafa trabalha com crianças e jovens com Síndrome de Down desde 2016. Foi nessa época que ela conheceu o Diário de Inclusão Social e desde, 2017, desenvolve oficinas de fotografia com os adolescentes de forma voluntária.

“A inteligência e dinamismo dos jovens envolvidos com o DIS me fez acreditar que neles estaria um grupo maravilhoso de alunos de fotografia, tendo em vista a sensibilidade que cada um demonstrava ter”, completou.

As oficinas ocorriam durante os fins de semana, antes da pandemia, e envolviam aulas práticas e teóricas dos conceitos básicos da fotografia. A partir dos resultados e avanços, Gi Sales propôs a primeira exposição fotográfica em 2019, ‘Um olhar especial para a natureza’.

“A empolgação e resultados maravilhosos nos fizeram ousar e acreditar que mais pessoas precisavam ver nossas conquistas, afinal nossos jovens merecem ser vistos com respeito e admiração conquistados com seus esforços nas aulas”, destacou.

Além de capacitar os jovens, a fotógrafa quer estimular que este tipo de ação aumente. “A partir da divulgação da exposição, quero estimular outros profissionais da área fotográfica a formar grupos semelhantes ou fazer parte de projetos como esse. Nossos jovens possuem um potencial incomensurável no que se refere à disciplina, sensibilidade e capacidade”, acredita.

Para divulgar o trabalho e o talento dos jovens, a exposição vai se tornar itinerante, permanecendo em lugares movimentados e com maior visibilidade no Distrito Federal. Para mais informações sobre o projeto ‘Galera do DIS’, acompanhe o Instagram @galeradodis.

Confira algumas fotos:

sexta-feira, 25 de junho de 2021

Conheça cinco mitos sobre o autismo

 Por Katarina Bandeira para o uninassau.edu.br


Síndrome afeta uma em cada 160 crianças no mundo. Foto: Freepik

O Autismo, também conhecido como Transtornos do Espectro Autista (TEA), afeta uma em cada 160 crianças no mundo, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS). Apesar de relativamente comum, muita gente não sabe exatamente do que se trata a síndrome, nem como lidar com pessoas que sofrem com ela. Hoje (2), no Dia Mundial de Conscientização do Autismo, fizemos uma série de mitos e verdades, para você conhecer mais sobre o transtorno, que afeta mais de 70 milhões de pessoas.

1. O autismo é um problema psicológico

Ao contrário do que se acreditava quando foi descoberto o autismo não é um problema psicológico. Ele se inicia durante a gravidez, mas geralmente só é diagnosticado nos primeiros três anos da criança. Existem vários graus de autismo, mas ainda não é possível identificar por diagnóstico laboratorial. A forma de descobrir está na observação. É preciso ficar atento ao comportamento da criança, que pode desenvolver problemas relacionados à linguagem, a interação social, além de apresentar comportamentos repetitivos.

2. Vacinas podem causar autismo

Essa informação é completamente falsa. Segundo a OMS, não há nenhuma comprovação científica que ligue o transtorno do espectro autista a vacinas como sarampo, caxumba ou rubéola. Essa relação surgiu após um estudo realizado em 1998, mas que já foi refutado por vários especialistas.

3. Crianças autistas vivem no seu próprio mundo

Mito. Existe uma falsa crença de que crianças que sofrem com a síndrome não são capazes de se comunicar e são extremamente fechadas em si mesmas. Apesar do transtorno fazer com que elas desenvolvem um problema de sociabilização é possível que crianças - e adultos - com autismo vivem normalmente em sociedade. Existem graus específicos para cada tipo de autismo e todos são passíveis de tratamento. Em diversos países a convivência de crianças com e sem o TEA é feita de forma inclusiva e saudável.

4. Autistas não demonstram afeto

Apesar de não serem tão carinhosas quanto crianças sem a condição do autismo, os pequenos que possuem o TEA também sentem afeto por seus pais e entes queridos. Mesmo que sejam mais agressivas, por possuírem uma baixa tolerância à frustração, e tenham certa dificuldade na comunicação, crianças autistas são muito sensíveis e suscetíveis ao ambiente que as cerca. Elas simplesmente se expressam de maneiras diferentes das quais estamos habituados.

5. Há apenas um caso por família

Mesmo que os estudos sobre o Transtorno do Espectro Autista ainda estejam sendo feitos, já foi provado que a genética é um fator conclusivo para o desenvolvimento da síndrome e pode afetar várias crianças de uma mesma família. Pais de autistas têm uma chance maior de ter um segundo filho com a mesma condição genética.  

quarta-feira, 23 de junho de 2021

Confira sete estratégias de inclusão de crianças com autismo na escola

 bonde.com.br

A Lei de Inclusão da Pessoa com Deficiência, aprovada no Brasil em 2015, garante ao indivíduo com necessidades especiais o direito e acesso à Educação. Apesar disso, garantir a inclusão do aluno autista em sala de aula ainda é um desafio não apenas para famílias, mas também para escolas e professores. Como o TEA (Transtorno do Espectro Autista) possui níveis e intensidades bastante amplos, fazendo com que o indivíduo possua características, sintomas e comportamentos variados e distintos, em boa parte das vezes os educadores se sentem despreparados para lidar com as situações que surgem quando são desafiados a trabalhar com um aluno autista.

A inclusão de um estudante com autismo exige adaptações e estratégias diferenciadas que a escola só consegue implantar, de fato, quando o tema é amplamente discutido dentro do ambiente escolar, com a propagação de todas as informações necessárias para que todos se sintam preparados para lidar com a questão. Além da sensibilização de docentes e colaboradores da escola, e da troca constante de experiências sobre o assunto, fatores como diagnóstico precoce, contato próximo com a família e o apoio de profissionais especializados que atendem a criança também contribuem para o processo.

De acordo com a gerente pedagógica da Conquista Solução Educacional, Aldrey Freitas, praticar a inclusão não é inserir um aluno com TEA em sala de aula e ter a expectativa de que ele participe e responda como os demais. "Esperar do indivíduo com autismo comportamentos socioafetivos e acadêmicos iguais ao de alunos sem o transtorno pode, inclusive, exacerbar problemas comportamentais nessa criança", alerta Aldrey. Segundo a educadora, é preciso, antes de tudo, buscar entender as razões que fazem com que aquele aluno grite, morda ou se recuse a permanecer sentado ou dentro de uma sala. "O professor só vai conseguir lidar de forma bem sucedida com a situação quando tiver a compreensão de que falta a esse aluno as competências necessárias para uma reciprocidade social, para o cumprimento daquilo que se espera dele, como a compreensão de regras sociais e a capacidade de se colocar no lugar do outro", acrescenta.

Aldrey diz ainda que se faz necessário, dentro desse processo de inclusão, repensar alguns termos que às vezes são colocados, como, por exemplo, dizer que a criança autista não respeita regras. "É preciso conscientizar toda a comunidade escolar, começando pelos professores, de que tais comportamentos ocorrem porque o autista tem uma deficiência na área da sociabilidade - e não apenas classificar a criança ou jovem como portador de problemas comportamentais”, ressalta. Ela explica que essa consciência só ocorre a partir da abertura de um amplo debate escolar que envolve destacar quais os sinais do transtorno, quais os comportamentos nos diferentes graus de autismo, e, acima de tudo, debater sobre quais medidas precisam ser tomadas para auxiliar esse aluno a compreender essas regras sociais e como o professor pode ajudá-lo a desenvolver melhor as competências que se espera dele.

Algumas práticas podem auxiliar escolas e professores no processo efetivo de inclusão. São elas:

Criação e manutenção de rotinas - Crianças e jovens com autismo se sentem mais seguros quando têm uma rotina previsível. A repetição de processos e atividades em sala de aula contribui muito para a aprendizagem.

Adaptação ao ambiente - Antes de iniciar a experiência em uma escola ou turma nova, é bastante produtivo que o aluno autista conheça previamente a instituição e os ambientes que irá frequentar. Isso vai deixá-lo mais familiarizado com o espaço quando as aulas começarem.

Evitar barulhos altos em sala de aula - Algumas crianças com autismo têm hipersensibilidade a ruídos altos que podem incomodá-la. O ideal é que o autista chegue à escola um pouco antes das outras crianças, assim ele vai se acostumando gradualmente com os barulhos que irão se formando em sala de aula.

Explorar os interesses da criança - As crianças autistas podem ter interesses em temas específicos e demonstrar enorme fascínio por tudo que se relaciona a eles. Pode-se aproveitar isso para inserir esses temas em atividades de sala de aula e atrair a atenção do aluno, fazendo com que ele se concentre nas tarefas por mais tempo.

Não diferenciar conteúdos - Todos os alunos precisam aprender o mesmo conteúdo em sala de aula, ainda que seja necessário fazer algumas adaptações na forma como ele será apresentado e trabalhado com cada um. Fazer diferenciações de conteúdo não ajuda na inclusão do autismo em sala de aula.

Usar recursos visuais - Procurar falar de forma clara e objetiva ao dar orientações a fim de facilitar a compreensão do que deve ser feito e usar recursos visuais para ilustrar o que está pedindo. Imagens, símbolos e fotos podem ser usados.

Promoção de atividades coletivas - As atividades coletivas são muito importantes para a interação dos alunos. Sempre que possível, realizar tarefas, atividades, jogos e brincadeiras em grupo, incluindo o aluno com autismo.

sexta-feira, 18 de junho de 2021

Japoneses anunciam seu primeiro super-herói deficiente físico

Aliens deram uma super armadura ao humano, mas foram os japoneses quem fizeram a cadeira de rodas futurista

 
Super Speed Parahero Gandine (Imagem: Divulgação)

O mutante Xavier precisa ser avisado de que mais um super-herói cadeirante (sim, há outros) está entre nós. Isto porque o canal japonês NHK anunciou na última sexta-feira (4) uma minissérie com aquele que é o primeiro super-herói cadeirante do oriente dentro do gênero Tokusatsu: Super Speed Parahero Gandine.

A história

Na atração, o herói em sua forma humana será vivido pelo ator So Okuno, que interpretará Taishi Morimiya, um jovem estudante do ensino médio de 17 anos que perdeu o movimento das pernas em um acidente na infância. Apesar da limitação física, Taishi sonha literalmente alto: quer ser astronauta e também um para-atleta profissional (algo que em época de olimpíada pode ganhar um destaque pertinente).

Taishi e seus amigos encontram o alienígena Go (à esq.). (Imagem: Reprodução/NHK)

Certo dia, Taishi se depara com uma espaçonave que cai do céu e vai até o local do acidente. Lá, encontra e ajuda um alienígena chamado Go, que estava em fuga de uma criatura gigante chamada Lagert, que ao perder o rastro de Go, começa a destruir a cidade. Neste momento, Go entrega um artefato a Taishi, que lhe causa uma espécie de transformação cibernética, fazendo que com o adolescente tenha a tradicional morfada para Super Speed Parahero Gandine.


Gandine (esq.) e o monstro gigante Lagert. (Imagem: Reprodução/NHK)

E é justamente aqui que a série apresenta seu diferencial. Diferentemente do que se poderia esperar, essa avançada tecnologia extraterrestre não recuperar seus movimentos inferiores. E é aqui que entra a colaboração terráquea com algo que os japoneses sabem fazer como ninguém: Máquinas. Taishi contará com uma cadeira de rodas veloz e altamente armada, desenvolvida graças ao talento de três amigos que reúnem habilidades variadas o suficiente para construir a Hyper Wheel.


O artefato Mode Shifter e a Hyper Wheel. (Imagem: Reprodução/NHK)

Participação especial de atletas paraolímpicos

E diante de um ano de olimpíada no país e de um tema que envolve deficiência física, o projeto tratou de inserir pertinentemente alguns atletas paraolímpicos para compor a atração, como Higuchi Masayuki, recordista jaoaponês dos 5000m e 1500m masculinos, que atuará como conselheiro técnico do Kei. Outros convidados incluem: Ryuta Yoshida, Takeru Sato, Rinpei Sasaki e Takuho Sasahara.


Da esquerda para a direita: Masayuki Higuchi, Ryuta Yoshida, Takeru Sato, Rinpei Sasaki, Takuho Sasahara

Direção com gente de Godzilla

Gente de peso está envolvida na atração. Os dois primeiros episódios foram escritos por Yukiko Manabe (Wolf Girl e Black Prince). Já o terceiro episódio foi escrito por Hirotoshi Kobayashi, famoso por lá pelo seu trabalho em Ultraman Taiga.

A série contará com o design de personagens de  Shinji Nishikawa, com colaborações em Godzilla e contará ainda com a direção de Takanori Tsujimoto (Ultraman Z). 

Programação

Apesar de ser um tema com assunto suficiente para render muitos capítulos, apenas 3 episódios de 45 minutos cada estão programados para o projeto. A minissérie está programada estrear na NHK dia 26 de junho, com segundo capítulo indo ao ar dia 3 de julho e o último uma semana depois. Por enquanto, não há previsão de exibição para Super Speed Parahero no Brasil.

Fonte: NHK

quarta-feira, 16 de junho de 2021

Aula remota exige “disciplina e criatividade” para crianças autistas

 Especialistas explicam que não há uma receita singular: há crianças que vão se adaptar bem e outras "terão o ano escolar perdido"

 Nathalia Kuhl para o metropoles.com
 

Divulgação: arquivo pessoal

Desde o início da pandemia, a adaptação às aulas on-line foi um grande desafio para os alunos. Para crianças com autismo, essas dificuldades tornam-se ainda mais visíveis. Ana Paula Rodrigues, mãe de Arthur Rodrigues, de 12 anos, vivencia esse processo todos os dias. “No começo, achei que não ia rolar, ele gosta muito da escola, mas, se ele não quiser acompanhar, não tem jeito”, diz.

De acordo com o Inep, o Transtorno do Espectro Autista (TEA) costuma ser identificado na chamada primeira infância e a prevalência é estimada entre 1% e 2% da população geral. Até 2019, o Brasil tinha 177.988 crianças com autismo nas escolas. Esse contingente precisa de atendimento individualizado.

Wania Emerich, mestre em psicologia da educação, ressalta, porém, que cada caso é um caso a ser tratado independentemente: “Os autistas, assim como os portadores de qualquer tipo de deficiência, devem ser tratados de forma individual”.

Para o Ministério da Educação “o foco no aprendizado ao longo da vida envolve muito mais do que o incentivo aos educandos para que desenvolvam apego ao conhecimento ao longo de suas vidas, envolve a intencionalidade do atendimento educacional especializado e o trabalho a ser desenvolvido pela equipe de profissionais da escola, especialmente com aqueles educandos que, por condições como o autismo severo, por exemplo, necessitam de flexibilização de conhecimentos e conteúdos no que se refere ao currículo”.

Na casa de Ana Paula, logo que a mudança aconteceu, Arthur não gostou muito e, mesmo antenado na tecnologia e com um canal superdidático no YouTube, o caminho foi longo para o garoto chegar a um resultado positivo: “No começo, tinha que ficar o tempo todo ali: ‘Abre a apostila na página tal’, ‘Olha, você tem que prestar atenção'”.

A mãe de Arthur, que neste momento também está trabalhando de casa, precisa se desdobrar para manter a harmonia da família. Ela conta que é necessário ter bastante paciência e criatividade: “Sempre preciso conversar com o Arthur e falar ‘A matéria não pode acumular’. Nós também precisamos antecipar para ele o que vai acontecer, qual será a próxima aula, o próximo passo. Realmente exige muita dedicação”.

A rotina da casa

Ana Paula conta que para que o filho possa aprender a agir sozinho é necessário que todos da casa sigam uma rotina e tenham obrigações. “O nosso dia começa bem cedo. Os garotos já acordam e logo começam a ajudar nos afazeres domésticos, como: limpar o sofá e tirar a poeira dos móveis. Cada um tem a sua obrigação. Depois disso eles vão brincar, jogar bola, em seguida entram para almoçar e se prepararam para a aula”, diz.

Atualmente, Arthur está tão acostumado que a mãe afirma que ele já se posiciona alguns momentos antes e fica esperando a aula começar. “Além de manter a rotina, que é fundamental para as crianças com autismo, nós também separamos um local para as aulas (sempre na cozinha, que é onde eu consigo acompanhar melhor, já que o irmão Davi, 5 anos, faz a aula na sala ou pode brincar/assistir sem atrapalhar ou tirar a atenção do Arthur)”, diz Ana Paula.

Mesmo com essa disciplina, contudo, a questão do convívio e o contato com outras crianças, além do irmão, é difícil, explica Ana Paula. Afinal, quando Arthur estava na aula presencial, ele gostava muito de jogar pingue-pongue e futebol no intervalo, brincar e conversar.

E para isso os pais também acharam uma solução: “Sempre procuramos relacionar a atividade com o esporte. Por exemplo: houve uma atividade na qual o Arthur precisava fazer um recorte de rostos e ele não queria fazer, então sugerimos: ‘Arthur vamos fazer com rostos de jogadores’ e logo ele topou”.

Leia a matéria completa em metropoles.com

sexta-feira, 11 de junho de 2021

Capacitismo: raro em nosso vocabulário, comum em nossa atitude

 Rodrigo Hübner Mendes para o uol.com.br

Lucas é um menino de dez anos que nasceu cego. Ao crescer, teve a oportunidade de estudar em uma escola comum e aprendeu a ler, escrever, brincar, andar pelo mundo com autonomia e se relacionar com outras pessoas, como qualquer criança de sua idade. Ele adora tocar piano, nadar e andar de skate. Um dia, Lucas realiza uma cirurgia que lhe proporciona a chance de passar a enxergar. A primeira vez que abre os olhos após essa operação, sua emoção é filmada e viraliza nas redes sociais.

Histórias de superação são sempre emocionantes e inspiradoras. Porém, no caso das pessoas com deficiência, parece haver uma única narrativa possível. Filmes, comerciais, novelas, noticiários e outros são roteirizados, em geral, a partir da história de uma pessoa com impedimentos físicos, sensoriais ou intelectuais que, a partir do seu esforço individual, supera as desvantagens impostas por sua condição. O mito do herói concentra-se em vitórias sobre características que estão exclusivamente na personagem. Como se a própria deficiência fosse algo a ser vencido, ultrapassado. Ignora-se a vasta quantidade de barreiras que estão ao redor da pessoa e cuja eliminação promove a inclusão. Lucas poderia já ser uma criança plena e feliz, bem antes de ter passado pela cirurgia.

Me lembro de uma matéria da revista Trip, de setembro de 2020, em que a atriz e cadeirante Tabata Contri dizia como achava estranho ouvir frases como "Tão novinha, tão bonita e na cadeira de rodas". Ou mesmo "Por que você trabalha, por que não se aposenta?". O texto tratava de uma forma de preconceito e discriminação extremamente arraigada em nossa sociedade: o capacitismo.

Cunhado ainda em 1991, nos Estados Unidos, o termo capacitismo (ableism, em inglês) pode ser definido como "preconceito contra pessoas com deficiência". Esta é uma atualização que faço aqui da descrição publicada pelo U.S. News & World Report, de acordo com o Online Etimology Dictionary. Trata-se de uma estrutura de poder socialmente construída, o equivalente ao racismo ou machismo, nas questões relacionadas a raça e gênero. O corpo sem deficiência seria considerado o "normal", ou seja, aquele condizente com a norma social, enquanto o corpo com deficiência seria o desviante, a ser corrigido. Normalmente, essa abordagem vem acompanhada de colocações que indicam uma visão angelical da pessoa e de infantilização.

A diversidade humana, seja racial, de gênero, sexualidade ou de características corporais, psicológicas, etc, deve ser celebrada. É por meio dessas diferenças que somos capazes de construir trajetórias únicas e aprender uns com os outros. A convivência com a pluralidade contribui fortemente para o desenvolvimento de criatividade, inovação, diálogo e empatia - competências notoriamente imprescindíveis para que saibamos navegar pela profunda complexidade inerente à vida contemporânea. Ignorar esse fato representa perder o bonde da jornada rumo a uma sociedade mais civilizada.

quinta-feira, 10 de junho de 2021

Mães de estudantes com deficiência falam dos desafios no ensino remoto

Famílias encontram dificuldades para efetivar educação inclusiva; especialista reforça direito à educação e faz recomendações às escolas

Ana Luiza Basilio para o cartacapital.com.br

MARIANA E A FILHA ALICE, DE 7 ANOS. CRÉDITOS: ARQUIVO PESSOAL.

A jornalista Mariana Rosa tem se esforçado para garantir que a filha consiga acompanhar as atividades da escola durante o ensino remoto, mas não esconde o seu cansaço. “É muita cobrança, tristeza, angústia, necessidade de acolhimento”, conta. Alice, de 7 anos, tem paralisia cerebral. Por apresentar limitações nos membros superiores e inferiores, usa cadeira de rodas. Também não se comunica oralmente e tem baixa visão.

A rotina de aprendizagem da menina, que cursa o primeiro ano do Ensino Fundamental, só se estabeleceu minimamente neste ano, depois que a família conseguiu matriculá-la em uma escola particular de Belo Horizonte. Em 2020, Alice ficou fora da escola, segundo a mãe, por falta de propostas pedagógicas das unidades adequadas às demandas da filha, e também por negativas de matrícula — o que é crime previsto em lei.

Agora, a família se desdobra para garantir que Alice seja incluída na rotina online da escola [por conta da pandemia, ela não chegou a frequentar a escola presencialmente]. “A escola tem procurado fazer o seu papel, correr atrás do prejuízo.” Não faltam, contudo, desafios a superar. “Até muito pouco tempo atrás, uma criança com as condições da minha filha nem poderia estar numa escola regular”, pontua a mãe, fazendo referência à Constituição de 1988, que passou a estabelecer como princípio a igualdade de condições e permanência na escola e também o atendimento educacional especializado a pessoas com deficiências nas redes regulares de ensino.

“Como que uma criança que não se comunica oralmente pode se encaixar em uma turma que está online, majoritariamente apoiada na fala e na visão?”, questiona a Mariana, que já chegou a fazer oito reuniões com a escola para adequar uma atividade para a filha.

“Teve um dia que a proposta era: vocês vão pegar um tênis e vão passar um cadarço nele. A minha filha não passa cadarço no tênis, mas também não existe só tênis de cadarço. Então, questiono, porque tem que ser passar o cadarço no tênis, escrever de próprio punho, jogar capoeira com as pernas. Por que só existe uma maneira de fazer as coisas? É esse tipo de problematização que a minha filha traz quando ela passa a pertencer ao espaço escolar”, relata Mariana. “A Alice escreve no computador, se comunica usando prancha de comunicação, joga capoeira mexendo a cabeça. São provocações que precisam ser feitas dentro da escola, porque o mundo é diverso.”

Leia a matéria completa em cartacapital.com.br

sexta-feira, 4 de junho de 2021

A adolescência e a Deficiência Intelectual: vínculos afetivos e sociais

 ijc.blog.br

Se há marcos em nossa vida, um dos principais é, indiscutivelmente, a adolescência. Um período em que podemos ter as melhores lembranças, mas também os maiores conflitos. Nesta fase de nossa vida, tanto o desenvolvimento da personalidade quanto a construção da identidade estão intimamente associados aos vínculos afetivos vivenciados na família e nas relações com os que estão à nossa volta.

Dessa forma, a maior dificuldade da fase está relacionada à conquista de autonomia que o adolescente enfrenta na mudança para a fase adulta ao experimentar certa independência dos pais – em termos de mobilidade para a ida à escola, ao shopping, ao encontro com os amigos –, ou ao   ingressar no mercado de trabalho, a partir dos 18 anos, conquistando também autonomia financeira.

É nesta etapa em que se vivenciam as discriminações de modo mais incisivo, justamente por ser o momento de “colocar a cara no mundo”. Diante desse cenário, o adolescente com Deficiência Intelectual enfrenta a natural angústia da fase somada às possíveis dificuldades funcionais, além de preconceitos que permeiam o tema.

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O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece que os jovens devem ser tratados como sujeitos de direitos. Nesse sentido, o adolescente com Deficiência Intelectual adquire, por meio da Socioeducação, o apoio e a possibilidade de desenvolver-se e integrar-se na comunidade, — em um exercício permanente de cidadania, potencializando competências e habilidades para a autogestão. Oficinas de esportes, artes plásticas, dança, teatro e musicalização, como são trazidas pelo serviço de Socioeducação da APAE DE SÃO PAULO, por exemplo, são importantes na preparação desses jovens para a vida social.

Além disso, a entrada no mercado de trabalho pode contribuir para a inclusão social da pessoa com Deficiência Intelectual. Com base na metodologia do Emprego Apoiado, o programa de Qualificação e Inclusão Profissional da Organização oferece o apoio técnico necessário para a efetiva permanência dos jovens no emprego, por meio de parcerias com diversas empresas.

Por fim, como um dos aspectos mais importantes dentro da temática, é fundamental que o familiar entenda que, para fortalecer a identidade pessoal, cultural e social do adolescente, é preciso permitir que ele se relacione de modo natural, consciente e se prepare, como toda e qualquer outra pessoa, para a vida.

Autora

Rita Alves-BlogRita Alves é gerente do Instituto de Ensino e Pesquisa APAE DE SÃO PAULO. Historiadora, literata e especialista em Gestão de Patrimônio Histórico e Cultura. Fundou o Instituto Orlando Villas Bôas, é autora de 9 livros e crítica literária. Professora de pós-graduação de História e Cultura do Brasil, atualmente é diretora administrativa da Escola Paulista de Ciências Médicas.

quarta-feira, 2 de junho de 2021

Relatos de uma vida com TEA

ameninaneurodiversa.wordpress.com

Crescer dentro do espectro do autismo não foi muito fácil. Desde que consigo me lembrar, eu tinha certas dificuldades, que nem eu nem meus pais entendíamos. Meu diagnóstico de TEA só veio esse ano, em 2019, aos 20 anos de idade. Depois disso, tudo mudou: pude entender por que tinha tanta sensibilidade com as minhas roupas, tantos rituais e manias, tanta ansiedade e tanta solidão.

Alice pequenina

Eu já não me lembro do tempo em que era apenas um bebê. Apesar disso, tenho como relembrar essa época: vídeos antigos. Minha família por parte de pai tinha o privilégio de ter uma filmadora e foi muito gentil em captar meus primeiros momentos de vida.

É muito evidente nesses vídeos que eu não gostava nada de abraços. Ao estar no colo de um adulto, tinha a repulsa ao abraço e a beijos. Falta de emoção? Nada disso! O nome disso é sensibilidade sensorial, que afeta muitas pessoas com autismo. Desde evitar toques intensos a não deixar minha mãe pôr enfeites no meu cabelo: os primeiros traços já se manifestavam.

Conforme fui crescendo, isso ficou mais evidente: manga com elástico? Nem pensar! Costura da meia? Sai pra lá! Cabelo solto? Não pode encostar no pescoço! Etiqueta? Arranca logo! Certas texturas? Não encostem em mim! Roupa íntima e biquíni? Tem que comprar maior! Sujar as mãos? NÃO! Tinha ocasiões em que não conseguia nem encostar nos coleguinhas de sala.

Não apenas essa característica norteava meus primeiros anos de vida: eu estava desenvolvendo intensos interesses em determinados assuntos. Conforme crescia, tive vários deles. O primeiro de todos, além de jogar video game, era o de ver vídeos de buracos negros. Via um após o outro e sabia até escrever buraco negro em inglês. Aprendi justamente para pesquisar no site de vídeos que estava começando a ficar popular na internet: o YouTube. Polvos, camuflagem e mimetismo, vídeos de tubarão, show de patinação no gelo da Disney, Cirque du Soleil…minha lista de interesses ao longo da infância foi extensa. Lembro de, em 2011, passar todo o meu tempo livre assistindo e reassistindo aos mesmos vídeos do show Disney on Ice. Eu sabia o nome dos patinadores, dos shows, as nacionalidades e idades de cada um. A pesquisa não era pouca! O mesmo aconteceu com o Cirque du Soleil. Eu sentia uma vontade absurda de saber os nomes dos artistas, os nomes das músicas…eu tinha várias músicas no celular. Passava os recreios sozinha as ouvindo e sonhando com o show.

Essa história de ficar sozinha nem sempre ocorreu. Felizmente, após a creche, fui para uma escola muito pequena e com poucas crianças. Assim como eu, elas gostavam de assistir a desenhos e dos filmes que eu gostava. Eu amava correr. Não conseguia ficar parada. Estava sempre suada. Eu tive muitos amigos nessa época. Às vezes, me passava como tímida, mas não se engane: em sala de aula eu era a palhaça da turma. A imitadora de falas de filmes oficial e a menina que, em meio ao silêncio de uma aula na qual a professora escrevia no quadro e os alunos copiavam, gritava uma frase aleatória que ouviu em algum momento da vida, e as crianças caíam na gargalhada. Diferente das outras meninas, eu não ligava para roupas e maquiagem. Eu só queria correr e me divertir. Participava das brincadeiras, mas, era só alguém sugerir algo diferente que eu me recusava a brincar. Eu tinha que ter controle sobre tudo ou não participava. Era muito mandona. Felizmente, como eu era uma espécie de estrela na minha turma, as crianças me chamavam para voltar à brincadeira e mudavam para o que era antes. Sem estresse. O único estresse que eu tinha era quando, às vezes, alguns dos que eu chamava de amigos se aproveitavam da minha ingenuidade, como quando me fizeram sentar sozinha durante o dia, sendo que era meu dia de sentar com uma amiga. Fora isso, só o barulho da turma, em que as crianças falavam todas ao mesmo tempo e eu não conseguia processar isso e tinha que tapar os ouvidos. Eu até brincava de tapar e destampar os ouvidos várias vezes para brincar com o som. Eu tinha muitas brincadeiras baseadas nos sentidos e, mesmo tendo muita imaginação para brincar e imitar perfeitamente cenas de filmes e desenhos com os brinquedos, me pegava arrumando tudo e ficando apenas olhando por um período prolongado de tempo, ou levantando e abaixando o braço de uma boneca pela sensação, ou girando a roda dos meus carrinhos só para ouvir o barulho e passando-as na minha pele para sentir a sensação. Eu tinha certas manias, como ter que dizer “cozinha” toda vez que entrava na cozinha e ter que entrar primeiro com o pé direito, pois levava muito a sério a expressão “começar com o pé direito”. Tinha muitos problemas com expressões. Minha mãe me pedia para dar um pulinho na casa da vizinha e eu, ao chegar lá, dava um pulo antes de bater na porta. Meu pai dizia que tinha feito a barba e eu não entendia que fazer a barba significa, na verdade, DESfazer a barba. Ou ele dizia que tinha passado a noite pegando no pé da minha mãe e eu achava aquilo nojento porque levava ao pé da letra.

As coisas não foram sempre assim. Em 2008, eu mudei de colégio. Eu já me sentia diferente por notar que as outras crianças não tinham os mesmos problemas com toque. Lembro que, no primeiro dia de aula, eu fui sentar sozinha na hora do lanche. As outras meninas me chamaram para sentar com elas, e eu me livrei de ficar sozinha naquele ano. Amizade comigo é assim. Tenho muito a agradecer àqueles que tomam a iniciativa, porque eu mesma nunca soube me aproximar de alguém e fazer uma nova amizade. O único bullying que cheguei a sofrer foi do próprio filho do
diretor. Nessa escola, eu fiz uma amiga, que me ajudava a saber o que vestir e gostava de fofocar. Essa parte eu não entendia mesmo. Não estava nem aí para a vida dos outros. Eu ainda só queria correr e minha timidez estava piorando.

Em 2009, eu mudei de escola mais uma vez. MAIS UMA VEZ. A coisa piorou e muito: eu era obcecada por jogos de computador e meu tempo livre era todo dedicado a um joguinho chamado Grand Chase. Uma menina, que havia estudado comigo na primeira escola, estudava na sala ao lado. Tentei andar com ela no início, mas ela só falava de meninos e essas coisas que eu nunca entendi. Eu continuava a mesma de antes. Só queria saber de correr e jogar. A amizade não deu mais certo e nos separamos. Foi aí que conheci meu novo amigo, que, junto a um antigo amigo que já havia estudado comigo e agora estava nessa nova escola também, formamos um trio de amizade, no qual eu era a única menina. Nós falávamos praticamente só de jogos e corríamos o recreio todo. Eu lembro que gostava de fazer a mesma pergunta várias vezes para o meu amigo, mesmo já sabendo a resposta. Eu sempre fui muito repetitiva.

Depois desse ano marcado por uma nova amizade, pelo bullying (as crianças não aceitavam o diferente e implicavam comigo por eu só andar com garotos. Me chamavam de nomes que prefiro nem comentar), e também por uma dificuldade imensa de me expressar para além do assunto “jogos” e de iniciar conversas, mudei, mais uma vez, de escola. Dessa vez, era uma escola bem maior. Tudo estava diferente. Os poucos que tentavam me chamar para me fazer companhia logo desistiam porque eu não falava nada. Não havia ninguém naquele ambiente que tivesse os mesmos interesses que eu tinha na mesma intensidade. No início, eu passava os recreios com o inspetor, com medo de ir para a multidão. Eu não gostava nada de lugares cheios e barulhentos. Depois, eu passei a ficar sozinha mesmo. Eu detestava os recreios e todos me achavam estranha. Eu me isolava muito. Meus pais tentavam forçar minha socialização e isso era muito ruim para mim. Não sabiam o que fazer para me ajudar. Eu chorava muito e estava quase sempre sozinha, ouvindo várias vezes as mesmas músicas, assistindo várias vezes aos mesmo vídeos ou lendo na biblioteca. Eu não gostava nada de ir para a escola e não sabia contar para a minha mãe como havia sido o meu dia. É uma dificuldade que sempre tive: contar relatos do passado. Somente agora estou melhorando nisso. Eu tinha 12 anos e ainda gostava dos meus brinquedos, dos mesmos desenhos (tinha uma obsessão pelos desenhos do Cartoon Network e sabia os nomes de todos os episódios e assistia em inglês na internet bem antes de estrearem aqui) e de correr. Até bronca por estar com o uniforma todo torto e abarrotado de tanto que eu tinha corrido eu levei!

No ano seguinte, fiz uma amiga, que hoje chamo de minha best. Não tínhamos tanto em comum, mas ela entendia minhas esquisitices e ouvia música comigo durante o recreio e jogava cartas. Eu gravava vídeos com ela no meu celular para chegar em casa e mostrar para minha mãe: “olha! Eu tenho uma amiga!”. Ela me pedia o tempo todo para ver minha amiga, e eu tinha que levar provas para casa. Eu amo a minha amiga!

Infelizmente, tudo que é bom dura pouco, e eu tive que me transferir de escola. Fui parar na turma dos bagunceiros. Não gosto nem de lembrar de todo o bullying que sofri por ser diferente. Eu consegui fazer uma amiga que também era quieta e estudiosa. Eu gostava de passar os recreios ouvindo as músicas do Cirque du Soleil e até pedi para minha mãe para fazer ginástica olímpica para um dia entrar para o circo (não deu nada certo…fora de forma). Eu tinha um tecladinho em casa e gostava de tocá-lo. Tinha o desejo de fazer curso de piano também, mas não tínhamos dinheiro.

Lá para o final do fundamental, assim como no ensino médio, a solidão tomava conta de mim e eu pensava em morte o tempo todo. Tinha problemas de auto agressão, não suportava barulho e passava os intervalos andando em círculos pelo pátio, ou andando de um lado para o outro. O bullying ainda existia e eu não me sentia parte da minha própria turma. Às vezes, passava os recreios sozinha na sala e fazia desenhos no quadro ou assoviava cantigas infantis. Eu gostava de ficar sozinha porque era muito difícil estar com alguém da minha idade. No terceirão, eu não participei de nenhum evento e não fui à minha própria festa de formatura. Eu não suportava festas. Da última vez que gostei de uma, eu ainda podia brincar de correr bem longe da multidão e da música alta.

Hoje, estou na faculdade. Duas tentativas de suicídio depois, diversas crises de choro e ansiedade, hoje tenho dois amigos maravilhosos que me aceitam como sou, consigo, algumas poucas vezes, tirar dúvidas com os professores e apresentar trabalhos em voz alta, coisa que até o primeiro período não conseguia fazer (cheguei a travar em uma apresentação de trabalho valendo nota e passar o dia todo chorando por causa disso). Eu já tinha ido a consultas com psiquiatras e psicólogos desde os 15/16 anos, mas ninguém me dizia o que eu tenho. Foi só esse ano, depois de começar a me tratar com uma outra psiquiatra (a segunda) e outra psicóloga (a terceira), que recebi, finalmente, uma explicação para todas as minhas dificuldades e peculiaridades: TEA.

Resumidamente, desde uma criança que não sorria para as fotos, não gostava de abraços, tinha uma porção de tiques e manias, além de interesses restritos, a uma universitária que tira excelentes notas, tem amigos, apresenta trabalhos e conseguiu, pela primeira vez, comprar roupa sem a mãe, a minha história é de muita evolução. Hoje consigo até soltar o cabelo, abotoar meus próprios botões e amarrar meus próprios cadarços!
Ainda sou muito dependente, tenho dificuldade com expressões, metáforas e metonímias e de me localizar ou seguir instruções longas, mas,
certamente,
não sou a mesma de antes.