Portadores de necessidades especiais: a definição em 3 pontos.
Nas operações de cada dia, todos nós temos algum tipo ou nível de deficiência
Necessidades especiais: carência ou deficiência de uma ou mais capacidades; condição de todos os seres humanos, que, em alguns, causa uma sensação de fadiga e sofrimento particularmente intensa, a ponto de o corpo social promulgar leis para a sua integração, mas, ao mesmo tempo, preferir esconder ou favorecer o desaparecimento do sujeito difícil de integrar.
As necessidades especiais são incapacidades, do
portador, de realizar as atividades próprias do seu nível de
desenvolvimento. Podem ser deficiências físicas ou mentais, também
conhecidas como atrasos de aprendizagem. Há uma crescente
consciência sobre as dificuldades das pessoas portadoras de
necessidades especiais, havendo cada vez mais ferramentas para
ajudá-las a suprir numerosas carências; ao mesmo tempo, há também
uma clara censura na mídia sobre as temáticas da deficiência: ela
afeta milhões de pessoas, mas tem pouco espaço nos meios de
comunicação. Esta censura está ligada à dificuldade de se
conceber como totalmente "nossos" aqueles que têm uma
clara dependência dos outros, na sociedade pós-moderna baseada no
mito da autonomia e da independência. Esta censura também se
reflete no tratamento ruim de saúde que as pessoas com deficiência
recebem, especialmente as pessoas com deficiência mental, mesmo nas
nações autoproclamadas civilizadas.
Que tipo de cultura discrimina o deficiente? Nas
operações de cada dia, todos nós temos algum tipo ou nível de
deficiência. O fato é que algumas pessoas conseguem escondê-la e
outras não. Quem bem as esconde não quer "mostrar a sua
fraqueza", o que facilita a obra de remoção social para a qual
a deficiência simplesmente não deveria existir, porque as
deficiências do outro nos fazem pensar nas nossas próprias e porque
a visão fenomenológica das pessoas com deficiência nos lembra o
que esta sociedade não dá aos doentes. Essa obra de remoção é
uma forma de perseguição contra a pessoa deficiente e a sua
família, que sentem o peso do preconceito quanto à existência em
vida da pessoa doente, que chega a parecer um paradoxo dentro de uma
sociedade que proclama a saúde como um direito e a perfeição como
uma necessidade para quem pretende ser aceito. Por outro lado, não é
uma verdade automática que a deficiência seja igual a sofrimento,
embora, infelizmente, o seja com muita frequência. O sofrimento das
pessoas com deficiência depende do ambiente, mais do que da doença:
muitas vezes, o ambiente favorece o sofrimento do doente. A pessoa
com deficiência tem o direito à saúde, como as outras: o direito à
saúde é intrínseco à pessoa, e os portadores de deficiências
podem ser saudáveis, isto é, ter a sua saúde satisfeita, desde que
haja um compromisso social real e contínuo.
Deficiência e saúde: uma combinação
impossível? Dado que a saúde não é apenas ausência de doença
(muitas pessoas com deficiência sentem que têm, paradoxalmente, uma
boa saúde apesar da sua deficiência), temos que definir a saúde,
de maneira nova, como nível de "satisfação" da vida.
Infelizmente, a ideia de que a pessoa com deficiência leva uma vida
que "não vale a pena ser vivida" continua sendo difundida
e flertando com a eugenia, cujo primeiro passo é presumir que
aqueles que não têm capacidade de autonomia não devem ser
definidos como "pessoas", seguindo-se o passo da
ambiguidade que considera as pessoas doentes como “estranhas” ou
“sobreviventes” do diagnóstico genético pré-natal.
Para dar um parecer sobre os cuidados e direitos
das pessoas com deficiência, deve-se conversar com elas próprias. A
pessoa com deficiência deve estar no centro do seu tratamento e as
associações dos portadores de necessidades especiais devem sempre
ser ouvidas pelos responsáveis das políticas sociais. Precisamente
porque a pessoa com deficiência tem direito à saúde, a assistência
aos deficientes doentes deve ser organizada de melhor maneira,
especialmente quando se trata de pessoas que não podem expressar-se.
É necessária uma forte aliança entre família, governo, mundo
médico e pessoa com deficiência, a fim de se reconhecerem os sinais
e sintomas e serem superadas as barreiras e discriminações ainda
presentes na sociedade.
(24 de Setembro de
2013) © Innovative Media Inc.
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