Como muitas meninas da idade dela, Clara, 7 anos, tem uma princesa favorita. No caso, a escolhida é Ariel, a sereia que abre mão da própria voz em troca de pernas, que lhe permitam ficar mais perto do príncipe por quem se apaixonou. Assim como Ariel, Clara não fala. Por causa de uma complicação na hora do parto, a criança de olhos expressivos e sorriso fácil sofre de paralisia cerebral e, embora sua capacidade cognitiva não tenha sido afetada, ela enfrenta muitas dificuldades motoras. Faz fisioterapia para fortalecer os músculos e, até recentemente, só se comunicava piscando os olhos. Foi graças ao empenho de seu pai que isso começou a mudar.
Determinado a conseguir se comunicar com a filha única, o pernambucano Carlos Pereira largou o emprego de analista de sistemas em uma distribuidora de remédios para usar, em tempo integral, seus conhecimentos em tecnologia na criação de algo que o ajudasse a transpor todas aquelas barreiras. Assim nasceu, em 2011, o Livox (ou Liberdade em Voz Alta), o primeiro software de comunicação alternativa para tablets em português. O recurso não só resolveu um problema particular como tem ajudado muita gente. Até aqui, são 10 mil usuários no Brasil. O aplicativo já foi traduzido para mais de 25 línguas e está prontinho para ser vendido a outros países.
Ao traduzir para voz comandos digitados na tela com as mãos, os pés e até uma vareta na boca, o Livox melhora a vida não só de quem tem paralisia cerebral. Auxilia autistas e pessoas com deficiências que dificultam a fala. Não à toa, ganhou, neste ano, o prêmio da Organização das Nações Unidas (ONU) de melhor aplicativo para inclusão e empoderamento. Três meses de suor resultaram no software adaptável a diferentes limitações. "Não importa se a coordenação motora é ruim, se a pessoa só tem 20% da visão ou se a cognição foi afetada, ele vai ajudar", garante Pereira.
Mas Pereira diz que sua maior recompensa não é o negócio em si, e sim conhecer o que passa na cabeça de Clara. Ao dar voz à filha, ele a presenteou com autonomia para escolher, por exemplo, o que quer fazer, aonde gostaria de ir e o que deseja assistir - e nesse caso, claro, a predileção recai sobre o desenho da princesa-sereia. Mas, se no início o Livox era utilizado somente para funções meio básicas, como avisar se tinha dor em determinada parte do corpo ou escolher o que comer e vestir, tornou-se indispensável para os estudos da menina, que o usa para fazer as tarefas da escola - até já escreveu um texto inteiro com ele. "Não sei o que o futuro reserva para minha filha. O Livox abriu o leque", afirma Pereira. "Afinal, quanto mais a pessoa se comunica, mais ela quer se comunicar".
Fonte: Planeta Sustentável
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