quarta-feira, 30 de novembro de 2016

O brincar da criança deficiente


Ao explorar o universo infantil, encontramos a atividade do brincar, essencial e necessária no processo de desenvolvimento e um direito de todas as crianças. O brincar é um tempo e um espaço de descobertas, experiências que contém marcas da singularidade daquele que brinca.

É importante que a criança possua no brincar um lugar livre de experimentações fundamentais para a constituição de todo seu ser. Devemos pensar no brincar pelo brincar, espontâneo, criativo, livre e natural, e não o brincar como um recurso através do uso de brinquedos.

Já dizia Winnicott que a brincadeira é universal e pertence à saúde, ao bem estar físico e mental. Desde o nascimento, o bebê já brinca com o próprio corpo se descobrindo no espaço.

Se o brincar faz parte das experiências de vida possibilitando que a criança entre em contato com o meio, ingressando entre o imaginário e a realidade controlando o que está  sua volta, criando e continuando a se desenvolver a caminho de um bem estar.

O que dizer da criança com dificuldades motoras, psicocognitivas, sensoriais ou que não conseguem adentrar ao mundo das brincadeiras, não conseguem descobrir o universo a sua volta pelo brincar.

É nesta hora que com o olhar terapêutico, durante os atendimentos junto aos pequenos, percebo através do fazer, das atividades de vida diária durante o banho, a alimentação, a troca de roupa facilitando as experiências que levam a criança a se conectar com o mundo.

A deficiência não deve ser o empecilho de deixar que estes pequenos deixem as descobertas pelo brincar. Devemos proporcionar que todas as atividades sejam para eles uma abertura para descoberta do corpo e uma forma de se relacionar consigo e com o outro.

Consideremos então que o brincar é parte necessária e fundamental para o viver de cada criança e do adulto. É através do brincar, de atividades lúdicas e prazerosas que desenvolvemos e nos tornamos criativos para vivenciarmos experiências essenciais fornecedoras de informações para a construção de um ponto de partida para compreendermos quem é o sujeito e quais suas reais necessidades.

Com base no brincar e o diagnóstico das crianças com alguma limitação e no decorrer do processo terapêutico. A terapia ocupacional vai sendo orientada nos caminhos que a assistência vai percorrendo menos riscos de construir uma assistência voltada para a doença e sua possível cura ou recuperação. Caminhos que devem ser contados e partilhados com a criança ou adulto. A partir da experiência clínica percebe-se a importância do brincar livre, baseada na compreensão daquilo que o indivíduo traz de sua singularidade, contextualizada em seu cotidiano. Um deslocamento do olhar sobre a ausência e falta para aquilo que é singular e presente.

Pensar nessa singularidade como um fazer próprio do brincar em um ambiente com o qual a criança começa a estabelecer relações, através de diferentes experiências nas quais imprime sua marca principal no brincar. Pois é brincando, somente brincando que o indivíduo adulto ou criança se descobre, inventa e reinventa ações para um fazer melhor.

Fonte: Jaqueline Mourão para o criancaesaude.com.br

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Pais de crianças com deficiência enfrentam dificuldades para matricular filhos

O Estatuto da Pessoa com Deficiência assegura sistema educacional inclusivo em todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a vida.



Em diferentes partes do país, mães de crianças com necessidades especiais enfrentam dificuldades enormes para matricular os filhos em uma escola. Essa recusa vai contra o que diz a lei.

Existe lei federal para garantir o acesso à educação. O Estatuto da Pessoa com Deficiência, que inclui os autistas, entrou em vigor este ano. Tem um capítulo só para isso. Assegura sistema educacional inclusivo em todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a vida.

E no caso de escolas particulares, proíbe a cobrança de valores a mais nas mensalidades ou matrícula dessas crianças.O problema é que, na prática, não é desse jeito em muitos lugares.

Assista à reportagem completa no vídeo acima.

Fonte: G1

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Aprenda como ganhar passagens aéreas para tratamento médico

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O tratamento com vitamina D, em especial para as condições auto-imunes, tem sido uma grande esperança para muitos pacientes privilegiados por terem acesso a essa nova terapia. No entanto, a realidade é que vivemos em um país com dimensões continentais e este tratamento ainda não está disponível em todos os estados e cidades brasileiras.

Uma boa notícia é que a empresa TAM possui um programa de passagem social, destinado exclusivamente às pessoas que precisam viajar, somente nos trechos nacionais operados pela TAM, com a finalidade de realizar tratamento médico de urgência, especializado e comprovado, através de relatórios médicos e dos agendamentos de consultas/procedimentos, devido à carência de recursos na localidade onde residem.

Apenas em 2010 a TAM doou o equivalente a mais de R$ 1 milhão em passagens para o transporte de pacientes em tratamento médico.

Para efetuar a solicitação é necessário o preenchimento de formulário, que
deverá ser preenchido pela instituição ou hospital que estiver solicitando a concessão da passagem ou pelo próprio paciente que necessite viajar para realização de tratamento médico.

Importante salientar que, além do envio do formulário devidamente preenchido, será necessário apresentar:
  • Relatório médico do caso comprovando a necessidade da viagem;
  • Comprovação do agendamento da consulta ou procedimento médico a ser realizado na
  • localidade desejada;
  • Documentos (RG) do paciente e do acompanhante;
  • Comprovante de residência do paciente.


Formulário para Apoio com Passagem para Tratamento Médico

Em seguida, envie o Formulário para Apoio com Passagem Aérea para Tratamento Médico devidamente preenchido para o endereço de e-mail passagem.social@tam.com.br, com o assunto “Passagem para Tratamento Médico”.

Existe um prazo para a análise das solicitações, assim o melhor é que sejam feitas com antecipação de ao menos 20 ou 30 dias. No mais, é só ter paciência e aguardar!


sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Terapias: Quanto mais melhor?

Por Érika Andrade

Algo relativamente comum após os pais receberem o diagnóstico de autismo de um filho, é pesquisar sobre todos os tipos de terapias e intervenções existentes e ter o impulso de oferecer tudo ao filho, visando ao maior desenvolvimento de habilidades dele, como se esta fosse a única possibilidade viável para a criança.

Obviamente não estou menosprezando a importância das terapias e intervenções precoces, a questão não é essa e sim limites e bom senso por parte dos pais e, porque não dizer, dos profissionais. Sendo assim, seguem algumas coisas que aprendi nesses dois anos pós-diagnóstico:

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Não há receita de bolo

Não existe fórmula mágica nem modelo de intervenção que funcione para todos.

Se a dieta sem glúten e sem caseína, por exemplo, operou maravilhas na vida de sua criança, isso não te dá o direito de julgar como “menos mães” as que optaram pela alimentação livre dos filhos. Dieta restritiva também não precisa ser unanimidade e valer o esforço em todos os casos.

Se seu filho está se desenvolvendo muito bem com ABA e o filho da sua amiga com o Modelo Denver e o filho da vizinha com o Son Rise, que bom para os três. Não fique falando diariamente na cabeça das outras mães sugerindo que elas mudem de método porque o terapeuta do seu filho é “o melhor.” Os melhores métodos e profissionais para cada criança são os que funcionam com ela. Títulos pouco valem se não há conexão e transferência por parte dos pais e da criança e contratransferência por parte do terapeuta. Não adianta tentar enfiar goela abaixo do filho uma terapeuta sendo que não houve identificação dele com a mesma. A criança deve ser a protagonista do processo e não objeto.

Estabeleça prioridades

A quantidade e variedade de terapias e acompanhamentos feitos por nosso filho variam de acordo com nossa disposição de tempo e dinheiro, além do que é a prioridade a ser trabalhada naquele momento. Mesmo que os elevados custos da manutenção das terapias não seja um problema para você, que poderia arcar com tudo ao mesmo tempo, o buraco é mais embaixo. Até que ponto vale a pena preencher todos os espaços do dia da criança com atividades sem que ela tenha tempo apenas de ser criança e brincar de maneira livre?

Respeite seus limites

Logo no início dessa vida tão cheia de compromissos, já sentimos o impacto: No primeiro momento nossa vida social praticamente acabou. Não devido ao comportamento do Bernardo, mas à rotina muito cansativa! Afinal, não é nada fácil conciliar todas as terapias com a rotina normal de trabalho e os cuidados com a casa. Além da mudança radical no dia a dia, o impacto financeiro dessa nova realidade também foi imenso, o nosso salário passou a ser quase que exclusivamente para manter todos os profissionais… Conheço pessoas que se endividaram e venderam tudo o que tinham para pagar terapias. Não questiono o fato de que o melhor investimento sempre é em um filho, mas não adianta ser irresponsável e querer manter uma rotina de terapias que seja insustentável financeiramente. Uma hora a conta chega e as conseqüências também.

Não perca a espontaneidade na relação com seu filho

É indiscutível que o envolvimento e implicação dos pais reflete diretamente nos resultados alcançados pelas terapias, mas respeite a sua forma de contribuir e de lidar com isso. Logo no início das intervenções, estávamos de férias e eu brincando com o Bernardo de “cavalinho”na piscina quando comecei a pensar coisas do tipo “Nossa, não deveria estar brincando com ele disso, pois não estou estimulando o contato ocular.” Não demorei a perceber que se passasse a vida com esse nível de cobrança com relação a mim, seria impossível dar conta do dia a dia. Estimular, aproveitar as oportunidades de aprendizado e fazer alguns treinos em casa é uma coisa, entrar na pilha de “terapeutização” massacrante que alguns profissionais tentam impor aos pais é outra bem diferente.  E não perca de vista que estimular o contato ocular é importante, mas brincar de cavalinho com o filho é essencial.

Matéria extraída do site criancaesaude.com.br

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Ana ficou paraplégica aos 8 meses – mas nos dá uma lição muito emocionante de alegria!

Foi uma notícia desesperadora para os pais. No meio do choque, era preciso superar as lamentações e focar no fundamental: ajudar Ana Paula.



Os pais Mario e Fernanda contam que os desafios para a pequena Ana Paula começaram de modo inesperado. Aos 8 meses, o desenvolvimento da linda bebezinha era normal: ela já estava até começando a engatinhar!

Mas, um dia, quando Fernanda foi pegar a filhinha no berço, notou que seu choro estava fraco e seu corpo parecia “amolecido”, “como um pano”.

Mario e Fernanda levaram Ana Paula imediatamente ao hospital. A bebê precisaria passar por uma cirurgia: não conseguia mais mexer os braços, sofre uma parada respiratória e teve um sangramento acumulado em volta da medula, provocando compressão. Esse conjunto de fatores levou a pequena Ana a desenvolver uma paraplegia.

No meio do choque, era preciso superar as lamentações e focar no fundamental: ajudar Ana Paula.


E não foi fácil. Não foi nada fácil. Todos os esforços iniciais dos pais foram em vão. Do jeito que colocavam a bebê, ela ficava. Não se mexia.

Decididos a procurar a ajuda mais específica possível, os pais recorreram à AACD – Associação de Assistência à Criança Deficiente.

No vídeo seguinte, exibido no Teleton 2016, Mario e Fernanda contam um pouco mais sobre a situação de Ana após a paraplegia e como ela está hoje, depois de iniciado o tratamento. Prepare-se: é simplesmente emocionante!


Ana Paula é uma menina muito especial, que jamais deixou de sorrir apesar das grandes adversidades que precisou enfrentar tão cedo na vida. A sua superação refletida em cada luta e em cada pequena melhora é um avanço gigantesco para ela, para os seus pais e para cada ser humano que se sente chamado a um desafio e precisa de um sorriso de incentivo e encorajamento.


Fonte: Aleteia

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Autismo, natação e prevenção

Por Érika Andrade


Desde bem pequeno meu filho é uma criança que demanda muita atenção por ser ativo, curioso e se colocar em risco por conta dessas características. Se ele quer algo que está no alto de uma prateleira, por exemplo, a tendência é tentar escalar para pegar sozinho, ao invés de solicitar. Tal impulsividade se torna especialmente preocupante quando pensamos em sua relação com a água, que desde muito cedo foi de fascínio. Por não demonstrar ter medo ou noção do perigo, ele tenta se jogar literalmente em piscinas e é necessário que o impeçamos fisicamente. Quando Bernardo estava com menos de dois anos, tentou pular em um lago durante um passeio e isso (somado a uma série de fatores) foi um dos motivos que me deixou em estado de alerta e suspeitando de sua condição.

Sendo assim, logo que completou dois anos o matriculamos na natação. Além de todos os conhecidos benefícios da prática de atividade física tão completa, no nosso caso houve uma motivação principal que foi a questão da segurança. Claro que não esperamos que ele, aos dois anos (nem hoje, aos quatro recém completados), aprendesse nadar tecnicamente a ponto de garantir sua própria segurança, mas nos preocupamos em dar os meios para que ele aprenda a “se virar” o quanto antes.

Tal atração pela água e impulsividade no que diz respeito a isso, são questões que permanecem e continuam nos demandando atenção e cuidados máximos. Quando chegamos às aulas de natação antes do horário dele, já virou rotina o Bê tentar pular na piscina e precisar ser contido. Há poucas semanas, em outro ambiente, o flagrei tentando escalar uma cerca para acessar uma piscina que estava do outro lado. Enfim, já houve uma série de episódios nesse sentido e cabe ressaltar que quando uma criança possui essas características, mesmo que ela já saiba nadar, os pais/ responsáveis não devem contar totalmente com isso e “afrouxar” a vigilância, que deve permanecer máxima. Em nosso caso, como nosso filho é extremamente ativo, rápido e tem um histórico de tentar fugir, até o fato de uma escola ter uma piscina em suas dependências, por exemplo, já seria motivo para eu não cogitar matriculá-lo lá até que ele completasse certa idade.

Além disso, para nossa surpresa, a prática da natação nos trouxe, além dos benefícios esperados, uma série de outros.  Bernardo faz aulas particulares e o primeiro grande benefício que percebemos foi o aumento do contato ocular, que é estimulado pela professora durante toda a aula.

 Também cabe destacar a construção de uma relação de confiança entre criança e profissional. Nas primeiras aulas eu precisei entrar com ele na piscina, pois meu filho não queria estar com aquela pessoa que, até então, era desconhecida. E, por mais estranho que pareça, apesar do Bernardo não ter medo de pular sozinho em piscinas, ele demonstrava certa resistência durante as aulas nos primeiros meses. Percebo como uma rigidez, no sentido de tentar fazer apenas o que se deseja, resistindo em flexibilizar (o que é comum também em outros momentos). Ou seja, querer estar na piscina era uma coisa, se dispor a fazer os exercícios e atividades propostas era outra bem diferente. Com relação a isso também avançamos bastante e continuamos nesse processo.

Atualmente, posso afirmar sem medo de errar que é a atividade em seu dia a dia que lhe dá grande relaxamento e mais prazer, a ponto de ele chegar ocasionalmente a chorar para não sair da piscina ou quando passamos em frente à sua academia e não entramos.

Podemos perceber então que os benefícios da natação para crianças com autismo vão além apenas da prática do exercício:

– Segurança;

– Desenvolvimento de habilidades, como o contato ocular;

– Flexibilização;

– Tolerância à frustração (no sentido de ter que esperar a sua vez para iniciar a atividade, o que nem sempre é fácil);

– Concentração;

– Construção de uma relação de confiança;

– Atendimento a comandos;

E mais uma série de fatores que diariamente vamos descobrindo.

Para quem se interessar em conhecer mais sobre o assunto, sugiro este texto que já foi publicado aqui no blog: Os benefícios da natação para crianças com autismo

Matéria extraída do site criancaesaude.com.br

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Mães de bebês com Down conseguem redução da jornada em 50%

A juíza do Trabalho substituta Karina Mavromati de Barros e Azevedo, de Salvador/BA, julgou procedente a reclamação trabalhista de uma funcionária da Petrobras para reduzir sua carga horária em 50%. A mulher tem necessidade de acompanhar seu filho, de pouco mais de um ano, em tratamentos de natureza multidisciplinar destinados a pessoas com Síndrome de Down.


Direito da criança

Anteriormente, havia sido concedida à mãe liminar garantindo a redução da jornada sem diminuição do salário ou compensação.

Ao decidir o mérito da reclamação, a magistrada voltou a tecer considerações acerca do direito da criança com síndrome de Down à presença e acompanhamento ativo e constante dos seus pais aos tratamentos multidisciplinares destinados à redução da mortalidade precoce e ao desenvolvimento físico, sensorial e intelectual desse indivíduo.
“Impedir, negar, criar embaraços ou simplesmente impossibilitar o acesso da criança com Síndrome de Down à plenitude das possibilidades contempladas pelos tratamentos existentes para trissomia do cromossomo 21, principalmente no período compreendido entre o nascimento até os primeiros anos de vida, é fechar os olhos por completo para a citada norma constitucional e direitos que a mesma consagra, prejudicar a formação da criança como indivíduo, ou pelo menos a melhor formação possível, e contribuir para que mais uma vez direitos fundamentais fiquem em segundo plano de realização ou concretização fático­material.”
Fazendo referência à CF e ao ECA, bem como à Declaração Universal de Direitos Humanos e ao Pacto de San José, a juíza do Trabalho ressaltou que não é “mera faculdade do Poder Público garantir a proteção integral e efetiva à criança com síndrome de Down”, e sim um dever.

E consignou também que a existência de horário flexível não é “suficiente” para atender a necessidade de acompanhamento materno da criança.

Assim, manteve a decisão antecipatória de tutela, determinando que a situação de necessidade de acompanhamento deverá ser comprovada anualmente mediante relatório médico específico e fundamentado a ser fornecido pelos profissionais responsáveis pelo atendimento da criança.

O posicionamento da julgadora é no sentido de que a materialização dos direitos fundamentais necessitará, por vezes, “da intervenção do Judiciário no caso concreto”, “cuja conduta ativista e promocional pautar-se-á pela busca incessante do bem-estar da pessoa com deficiência”.
“Por mais elogiosa e responsável a conduta da empresa ora reclamada, uma das maiores do País, em relação à adoção de benefício de natureza assistencial a seus empregados, além de expressa previsão em acordo coletivo de trabalho de flexibilidade de horário de labor dos trabalhadores, verifica­se que tais medidas são inservíveis e ineficazes para solucionar o caso concreto, pois trata­se da necessidade de promover redução da jornada de trabalho a possibilitar efetivo e integral acompanhamento da mãe/empregada aos vários e diários tratamentos da criança com deficiência, devidamente comprovados nos autos, impossíveis de serem atendidas por trabalhadora com jornada de 8 horas de segunda à sexta­feira, ainda que flexíveis.”
Nessa toada, determinou a imediata redução da carga horária da reclamante em 50%, mantendo o patamar remuneratório da jornada de 40h semanais e sem necessidade de compensação, enquanto houver necessidade de acompanhamento do filho.

No mesmo sentido foi a decisão da juíza do Trabalho substituta Ana Fátima Passos Castelo Branco Teixeira, também de Salvador, que afirmou que a concessão da tutela encontra-se justificada tendo por objetivo “a real concretização dos direitos fundamentais, assim como os valores sociais do trabalho e a construção de uma sociedade justa e solidária, conforme orienta nosso texto constitucional.

Processos: 0000747-07.2016.5.05.0007 e 0000842-71.2016.5.05.0028

Matéria extraída do site Deficiente Ciente
Fonte: Migalhas

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

“Ele não é especial. Ele é meu irmão!”

tres criancas, uma em cima da outra num gramado. um menino de oculos vermelhos, com sindrome de down por baixo, uma menina por cima e outra menina por cima.

Por Catia Malaquias

Eu não vou fazer rodeios. Cada vez que ouço a frase “necessidades especiais”, eu tremo.

Pra falar a verdade, eu não costumo chamar a atenção das pessoas sobre que termos usar, a menos que considere a linguagem ofensiva. Mas isso me tira do sério. E eu acho que está na hora dessa frase prejudicial e a mentalidade que a acompanha ir para o lixo.

A expressão “necessidades especiais” é comumente usada como um eufemismo para se referir a uma pessoa com deficiência (particularmente deficiência  intelectual ou cognitiva e, frequentemente, uma criança) ou que funcione de alguma forma atípica.

Mas se você parar pra pensar, o adjetivo “especial” tornou-se um código para descrever lugares reservados para pessoas com deficiência. Por exemplo, “escolas especiais”, “centro de educação especial”, “oficinas especiais”, “casas especiais”, etc. Existem centenas de sites e páginas do Facebook dedicadas a pessoas com “necessidades especiais” e os pais de crianças “especiais” ou com “necessidades especiais”. A expressão “necessidades especiais” é usada regularmente pelos meios de comunicação – é a linguagem comum.

Embora a diversidade humana, o modelo social da deficiência e a inclusão, enquanto conceitos estruturantes dos direitos humanos, estejam se solidificando, para grande parte da sociedade a “história especial” ainda é assim:

Uma criança com “necessidades especiais” pega o “ônibus especial”, para receber “ajuda especial”, em uma “escola especial”, de “professores de educação especial”, para prepará-los para um futuro “especial”, vivendo em uma “casa especial” e trabalhando em uma “oficina especial”.

Isso soa “especial” para você?

Nas mentes de muitos em nossa sociedade um rótulo de “necessidades especiais” é efetivamente um bilhete só de ida para um caminho separado, segregado, de uma trajetória marginal pela vida.

A palavra “especial” é usada para maquiar a segregação e a exclusão social – e a continuidade de seu uso em nossa língua, nos sistemas de educação, na mídia etc serve para manter esses  conceitos “especiais”, cada vez mais antiquados, que revestem o caminho para uma vida de exclusão e de baixas expectativas.

A lógica da conexão entre “necessidades especiais” e “lugares [segregados] especiais” é muito forte – ela não precisa de reforço – precisa ser quebrada.

Além disso, o rótulo de “necessidades especiais” reflete o modelo médico de “cuidado” com a pessoa com deficiência no lugar do modelo social de inclusão da pessoa com deficiência. Ele restringe e medicaliza a resposta da sociedade ao sugerir que o foco deve ser “tratar” as “necessidades especiais” da pessoa, em vez de agir no ambiente onde ela está, de modo a acolhê-la e incluí-la enquanto indivíduo.

Há outra consequência insidiosa, mas grave ao ser rotulado “especial” ou com “necessidades especiais”. O rótulo traz consigo a implicação de que uma pessoa com “necessidades especiais” só pode ter as suas necessidades satisfeitas por ajuda “especial” ou por pessoas “especialmente treinadas” – por “especialistas”. Essa implicação é particularmente poderosa e prejudicial em nossos sistema de ensino regular. É uma barreira que impede que administradores e professores de escolas regulares se sintam responsáveis, habilitados ou qualificados para abraçar e praticar a educação inclusiva em salas de aula regulares e, consequentemente, perpetua a atitude de resistência para a realização do direito humano à educação inclusiva nos termos do artigo 24 da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e da Lei Brasileira de Inclusão.

Em outras palavras, a linguagem das “necessidades especiais” serve como uma desculpa e legitima a atitude padrão de muitos educadores gerais de “não dá pra fazer”. Ela efetivamente priva a educação inclusiva do oxigênio necessário a uma cultura favorável de sala de aula de “poder fazer”.

Além disso, e mais importante ainda, o conceito de “necessidades especiais” não faz sentido. “Necessidades especiais” não existem. Uma criança com deficiência tem as mesmas necessidades como todos os outros – as mesmas necessidades humanas – de ser amada, alimentada, educada, abrigada – de se mover, comunicar, participar, pertencer etc. Uma pessoa pode precisar de mais assistência para uma determinada coisa quando seu ambiente foi predeterminado sem levar em conta sua deficiência, para satisfazer as necessidades humanas básicas.

O rótulo de “necessidades especiais” é inconsistente com o reconhecimento da deficiência como parte da diversidade humana. Nesse marco social, nenhum de nós é “especial” como todos nós somos irmãos iguais na família diversa da humanidade.

Lembro-me de uma canção de 1969 do grupo “The Hollies”, em que, em tom surpreso, uma jovem respondia a um estranho que sugeria que seu irmão mais novo era muito “pesado” para ela carregar. Eu acho que as irmãs do meu filho Julius ficariam tão surpresas – ou mesmo indignadas – se ouvissem o irmão ser chamado de “especial”. Diriam: “ele não é especial, ele é meu irmão”.

Tradução Patricia Almeida

Fonte: http://www.startingwithjulius.org.au/he-aint-special-hes-my-brother-time-to-ditch-the-phrase-special-needs/

Matéria extraída do site Inclusive.

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Pessoas com deficiência estão cada vez mais presentes na publicidade

Quem já viu o novo comercial da Leader, deve ter reconhecido o Breno Viola que aparece com outros rapazes olhando pela janela da casa onde o grupo Roupa Nova está ensaiando a canção “Já é Natal na Leader”. Entre o povo que vai se reunindo em volta da casa para ouvir a música, há ainda um rapaz usando cadeira de rodas, pessoas negras, ruivas, jovens, idosas, com sobrepeso, enfim, um público diverso e colorido.



A Leader e a Agência Binder acertaram em cheio ao criar uma campanha inclusiva. Todas as pessoas são consumidoras, mas nem sempre todas as pessoas estão representadas na publicidade.

Nos últimos tempos, no entanto vem crescendo a presença de pessoas com deficiência na propaganda. Isso se deve a uma mudança de atitude por parte das empresas anunciantes e publicitários, que estão tentando representar melhor o público consumidor, mas, no caso da deficiência, também é resultado do trabalho de advocacy, ou seja, convencimento, que é feito nos bastidores da indústria da mídia.

No Brasil, o Instituto MetaSocial vem fazendo isso há 20 anos. Desde 2008 temos alguns poucos exemplos de publicidade inclusiva, listados pela Gadim Brasil, que também atua na promoção da inclusão das pessoas com deficiência através da mídia: http://www.gadimbrasil.org/publicidade-inclusiva 

Nos Estados Unidos, organizações como “Changing the Face of Beauty” já emplacaram modelos com deficiência em diversas campanhas. Na Australia, “Starting with Julius” convenceu as gigantes Target e Kmart a fazerem comerciais inclusivos. O último filme da Kmart, traz uma menina com síndrome de Down e um menino brincando de boneca.



Essas iniciativas têm sido extremamente bem recebidas pelo público, com  compartilhamento dos anúncios e elogios aos anunciantes.

Por outro lado, algumas empresas ainda não se deram conta de que não podem continuar excluindo esse público consumidor. Nos Estados Unidos, a mãe do Asher Nash, esse menininho fofo da foto abaixo, foi informada de que seu filho não podia participar de um teste para modelo da marca OshKosh, porque eles não pediram na chamada uma “criança especial”. Indignada, a mãe postou a rejeição na internet e o post viralizou. O efeito foi péssimo para a OshKosh, que acabou chamando a família para conversar sobre inclusão de modelos com deficiência na publicidade.

Asher Nash acabou virando sensação
A publicidade ainda não reflete a realidade de nossa sociedade, mas os consumidores têm o direito de se sentirem representados nela. Que tal começarmos a ocupar esse espaço? Os anúncios das lojas onde compra incluem pessoas com deficiência? Que tal dizer que, como consumidora, você acha que sua família não está sendo representada? Seu filho/sua filha ou alguma pessoa com deficiência que conhece tem jeito pra modelo? Entre em contato com uma agência de modelos ou de publicidade perto de você e ofereça suas fotos para a lista da agência. Tem amigos publicitários ou donos de loja? Converse com eles!

A maré da inclusão está chegando. Temos que estar preparados pra isso e dar uma forcinha pra essa onda pegar.

Se souber de algum comercial inclusivo, por favor, mande pra gente para ser incluído na lista da Gadim Brasil. brasil@gadim.org

Por Patricia Almeida para movimentodown.org.br