É impressionante a habilidade que os pais de crianças com autismo têm em entender o que elas querem, mesmo quando ainda não exista uso da fala ou de outra maneira eficiente de comunicação. Isso foi algo bastante pontuado para nós no início das terapias e intervenções com o Bernardo. Antes de nosso filho começar a falar, se ele balbuciasse “a” eu já conseguia saber se era sede, fome… Na verdade, ele nem precisava ensaiar alguma tentativa de fala: Se simplesmente olhasse em direção ao filtro eu já entendia que a questão era sede e providenciava imediatamente a água.
Se os pais não param para pensar sobre isso, acaba sendo automático. Pra quê essa criança vai falar? Ela não precisa! Puxa o adulto pela mão e imediatamente aparece o biscoito que ela quer. Olha para o brinquedo e na mesma hora este lhe é oferecido… Ela não precisa se comunicar de forma mais elaborada se a comunicação precária está funcionando. Por que motivo a criança iria entender que não está se comunicando, na medida em que todas suas necessidades já são compreendidas e satisfeitas pelos pais?
Pensar assim pode se tornar uma armadilha, tendo em vista que, o objetivo final é que a criança consiga se fazer entendida sem que os pais fiquem ao lado, “com a tecla SAP ligada”, fazendo papel de intérprete para terceiros. Isso era exatamente o que fazíamos, devido àquela mesma questão sobre a qual já falei: Os pais conseguem realmente entender o filho, por mais precária que a comunicação seja. Por este motivo, “traduzir” o que ele está dizendo (ou tentando dizer) para os outros, acaba se tornando um hábito sem que a gente se dê conta. Se os pais traduzem a comunicação precária e demonstram que esta é suficiente, é essa a mensagem que irão passar ao filho.
Assim que nos atentamos a isso, e, consequentemente, corrigimos a nossa maneira de nos comunicar com nosso filho, ele começou a apontar, balbuciar mais e “chamar” com as mãozinhas os objetos que ele queria. A frequência com que ele tentava usar nossas mãos como ferramenta também diminuiu bastante. Daí para o início da fala funcional (“dá”, “quero isso”) foi um pulo.
Entretanto, sei o quanto pode ser angustiante para os pais a tentativa de dominar a tendência em antecipar as necessidades do filho e atendê-las prontamente, principalmente quando está claro que a criança está tentando se comunicar e não consegue e isso a deixa irritada e nervosa.
Evidentemente há que se ter bom senso e não exigir da criança mais do que ela tem condições de executar naquele momento. Em nenhum momento espero que sejam colocados pré-requisitos que a criança ainda não dê conta de alcançar como condições para que ela tenha suas necessidades básicas satisfeitas. Porém, devemos aproveitar tais momentos para criar oportunidades de comunicação e socialização, tendo sempre como meta que ela dê o próximo passo.
Por Érika Andrade para o criancaesaude.com.br
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