Essa é a fala mais recorrente, quando se trata de inclusão escolar. A escola não está preparada, os professores não estão qualificados, o espaço físico da escola não está adaptado, a comunidade escolar, como um todo, não se sente apta a receber uma criança com algum tipo deficiência, especialmente aquela com restrições e demandas mais incomuns.
De fato, não estamos e nunca estaremos totalmente preparados para lidar com as diferenças, e estes alunos chegam às escolas desafiando nossas práticas, nossas normas, nossas metodologias, nosso espaço e nossas possibilidades.
Quando minha filha, Rebecca, nasceu, nós também não estávamos preparados para ela. Se me perguntarem agora, depois de dois anos, se, enfim, me sinto preparada, a resposta também será NÃO. Esse preparo, na verdade acontece junto com ela, através dela, por ela, na convivência com ela… É a Rebecca quem me mostra o que funciona e o que não funciona, o que é ajustável e o que é inviável, o que pode ser mantido e o que precisa ser mudado para que a nossa vida inclua o viver tão singular dela… para que a nossa casa seja um espaço pensado também para ela, para suas necessidades.
Rebbeca tem uma microdeleção cromossômica, o que é, em outras palavras, uma “desordem cromossômica” rara em que parte de um cromossomo é “perdida”, acarretando em vários déficits neuromotores. Esta alteração genética pode ter consequências variadas, uma vez que cada cromossomo carrega uma importante série de genes, cada qual responsável por transmitir informações essenciais para o desenvolvimento e o crescimento do indivíduo. É identificada como síndrome de deleção 5q14.3. Infelizmente, não há um nome mais simples para descrevê-la.
Não tivemos tempo de nos prepararmos para conviver com as diferenças da nossa filha. Nosso preparo é diário, contínuo e sempre inacabado, porque acompanha uma demanda constante de mudanças e reestruturações, como ao meu ver deve ser a inclusão na escola: um incessante preparo/reparo em busca de um acolhimento cada vez maior, cada vez mais justo.
Mais importante do que estarmos preparados, é a preocupação de estarmos nos preparando.
Uma escola pode não ter os recursos necessários para atender da melhor maneira uma criança com deficiência, mas uma atitude inclusiva passa pela acolhida incondicional e, principalmente, pela vontade de transformar esta escola em um espaço adaptável. É pensar que, se essa escola não comporta qualquer criança, então, este espaço é excludente. E para que seja diferente disso, é preciso que a escola se reinvente.
As crianças com deficiência têm pressa de que a inclusão seja uma realidade nas escolas pois nem elas, e nem qualquer criança, podem esperar pelas escolas “ideais”. As crianças com deficiência de hoje não podem esperar até que as escolas tornem-se espaços de acessibilidade plena, que todos os professores estejam qualificados para atendê-las, que o governo dê subsídios à inclusão e que todas as condições sejam favoráveis para que, só então, sejam aceitas na escola regular.
A inclusão é urgente e esta transformação, tão necessária nos espaços, nas metodologias, nos instrumentos avaliativos, na formação dos educadores e na consciência social, precisa acontecer durante o processo de implantação da práticas acolhedoras, porque quem ainda não faz parte, precisa ter a chance de sentir-se parte de sua própria história e da história de sua comunidade. A inclusão tem pressa porque a exclusão existe e persiste, muitas vezes, de forma velada. A inclusão é necessária para se contrapor à exclusão em todas as suas formas.
Por Sara Lopez para o Entretantoeducacao.com.br
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