Rachel Matos para o ipc.digital
Há muitos relatos de casos de crianças brasileiras com autismo no Japão ou outros diagnósticos de dificuldades ou distúrbios de aprendizagem exigindo cuidados especiais das famílias que moram no Japão.
Vamos hoje mostrar como estas famílias convivem com estes desafios e os apoios que possuem.
Os benefícios do governo para crianças especiais no Japão
Além dos benefícios financeiros para todas as famílias com filhos no Japão, existe um especial que se chama “Auxílio de bem-estar da criança com deficiência” (Shogaji Fukushi Teate).
É um auxílio para crianças portadoras de deficiência física ou psicológica e que necessita de cuidados especiais na vida diária. Há limite de renda anual e depende de uma avaliação diagnóstica da criança. O grau de deficiência deve ser mais severo para o recebimento deste benefício. O valor médio é de 14.000 ienes por mês.
Além dos benefícios financeiros, há também uma preocupação do governo em proporcionar terapias, suprindo as necessidades de estímulos para o seu desenvolvimento. Existem, por exemplo, muitas escolas ou clínica com tratamentos especiais onde elas são encaminhadas para receberem tratamento.
A convivência na sociedade japonesa
Comparando com o Brasil, a sociedade japonesa está mais preparada para aceitar e receber estas pessoas na sociedade. Há uma infraestrutura melhor para ela conviver na cidade. Mas, em termos de oportunidade de trabalho, o Japão, assim como alguns outros países, possui suas deficiências no sistema de inclusão.
Em relação aos pais, vivendo numa sociedade competitiva, esses costumam ter muita resistência em aceitar que seus próprios filhos possuam alguma deficiência e não procuram ajuda. Tirá-lo da escola padrão para uma especial seria como extrair do filho uma oportunidade de evolução acadêmica, necessária para um progresso futuro na universidade e vida profissional. Portanto, a maioria prefere fechar os olhos e não aceitar as recomendações da escola.
As escolas japonesas
Quando a escola padrão percebe alguma dificuldade especial na criança ela sugere aos pais que a encaminhe para um centro de diagnósticos (Hoken Center).
Quando os pais aceitam e há um diagnóstico concluído, geralmente eles indicam mudar o aluno para uma escola especial, que possui recurso de estimulação necessária, porém é excludente, por isso os pais lastimam tanto.
Quando os pais não aceitam e permanecem com a criança na escola padrão, os professores, em geral, não têm muito recurso para lidar com ela, deixando-o à parte do grupo, sem estratégia de apoio individual, perpetuando o seu atraso.
Algumas escolas possuem as chamadas “salas especiais” que são aulas de reforço para crianças com algum atraso na aprendizagem devido a diversos fatores (inclusive as de adaptação cultural, como no caso de alunos estrangeiros). Neste caso, os professores, geralmente, são especialistas em educação especial. Mas isso não significa ter capacidade adequada e multidisciplinar para oferecer condições de desenvolvimento pleno destas crianças. É apenas um reforço acadêmico, com algumas estratégias individualizadas.
O funcionamento das escolas públicas japonesas para crianças especiais
As Escolas de Educação Especial (Tokubetsu-Shien-gakko) são escolas para crianças com deficiência relativamente mais severa e visam oferecer uma educação mais adequada às necessidades educativas individuais de uma criança. Existem em todos os níveis de ensino obrigatórios, desde o jardim de infância.
Há casos de crianças que vão para estas escolas e depois conseguem retornar para a escola tradicional. Dependo do grau de dificuldade, do nível e tempo de tratamento e estimulação que esta criança recebeu em sua vida.
As escolas brasileiras no Japão
O que difere na qualidade de atendimento escolar às crianças com necessidades especiais é o grau de dificuldade da criança, pois, se ela precisa de profissionais de diversas especialidades (como fonoaudiólogo, psicólogo, etc.) e algumas escolas brasileiras apresentam mais dificuldade no acompanhamento desta criança, por não terem suporte de equipe multidisciplinar.
Há casos de professores brasileiros estudando cursos de especialização sobre inclusão e atendimento de crianças especiais para ajudar na atenção individualizada destes alunos. E são apoiados pelas instituições.
O apoio da comunidade brasileira
Existem associações de pais com crianças especiais no Japão, que vem se fortalecendo nos últimos anos, com apoio de profissionais especializados brasileiros e japoneses que oferecem palestras e orientações. (Veja “Associação Autismo Vencendo o Preconceito” em:
https://www.facebook.com/pages/Autismo-Vencendo-Preconceito/276212382528853
Existe também o grupo social no Facebook chamado de “Mães de filhos especiais no Japão”. Lá é possível tirar mais dúvidas e discutir as experiências pessoais com outras famílias que passam pelos mesmos desafios. Foi com o apoio das moderadoras desse grupo e algumas mães que reunimos muitas das informações deste artigo.
Se você também enfrenta estes desafios busque ajuda destes grupos. É possível enfrentá-los com empoderamento e solidariedade no Japão. Não fique sozinho!
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