quarta-feira, 12 de maio de 2021

Atraso na fala, sem interação…como saber se meu filho sofre de autismo?

Para especialistas, dificuldade de comunicação, interação e comportamentos repetitivos da criança podem ser indicativos do autismo

Por Rodrigo Silva para o bandab.com.br


Crianças com TEA tem dificuldade de comunicação e interação. Foto: ONU

Para os pais de uma criança, a preocupação com o desenvolvimento infantil é constante. Cada um dos pequenos tem a própria personalidade, uns são mais agitados e outros nem tanto. Contudo, quando uma criança passa a demonstrar dificuldades de comunicação, problemas para se relacionar com pessoas da sua idade e até comportamentos repetitivos, é importante ligar o sinal de alerta. Se você é pai, mãe ou passa muito tempo cuidando dos pequenos, esses podem ser sinais do Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Segundo dados do Centro de Controle de Doenças e Prevenção, dos Estados Unidos, existe hoje um caso de autismo a cada 59 crianças. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que uma em cada 160 crianças em todo o mundo tenha autismo.

De acordo com o neuropediatra Anderson Nitsche, do Hospital Pequeno Príncipe, o TEA é um transtorno do desenvolvimento caracterizado por basicamente dois sintomas: dificuldade das crianças se relacionarem e se comunicarem – com crianças e adultos – e uma tendência de comportamento repetitivo, sem uma função clara no comportamento.

“Podem ser movimentos como andar na ponta dos pés ou balançar a mãozinha”, diz o especialista.

A psicóloga Maria Helena Keinert é autora de livros sobre o assunto e trabalha com pacientes autistas há mais de 30 anos. Em entrevista à Banda B, a especialista afirma que os sinais do autismo podem aparecer desde o nascimento da criança. Segundo ela, as primeiras percepções já aparecem quando as crianças ainda são bebês. “Quanto mais cedo o diagnóstico for feito, maior as possibilidades da criança ter um desenvolvimento mais próximo do desenvolvimento neurotípico”, ressalta.

Possível diagnóstico


Crianças podem ser pré-diagnosticadas com TEA nos primeiros meses de vida. Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Quando os filhos ainda são bebês, Maria Helena afirma que várias características precisam ter à atenção dos pais. “Ele não faz contato visual quando mama, quando os pais pegam no colo, ele não tem uma reação natural e espontânea que qualquer bebê teria”, diz. A psicóloga aponta que transtornos de sono – a criança dormir demais quanto ter uma soneca agitada – também podem indicar que há algo de errado no desenvolvimento da criança. Outra dificuldade dos pais seria em introduzir alimentos na hora das refeições.

Maria Helena destaca que os problemas de comunicação e interação se acentuam com 1 ano de idade, os pais precisam ficar alertas. Além disso, outra característica frequente de crianças com TEA é a falta de interesses. “A criança explora pouco o ambiente, não sabe brincar e faz movimentos repetitivos, esses são sinais em que posso pensar que está acontecendo alguma coisa”, explica.

Em relação a possíveis confusões entre o diagnóstico do autismo e com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), a especialista destaca que essa diferenciação pode demorar de 2 a 3 anos, dependendo do caso da criança. No entanto, ela ressalta que os pais precisam – desde o início dos sinais – buscar ajuda de um psicólogo ou neuropediatra para trabalhar no desenvolvimento da criança. Afinal, em muitos casos esses dois transtornos podem estar juntos em uma criança. “A criança precisa dessa estimulação adequada”, afirmou.

Envolvimento de todos


Família, escola e especialistas precisam trabalhar juntos para ajudar a criança. Foto: Pixabay

De acordo com o neuropediatra Anderson Nitsche, assim que houver a suspeita de que uma criança é autista, os pais precisam imediatamente procurar por um pediatra. No entanto, o tratamento dela deve passar por especialistas de diversas áreas, as evoluções vão possibilitar com que a criança tenha maior aproximação de uma vida normal.

Em caso de atraso na fala da criança ou para andar, ela é encaminhada para um fonoterapeuta, que vai trabalhar na linguagem. O psicólogo é quem vai cuidar do comportamento da criança e um terapeuta ocupacional trabalha especificamente na alteração de alteração de processamento sensorial, que é uma disruptura de perceber alguns sons, habilidades, alguns cheiros. “Entra em um lugar que tem muito barulho e a criança coloca as duas mãos no ouvido e reclama daquele barulho”, diz o médico sobre as crianças com TEA.

Maria Helena explica que a família também precisa estar muito envolvida no tratamento. Para isso, é necessário um trabalho de coaching familiar. As sessões de terapia de uma criança com TEA duram em torno de 60 minutos e podem ser diárias. Contudo, como o tempo da criança é dividido entre família, clínica e escola, a especialista ressalta que o trabalho dos três precisa ser em conjunto. “É a única forma de realmente dar suporte e fazer com que todos nós possamos atuar para ajudar essa criança”, reforça.

Autismo em tempos de pandemia

Desde o início da pandemia, o cotidiano das crianças mudou completamente. As aulas passaram a ser on-line, e as brincadeiras em casa, sem os amigos por perto. Para quem tem autismo, essa mudança é sentida de maneira ainda mais intensa. De acordo com Anderson Nitsche, o dia a dia das crianças precisa ser adaptado para os tempos de isolamento social.

“A manutenção das terapias previne regressos do desenvolvimento e organiza melhor a vida do paciente e da família”, diz Maria Helena.

Anderson ressalta que os pais precisam usar máximo de tempo possível para interagir com a criança e observar seus sentimentos. “Aproveitem para assistir a filmes juntos e tentar identificar emoções e comportamentos. Conversem, brinquem, sentem no chão. Tudo isso é absolutamente terapêutico e fundamental para o desenvolvimento”, afirma.

Para Maria Helena, a maioria das pessoas diagnosticadas com autismo precisam ter rotina. Segundo ela, a pandemia trouxe desorganização do tempo e isso era um fonte de segurança para muitas pessoas. A psicóloga afirma que as aulas online não trazem nenhum benefício para crianças com TEA. Segundo ela, o retorno presencial as pessoas é necessário para crianças com autismo, que sofrem com as inconsistências da rotina e com a necessidade de se trabalhar em frente a um computador.

A especialista aconselha os pais a estabelecer uma nova rotina para os filhos. Uma sugestão é elaborar um quadro de horários para as crianças visualizarem o que fazer depois que acordam e dormem. Segundo ela, crianças autistas são muito visuais, por isso, a recomendação é para que os pais reestruturem o dia a dia dos filhos. “Ter uma organização nova que favoreça o estabelecimento de uma nova rotina para a criança”, finaliza.

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