quarta-feira, 26 de maio de 2021

Dificuldades da educação inclusiva

Gargalos na estrutura pedagógica dificultam a inclusão


 Nelson Junior cria jogos educativos para pessoas com deficiência auditiva e visual, e que podem ser usados conjuntamente pelos alunos sem deficiência. (Crédito: divulgação)

A espinha dorsal de um projeto de educação inclusiva eficiente consiste numa estrutura pedagógica que oriente as atividades escolares. É com base nesse planejamento que a escola organiza seu trabalho; garante apoio administrativo, técnico e científico às necessidades da Educação Inclusiva; planeja suas ações; possibilita a existência de propostas curriculares diversificadas e abertas; flexibiliza seu funcionamento; atende à diversidade dos alunos; estabelece redes de apoio, que proporcionam a ação de profissionais especializados para favorecer o processo educacional.

O empresário Nelson Junior, que é palestrante, educador e consultor sobre Inclusão Social e Acessibilidade, conhece muito bem o poder transformador que tem as ferramentas certas nas mãos de pessoas e instituições comprometidas com a causa da Educação Inclusiva.

Ele investe no mercado da acessibilidade desde 2006, criando jogos educativos para pessoas com deficiência auditiva e visual, que podem ser usados conjuntamente pelos alunos sem deficiência. A empresa que ele comanda, a Supereficiente, sediada em Guarulhos, produz jogos de memória em Libras, quebra-cabeças, dominós Braille, jogos de tabuleiro em Libras e Braille e investe em brindes inclusivos com a Língua Brasileira de Sinais e o Alfabeto Braille.

Com experiência em desenvolver produtos que ajudam na educação de pessoas com deficiência e em orientar equipes e instituições acerca de metodologias inclusivas e de acessibilidade, ele é categórico ao afirmar que os problemas da estrutura pedagógica no ensino de base no Brasil estão interligados. Para ele, a raiz desses problemas surge na falta de capacitação de profissionais nas escolas de ensino regular, passa pela distribuição de material didático inadequado ao processo de inclusão e termina numa grade curricular que desfavorece os alunos com deficiência.

“A grade curricular que existia no passado não havia sido projetada para atender no mesmo modelo crianças com e sem deficiência. Hoje, por exemplo, é muito comum algumas escolas particulares trabalharem com um determinado sistema de ensino, onde as apostilas que são fornecidas por boa parte das empresas que prestam serviço nesta área, não são totalmente inclusivas. Sem esse material pedagógico inclusivo, como será possível levar o conhecimento para a criança/aluno com deficiência?”, questiona. Para ele, uma das alternativas para solucionar esse problema seria o MEC pensar num formato inclusivo de material escolar que atendesse ao mesmo tempo alunos com e sem deficiência. Quando o foco é direcionado para a rede pública de ensino, Nelson Junior lembra que é comum encontrar nas escolas estoques específicos de material educativo para pessoas com deficiência visual, para pessoas com deficiência auditiva e outro para crianças com deficiência intelectual.

Segundo ele, isso ocorre porque os primeiros produtos foram desenvolvidos para atender uma única necessidade, não levando em consideração a diversidade de alunos com deficiência em uma mesma sala de aula. Resultado: distorção da ideia de inclusão e a promoção -- mesmo que sem querer -- da segregação escolar dos alunos com deficiência.

Outro ponto importante refere-se à formação dos professores para a inclusão. A transformação de paradigma na educação exige profissionais preparados para a nova prática, de modo que possam atender também às necessidades do ensino inclusivo.

Nelson destaca que a forma como sempre funcionou a engrenagem educacional no país não permitiu que os professores fossem capacitados para lidar com a multiplicidade de deficiências de crianças e jovens em um mesmo ambiente. “Não existe um planejamento pedagógico de capacitação dos profissionais para que eles estejam prontos para atender todas as pessoas com deficiência. Até existem algumas ações que os governos (federal, estadual e municipal) fazem, porém estas chegam a ser irrisórias diante da grande necessidade”, lamenta.

Você sabe de algum projeto de educação inclusiva na sua cidade?

Denis Deli é jornalista, especializado na inclusão da pessoa com deficiência.

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