Recursos visuais são comumente utilizados por professores de Física para ajudar os alunos a compreender conceitos. Basta pensar em uma aula de óptica: esquemas mostrando o comportamento da luz ao incidir sobre um espelho ou a refração dos raios de acordo com diferentes tipos de lentes costumam preencher lousas e materiais didáticos.
Tal abordagem, entretanto, exclui alunos com deficiência visual do processo de aprendizagem. É o que alerta Eder Pires de Camargo, autor do livro Saberes Docentes para a Inclusão do Aluno com Deficiência Visual em Aulas de Física, da editora Unesp.
“Chamo a situação de um aluno cego ou com baixa visão em uma aula de Física tradicional de condição de estrangeiro, pois é análoga à de uma pessoa em um país do qual desconhece o idioma. O aluno não tem acesso à informação, não compreende os conceitos ou nem sequer constrói dúvidas”, explica o professor da Unesp de Ilha Solteira (SP), que tem deficiência visual.
Resultado de um pós-doutorado e de um projeto de atividades pela Unesp de Ilha Solteira, a obra elenca estratégias e competências que professores do Ensino Médio devem desenvolver para incluir alunos com deficiência visual: “A maioria dos conceitos não estabelece uma relação direta com a visão”.
Entre as estratégias estão aulas nas quais o professor descreve auditivamente o que ele escreve ou desenha na lousa. Já para os conceitos mais difíceis de explicar pela fala, como é o caso de uma parábola, Camargo sugere o uso da linguagem tátil-auditiva.
“O docente pode usar materiais que façam com que o aluno perceba aquele conceito através do tato, como representações de gráficos em alto-relevo e maquetes. Assim, o professor conduz a mão do aluno pela estrutura enquanto explica auditivamente o conceito.”
Preterido, o tato é uma percepção sensorial importante e pode despertar nos alunos, cegos ou não, novas sensações. “A percepção tátil é analítica: você primeiro analisa as partes para então chegar ao todo. Já a observação pela visão é sintética: capta-se o todo primeiro para depois perceber as particularidades”, explica.
Outro saber importante é conhecer a história visual do aluno, pois a situação de um estudante que nasceu cego não é a mesma daquele que perdeu a visão. “O que nasceu cego não tem experiências empíricas de muitas coisas, como a lua e a estrelas. Por isso, o professor, antes de sair dando uma aula de astronomia, precisa entender qual é a representação que esse aluno tem desses elementos.”
Já para os alunos com baixa visão, é importante identificar até onde ele consegue enxergar. Saber se consegue ver cores, linhas fortes ou imagens ampliadas pode fornecer pistas de recursos para o ensino. O livro está disponível para down- load gratuito no site da editora.
*Publicado originalmente em Carta na Escola
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