Dérek Bittencourt para o Diário Grande ABC
Inclusão não é apenas uma palavra no vocabulário, mas uma das missões de vida da secretária da Pessoa com Deficiência da prefeitura de São Paulo, Silvia Grecco, que participou ontem à noite da live do Diário ao lado do filho Nickollas, que é deficiente visual e tem autismo. A dupla de torcedores do Palmeiras ganhou projeção internacional justamente porque a mãe fazia questão de incluir o filho no ambiente como um estádio de futebol ao narrar o jogo para ele, em situação que deve se estender do lazer a todos os outros segmentos, como saúde, trabalho, ensino etc. Assim, ouvir o ministro da Educação, Milton Ribeiro, declarar que é contra o “inclusivismo” nas escolas, chateia a mauaense, hoje moradora de Santo André – cidade na qual foi a primeira secretária de Pessoa com Deficiência, em 2020, antes de receber convite e seguir à Capital.
“Sou totalmente a favor da educação inclusiva. Lutamos tanto para conquistar direitos e hoje temos de lutar para conquistar mais direitos e para não perder o que conquistamos. Educação é primordial. Educação inclusiva não é só questão pedagógica. É questão de socialização também e faz diferença na vida de todos. Criança com deficiência na escola não atrapalha ninguém, quem atrapalha são pessoas que têm essa mentalidade e não deveriam estar à frente do ministério (referindo-se a Milton Ribeiro). Enxergo assim e fico triste quando ouço. Não é uma questão político-partidária, mas de ver como mãe esse retrocesso, que não é bom de maneira nenhuma”, bradou Silvia Grecco.
A secretária da Capital ainda recordou história vivida por ela e pelo filho que comprova sua teoria sobre inclusão no ambiente escolar. “O Nickollas, quando pequeno, estudava numa escola infantil em Santo André, de 3 para 4 anos. Na entrada uma mãe me procurou, extremamente emocionada, dizendo que o filho chegou em casa e na hora do jantar apagou todas as luzes, porque queria ficar no escuro como o Nickollas. Contou que precisou fazer o jantar, que teve dificuldade, que todos comeram no escuro. Então, olha a troca entre as crianças, o aprendizado. Daí começa o respeito. Não temos que pensar só na parte pedagógica que, claro, é importante, mas a escola pode fazer a diferença na vida das crianças com ou sem deficiência. A gente fala pessoa com deficiência porque antes de ter deficiência é uma pessoa. Educação é tudo. Modelos de educação têm que ser seguidos. Onde tem olhar da educação inclusiva, ela funciona”, recordou.
Silvia ainda falou sobre a necessidade de criação de postos de emprego para PCDs (Pessoas com Deficiência), em situação que vá além das chamadas cotas. “É necessário que se tenha oportunidade de trabalho, de educação. Temos de pensar nisso para todos. Quando tem esse olhar de incluir as pessoas com oportunidades iguais, é muito bem-vinda. No Grande ABC, na questão de empregabilidade, normalmente se cumprem cotas. Quando as pessoas forem contratadas por oportunidade, não por obrigação, isso vai mudar, porque daí não está contratando para cumprir cotas. Precisamos dar oportunidades iguais para todas as pessoas. Isso faz muita diferença. Assim como dei oportunidade ao meu filho de ir aos jogos. Tem mudado muito, temos tido conquistas boas, mas é pouco perto do que a gente poderia ter.”
Outro ponto que foi ressaltado pela secretária da Pessoa com Deficiência durante a entrevista foi com relação à acessibilidade, que, segundo ela, vai muito além da mobilidade. “Quando se fala em pessoa com deficiência ou acessibilidade, a primeira coisa que vem à cabeça das pessoas é a acessibilidade arquitetônica. Isso é desafio muito difícil. Nos prédios novos é garantido por lei que se tenha acessibilidade, mas existem muitas construções antigas que preferem, por exemplo, ter calçada com muito mais grama do que uma passagem para uma pessoa cega ou cadeirante trafegar. Então, precisa de conscientização cultural também das pessoas para que quando possam fazer, não apenas uma responsabilidade do poder público, mas de todos. Acho muito difícil solução 100%, mas têm que ser feitas, por exemplo, rotas acessíveis, planejar edificações com acessibilidade. Além disso, acessibilidade não é só arquitetônica, mas na atitude, na comunicação. Por exemplo, chega perto de pessoa cega, a primeira coisa a fazer é se identificar. As pessoas precisam conhecer as atitudes de acessibilidade. Não parar na vaga estabelecida para a pessoa com deficiência, porque aqueles cinco minutinhos atrapalham. E hoje a acessibilidade digital é tão importante quanto a arquitetônica, porque as pessoas têm várias ferramentas que facilitam extremamente para elas, como leitores de tela, handtalk para surdos e muitas outras. O Grande ABC, assim como a cidade de São Paulo, tem muitas barreiras para encarar. Não é fácil. Mas se não tiver vontade pessoal e as pessoas se conscientizarem, não vai acontecer”, ressaltou Silvia Grecco.
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