Desenhos, brincadeiras, adesivos coloridos, brinquedos
Esses são elementos frequentes na interação com a criança, seja no ambiente familiar, escolar ou terapêutico. Tais recursos se mostram importantes para o estímulo do brincar, do desenvolvimento da linguagem, das habilidades sociais e de outros âmbitos da aprendizagem. Mas, e quando essa criança cresce?
Sabe-se que o desenvolvimento não ocorre somente por condições puramente fisiológicas, ou seja, por mudanças no corpo e no cérebro, mas também por condições ambientais. É na interação com o outro que o indivíduo pode ocupar um lugar de adolescente, reconhecendo-se como tal. A família, o grupo social e as instituições que acompanham essas mudanças corporais, devem trazer oportunidades e desafios para o surgimento da autonomia e do amadurecimento dessas pessoas.
Reflito aqui sobre jovens com deficiência
Diversos estudos apontam a infantilização desse grupo (Bagarollo & Panhoca, 2010; Littig, Cárdia, Reis & Ferrão, 2012; Rosa, Santos, Paes, Padilha & Pacco, 2018), o que traz como consequências a dificuldade do adolescente com deficiência em interagir com seus pares; dependência emocional e física de seus familiares; dificuldade na construção de sua identidade e de entender a sua sexualidade. Pesquisas como essas nos alertam para algo urgente na atenção com a saúde mental desses jovens: nós, familiares, educadores e terapeutas, precisamos mudar o olhar e a a postura para com eles.
É importante fazer com que os jovens com deficiência sejam mais autores de sua própria história, sem desconsiderar possíveis limitações físicas, cognitivas e psíquicas. Isso é possível quando os apresentamos possibilidades de subjetivação, tais como:
– Estimular a responsabilidade com as tarefas diárias, na organização de seus pertences e espaço;
– Incluindo-os na circulação social, como em cinemas, festas, shows e outras atividades culturais que se relacionem com os interesses do adolescente;
– Ouvir e acolher dúvidas e angústias de qualquer origem, sem poupá-los de esclarecer de forma clara e realística;
– Diversificar a oferta de objetos de interesse, tais como livros, músicas e jogos, propondo coisas que estejam relacionadas com a etapa do desenvolvimento (respeitando a escolha do mesmo de aderir a proposta ou não);
– Abrir espaço para que façam escolhas próprias (ex: roupa que quer comprar/vestir, o passeio que quer fazer, atividades que deseja realizar e as que quer deixar de fazer por não lhe agradar mais, etc);
– Orientar, dialogar e acolher dúvidas sobre sexualidade, minimizando o máximo possível os tabus acerca do tema;
– Aproximá-los do conhecimento sobre questões sociais e culturais. Se preciso, usar recursos facilitadores para a compreensão de tais temas. Isso é importante para que esses jovens possam compreender melhor o mundo, a cultura e também os seus direitos.
A tarefa de auxiliar a transição entre infância, adolescência e vida adulta de pessoas com deficiência carrega benefícios para além dessas pessoas e suas famílias. É também um ganho social, ao tempo em que a presença desse grupo, ocupando espaços na sociedade, potencializa o combate ao capacitismo e fortalece a inclusão e o acolhimento da diversidade.
Por: Lucas Matheus Almeida Nunes (CRP: 06/155764)
Referências:
BAGAROLLO, M.; PANHOCA, I. (2010). A constituição da subjetividade de adolescentes autistas: um olhar para as histórias de vida. Revista Brasileira de Educação Especial. 16(2), p. 231-250.
LITTIG, P., CÁRDIA, D.; REIS, L.; FERRÃO, E. (2012). Sexualidade na deficiência intelectual: uma análise das percepções de mães de adolescentes especiais. Revista Brasileira de Educação Especial, 18(3), p. 469-486.
ROSA, Y., SANTOS, R.; PAES, L.; PADILHA, K., PACCO, A. (2018). A percepção da família sobre a adolescência de seus filhos com deficiência: socialização, educação e profissionalização. Pesquisa e Prática em Educação Inclusiva, 1, p. 101-115.
(Imagem Acima retirada do site globo.com, da matéria “Discoteca inclusiva: mães de adolescentes com deficiência organizam festas nas quais eles são a maioria”)
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