sexta-feira, 27 de maio de 2022

Campanha incentiva adoção de crianças e adolescentes com deficiência

Iniciativa é do Ministério da Mulher, Família e dos Direitos Humanos

 Alana Gandra para o terra.com.br
 
De acordo com o ministério, em 2020 havia 5.040 crianças e adolescentes prontos para a adoção no país Foto: Ministério da Mulher

O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) lançou a campanha Escolher Adotar é Escolher Amar, em alusão ao Dia Nacional da Adoção, comemorado hoje (25), com o objetivo de encorajar famílias a adotarem crianças e adolescentes com enfermidade ou deficiência.

Até a próxima sexta-feira (27), durante a Semana de Mobilização para Adoção, as redes sociais do MMFDH mostrarão o passo a passo para a adoção no Brasil, as políticas envolvidas, informações sobre adoção tardia e inter-racial e depoimentos de famílias que conseguiram adotar. Clique e acesse a página do ministério no Instagram, no Facebook e no Twitter.

Em nota, a ministra Cristiane Britto afirmou que a sociedade e o Estado devem adotar medidas que viabilizem o direito das crianças e adolescentes de terem uma família. Para Cristiane, adotar é um ato de entrega e de generosidade, por meio do qual se oferece proteção, carinho e a possibilidade de a criança ou o adolescente vivenciar o ambiente acolhedor de uma família.

De acordo com o ministério, em 2020 havia 5.040 crianças e adolescentes prontos para a adoção no país. Atualmente, quase 34 mil crianças e jovens estão abrigados em casas de acolhimento e instituições públicas no Brasil.

O secretário Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, Maurício Cunha, destacou que é direito da criança e do adolescente ser criado e educado no seio de sua família.

“Quando isso não é possível, excepcionalmente, [a criança] poderá ser colocada em família substituta, de modo a assegurar a convivência familiar e comunitária, em ambiente que garanta seu desenvolvimento integral. Após a avaliação do melhor interesse da criança ou adolescente, poderão ser ofertados os serviços de famílias acolhedoras, acolhimento institucional ou adoção”, explicou Cunha.

Podem adotar pessoas solteiras, viúvas ou que vivem em união estável. O Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária reúne, além dos marcos legais e conceituais, as diretrizes, objetivos e resultados que o Estado, a comunidade, a família e a sociedade em geral devem se apoiar para garantir a concretização do direito à convivência familiar e comunitária.

Ferramenta

Uma nova ferramenta que facilita o processo de adoção foi lançada ontem (24) pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Consiste na busca ativa nacional, para promover o encontro entre pretendentes habilitados e as crianças aptas à adoção que tiverem esgotadas as possibilidades de buscas nacionais e internacionais de famílias compatíveis com seu perfil no Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA).

A primeira fase da busca ativa vai permitir que as unidades judiciárias indiquem as crianças e adolescentes disponíveis, com a possibilidade de inclusão de fotos e vídeos. O presidente do CNJ, ministro Luiz Fux, destacou que a disponibilização será sempre precedida de autorização judicial e de manifestação de interesse do adolescente ou da criança, quando forem capazes de autorizar a utilização de dados e imagem.

Segundo Fux, o objetivo é impulsionar a adoção, utilizando a tecnologia para facilitar o encontro entre crianças e adolescentes que esperam por pais, mães e uma vida em família; e as pessoas que esperam pelos filhos e pelas filhas “que lhes chegarão pela infinita e inexplicável força do amor”.

Em uma fase seguinte, a ferramenta vai disponibilizar o ambiente virtual para que os mais de 33 mil pretendentes habilitados no SNA possam consultar as crianças e adolescentes previamente disponibilizados para busca ativa.

Para o presidente do Fórum Nacional da Infância e da Juventude (Foninj), conselheiro Richard Pae Kim, a ferramenta de busca ativa se une aos esforços já lançados por alguns tribunais para garantir o direito à convivência familiar e comunitária de todas as crianças e adolescentes que aguardam a adoção no Brasil.

Identidade preservada

Pae Kim destacou que a ferramenta deve preservar a identidade e imagem das crianças e adolescentes, e apresentar apenas o prenome, idade e estado do acolhido. “Além disso, todo o material visual, como fotos e vídeos, terá uma marca d’água com as informações do nome e CPF das pessoas que realizam a consulta, o que evita a divulgação indevida de dados”.

O presidente do Foninj informou ainda que caberá à equipe técnica do serviço de acolhimento, em articulação com a rede protetiva e a equipe técnica judiciária, realizar o trabalho psicossocial de preparação da criança ou do adolescente para incluí-los no sistema de busca ativa.

“A funcionalidade de busca ativa será uma importante ferramenta disponibilizada pelo CNJ a todos as varas e pretendentes do Brasil, que ampliará o acesso a informações de crianças e adolescentes acolhidos, aptos, mas sem pretendentes disponíveis compatíveis com seu perfil, de forma a aumentar suas chances de encontrar uma família”, afirmou Pae Kim.

Futebol

Em 27 partidas da 7ª rodada do Campeonato Brasileiro, entre os dias 21 e 30 de maio, serão exibidas faixas da campanha do CNJ Adotar é amor. A campanha existe desde 2017 e, neste ano, conta com o apoio da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

Também nesta semana, o CNJ realiza a primeira inspeção no SNA, com o objetivo de verificar os dados que são registrados pelos tribunais no Sistema. O objetivo é incentivar a periodicidade da inserção das informações das crianças em acolhimento, adoção ou reintegração.

Criado em 2019, o SNA já registrou mais de 11 mil adoções pelo cadastro. Em 2021, foi alcançado o recorde de mais de 3,7 mil adoções concluídas. Também houve recorde em reintegrações, tendo mais de 11 mil acolhidos retornado à convivência com seus pais biológicos.

Ainda assim, mais de 4 mil acolhidos aguardam para ser adotados. Desses, cerca de 2,2 mil não conseguem encontrar pretendentes interessados porque possuem problemas de saúde (21,4%); apresentam algum tipo de deficiência (24,2%); e têm acima de 10 anos de idade (85%).

quarta-feira, 25 de maio de 2022

Jovens com Síndrome de Down buscam mercado de trabalho e pais relatam importância da alfabetização para inclusão social

Rede estadual de ensino de São Paulo tem 2,5 mil matriculados, segundo secretaria

O amor está impresso na poesia de Rafael Maloso Ramos, de 35 anos, e no abraço de Marcela Vacchi Andia, de 30, quando elogia os amigos de Piracicaba (SP). Eles são diferentes, como é cada ser humano. Mas, se assemelham pela energia com que desempenham suas atividades, pela satisfação de integrarem o mercado de trabalho e de serem pessoas com Síndrome de Down que frequentaram escolas regulares e tiveram acesso à educação formal desde a primeira infância.

Em 2022, de acordo com dados recentes enviados pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (Seduc-SP), no dia 19 de março, a pedido do g1, mais de 67 mil estudantes são elegíveis aos serviços da Educação Especial na rede estadual. Desse total de matriculados, cerca de 2,5 mil são alunos com Síndrome de Down, com 468 nos anos iniciais do ensino fundamental e 987 nos anos finais, 715 no ensino médio e sete são estudantes da modalidade Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Ao todo, a rede estadual de São Paulo tem 3,5 milhões de alunos no ensino regular nas 5,3 mil escolas paulistas.

Os números de pessoas com Síndrome de Down alfabetizadas não são evidentes nos bancos de dados disponíveis, como os do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), das Secretarias de Educação Municipais e Estaduais ou do Ministério da Educação (MEC), ou de instituições especializadas.

Não por acaso, nesta segunda-feira (21), é celebrado o Dia Mundial da Síndrome de Down (21), uma condição genética causada pela presença de três cromossomos 21 nas células de cada pessoa, em vez de dois - também identificada como trissomia do 21.

A data foi criada em 2006 e, desde então, organizações comemoram a vida das pessoas com Síndrome de Down e buscam a inclusão social de todos.

Características das pessoas com Down:
- Olhos amendoados;
- Maior propensão ao desenvolvimento de algumas doenças e redução da força muscular;
- Corpos mais flexíveis;
- Comprometimento intelectual.

Em geral, as crianças com síndrome de Down são menores em tamanho e seus desenvolvimentos físico e mental são mais lentos que o de outras crianças da mesma idade. São mais vulneráreis a problemas respiratórios e cerca de 50% das crianças apresentam algum tipo de cardiopatia. Podem apresentar problemas no sistema oftalmológico, de audição e tireoide. Hérnias também são comuns.

Estímulos e inclusão ontem … Independência hoje
Tanto Marcela quanto Rafael tiveram, desde a infância, múltiplos estímulos e acesso a uma rede de apoio construída pela família e instituições por onde passaram. Agora, adultos, demonstram independência e certeza de suas escolhas e preferências.

Marcela sempre quis ter um emprego. “E conseguiu sozinha”, orgulha-se a advogada Elionete Vacchi Andia, mãe da jovem, e não lhe faltam motivos. Há seis meses, ela trabalha em um laboratório farmacêutico em Piracicaba. Ela foi escolhida para a vaga após passar por entrevista no departamento de recursos humanos da rede de farmácias.

O g1 visitou o laboratório de manipulação onde Marcela trabalha. Com alegria e bom humor, ela mostrou parte das atividades que desempenha. A jovem realiza serviços de secretária, ajuda com os malotes, identifica com etiquetas as sacolas para expedição e leva documentos de um departamento para outro.

Espontaneidade, alegria e afeto são marcas registradas da jovem, interrompidas por um breve momento de timidez no início da conversa com a reportagem. “Também tem essa câmera, não é?”, pondera.

Qualquer hesitação passa rápido quando ela é convidada a falar dos amigos no ambiente de trabalho e, com bom humor, dispara um “Agora ele vai chorar”, abraçada ao colega auxiliar de laboratório, Victor Santos de Oliveira.

Coragem e energia nunca faltaram para Marcela. “Eu queria muito trabalhar. Subi no altar durante a missa e pedi um emprego para o padre André”, conta. A mãe confirma a história e arremata. “A Marcela tem mais coragem do que eu”, diz.

“O padre que anunciou que a Marcela queria trabalhar e pediu para quem soubesse de alguma vaga dar um alô. Na mesma semana, o responsável entrou em contato com ela e agendou uma entrevista”, detalha Elionete.

Esse não é o primeiro emprego de Marcela. Ela já trabalhou na cafeteria do Espaço Pipa, associação que atende pessoas com Síndrome de Down em Piracicaba.

Elionete destaca a importância do caminho percorrido com Marcela para, na vida adulta, a jovem conquistar seus objetivos. E foram muitos, com apoio de uma rede multidisciplinar de profissionais. “Além da escola, ela sempre frequentou o Centro de Reabilitação de Piracicaba (CRP), também praticava natação, caratê, Kumon, aulas de violão, equoterapia e balé”, elenca.

“Fizemos tudo o que podia ter feito para ela se tornasse bastante independente. Hoje, ela faz tudo sozinha”, afirma. Marcela frequentou a educação infantil. Depois, seguiu no ensino básico regular em uma escola particular, onde ficou por oito anos e cursou até a quarta série do ensino fundamental.

“Minha filha sabe tudo, mas não sabe ler, que era o que eu mais queria na vida”, lamentou Elionete. Quando Marcela iria para o quinto ano do ensino fundamental, a coordenação do colégio a chamou e disse que a menina não acompanharia, segundo relato da mãe.

“Não era o certo, mas como fui orientada assim, ela deixou a escola regular, mas continuou no Centro de Reabilitação. Nunca paramos de buscar caminhos para nossa filha. Lá, tinha aulas de alfabetização, culinária e arte”, lembra.

Embora não tenha se alfabetizado completamente, Marcela sabe se comunicar bem e segue na busca por aperfeiçoamentos. Atualmente, faz aulas de computação no Centro de Reabilitação de Piracicaba e também iniciou um curso de preparação para o mercado de trabalho na unidade do Senac no município.

Da alfabetização ao amor pela literatura
Rafael Maloso Ramos tem um desejo para 2022: voltar a trabalhar de modo presencial, condição que a pandemia de Covid-19 não permite há dois anos. O rapaz está afastado do emprego em uma multinacional norte-americana que fabrica máquinas e motores pesados voltados à construção civil e mineração. “Adoro tratores. É uma de minhas paixões, junto com escrever”, ressalta.

O jovem trabalha desde os 19 anos. O primeiro emprego foi em uma copiadora de Piracicaba, empresa em que atuou por seis anos, até 2012. Mais recentemente, conseguiu outro emprego no setor de recrutamento da multinacional, que foi renovado após o vencimento do contrato e onde permaneceu até março de 2020, quando veio a pandemia.

“Eu adoro muito o meu trabalho. Eu ia buscar os candidatos, eu trabalhava no computador, organizava as fichas”, descreve Rafael.
Ele revelou um talento especial com as palavras. Leu a poesia que escreveu e disse que a literatura foi um alívio durante os tempos de pandemia.

A psicanalista Maria Lúcia Maloso Ramos, mãe de Rafael, explicou que a alfabetização do filho fez toda diferença na vida dele. “E na vida de todos nós, pois permite a ele se inserir e se expressar de forma mais ampla, fazendo parte de um universo de maiores possibilidades. Isso é inclusão”, salienta.

“Ele é extremamente responsável em tudo que faz. Ao ler e escrever, pode desempenhar muitas atividades tanto na vida pessoal, familiar, como no trabalho”, orgulha-se.

Maria Lúcia contou que ir para a mesma escola dos irmãos foi um desejo dele aos 7 anos de idade. Rafael tomou gosto pela leitura e tem uma prateleira com diversos títulos preferidos e dezenas de títulos lidos. Atualmente, lê "Volta ao Mundo em 80 dias", de Júlio Verne.

Segundo a mãe de Rafael, o fato de ser alfabetizado o permite entender e responder o que ocorre à sua volta.

“Assim, se expressando de maneira completa, se fazendo entender, dizendo o que quer e o que pensa. É um direito de todos e, felizmente, Rafael continua aprendendo. Valeu muito a pena investir neste processo!”, finaliza.
Mercado de Trabalho
A Base de Dados da Secretaria de Direitos da Pessoa com Deficiência de São Paulo, desenvolvida em parceria com a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), aponta que o estado de São Paulo admitiu 2.023 pessoas com deficiência (PCD) em 2022 e demitiu 2.571, com redução de 548 trabalhadores no mercado de trabalho.

Em Piracicaba, foram contratadas 27 pessoas com deficiência neste ano, contra 15 desligamentos. A cidade tem saldo de 12 trabalhadores PCDs no mercado de trabalho atualmente. O que contrasta com o número estimado pelo mesmo banco dados em relação ao tamanho da população com deficiência intelectual na cidade em 2021, que prevê 4.876 pessoas.

Pandemia
Rafael se preocupa com a Covid-19. As mortes o sensibilizam, assim como a dificuldade de trabalhar em tempo de pandemia. A literatura e o hábito de escrever poemas são formas de extravasar seus sentimentos em tempos incertos. “O amor envolve ondas práticas”, escreveu.

Marcela pratica o amor nas muitas atividades corriqueiras. Empunhando um violão, praticando caratê ou em sua atuação diária como auxiliar em uma farmácia, o sentimento é presente em cada ação. O amor é a válvula de escape para Rafael e Marcela superarem quaisquer barreiras.

Piracicaba
Em Piracicaba (SP), a rede municipal de ensino atende 725 alunos com deficiência, do berçário ao quinto ano do ensino fundamental, sendo 42 alunos com Síndrome de Down, segundo dados de fevereiro de 2022 solicitados pelo g1. Desse total, 21 estudantes estão na educação infantil e 21 no ensino fundamental.

O Núcleo Municipal de Apoio Pedagógico à Educação Especial (Numape) afirma que oferece Atendimento Educacional Especializado (AEE) por meio das itinerâncias nas escolas e das salas de recursos multifuncionais e realiza orientações aos professores e atendimento pedagógico complementar aos alunos.

Inclusão plena: ‘o individual na coletividade’
A diretora escolar da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Piracicaba, Nilva Toledo, acredita na inclusão escolar das pessoas com síndrome de Down.

“A inclusão escolar é possível, desde que sejam estimuladas desde pequenas, o que facilita também a sua inclusão social, e no mercado de trabalho, onde estará apto a desenvolver suas atividades de vida prática e de vida diária com independência”, reitera.
Para que a inserção escolar - e social - da pessoa com Síndrome de Down ocorra de forma plena, é preciso que o professor tenha conhecimento sobre o que é inclusão de fato. “É necessário que o educador entenda e conheça as deficiências e situações de cada aluno”, afirma a psicopedagoga Jussara Rosolen, que trabalha com crianças com necessidades educacionais especiais há mais de quatro anos e é especialista em Análise do Comportamento Aplicada (ABA, do inglês, applied behavior analysis).

“O educador deve explorar os momentos iniciais do ano letivo para fazer um diagnóstico de como é aquele aluno, como ele aprende, se é verbal ou não, quais são os outros profissionais que o atendem, conversar com os pais e com o professor do ano anterior”, salienta. "São muitas perguntas cujas respostas e relatos de experiências vão respaldá-lo para essa inclusão verdadeira”, orienta.

Jussara, que também é mestranda em Educação pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), no campus de Araras (SP), esclarece que a pessoa com Síndrome de Down pode estudar em qualquer escola e alerta para a relevância da preparação e iniciativa do corpo docente e gestão pedagógica.

A especialista reitera a importância dos educadores realmente se preocuparem em desenvolver materiais adaptados às necessidades educacionais do aluno, com iniciativas que o insira e se adeque aos trabalhos com todos os demais estudantes da sala.

“Isso faz com que ele participe de todas as atividades. Não adianta colocar um profissional para ajudar aquele aluno/criança e ele fazer outro tipo de atividade diferente do conteúdo que está sendo trabalhado em sala de aula. A inclusão não existe se o material for diferente dos demais alunos. Incluir é trabalhar o individual na coletividade. A sala de aula já é um espaço de coletividade, mas cada um de nós, seres humanos, aprendemos de uma maneira diferente”, explica.

A educadora aponta a educação continuada dos professores e atividades de extensão universitária, em união entre teoria e prática, como elementos essenciais para o sucesso de iniciativas de inclusão. Ela defende a necessidade da implantação de "residências pedagógicas” permanentes nos cursos de formação docente.

“Qualquer inclusão tem que tirar o professor da zona de conforto, em qualquer nível educacional, da educação infantil, fundamental ao ensino superior. Desde 1996, com a LDB, se fala em inclusão. Nós estamos em 2022 e precisamos falar porque tem coisas que as ainda escolas não fazem. E nisso, cabe a inclusão do próprio professor também”, critica.

Todo Síndrome de Down aprende, como qualquer pessoa, segundo a especialista. “Agora, o grau de aprendizagem vai depender daquele diagnóstico que o educador faz no início. Se o aluno não for verbal, é uma coisa, se for verbal, mesmo que tardio, pode ser alfabetizado. Primeiro é preciso saber como é essa criança”, especifica.

O professor tem uma longa jornada, lembra Jussara. “Não existe inclusão sem solidariedade, como dizia Paulo Freire. Isso é o afeto. Quando você se coloca no lugar do outro, o que hoje chamamos de empatia, você aprende a ver tudo de outra forma”, finaliza.

Fonte: G! - Imagem: Nicola Barts no Pexels

sexta-feira, 20 de maio de 2022

Comissão aprova prioridade para matrículas de crianças com deficiência em escolas públicas

Proposta também assegura o provimento de material didático adaptado às necessidades dos estudantes com deficiência

A Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei 2201/21, que obriga creches, pré-escolas e escolas de ensino fundamental e médio, mantidas ou subsidiadas pelo poder público a priorizar a matrícula de crianças e adolescentes com deficiência e doenças raras.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), doenças raras são aquelas que afetam até 65 pessoas em cada 100 mil indivíduos. No Brasil estima-se que haja 13 milhões de pessoas nessas condições.

De autoria da senadora Nilda Gondim (MDB-PB), o texto modifica o Estatuto da Criança e do Adolescente, o Estatuto da Pessoa com Deficiência e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Já aprovado pelo Senado, o texto também assegura o provimento de material didático adaptado às necessidades dos estudantes com deficiência.

O parecer do relator, deputado Lucas Redecker (PSDB-RS), foi favorável ao projeto do Senado e contrário aos apensados (PL 3648/21 e PL 2880/21).

“É necessário que sejam promovidas ações intersetoriais e transversais, inclusive no âmbito da educação, para que as crianças e os adolescentes com deficiência tenham mais saúde, que não se resume à ausência de doenças, e tem como base o bem-estar físico, mental e social”, avaliou o parlamentar. Ele optou por rejeitar os apensados para agilizar a o processo de aprovação da matéria.

Tramitação
O projeto, que tramita em caráter conclusivo e em regime de prioridade, será analisado agora pelas comissões de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência; de Educação; de Finanças e Tributação e de Constituição e Justiça e de Cidadania.

Fonte: Agência Câmara de Notícias 
Reportagem - Lara Haje
Edição – Rachel Librelon

quarta-feira, 18 de maio de 2022

70% dos professores acham benéfico incluir criança com deficiência em classe regular

Pesquisa Datafolha ouviu cerca de mil professores da rede pública de todas as regiões do país

Havolene Valinhos | SÃO PAULO
 

Pesquisa Datafolha, realizada a pedido da Fundação Lemann com colaboração do Instituto Rodrigo Mendes, mostra que 70% dos quase mil professores entrevistados acreditam que a escolarização de crianças com deficiência feita em conjunto com alunos de classes regulares proporciona benefícios educacionais a todos.

O levantamento foi realizado entre os dias 9 de novembro e 1º de dezembro do ano passado, por meio de entrevistas por telefone, e ouviu 967 docentes de ensino fundamental e ensino médio de redes públicas de todas as regiões do país.

De acordo com a pesquisa, 95% dos entrevistados disseram que conhecem os direitos dos estudantes com deficiência de ter acesso a escolas comuns e compartilhar seus espaços com os demais.

"O fato de a maioria dos professores acreditar no sistema de ensino inclusivo é fundamental porque é esse profissional que tem contato direto com o estudante, com a família dele no dia a dia, está na linha de frente e investirá na aprendizagem eficaz de todos os alunos de sua sala", diz Luiza Corrêa, coordenadora de Advocacy do Instituto Rodrigo Mendes. Segundo Corrêa, isso não retira a obrigação das redes de ensino de investirem em formação continuada, metodologia e capacitação para esses docentes.

 Leia a matéria completa em folha.uol.com.br

sexta-feira, 13 de maio de 2022

10 sugestões para falar sobre deficiência e inclusão com as crianças

As crianças desde muito novas percebem as diferenças entre as pessoas e fazem perguntas sobre o que veem. Cabe aos pais mostrarem-se abertos ao diálogo e esclarecer as dúvidas dos filhos

Por Thainá Zanfolin para o cangurunews.com.br
 

Buscar a convivência com pessoas com deficiência é uma forma de promover a inclusão

Datas como 21 de setembro – Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência – e 3 de dezembro – Dia Internacional das Pessoas com Deficiência – buscam difundir informações sobre diversidade e ampliar a conscientização da importância da inclusão na sociedade. No geral, crianças com deficiência tendem a ser rotuladas e vistas apenas pelos seus impedimentos. Para mudar essa visão, os pais devem mostrar aos filhos o valor da diversidade humana e incentivar que convivam com crianças diversas.

As crianças desde muito novas percebem as diferenças entre as pessoas – em relação ao gênero, cor da pele, forma de falar, não enxergar ou usar cadeira de rodas, por exemplo – e fazem perguntas sobre isso, explicam as educadoras Kátia Cibas e Lailla Micas, em artigo publicado na Canguru News. “Esse tipo de curiosidade é natural e cabe aos adultos dar aos pequenos respostas respeitosas que valorizem a diversidade humana e incentivem o convívio entre todos”, afirmam as educadoras, que são integrantes do Instituto Rodrigo Mendes, ONG que atua a favor de uma educação de qualidade para pessoas com deficiência.

Promover esse diálogo com os filhos, no entanto, nem sempre é fácil. Fabiana Gutierrez, co-fundadora de Carlotas, instituição que fala sobre diversidade para crianças, diz que muitas vezes, anulamos ou nos retiramos do assunto por medo de abordar algo desconhecido para nós mesmos”. “É natural que assuntos que não conhecemos nos tragam desconforto, portanto, é nossa responsabilidade reconhecer o nosso ‘não-saber’ e pesquisar sobre ele”, diz.

O papel da família

Para Fabiana, é preciso ter diálogo aberto e acolhedor para que os filhos falem sobre suas dúvidas. As respostas, diz a co-fundadora, devem ser dadas em linguagem adequada à idade, para que os pequenos compreendam o que foi dito, lembrando que é responsabilidade dos pais ampliar o repertório da criança. 

Janaína Spolidorio, especialista em educação, afirma que é preciso ser o mais franco possível com os filhos: caso não saiba sobre um assunto ou informação, é interessante convidar a criança a pesquisar junto com você. “A informação é o que temos de melhor em relação à inclusão e à deficiência. Com a informação prevenimos o preconceito”, opina a especialista. 

Na escola, é possível que a criança tenha contato com amigos que apresentem alguma deficiência, contribuindo assim para que se familiarize com o assunto. Por lei, o ambiente escolar precisa oferecer as condições adequadas de inclusão, que vão desde aspectos relacionados ao espaço físico à frequência nas aulas regulares com todos os alunos. 

Dicas para conversar sobre deficiência e inclusão

Uma das principais preocupações na hora de conversar sobre deficiência e inclusão com as crianças são as formas de falar sobre o assunto com elas. A Diversa, uma plataforma que compartilha experiências de educação inclusiva, ressalta a importância de não se referir a pessoas com deficiência com tom ou palavras que tenham denotação de inferioridade.

“Coitada”, “doentinho”, “downzinho” são alguns exemplos apontados que não devem ser utilizados. Segundo a plataforma, “desconstruir a ideia de que a criança com deficiência é vítima ou uma pessoa especial é o primeiro passo para educar para a diversidade”. Abaixo veja outras dicas dadas pelas especialistas para abordar o tema da deficiência com as crianças.

Incentive a convivência com pessoas com deficiência. É importante permitir, desde cedo, que todas as crianças tenham contato entre si, brinquem e frequentem ambientes diversos.

Trate a pessoa com deficiência sem rótulos. Mostre para as crianças que, tal como qualquer cidadã ou cidadão, a pessoa com deficiência tem direito de estar nos lugares, participar das brincadeiras e realizar o que quiser, com a diferença de que, dependendo do tipo de atividade ou tarefa a ser realizada, pode precisar de apoio.

Observem suas habilidades. Peça para a criança destacar quais são as habilidades que o amigo ou a amiga com deficiência possui, fazendo assim com que sejam percebidos outros aspectos para além das dificuldades que ele ou ela apresenta. 

Permita uma conversa franca sobre o assunto. Quando as crianças se sentem seguras para tirar suas dúvidas, explicar sobre diversidade e inclusão se torna algo mais fácil.

Ouça atentamente as dúvidas das crianças. Deixe que falem sem interrupções para entender a linha de raciocínio para só então fazer mais perguntas ou determinada afirmação.

Pesquisem juntos. Se a criança apresentar uma curiosidade específica sobre alguns dos assuntos, pesquisem juntos sobre o tema.

Cuide do seu próprio discurso. As falas dos adultos são vistas quase que como verdades absolutas e, por esse motivo, reproduzidas. Evite, portanto, chavões, não se prenda a respostas genéricas ou pré-conceitos estabelecidos.

Leia livros.Muitos livros de histórias trazem narrativas sobre diferenças, não apenas de inclusão, mas de diversidade social, cultural e de gênero que podem ser lidos e comentados junto com os adultos.

Aproveite os assuntos do momento. Paraolimpíadas, personagens de desenhos, notícias e outros assuntos do momento podem ser aproveitados para falar sobre deficiência com as crianças. 

Amplie o repertório. É interessante escolher animações, filmes ou livros que incentivem a discussão e despertem uma nova forma de encarar a diversidade. 

Definição de pessoas com deficiência

De acordo com a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), são consideradas pessoas com deficiência aquelas que têm impedimentos de ordem física, mental, intelectual ou sensorial que podem dificultar sua participação plena, efetiva e com igualdade na sociedade.

quarta-feira, 11 de maio de 2022

Crianças com deficiência: ainda precisamos falar sobre inclusão

 por Ana Clara Oliveira para o leiturinha.com.br

Segundo pesquisa do IBGE, realizada em 2010, estima-se que 23% da população geral possui alguma deficiência. Além disso, ao menos 7,5% das crianças brasileiras até 14 anos de idade têm uma deficiência diagnosticada. E embora esses números sejam significativos, sabemos que ainda são poucas as pessoas que vivenciam ou conhecem de perto essa realidade.

Esse desconhecimento gera possíveis estigmas e preconceitos que cercam a vida de crianças, adolescentes e adultos com deficiência. Já conscientizar-se sobre a diversidade e a inclusão é o começo de uma sociedade mais empática, solidária e inclusiva para todos nós. Então, vamos conhecer as histórias de pessoas que vivenciam a luta pela inclusão de crianças com deficiência? Confira abaixo alguns depoimentos!

“O essencial é invisível aos olhos”  

Rodrigo Galhardi tem 33 anos e adora estar com a família. Também gosta de sair com os amigos, ir a shows, ler, viajar, ir à praia, fazer trilha e ouvir música. Formado em Administração e pós-graduando em Projetos Sociais e Políticas Públicas, Rodrigo é Assistente Legislativo na Câmara Municipal de Poços de Caldas há 12 anos. Atualmente, também é Diretor de Cultura na Associação de Assistência aos Deficientes Visuais de Poços de Caldas (AADV). Uma entidade sem fins lucrativos, referência na prestação de serviços de reabilitação/habilitação, apoio pedagógico e educacional, social e familiar, para pessoas com deficiência visual.

Rodrigo Galhardi (foto de arquivo pessoal)

Com essa rotina agitada, fica até difícil notar um outro detalhe da vida de Rodrigo. Mas aos nove anos, enquanto brincava, ele caiu e bateu a cabeça, o que acarretou o descolamento de sua retina. Levando-o, desta forma, a perder a visão. A partir daí, Rodrigo e sua família passaram por um momento de adaptação para viver em um mundo que não é preparado para pessoas com deficiência.

Rodrigo conta que sempre teve uma boa interação com os colegas, amigos e família, que procuravam oferecer condições para que ele sempre estivesse inserido no contexto deles e vice e versa. Portanto, as brincadeiras e interações ocorriam naturalmente. Brincadeiras de rua, jogos, entre outras atividades. Sempre com o auxílio e apoio para todos estarem juntos.

Rodrigo acredita que a conscientização sobre a existência e demandas das pessoas com deficiência tem evoluído, mas ainda não é o ideal. É um processo que está em andamento. O desafio maior ainda é romper com a barreira do preconceito e fazer com que a sociedade seja cada vez mais integrativa.

Para enfrentar e superar o preconceito que persiste e insiste em nossa sociedade, Rodrigo diz que o primeiro passo é refletir sobre a limitação de cada um e saber que diferentes todos somos. Quando vemos a limitação e compreendemos cada um com seus aspectos e características, assimilamos de uma forma mais humana, tornando a interação e a inclusão algo natural. Afinal, “a deficiência não define a personalidade ou caráter de ninguém, é apenas um aspecto, uma característica”.

Hoje, Rodrigo realiza palestras em que fala sobre sua vida, conquistas e motivação. Além de como prevenir acidentes, como o que o deixou cego. Para pessoas que não vivenciam essa realidade, Rodrigo deixa um recado:

“Cada um tem uma diferença, alguns explícita e outros implícita. Se entendermos que a sociedade não é homogênea e respeitar a diferença do outro, a harmonia se faz presente e o mundo se torna melhor.”

Leia a matéria completa em leiturinha.com.br 

sexta-feira, 6 de maio de 2022

Educação Inclusiva: escola estadual em Manaus é referência no ensino para alunos com deficiência visual

A EE Joana Rodrigues Vieira é a única unidade de ensino da rede pública do Amazonas a trabalhar, exclusivamente, a educação inclusiva

Por Agência Amazonas

 

Há 30 anos oferecendo um serviço de apoio pedagógico para estudantes cegos e com baixa visão, a Escola Estadual (EE) Joana Rodrigues Vieira é a única unidade de ensino da rede pública do Amazonas a trabalhar, exclusivamente, a educação inclusiva, oferecendo ao aluno deficiente visual, o ensino do braile e do sorobã (instrumento utilizado para fazer cálculos).

A escola recebe alunos a partir de seis meses de idade e, até os 3 anos, as crianças são direcionadas a focar na estimulação precoce, enquanto que os alunos de 4 e 5 anos fazem o pré-escolar, e os estudantes de 6 anos iniciam a alfabetização.

Durante as atividades escolares, os alunos têm todo o conteúdo da grade curricular de uma escola regular, com exceção das crianças de estimulação precoce que precisam ir à escola duas ou três vezes por semana.

A pedagoga Eliete de Menezes conta que a escola realiza um trabalho específico de envolvimento com cada estudante, a fim de auxiliá-lo no seu desenvolvimento individual.

“Nosso maior objetivo é resgatar qualquer resíduo visual que o nosso aluno tenha. A criança, ao chegar na escola, é encaminhada por um profissional, possui laudos e indicações de tratamento, e o nosso objetivo é desenvolver uma série de exercícios que visam o desenvolvimento da criança de acordo com a fase de desenvolvimento em que ela se encontra”, explica a pedagoga.

A mãe do pequeno Levi, de 2 anos, Leane de Oliveira, fala sobre o progresso da criança na escola. “Sem dúvida, eu acho que melhorou bastante no desenvolvimento do meu filho desde quando ele passou a frequentar a unidade escolar, e o melhor de tudo isso é que ele aprende e eu aprendo junto, e passo a realizar as atividades em casa que o estimule para ele ter mais independência ao longo do seu crescimento”, pontuou a mãe.

Exemplo

Professor Paulo Ferreira – FOTO: Eduardo Cavalcante / Seduc

De aluno a professor. Esta é a trajetória de Paulo Ferreira, que aos 13 anos perdeu a visão e passou a frequentar a EE Joana Vieira. Lá, ele teve o suporte para dar continuidade aos seus estudos, onde anos mais tarde retornou como professor.

“Foi a minha família que me trouxe para realizar a matrícula na escola. Aqui me adaptei à minha nova realidade, aprendi a ler em braile e a usar bengala para me deslocar e começar todo o processo das séries iniciais. Depois de ter esse suporte inicial, fui fazer o ensino médio no Instituto de Educação da Amazônia (IEA), onde concluí o Ensino Médio e, por fim, alcancei o tão sonhado vestibular na Universidade Federal do Amazonas (Ufam), onde fui o primeiro aluno cego a passar no vestibular no curso de história”, recorda Ferreira.

O educador relembra a sua trajetória de dificuldades e superação até retornar à primeira escola que o acolheu. “Na faculdade havia muitos professores que não acreditavam que eu poderia concluir os estudos, exatamente por nunca terem trabalhado com um aluno cego, mas eu consegui ultrapassar todas as barreiras, inclusive a de conseguir ser aprovado em um concurso público, onde pude ter a oportunidade de retribuir para a minha primeira escola em que estudei”, frisa o professor.

Contribuição para a comunidade

A gestora da EE Joana Rodrigues, Cláudia Guedes, ressalta que a escola é fundamental para o desenvolvimento dos estudantes com deficiência visual, já que lá eles aprendem a ter a autonomia necessária para serem independentes.

“O papel da escola é de fundamental importância, pois foca na política de inclusão. Quando os pais trazem seus filhos, eles percebem que a escola é preparada para receber esses alunos com aprendizagem e a socialização dos seus pares. Eles conhecem as dificuldades enfrentadas por deficientes visuais e como a escola prepara esses alunos para que, ao serem encaminhados para o ensino regular, eles estejam preparados para a nova fase de ensino”, finaliza a gestora.

quarta-feira, 4 de maio de 2022

Equoterapia muda a vida de crianças com deficiência

 Rodolfo Luis Kowalski para o bemparana.com.br

 

Projeto já atendeu mais de 500 crianças na Grande Curitiba (Foto: Franklin de Freitas)

Apaixonada por cavalos crioulo, Rubia Collect era uma jovem que queria mudar o mundo. Antes que pudesse o fazer, no entanto, um infortúnio: em 2008, quando tinha apenas 17 anos de idade, Rubia faleceu, vítima de um erro médico. Ela se foi, mas seu sonho ficou guardado e acabou sendo descoberto por sua irmã, Rosana, que encontrou um pré-projeto de equitação para crianças escrito pela jovem na página de um dos livros de colégio dela.

A família, que já era envolvida com a filantropia, desenvolvendo projetos de assistência social, resolveu então honrar o grandioso sonho da irmã, homenageando-a. Mudaram-se do município de Castro, nos Campos Gerais do Paraná, para a Região Metropolitana de Curitiba (RMC), onde fundaram, em 2013, a EquoSorriso - Equoterapia e Equitação Lúdica, que desde sua criação já atendeu mais de 500 crianças em São José dos Pinhais.

No início, conta Rosana, o projeto era só de equitação, oferecendo aulas para quem quisesse aprender a andar a cavalo. Até que um dia uma mãe pediu que fosse atendido o seu filho, que tinha deficiência. A partir dali surgia um novo enfoque para o projeto, hoje mais voltado para a equoterapia, efetivamente, do que para a equitação em si.

Atualmente, por exemplo, a EquoSorriso atende 37 crianças que têm os diagnósticos de autismo, síndromes raras e paralisia cerebral. Além deles, também são atendidos idosos que sofreram Acidente Vascular Cerebral (AVC) ou sofrem com a doença de Parkinson e pessoas com ansiedade, depressão e síndrome de burnout.

Com o método terapêutico, que utiliza cavalos numa abordagem multidisciplinar nas áreas de saúde, educação e equitação, os jovens que participam do projeto conseguem aumentar a integração social e fortalecer os músculos, o equilíbrio e a coordenação motora, funcionando como um tratamento complementar para indivíduos com necessidades especiais. E isso tudo acontece, explica Rosana, através do movimento do cavalo, do cavalgar.

“Autismo, por exemplo, as crianças costumam vir com cerca de quatro anos e ainda não tem a formação da dicção, balbuciam muito. Quando começa a equoterapia, o movimento do cavalo faz o maxilar e a atividade cerebral se intensificar. Fazemos também muito estímulo da parte lúdica, para que ele possa falar, soltar as palavras”, explica Rosana. “Com o adulto, um idoso com AVC, por exemplo, trabalhamos a parte fisioterápica. O cavalo leva estímulo para quem está montado. Quanto mais exercícios em cima do cavalo, mais atividade cerebral, que são sinapses”, explica.

Em algumas situações, em que crianças são acometidas por síndromes raras e possuem uma determinada estimativa de vida, o esforço é para dar qualidade de vida aos pacientes. Noutras, o objetivo já é melhorar a capacidade de integração social do paciente.

“Muitas crianças tem receio mesmo, choram no primeiro contato. A primeira sessão geralmente dura meia hora, 40 minutos. Aproximamos a criança do cavalo, ela passa a mão e, em alguns casos, damos alguma coisa para ela dar de alimentação. Fazemos isso uma ou duas aulas. Depois a equitadora sobe com a criança, faz uma montaria dupla, para a criança se sentir segura. Ela se sentindo segura, a equitadora sai e ela fica sozinho no cavalo para começar a andar sozinha”, conta ainda Rosana, que é fundadora e diretora da EquoSorriso.

Muito além da equitação: um centro de potencialização da infância

A EquoSorriso, no entanto, não se limita à equoterapia. Na verdade, o espaço é um centro de potencialização da criança, explica Rosana Collect, desenvolvendo projetos ligados à natureza e utilizando essa natureza em favor da criança. No local, por exemplo, há o projeto Bike Sorriso, que ensina crianças a andarem de bicicleta, já que algumas não conseguem fazer o movimento do pedal (especialmente autistas). Outra iniciativa que está sendo implementada é o Jardim Sensorial.

“É o desperdar dos cinco sentidos das crianças, principalmente paladar e olfato. Muitas crianças não se alimentam direito por causa dos temperos das comidas, tem aversão. No Jardim Sensorial fazemos eles manipular esses temperos, cheirar, pegar, para que tenham memória olfativa, cheguem no prato de comida e não sintam aversão àquilo por causa do cheiro. Eles ficam com ânsia por causa do cheiro e não se alimentam, o que acarreta um monte de coisa: dose do medicamento aumenta, criança emagrece, é um complicador grande”, comenta Rosana. “Temos também uma horta familiar, cada família vai ter um canteiro, vamos fazer eles plantarem e levar pra casa. E a nossa cozinha infantil, cuja ideia é que as crianças tirem a comida da horta e façam a própria comida na cozinha, se alimentando antes de irem para escola”, complementa.

Serviço

Projeto EquoSorriso Equoterapia
O que é: uma iniciativa que utiliza a equitação como uma forma de terapia, garantindo benefícios diversos aos pacientes, melhorando suas condições física, motoras e psicossociais. Participam do projeto jovens autistas e com deficiências, idosos que sofreram AVC (Acidente Vascular Cerebral) ou estão enfrentando a doença de Parkinson e também pessoas que sofrem com ansiedade, depressão e síndrome de burnout. Trabalham com planos de saúde, particular e também atendem gratuitamente pessoas em situação de vulnerabilidade social.

Como funciona: A equoterapia impacta o corpo da pessoa através do movimento do cavalo, do andar dele, o que faz com que a atividade cerebral se intensifique. Isso ajuda crianças com autismo a melhorar a dicção; adultos com síndrome de burnout a ativar os neurotransmissores; e serve ainda como fisioterapia para idosos que sofreram um AVC, por exemplo.

Redes sociais: @equosorrisoequoterapia

Como ajudar: O projeto aceita voluntários atuantes nas mais diversas áreas e também está em busca de investidores sociais, empresas que fazem doação direta na operação. Também aceitam contribuições financeiras de pessoas físicas, doação de móveis, equipamentos de fisioterapia e itens para a criação de um jardim sensorial. Para mais informações, basta entrar em contato via redes sociais ou pelo telefone abaixo.

Telefone: (41) 99753-4439 – Rosana Collect