A retirada da fralda não é tarefa fácil e requer, acima de tudo, muita paciência e persistência. No entanto, é uma etapa muito importante na vida de uma criança, tenha ela a síndrome de Down ou não. Deixar de usar a fralda é um grande passo no desenvolvimento e algo indispensável para a construção de uma vida independente.
A criança com síndrome de Down
provavelmente levará um pouco mais de tempo para deixar as fraldas, mas
tem total capacidade para dar esse passo. Muitos pais acreditam que a
dificuldade de falar pode impedir o desfraldamento, mas existem outras formas de comunicação que podem e devem ser usadas neste e em todos os momentos da vida da criança.
Para o urologista pediátrico Domingos Bica,
criador do Serviço de Urologia Pediátrica do Instituto de Puericultura
Pediatria Martagão Gesteira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro,
embora enfrentem dificuldades por conta da deficiência intelectual,
as crianças com síndrome de Down muitas vezes são subestimadas pelos
próprios pais.
“O que a gente percebe é que os pais que
são estimuladores e acreditam na capacidade dos filhos fazem toda a
diferença. O desfraldamento pode ser um processo delicado, pois a
criança vai urinar ou defecar fora do banheiro até aprender a usar o
vaso sanitário. É uma situação desconfortável, mas os pais precisam
enfrentar o problema”, afirma.Incentivo na medida certa
De acordo com o especialista, a criança sem
deficiência desenvolve mecanismos motores e neurológicos que
possibilitam a retirada das fraldas diurnas por volta de dois anos de
idade e noturnas até os cinco anos. No caso da criança com síndrome de
Down, o processo costuma ser mais demorado e variar de acordo com o
desenvolvimento cognitivo e a estimulação. “A criança muitas vezes não
tem mecanismos para se sentir incomodada por ter urinado na roupa, por
exemplo”. Estratégias como a adoção de rotinas (levar a criança ao
banheiro regularmente) e a imposição de limites costumam trazer bons
resultados.
Entretanto, Bica faz uma ressalva
importante: pressionar a criança para acelerar o desfralde antes da hora
pode trazer problemas futuros. “Vejo pais querendo tirar as fraldas dos
filhos muito pequenos, com um aninho, e isso nem sempre é uma coisa
boa”, alerta. “O controle muito precoce obriga a criança a utilizar um
mecanismo primitivo para controlar o esfíncter, ela aprende errado. Por
isso, pode acabar desenvolvendo uma bexiga neurogênica (problema que
leva a bexiga a se tornar incapaz de contrair, não esvaziando
adequadamente (hipoativa) ou ao esvaziamento constante por contrações
incontroláveis (hiperativa)”.
Atenção à constipação
O especialista também afirma que a criança
com síndrome de Down pode apresentar distúrbios de micção com frequência
maior do que as demais. Por isso, é importante que ela seja avaliada
por um pediatra e, caso necessário, encaminhada a um especialista para
avaliar se é necessário adotar um tratamento com medicamentos ou outras
estratégias para possibilitar o controle do esfíncter.
Outra questão fundamental é avaliar se a
criança apresenta constipação, problema que aparece com relativa
frequência entre pessoas com síndrome de Down. “A criança constipada só
vai sentir as fezes quando a ampola retal está muito estendida. Como as
duas vias correm em paralelo, a bexiga fica imprensada. Isso também
contribui para que ela não tenha a percepção de que está com a bexiga
cheia”, explica.
(Continua)
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