sábado, 13 de dezembro de 2014

O desfralde da criança com Síndrome de Down



A retirada da fralda não é tarefa fácil e requer, acima de tudo, muita paciência e persistência. No entanto, é uma etapa muito importante na vida de uma criança, tenha ela a síndrome de Down ou não. Deixar de usar a fralda é um grande passo no desenvolvimento e algo indispensável para a construção de uma vida independente.
A criança com síndrome de Down provavelmente levará um pouco mais de tempo para deixar as fraldas, mas tem total capacidade para dar esse passo. Muitos pais acreditam que a dificuldade de falar pode impedir o desfraldamento, mas existem outras formas de comunicação que podem e devem ser usadas neste e em todos os momentos da vida da criança.
Para o urologista pediátrico Domingos Bica, criador do Serviço de Urologia Pediátrica do Instituto de Puericultura Pediatria Martagão Gesteira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, embora enfrentem dificuldades por conta da deficiência intelectual, as crianças com síndrome de Down muitas vezes são subestimadas pelos próprios pais.
“O que a gente percebe é que os pais que são estimuladores e acreditam na capacidade dos filhos fazem toda a diferença. O desfraldamento pode ser um processo delicado, pois a criança vai urinar ou defecar fora do banheiro até aprender a usar o vaso sanitário. É uma situação desconfortável, mas os pais precisam enfrentar o problema”, afirma.Incentivo na medida certa De acordo com o especialista, a criança sem deficiência desenvolve mecanismos motores e neurológicos que possibilitam a retirada das fraldas diurnas por volta de dois anos de idade e noturnas até os cinco anos. No caso da criança com síndrome de Down, o processo costuma ser mais demorado e variar de acordo com o desenvolvimento cognitivo e a estimulação. “A criança muitas vezes não tem mecanismos para se sentir incomodada por ter urinado na roupa, por exemplo”. Estratégias como a adoção de rotinas (levar a criança ao banheiro regularmente) e a imposição de limites costumam trazer bons resultados.
Entretanto, Bica faz uma ressalva importante: pressionar a criança para acelerar o desfralde antes da hora pode trazer problemas futuros. “Vejo pais querendo tirar as fraldas dos filhos muito pequenos, com um aninho, e isso nem sempre é uma coisa boa”, alerta. “O controle muito precoce obriga a criança a utilizar um mecanismo primitivo para controlar o esfíncter, ela aprende errado. Por isso, pode acabar desenvolvendo uma bexiga neurogênica (problema  que leva a bexiga a se tornar incapaz de contrair, não esvaziando adequadamente (hipoativa) ou ao esvaziamento constante por contrações incontroláveis (hiperativa)”.
Atenção à constipação
O especialista também afirma que a criança com síndrome de Down pode apresentar distúrbios de micção com frequência maior do que as demais. Por isso, é importante que ela seja avaliada por um pediatra e, caso necessário, encaminhada a um especialista para avaliar se é necessário adotar um tratamento com medicamentos ou outras estratégias para possibilitar o controle do esfíncter.
Outra questão fundamental é avaliar se a criança apresenta constipação, problema que aparece com relativa frequência entre pessoas com síndrome de Down. “A criança constipada só vai sentir as fezes quando a ampola retal está muito estendida. Como as duas vias correm em paralelo, a bexiga fica imprensada. Isso também contribui para que ela não tenha a percepção de que está com a bexiga cheia”, explica.

(Continua)

Nenhum comentário:

Postar um comentário