Depoimento
No texto abaixo, Maria Antônia Goulart, coordenadora do Movimento Down, fala sobre o desfraldamento da filha Beatriz, que começou quando ela completou dois anos e falava poucas palavras. As dificuldades de fala não impediram o processo, que durou12 meses e trouxe ótimos resultados.Começamos a tirar a fralda da nossa filha Beatriz quando ela completou dois anos. Muitos colegas de turma da escola já estavam começando o desfralde e achamos importante que ela vivenciasse esta experiência junto com os demais.Lutamos sempre contra sentimentos que costumam surgir nestes momentos nos levando a pensar que Beatriz não conseguirá fazer as coisas junto com os amigos da mesma idade. Por isto, começar o processo junto com a turma foi muito importante.
Passa a mensagem de que é possível oferecer
às crianças com síndrome de Down as mesmas experiências que oferecemos
às crianças comuns, aguardando que elas nos deem os limites em vez de já
decidir que elas não conseguirão, deixando para depois. Além disto,
tirar a fralda junto com os colegas de sala é muito legal porque ver os
amigos usando o vaso sanitário é mais um incentivo.
A primeira orientação que recebemos da
terapeuta ocupacional é que só se deve iniciar o desfralde quando a
criança já estiver andando há alguns meses. É que andar trabalha a
musculatura da região pélvica, fazendo com que ela comece a exercitar o
controle do esfíncter. Além disto, a postura correta para sentar no
vaso sanitário é com a coluna reta; a coluna curvada trava o esfíncter,
dificultando as saída do xixi.
Outra dica importante que seguimos à risca é
a de que uma vez iniciado a processo, as fraldas devem ser banidas!
Toda aprendizagem se dá pela repetição. A criança repete cada ação
várias vezes esperando para ver se a reação será a mesma ou se será
diferente.
Se num determinado dia ela deve usar o vaso
sanitário e no outro ela usa a fralda, a criança passa a ter
dificuldade de entender qual é o comportamento que se espera dela. Como
pode ser tão importante usar o vaso sanitário se ela não o faz todas as
vezes? Conversei com várias mães que mantiveram a fralda para ir a
festas ou andar de carro, receosas dos efeitos das escapadas de xixi, e
nestes casos o desfralde foi muito mais demorado.
Uma vez iniciado o processo, Beatriz só
usava fralda para dormir. Durante o dia, seja qual fosse a programação,
ela usava calcinha. Mas não pensem que esta decisão é fácil. Foi preciso
conversar e pedir apoio a todos que convivem com Beatriz. Na escola,
houve dias em que Beatriz trocou de roupa quatro vezes, o que significa
que todos os xixis foram na roupa. Meu carro também foi batizado e, é
claro, os colos meu, do pai, das avós, da dinda e da babá!
Sempre colocamos Beatriz no vaso sanitário antes de sair de casa,
mesmo que ela não demonstre que deseja fazer xixi. Mas sempre
perguntamos a ela antes e explicamos que mesmo quando a pessoa não está
com vontade, deve tentar fazer xixi antes de sair. Algumas vezes ela
fazia, mas em outros casos ela não fazia no vaso sanitário e cinco
minutos depois escapava na roupa. É normal que o xixi escape neste
início e devemos estar preparados para lidar com isto. (continua)
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