quarta-feira, 14 de setembro de 2016

O que é Autismo? Síndrome de Asperger, Angelman, XFrágil, Rett, Hiperlexia e outros? - Parte V

Hiperlexia e a chave para o sucesso


A partir dos parâmetros dados pela Associação Americana de Hiperlexia, uma criança pode ser diagnosticada como hiperléxica se possui as seguintes características:
  • uma precoce habilidade para ler, mais do que poderia ser esperada para sua idade;
  • o desenvolvimento de uma intensa fascinação por letras e números;
  • uma significativa dificuldade para compreender a linguagem falada;
  • dificuldades em suas habilidades sociais.


Ademais podem demonstrar aprender a linguagem oral de forma peculiar, com fenômenos de ecolalia e memorizando as orações sem compreender seu significado, uma intensa necessidade de manter rotinas, uma hipersensibilidade auditiva, olfativa e táctil, e muitas vezes parecem surdas.

Embora as crianças hiperléxicas possuam padrões comportamentais muito similares ao quadro de autismo, entre dois e três anos de idade tendem a perder estas características autistas, à medida que desenvolvem suas habilidades de linguagem. Daí a aproximação que é feita por alguns autores entre a hiperlexia e o transtorno de Asperger, que por sua vez é considerado um autismo brando de alto funcionamento.


Definição, sintomas, comportamento


Hiperlexia - esta é a palavra que define uma síndrome, ou seja, um conjunto de sintomas, presente em crianças que mostram transtornos em determinadas áreas do seu desenvolvimento.


Leitura precoce

Não é raro que as crianças hiperléxicas leiam as palavras de cabeça para baixo, ou em qualquer posição. Geralmente é entre os 18 e os 24 meses que as crianças hiperléxicas demonstram capacidade para identificar letras e números.

Por volta dos três anos, começam a ver as letras reunidas, formando palavras, não importando em que contexto apareçam, nem que aspecto tenham; datilografadas ou manuscritas, maiúsculas ou minúsculas, a criança reconhece. É bem provável que, ainda sem ter desenvolvido a capacidade de falar, sem dominar a linguagem oral usada por outras crianças da mesma idade, ela já esteja lendo palavras e frases.

Isso não é ensinado. A capacidade de ler, simplesmente aparece e fica. Do reconhecimento da palavra escrita, a criança, sem prévia instrução fonética, evolui para se interessar pelas sílabas que a compõem. Ela aprende a decifrar, a decodificar palavras.

Algumas crianças atingem alto nível visual, instantâneo, e raramente erram a pronúncia, mesmo de palavras difíceis. Outras crianças continuam a reconhecer as palavras pela forma, ou usam uma combinação de decifração fonética e reconhecimento visual.

Geralmente, se uma criança começa a ler sem receber lições antes dos cinco anos, isto é considerado leitura precoce e pode significar hiperlexia. As crianças hiperléxicas não têm, todas, igual capacidade de ler, algumas lêem aos dois anos outras só aos quatro. A compreensão também varia, mas todas reconhecem as palavras em nível muito superior ao que se poderia esperar de um pré-escolar.


Leitura compulsiva

Para uma criança hiperléxica, o nível do reconhecimento de palavras isoladas é um, e outro é o nível de compreensão de palavras agrupadas, formando conceitos.

As crianças hiperléxicas lêem tudo que seus olhos encontram em forma de letra. Pode ser difícil conseguir que fiquem sentadas por algum tempo, lendo histórias infantis, mas lerão qualquer outra coisa que lhes apareça. Elas, simplesmente, não podem evitar isso, pois os estímulos visuais são muito do seu agrado, principalmente sob a forma de letra.


Conduta social atípica e inflexível

Enquanto outras crianças estão começando a falar e descobrindo na linguagem um meio de comunicação com seus pares, as hiperléxicas estão por fora! Elas não têm interesse social no mesmo nível que pode ser notado em outras crianças, se colocadas em ambiente social, demonstram não possuírem as qualidades requeridas para interação em grupo.

Uma criança pode ser muito geniosa sem que isso nada tenha a ver com a hiperlexia, mas o que se ressalta é que, nas crianças hiperléxicas, o "mau gênio" é ainda mais forte e as explosões podem ser bem mais duradouras. As situações constrangedoras podem ocorrer por conta da inflexibilidade, típica das crianças hiperléxicas, que se julgam com o direito ao comando das decisões, mas também pode ter raízes na circunstância de aquelas crianças não entenderem os fatos correntes, nem saberem o que se esperam que elas façam.

É a limitação da sua linguagem que determina a sua conduta. Desde que não entendem o que dizem às pessoas, procuram assumir o controle da situação. A reação que têm contra a confusão, a frustração e a insegurança - que sentem sem poder exprimir - é comportarem-se de um modo que abala a estabilidade de todos!


Apego à rotina e desligamento da realidade

Para as crianças hiperléxicas, qualquer mudança é algo muito difícil. Quando for necessário introduzir alguma modificação na rotina, é importante preparar a criança para isso.

A criança hiperléxica parece pensar que vive num mundo somente seu. É perigoso se ter confiança para deixá-la sair com um grupo numa excursão, por exemplo, ou ser deixada na rua sem vigilância, mesmo perto de casa.

Pequena capacidade de atenção

A capacidade de atenção das crianças é pequena, e menor ainda nas hiperléxicas. Em certos casos, manter concentrada em um determinado assunto por mais de alguns instantes é um desafio realmente sério para seus pais e professores.

Com frequêcncia, a criança desvia a atenção para outro objeto, deixando de lado as tarefas que lhe são propostas, uma após a outra. Por outro lado, se o assunto for de sua própria escolha, algumas crianças hiperléxicas serão capazes de lhe dedicar atenção por longo tempo. É o que acontece, por exemplo, quando assistem a programas de televisão ou a gravações em vídeo, e isto ocorre do constante estímulo visual que recebem.

Melhora na linguagem: a chave para a ajuda

Há outros procedimentos que também são comuns em crianças hiperléxicas: atitudes de auto-estímulo, tais como, agitar as mãos, bater a cabeça, torcer coisas; sensação geral de ansiedade inexplicada; temor específico a alguma coisa fora do comum; sensibilidade a barulho, frequentes acessos temperamentais.

Muitas crianças apresentam esses sintomas entre os 2 e 3 anos, e parecem ser autistas. Entretanto, melhorando a linguagem (compreensão e expressão), a conduta autista diminui ou desaparece.

Deve ser lembrado que a hiperlexia é um distúrbio de linguagem, não um distúrbio de conduta. A medida que pais, professores e terapeutas desenvolvam estratégias para melhorar a linguagem e ajudar a criança a entender o que se passa em torno de si, ou o que se espera de si, ela fica menos ansiosa, mais flexível, mais interativa.

A chave para o sucesso


Os pais da criança e qualquer adulto que tenha contato regular com a mesma, devem lembrar-se sempre deste princípio: O desenvolvimento da linguagem é a chave para destrancar uma criança hiperléxica.

Estratégias e limites

Devemos refletir bem sobre o que ensinar e como ensinar a uma criança hiperléxica. Encontrar o vínculo criativo entre brincar e aprender é um desafio diário. Como os interesses mudam e as necessidades cognitivas também, você tem que estar sempre à procura de novos meios de ligação entre a diversão e o ensino.

Respeite, porém, os limites e não exija da criança mais do que ela pode dar. Gradualmente, tente esticar o período de tempo em que a criança esta se envolvendo com o mundo à sua volta, mas aceite a retirada quando ela precisar de uma trégua.

Inteligência e capacidade de aprendizagem

A inteligência não é prejudicada pela hiperlexia. O teste adequado geralmente mostra que as crianças têm, no mínimo, uma inteligência normal.

Embora por métodos não usuais, os hiperléxicos aprendem e isto é importante ter-se em mente. É necessário conhecer sua maneira singular de aprender, e então usá-la para transmitir os conceitos que eles não aprenderem pelos métodos comuns. As crianças hiperléxicas captam rapidamente novas idéias, se os conceitos forem apresentados na forma apropriada, ou seja, adaptada às suas condições psicológicas e à sua maneira de entender. Você poderá ter que usar métodos não usuais, mas as crianças aprenderão.

É preciso também levar em conta ao máximo os interesses da criança. Por exemplo, se ela reage bem a anúncios comerciais musicados, ponha as tarefas da escola na música desses anúncios. Se gosta de dinossauros, ponha dinossauros nos seus exemplos. Em lugar de insistir para que a criança se adapte aos padrões normais de ensino, observe como é que ela aprende e use esse método quando lhe for ensinar algo de novo.

Leitura e estilo de aprendizagem

A fenomenal capacidade precoce de leitura é extremamente favorável à criança hiperléxica. Uma ótima estratégia para liberar sua linguagem será usar a leitura como instrumento, não só para desenvolver qualquer aprendizagem, como para disciplinar a conduta. A palavra escrita é concreta, enquanto a palavra falada voa antes que a criança possa perceber o seu significado. A palavra escrita permanece num só lugar e permite que a criança olhe por quanto tempo seja necessário até descobrir o que ela expressa.

Cotidiano e rotinas

As crianças hiperléxicas são as pessoas de hábitos mais conservadores que podem existir. Gostam das coisas sempre da mesma forma. Eles procuram sempre padronizar as situações: o caminho para o mercadinho tem que ser apenas um, a seqüência da história na hora de dormir deve ser sempre a mesma, o programa da televisão não deve mudar, como também não pode variar o número de casas em que o ônibus escolar deverá parar.

Assim, como a linguagem deles é feita em blocos que não se partem , a conduta tende a seguir o mesmo princípio. A criança hiperléxica prefere a segurança do que lhe é familiar; isto pode levá-la a opor resistência à professora quando lhe parecer que ela pretende mudar seu comportamento.


Linguagem e conduta

Linguagem e conduta são temas que precisam ser tratados de maneira muito específica. É importante entender-se que as crianças hiperléxicas não captam muito do meio ambiente como outras crianças, mas se receberem demonstrações com modelos visuais, contarão com a vantagem da sua poderosa memória.

Professores e terapeutas de crianças com sintomas de hiperlexia confirmam que a melhora da linguagem faz a melhora da conduta. Mas como pular a barreira da linguagem para chegar à conduta?

Faça a criança sentir-se segura. A criança ameaçada ou assustada agirá por reflexos, não por pensamento consciente. Um afago, então, pode ser mais eficaz do que uma reprimenda, para afastar uma explosão temperamental. Evite palavreados e procure descobrir porque a criança está insegura.

Às vezes a insegurança decorre apenas de um encontro da criança com algo diferente, fora da rotina. A criança hiperléxica deve ser preparada para mudanças físicas ou novas experiências, antes que elas ocorram.

Outras vezes, mais frequentes, você terá que agir diretamente sobre as condições ambientais. Você poderá precisar retirar a criança do ambiente estressante (um recinto barulhento ou superlotado), ou, simplesmente, remover daquele recinto o que estiver perturbando. Quando a criança lhe parecer calma e segura, então poderá ser viável dar-lhe uma explicação.


Aprendizagem concreta e simbólica

As crianças hiperléxicas fixam-se no simbólico desde o início. Elas aprendem a ler antes de saberem falar. Com os bloquinhos de construção, em vez de erguerem torres, formam letras. Se olham para o suporte da mesa, vêem um H. Essas crianças precisam ser conduzidas à fase mais elementar dos jogos, para pegar experiência concreta, que geralmente pulam. Não tendo descoberto a relação causa/efeito, por exemplo, através de jogos, elas precisam que lhes seja mostrado, visual e intencionalmente, que uma coisa traz a outra. Que elas voltem a subir em árvores, a fazer coisas simples. Que não se fixem no simbólico, deixando de lado a formação de aptidões concretas.

Ajude a criança a dominar as aptidões que envolvem tocar e sentir o mundo real. Enquanto outras crianças podem descobrir conceitos por si mesmas, a criança hiperléxica precisa de demonstrações concretas. Se uma criança puder processar os estímulos que recebe do mundo físico ao seu redor, sua ansiedade diminuirá e a verdadeira aprendizagem começará. Então o problema do desenvolvimento da linguagem poderá, realmente, ser enfrentado.


Ensinando ao hiperléxico

As crianças hiperléxicas têm processos incomuns de aprendizagem, não há dúvida. A compreensão desses processos nos dará apoio para encontrarmos a maneira efetiva de transmitir a elas conhecimentos de linguagem e conceitos abstratos. Atuar sobre os hiperléxicos com a força da própria hiperlexia será a melhor maneira de ajudá-los a descobrir a linguagem e o prazer de usá-la. Você terá que deixar de lado tudo o que já souber a respeito de como as crianças aprendem a linguagem em geral, e fixar-se em como aprende a sua criança; este será o seu ponto de partida.

Pais e terapeutas já descobriram muitas maneiras, criativas e eficazes, para vencerem as barreiras que se opõem ao desenvolvimento da linguagem. A estratégia se processa em três fases:
  • Forme a sua compreensão do estilo de aprendizagem do hiperléxico;
  • Ouça e observe para sentir que falhas há no desenvolvimento de sua linguagem;
  • Crie atividades concretas e específicas que utilize o estilo pessoal da criança;
  • Escreva, escreva, escreva... porque a criança lerá, lerá, lerá.

Se você tem contato frequente com uma criança hiperléxica, você sabe que não adianta dizer-lhe vezes e vezes seguidas a mesma coisa. As crianças hiperléxicas em idade pré-escolar não entendem tudo o que lêem em um livro, numa revista ou num rótulo de uma caixa de cereais, mas se você escrever sentenças claras, do nível de sua compreensão, você observará que elas prestarão mais atenção às suas letras do que à sua voz.

Não espere que a criança chegue ao 1º. grau para fazer uso da sua capacidade de leitura. As instruções por escrito podem constituir uma estratégia básica, aplicável em dezenas de maneiras.


Convivência e linguagem oral

Dois grandes benefícios derivam do inter-relacionamento de crianças normais com hiperléxicas: estimula-se o uso da linguagem oral e desenvolve-se a capacidade de interações.

A criança com aptidão comum de linguagem é, para a criança hiperléxica, um modelo constante de tagarelice. Embora estejam em campo de diferentes padrões de linguagem, a criança hiperléxica presencia os irmãos e os amiguinhos usando uma linguagem funcional. Mesmo quando em desacordo, zangados, gritando a plenos pulmões, estarão falando, estarão usando linguagem verbal.

O contato com outras crianças levará a hiperléxica a perceber o uso prático da linguagem como um meio de comunicação. Haverá, então, muitas oportunidades para que os adultos a estimulem a usar suas próprias palavras, ao desejarem pedir algo, ou dizer o que sentem em determinado momento.

Mesmo sem entender em detalhes as características da hiperlexia, as outras crianças, pelo convívio diário, acabam sabendo o que podem esperar da criança hiperléxica e acham meios para se relacionarem com a mesma. Há impactos pelo caminho, mas no seio da família ou entre bons amigos geralmente o equilíbrio se restaura.

Um membro hiperléxico não corta laços de família, não desfaz amizades, não dispensa o sentimento de solidariedade entre as pessoas.


Ensino e inclusão escolar

As professoras precisam fazer alguns ajustes no currículo escolar, para a criança hiperléxica. Algumas são mais prestimosas do que outras para essa tarefa que requer atenção especial quanto a alguns pontos, como: lotação da sala de aula, intensidade no programa de desenvolvimento da linguagem, flexibilidade do programa de modo geral.

Idealmente a sala de aula não será grande, mas também não deve ser muito pequena. É importante que a criança hiperléxica tenha coleguinhas em número significativo, para que possa aprender a ser parte de um grupo e observar a interação social de outras crianças; se a classe for muito numerosa a criança hiperléxica poderá se sentir sobrepujada e expressar esse sentimento através de conduta desagradável. Ademais, em classe numerosa, professora e auxiliares disporão de pouco tempo para fazer o que for necessidade exclusiva da sua criança, como ter que escrever tudo que bastaria ser dito oralmente.

Sugestões têm surgido para a criação de salas de aula destinadas a hiperléxicos em razão da sua conduta indócil. Não é uma colocação apropriada, dado que os problemas de conduta da criança hiperléxica estão ligados à linguagem. Talvez um ambiente exclusivo, ou predominantemente de hiperléxicos, não proporcionaria facilidades para a abordagem natural do problema, que seria, justamente, proporcionar a convivência de crianças hiperléxicas e crianças não hiperléxicas.

A chave do sucesso encontra-se com frequência nas classes comuns ajudadas pelos serviços auxiliares; a criança pode ter assistência de um fonoaudiólogo, um professor especialista em dificuldades de aprendizagem, um professor de reforço ou um assistente social. A professora da classe trocando idéias com essas pessoas também receberá ajuda.

Fonte: bengalalegal.com/hiperlexia

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