Antes das terapias, assim que o Bê tinha completado dois anos, já chegamos a ir ao casamento de uma de minhas melhores amigas e só esperar para vê-la entrando na igreja e ir embora em seguida, pois não havia a menor condição de estar com ele naquele ambiente. Era exaustivo demais, em todos os sentidos. Quando a noiva fez sua bela entrada eu já havia ficado pelo menos meia hora correndo atrás dele sem parar um minuto (de salto alto) e estava no limite de cansaço. Não havia a menor condição de tolerar uma celebração e menos ainda uma festa. Sendo assim, precisamos voltar para casa. Não era raro que, ao sair de casa, o Bê simplesmente não parasse de correr.
A fase em que o Bernardo estava com fixação em pegar canudos foi a mais complicada. Além do constrangimento óbvio, sair com ele estava passando a se tornar cada vez mais cansativo. A gente não conseguia sentar e conversar com as outras pessoas. Até aí tudo bem, essa é a realidade de todo mundo com filhos pequenos, mas houve situações de estarmos em um lugar em que havia outras crianças e brinquedos e mesmo assim ter que passar o tempo todo nos revezando correndo atrás do Bê e evitando que ele tirasse os canudos dos copos das pessoas, pois este era o único interesse de nosso filho.
Nunca fui de importar com a opinião dos outros no que se refere a mim, mas o que envolve o Bernardo é diferente. Os olhares recriminatórios vindo de alguns pais como se meu filho simplesmente fosse uma criança mal educada e eu fosse uma frouxa e não estivesse me esforçando o suficiente começaram a me irritar. Nessa fase, em qualquer evento social eu passava grande parte do tempo pedindo desculpas a estranhos pelo comportamento dele e isso me incomodava tanto que por um tempo praticamente paramos de sair de casa.
Nunca fui de importar com a opinião dos outros no que se refere a mim, mas o que envolve o Bernardo é diferente. Os olhares recriminatórios vindo de alguns pais como se meu filho simplesmente fosse uma criança mal educada e eu fosse uma frouxa e não estivesse me esforçando o suficiente começaram a me irritar. Nessa fase, em qualquer evento social eu passava grande parte do tempo pedindo desculpas a estranhos pelo comportamento dele e isso me incomodava tanto que por um tempo praticamente paramos de sair de casa.
Hoje, os tais olhares recriminatórios que descrevi raramente me incomodam. Já me considero calejada e de forma alguma deixo de levar o Bernardo em algum lugar para evitar olhares atravessados (e ninguém sabe mais sobre tolerar tais olhares do que uma mãe de criança com autismo quando leva seu filho ao salão para cortar os cabelos). E não vejo como ser diferente, por mais que seja difícil. Para as pessoas aceitarem a diferença, elas precisam enxergá-la e isso não acontece quando os próprios pais não incluem o filho nos ambientes sociais frequentados por eles.
Atualmente, muitas pessoas se espantam pelo fato de que eu e meu marido levamos nosso filho conosco a todos os lugares (a primeira festa que fomos à noite, sem ele, foi este mês!) e dizem algo do tipo “meu filho também tem autismo e isso seria impossível lá em casa.” De forma alguma estou negando o fato evidente que cada caso é um caso e nem pregando que os pais devem impor ao filho que este permaneça em locais insuportáveis para ele, mesmo porque sabemos o quanto que o excesso de estímulos pode ser penoso para algumas pessoas no espectro.
Expor a criança a ambientes aversivos não é o caminho, mas desistir de sair com ela de casa também não pode ser! Nossas premissas aqui foram em primeiro lugar, a de que “onde não cabe nosso filho, não nos cabe” e a segunda a de persistir sempre. Se hoje, levar nosso Bê a restaurantes é algo fácil e corriqueiro, isso só foi possível porque continuamos a levá-lo quando era difícil. E mais uma vez. E outra. E mais outra. Devagar e sempre.
Um grande abraço e até a próxima!
Érika Andrade, mãe do Bernardo, Psicóloga e administradora do instagram @maternidadeazul.
Fonte: http://criancaesaude.com.br/
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