Obviamente, a vida tratou de mudar esses planos. Fui pai pela primeira vez não aos 20, mas aos 34, bem mais maduro – tenho certeza de que foi melhor assim. Bernardo me deu toda a felicidade que eu sempre havia sonhado em relação à paternidade. Mas me ofereceu também um desafio que eu nunca havia pensado que enfrentaria: ser pai de um menino com síndrome de Down.
Recebemos a notícia logo após o parto. Os exames pré-natais não haviam indicado a síndrome. Claro que foi um choque. Mas não mudou em nada o amor instantâneo que um pai sente pelo filho assim que nasce.
Em pouco tempo li tudo o que podia a respeito da síndrome de Down. Fiz novas amizades por conta disso. E o mais importante: abri meus olhos para as pessoas com deficiência, de qualquer tipo, não apenas Down. Antes elas talvez passassem despercebidas à minha frente. Assim como a falta de uma rampa, ou a falta de política inclusiva nas escolas. Não mais. Passei a enxergar todas as pessoas. E os problemas que elas enfrentam. Bernardo me deu de presente óculos invisíveis para ver o mundo de outra forma. Agora, luto para que outras pessoas também vistam esses óculos. Não sei se um dia serei tataravô, mas pelo menos estou vendo tudo melhor.
P.S.: Um ano e sete meses depois do Bê, eu e Marina tivemos nosso segundo filho, o Francisco. É um doce de menino. Ele e Bê brincam muito juntos. E o Chico, tenho certeza, nem vai precisar desses óculos especiais. Está crescendo em uma família inclusiva e não vai sofrer com a miopia da exclusão.]
Fernando Paiva é pai de Bernardo, de 4 anos, e de Francisco, de 2 anos. Fernando é Jornalista, Escritor e Compositor, e participa do grupo Acolhedown, iniciativa do RJDown, apoiada pelo Movimento Down.
Foto: arquivo pessoal
Fonte: movimentodown.org.br
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