Tenho certeza que essa experiência me fez ser uma profissional mais sensível e muito melhor. Quando você sabe, na prática, o que é despencar em outro bairro com uma criança no colo, aguardar, voltar de ônibus (não dirijo), andar muitos quarteirões na volta até a escola, despender uma manhã inteira para um atendimento de meia hora, isso faz com que nos momentos em que você é o profissional, o olhar para o usuário que está à sua frente para um atendimento mude.
Posso dizer que o SUS para nós de certa forma foi uma grata surpresa porque eu imaginei que tudo seria demorado e extremamente burocrático e não foi! Procuramos a médica da Unidade de Saúde do nosso território de posse com os relatórios médicos do Bernardo e o encaminhamento para a rede complementar foi quase que imediato!
Apesar disso, minha grande crítica é sobre o fato de muitas vezes as famílias não possuírem direito de escolha no que diz respeito a manutenção de uma abordagem considerada, por eles, adequada para nortear o tratamento dos filhos. No nosso caso, durante o tempo em que acessamos o SUS, optamos por ser acompanhados apenas por uma profissional, devido ao fato dos outros ofertados seguirem uma linha que não foi a escolhida por nós.
Sei que, em muitas das vezes, fazer mínimas críticas a determinadas abordagens é mexer em uma caixa de marimbondos porque qualquer discordância é tomada como simples “resistência”. Entretanto, enquanto mãe, tenho direito de escolher para o meu filho o que acho mais adequado sem ter que me desculpar ou me justificar por isso. Fico triste pelos pais que não conseguem manter os profissionais desejados e precisam aceitar o que o SUS oferta, gostando ou não, simplesmente por não terem outra opção, especialmente quando a esmagadora maioria segue a mesma linha teórica. Falta opção para os que não compartilham dela.
Deixando claro que, de maneira alguma estou dizendo que o que o governo oferta é o suficiente (porque está longe de ser), mas muitos pais dizem que nada existe sem ao menos procurar conhecer a rede e o que ela tem a oferecer, mesmo que a oferta seja insuficiente para suprir a demanda de atendimentos da criança. Isso não significa que os pais devem se sentir obrigados a manter toda a equipe da rede pública para acompanhar o filho, mas não podemos nos esquecer de que o custo de se manter todas as terapias particulares pode se tornar, em longo prazo, inviável para grande parte das famílias.
Se, buscando a rede pública, os pais optarem em manter um único profissional, isso já irá desonerar bastante e permitir investimento nos outros profissionais oriundos das áreas onde eles não encontraram boas opções no SUS. Essa é minha sugestão: Estar aberto e não descartar sem conhecer. Você pode se surpreender e encontrar bons profissionais, como eu encontrei.
Érika Andrade, mãe do Bernardo, Psicóloga e administradora do instagram @maternidadeazul.
criancaesaude.com.br
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