Por Erika Longone
Várias são as polêmicas existentes acerca da inclusão da pessoa com deficiência na classe comum de ensino, sobretudo quando falamos da deficiência auditiva. Essa dificuldade ou impossibilidade de perceber através da via auditiva os sons da fala provocou e ainda provoca inúmeras discussões no campo educacional. Alguns importantes documentos que versam sobre o direito de inclusão da pessoa com deficiência em salas comuns de ensino, como a Lei de Diretrizes e Bases de 1996 e a Declaração de Salamanca de 1994, consideram o aluno com deficiência auditiva uma exceção possível no processo de inclusão nas classes comuns das redes de ensino, uma vez que tais alunos necessitam de adaptações comunicativas, como a Língua Brasileira de Sinais, para que eles possam acompanhar o que é dito em sala de aula. Mas o meu questionamento é, será que o simples fato dos professores conhecerem a Língua Brasileira de Sinais é suficiente?
No meu ponto de vista, a escolarização do aluno com deficiência auditiva vai muitíssimo além da língua, se assim fosse não teríamos ouvintes normais com dificuldades de aprendizagem! A escola comum precisa propor ações que façam sentido para as crianças em geral e que possam ser compartilhadas com os alunos com deficiência auditiva. Isso vai muito além da língua a ser utilizada, os alunos com deficiência auditiva necessitam de ambientes educacionais estimuladores, desafiadores de seus pensamentos e de suas capacidades.
Acredito que ambientes educacionais estimuladores promovem a liberdade de escolha dos alunos e estimula a busca pela procura de novos caminhos e formas de convivência para a vida em coletividade, dentro e fora do ambiente escolar. Olhando por esse prisma, como seria atuar com alunos com deficiência auditiva em uma escola que valoriza as diferenças? Seria esse o caminho para trocarmos a escola excludente especial por uma escola de fato comum e includente e não uma escola excludente comum?
Outra importante reflexão se faz necessária. Quais são as adaptações ou processos curriculares necessários para promover a inclusão da pessoa com deficiência auditiva em ambientes educacionais comuns, aberta a todos e por isso verdadeiramente inclusiva?
Muitos questionamentos acerca da inclusão nos remetem a idade em que a inclusão educacional deve ocorrer. Particularmente acredito na inclusão desde o ensino infantil até o ensino superior. O contato precoce com as diferenças certamente terá como resultado final adultos tolerantes e abertos a aceitação do outro. Além disso, a inclusão precoce estimula o uso dos recursos que os alunos com deficiência auditiva necessitam para ultrapassar as barreiras impostas pelo processo educacional e com isso poderão fazer uso consciente de seus direitos escolares e exercerão sua cidadania.
Outro fator que merece atenção são as salas de Atendimento Educacional Especializado, as salas de Recuso. Nesse ambiente as crianças serão assistidas individualmente ou em grupo em período contrário ao da escola, e serão estimuladas com materiais pedagógicos diferenciados visando a superação das dificuldades de aprendizagem. Tais salas são de fundamental importância e garantirão a aprendizagem dos alunos com deficiência auditiva.
Portanto, quanto ao questionamento “é possível a inclusão de pessoas com deficiência auditiva na escola comum de ensino” a minha resposta é “claro, mas é uma questão muito maior que colocar crianças com diferentes características em um mesmo ambiente, precisamos mudar políticas públicas, precisamos quebrar paradigmas educacionais e, mais que tudo, precisamos exercer e ensinar a todas as crianças a exercerem sua cidadania”.
Fonte: Vida+Livre
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