Por Folhapress: Andreza de Oliveira, Felipe Nunes e Claudia Cristiane de Araújo
A empresária Patricia Falquete, 42, tem tido dificuldade para manter o filho, Leonardo, 7, que tem autismo, em escolas públicas da sua cidade, São José do Rio Preto (interior de São Paulo).
Desde maio, ela vinha sendo convocada para buscá-lo mais cedo sob a justificativa da falta de funcionários para acompanhar o filho. “Mãe de criança com deficiência não tem um dia de paz”, diz.
Apesar das dificuldades encontradas por Patricia, a inclusão de alunos com deficiência em colégios convencionais tem apoio de 80% dos brasileiros, de acordo com levantamento do Datafolha.
Em São José do Rio Preto, as escolas de ensino público dispõem de estagiários para ajudar professores com alunos que têm deficiência. Patricia diz ter sido avisada pela direção da escola que três estagiários da unidade haviam pedido demissão.
Em 15 de junho, ela se reuniu com a Secretaria de Educação da cidade para que o filho voltasse à escola, e a prefeitura disponibilizou um profissional de apoio para a criança.
Em nota, a Secretaria de Educação do município disse que o caso da mãe é isolado e que ocorreu em uma semana em que diversos profissionais da unidade foram afastados por motivos de saúde. O departamento ainda afirmou que uma apuração foi aberta para averiguar a postura adotada pela direção da escola.
Joyce de Melo Dias Galvão, 23, e Gustavo Henrique Silva do Nascimento, 24, pais de Christian, 3, tiveram que trocar o menino de colégio, após o diagnóstico precoce de transtorno do espectro autista. Ele estudava em instituição privada no Butantã, em São Paulo.
“O colégio tinha uma boa estrutura, mas não tinha um cuidado com relação à condição do Christian”, diz Gustavo.
A criança se adaptou bem à nova escola, também particular, em São Bernardo do Campo (Grande São Paulo). “Ele fica mais tranquilo e está aprendendo a fazer coisas que não tinha desenvolvido na outra escola, como acenar com a cabeça quando entende alguma coisa.”
Segundo Luciana da Cruz Nogueira, professora de psicologia da educação e chefe do departamento de Educação Especial do campus da Unesp em Rio Preto, a inclusão só traz benefícios. “Nessas duas décadas em que foi efetivada a política de educação especial, temos pesquisas em que vemos o quão famílias, alunos deficientes e não deficientes se beneficiam.”
Vera Cappelini, presidente da comissão de inclusão e acessibilidade da Unesp, concorda. Ela cita o exemplo de alunos com síndrome de Down que, há cerca de 30 anos, iam a escolas para pessoas com deficiência. “Biologicamente, a síndrome de Down é a mesma, mas a crença que tinham sobre as crianças com a deficiência naquela época era diferente.”
Para ela, a confiança na capacidade desses alunos é decisiva para mudar o conceito de desenvolvimento humano, que não é só biológico, mas também cultural. “Melhorou, mas ainda temos muito que melhorar. E não adianta colocar esses alunos na classe comum e ignorar a deficiência.”
De acordo com Rodrigo Hübner Mendes, fundador do Instituto Rodrigo Mendes, o atual governo tem encampado retrocessos na inclusão de alunos com deficiência em escolas regulares. O exemplo mais emblemático foi um decreto presidencial, de 2020, que propunha a retomada do modelo de escolas segregadas. Após protestos de entidades que defendem a educação inclusiva, o decreto foi suspenso pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
“Os últimos ministros têm demonstrado uma visão extremamente anacrônica, preconceituosa, de certa forma destruidora do que foi conquistado, o que confunde ainda mais as famílias”, diz.
Segundo ele, a restrição de convívio é extremamente prejudicial. “A criança precisa ser desafiada para que ela explore o seu potencial e seja constantemente estimulada num ambiente de diferença, que é um reflexo da sociedade.”
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