Abordagem existe há 40 anos. Apae de São Paulo tem espaço para crianças com autismo, Síndrome de Down, desordens neuromotoras ou transtornos sensoriais ainda sem diagnóstico aprenderem a compreender informações do dia a dia. Meta é fornecer estímulos ao desenvolvimento neuropsicomotor para possibilitar a organização de sensações. Sessões semanais duram 30 minutos.
Luiz Alexandre Souza Ventura para o brasil.estadao.com.br
Projeto pode ser replicado, mas é necessário profissional com formação específica. Imagem: Divulgação
Integração sensorial é a organização das sensações para uso no dia a dia. Quando nosso cérebro envia informações organizadas e adequadas, somos capazes de realizar tarefas de forma eficaz, mas quando essas informações chegam desorganizadas, temos dificuldade em ordenar nossas sensações. Tal dificuldade é conhecida como transtorno de processamento sensorial.
Para crianças que convivem com Transtorno do Espectro Autista (TEA), Síndrome de Down, desordens neuromotoras ou que apresentam transtornos sensoriais ainda sem diagnóstico confirmado, a falta de entendimento sobre as próprias sensações pode comprometer o desempenho em atividades diárias, na escola e no convívio social, prejudicando a evolução dessa pessoa.
Um tratamento aplicado pela Apae de São Paulo desde 2016, em sua Sala de Atendimento de Integração Sensorial, tem mostrado resultados positivos. “A abordagem de integração sensorial existe há 40 anos. Como todas as habilidades e sensações da criança são desenvolvidas por meio de brincadeiras, o principal objetivo da sala é promover atividades adequadas às possibilidades e necessidades infantis”, explica Renata Nogueira Capeto Tupicanskas, terapeuta ocupacional na instituição.
O projeto foi idealizado por uma equipe técnica composta por terapeutas ocupacionais e fisioterapeutas. Instituições interessadas podem replicar em suas instalações, mas é necessário um profissional com formação em abordagem de integração sensorial, porque o ambiente terapêutico é composto por equipamentos específicos.
“Tudo é proposto para estimular os sistemas tátil, visual, auditivo, de reflexos, além dos sistemas vestibular (responsável por manter a orientação na ausência de visão) e proprioceptivo (responsável por auxiliar o corpo ou a cabeça quando eles estão inclinados para um dos lados). Para fazer isso, a sala oferece um ambiente lúdico, amplo e com dispositivos para equipamentos específicos”, diz a especialista.
“Primeiramente, é feita uma entrevista com a família e aplicado um questionário de perfil sensorial e observação clínica. Em seguida, é traçado o perfil das respostas sensoriais e verificado se há a presença de transtorno do processamento sensorial. Após isso, caso diagnosticada a necessidade de intervenção, começa o atendimento semanal. Tudo é acompanhado por uma terapeuta ocupacional”, ressalta.
Tratamento feito na sala pode ser complementado em casa, com atividades planejadas e programadas para a família ou escola. Imagem: Divulgação
Segundo Renata, o atendimento tem base no conceito de Jean Ayres para que a criança obtenha ‘input’ sensorial, ou seja, capacidade para selecionar, adquirir, classificar e integrar as informações ao longo do dia. “Com a intervenção, espera-se fornecer os estímulos necessários para o desenvolvimento neuropsicomotor direcionado, funcional e satisfatório para que a pessoa module, organize e regule seu comportamento”.
A abordagem é complementar a outras intervenções e o tratamento feito na sala pode ser replicado em casa, na chamada ‘dieta sensorial’, com atividades planejadas e programadas para a família ou escola.
“Uma criança com transtorno de processamento sensorial, mesmo com o tratamento adequado, precisa fazer um acompanhamento periódico para evitar que os sistemas sensoriais se desorganizem. Sendo assim, o terapeuta ocupacional organiza uma combinação de atividades lúdicas com estímulos que podem acalmar ou acionar o sinal de alerta, e que estão de acordo as necessidades específicas de cada criança. As atividades têm efeito direto no sistema nervoso, mas funcionam apenas por um período de tempo limitado. Por isso, devem ser repetidas diariamente”, explica a terapeuta da Apae de São Paulo.
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