Para professora da USP, além de políticas de acesso à tecnologias de apoio, educação dessas crianças depende de “caminho mais curto e ágil entre a creche e o serviço de saúde”
Por Vinicius Botelho / jornal.usp.br
Preparar o ambiente escolar para atendimento de crianças e adolescentes com deficiência é uma das maiores preocupações dos profissionais da educação atualmente. Segundo a professora Cristina Pedroso, da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, a atuação de professores da educação infantil pode agilizar o diagnóstico e diminuir as desigualdades vividas hoje pelos alunos com deficiência no ambiente escolar.
Na avaliação da professora Cristina, a velocidade no acesso a tecnologias de apoio (cadeiras de rodas, aparelhos auditivos ou ferramentas de auxílio na comunicação) depende de um rápido diagnóstico da deficiência, e o professor que atua nas creches pode encurtar o caminho ao serviço de saúde. “As famílias normalmente fazem uma verdadeira peregrinação até o atendimento correto, até encontrarem um profissional que possa orientá-las da melhor maneira, perdendo muito tempo, o que tem impacto direto no desenvolvimento das crianças e no aproveitamento escolar”, destaca a professora. E, para superar as desigualdades sofridas por essas crianças nos espaços escolares, afirma Cristina, é preciso agilizar o diagnóstico de doenças e o acesso aos recursos de apoio.
Para combater o problema, além da implementação de políticas públicas de qualidade, que garantam informação e acesso para as famílias e para os que necessitam de tecnologias de apoio, a professora acredita que a formação ideal de profissionais da educação que atuam na base, já na creche, seja indispensável. Cristina informa que o acesso aos recursos e tratamentos no menor tempo possível, logo nos primeiros contatos escolares da criança com deficiência, pode fazer a diferença na diminuição das desigualdades.
Esses educadores, segundo a professora, precisam de mais treinamentos, já que “os cursos de formação de professores não tratam das questões com aprofundamento necessário e, historicamente, essas questões foram tratadas por profissionais da saúde e instituições especializadas”. Com a chegada dessas crianças e jovens com deficiência ao ambiente escolar, “o caminho entre escola e os serviços de saúde precisa ser mais curto e mais ágil”, diz.
Cristina indica a implementação de cursos de aprofundamento dessa temática nas licenciaturas de Pedagogia, para que os futuros professores possam colaborar nos encaminhamentos desses estudantes aos serviços adequados e no acesso às tecnologias de apoio. Assim, avalia a professora, a especialização em educação especial, a racionalização de recursos (com investimentos bem fundamentados) e rigorosas avaliações devem contribuir diretamente para que estudantes com deficiência recebam o aprendizado adequado e, consequentemente, não sofram com o déficit educacional ao longo da vida.
Acesso à tecnologia é “questão de classe social”
Relatório inédito divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU) mostra que cerca de 1 bilhão de pessoas no mundo estão excluídas do acesso a tecnologias de apoio, como cadeiras de rodas, aparelhos auditivos ou ferramentas de auxílio na comunicação. No Brasil, segundo o Censo Escolar da Educação Básica, aproximadamente 1,3 milhão de crianças e jovens da educação básica possuem algum tipo de deficiência. Segundo a professora Cristina, mesmo sendo um direito básico no País, nem todos esses alunos brasileiros recebem o apoio e ferramentas necessárias para garantir a experiência escolar ideal, impedindo que esse estudante receba o mesmo aprendizado se comparado aos demais.
“O acesso a esse tipo de tecnologia no Brasil ainda é uma questão definida pela condição socioeconômica e cultural, e o País não conta com políticas públicas que garantam a informação e o amplo acesso aos recursos de tecnologias de apoio para todos”, afirma a professora. O que garante a acessibilidade para essas tecnologias “é a questão de classe social, já que a grande parte desses recursos acabam sendo adquiridos pelas famílias com recursos financeiros próprios, implicando desigualdade”, afirma.
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