A luta por uma educação inclusiva só acaba quando não houver nenhuma referência ao “tipo de gente” que pode acessar esse direito básico
Por Mariana Rosa
A primeira vez de minha filha Alice na escola, seis anos atrás, foi também a minha primeira vez. Lembro do medo e da insegurança descalibrados, turvando as emoções daquele momento que deveria ser, sobretudo, de celebração. Afinal, uma nova etapa da vida se iniciava, e a escola era a promessa de ampliação de nossos contornos, até então restritos ao núcleo familiar. Ocorre que, quando criança, na década de 1980, não convivi com nenhum estudante com deficiência, e essa realidade permaneceu inalterada até o ensino superior. Alice não se comunica oralmente, tem limitações motoras, usa cadeira de rodas, precisa de apoio e mediação para todas as atividades cotidianas. Tal condição simplesmente não fazia parte do meu repertório de mundo antes de me tornar sua mãe.
Foi preciso mais do que afeto para entender que a escola era lugar para ela. Teve pesquisa, estudos e convivência com pessoas com deficiência, um percurso que buscou reparar a experiência que me havia sido negada até ali. Ao longo desse processo, eu também me tornei uma mulher com deficiência, o que adicionou novas perspectivas para compor a compreensão que deveria estar instalada por princípio:
“Todo ser humano tem direito à Educação e a escola é lugar para todas as pessoas, indiscriminadamente”
Foram seis negativas de matrícula. Seis “nãos”. “Não trabalhamos com esse tipo de criança”, “não tem vaga”, “pra que matricular se ela não vai aprender?”, “aqui não é lugar pra ela”… e por aí vai. Minha filha, quando se lança ao encontro do mundo, é tomada como um “tipo de criança” tão exótica que é afastada de sua condição humana e, consequentemente, dos portões de entrada da escola comum. Lembro que nada na conversa de apresentação de uma das escolas que visitei me dava pistas de que aquele era um lugar para ela: “aqui é o espaço para as crianças correrem pra todo lado, ali é o muro pra escalar, aqui as crianças mais falantes fazem a festa”…, dizia a coordenadora pedagógica.
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