E novamente recorremos
a outro estudo paralelo. Em 2013 se publicaram vários estudos deste
tipo, que nos ajudam a ver como determinados aspectos se relacionam
com o tempo de vida de uma pessoa e se convertem em preditores, os
quais podem ser muito variáveis, em função do entorno ecológico
das pessoas. Especificamente, o estudo da equipe canadense liderada
por Teresa Ann Bennett, do Offord Centre for Child Studies, McMaster
University and Children’s Hospital (Hamilton, Ontario), fez um
acompanhamento de 39 pessoas com Autismo de Alto Funcionamento e
Síndrome de Asperger desde os 4 aos 19 anos. O objetivo foi
investigar se a Teoria da Mente media a relação entre a capacidade
linguística e o funcionamento adaptativo em crianças com TEA e alto
nível cognitivo. E os resultados são bastante interessantes, ainda
que talvez tenhamos que contar com outros estudo similares para dar
mais força a estes resultados. A equipe de investigação se baseou
nas teorias do Neuroconstrutivismo do desenvolvimento(desde o
neuroconstrutivismo que o desenvolvimento cognitivo se entende como
um processo de reorganização sucessiva, investigando seus
mecanismos de mudança e resultados diferenciais), e se pretendia por
em relevo o efeito potencial de que um campo de desenvolvimento pode
ter em restringir ou facilitar outro. Trata-se de como entender esta
variabilidade no desenvolvimento tão díspar que observamos nas
pessoas com TEA, tal qual temos visto ao longo dos estudos anteriores
aqui resenhados. “As habilidades precoces da linguagem são
importantes indicadores do funcionamento adaptativo posterior,
definidas estas como habilidades práticas nas habilidades sociais e
de comunicação e de auto-cuidado. A identificação de preditores é
uma tarefa importante na investigação paralela, mas o “como” e
o “pro quê” destes preditores, tais como a capacidade
linguística precoce, estão associados com a variação nos
resultados ou a adaptabilidade funcional, é uma questão
importante”. Segundo a bibliografia referida no próprio estudo, a
qualidade linguística da criança deve ser entendida como um
preditor na compreensão da Teoria da mente, embora muito pouco se
saiba ao certo sobre quais fatores específicos interrelacionam as
habilidades linguísticas e a TdM. E novamente entra em cena a
capacidade verbal com o desenvolvimento de determinadas habilidades e
o desenvolvimento da pessoa. Contudo, não parece haver uma relação
positiva entre a capacidade verbal e de TdM com uma melhor qualidade
na sociabilidade. Quer dizer, que se requerem outros aspectos
associados para desenhar uma boa qualidade na compreensão das
relções sociais e não baseá-lo somente na TdM.
Outro estudo, este de
2012, de Alice S. Carter Et all nos traz também um trabalho
paralelo, mas que se baseou em algo que a cada dia adquire mais e
mais importância, e que é um aspecto que preocupa e muito as
famílias, basseado no estudo da resposta de 170 crianças com
autismo, desde os 18 até os 33 meses de idade, e que está
relacionado com a ansiedade. E, segundo os autores do estudo, um
problema sensorial(hiper-sensibilidade) pode ser um preditor de
ansiedade nas crianças. Se este problema sensorial se corrige
adequadamente, as capacidades linguísticas da criança serão
maiores, e por sua vez os processos de ansiedade diminuirão. Ainda
que não tenha ficado muito claro se realmente a diminuição da
ansiedade pode ser associada diretamente a uma adequação sensorial
ou a um desenvolvimento da linguagem, ou a uma combinação de ambos
os fatores relacionados, donde a diminuição do transtorno sensorial
melhora a capacidade de desenvolvimento verbal. Ainda que um estudo
de 2011 põe em manifesto que as famílias onde os pais participam de
forma ativa na intervenção, estes apresentam um maior
desenvolvimento verbal frente a famílias menos implicadas. Isto não
pretende culpabilizar as famílias. Pelo contrário, pretende
incentivar a que participem mais e se formem para que adquiram um
papel ativo no processo global, já que vimos como esta participação
traz resultados melhores.
Um estudo muto
interessante levado a cabo por Giacomo Vivanti e seus colaboradores,
nos fala a respeito da discapacidade intelectual(DI) associada ao
autismo. No entanto, a DI se entende como uma co-morbidade no autismo
e não como um fator direto. Contudo, e ainda que exista pouca
literatura científica a respeito, cada vez se tende a pensar que na
realidade este déficit intelectual associado ao autismo está mais
relacionado com os problemas de comunicação e a sociabilidade do
que como um aspecto co-mórbido. Quer dizer, que o DI no autismo
poderia surgir como consequência dos déficits de comunicação
social graves nos mecanismos dependentes da experiência que subjazem
ao desenvolvimento neurocognitivo.
(continua...)
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